sábado, 23 de dezembro de 2017

Defesa de dissertação sobre "Nova Paternidade"

É grande satisfação que mais um membro do NUPIE, Thiago Silva de Freitas Silva Santos, conclui seu mestrado defendendo a dissertação intitulada "Paternidade participativa: uma discussão de gênero".


Da direita para a esquerda: prof. Juracu Marques (avaliador suplente), prof. Marcelo Ribeiro (orientador), Thiago Freitas (mestre) e profa. Luciana Duccini (avaliadora) - profa Juliana Sampaio foi a outra avaliadora (via skype)


Segue aqui o resumo:

Os estudos sobre masculinidade têm apresentado uma diversidade no exercício da masculinidade e paternidade. Por sua vez, eles são chamados de Men's Studies e tem sua importância para a ampliação da noção de gênero, assim como a compreensão da paternidade participativa. Esse modo de ser pai é definido como uma atitude de engajamento emocional e de cuidado da prole acima de outras atividades da vida. Dessa forma, buscando compreender melhor esse fenômeno, a dissertação em tela é produto de duas pesquisas: sendo a primeira um estudo bibliográfico que objetivou analisar os artigos publicados entre os anos de 2015 e 2016 e sobre como eles abordam a paternidade participativa numa discussão de gênero; e a segunda, buscou compreender o cuidado na relação pai e filho sob a ótica paterna. Assim, na constituição desta dissertação, o primeiro artigo foi desenvolvido a partir de um levantamento da literatura utilizando os descritores “paternidade”, “pai participativo” e “pai cuidador” nos idiomas Inglês, Espanhol e Português. Utilizaram-se as plataformas de pesquisa Scielo e Pepesic e foi encontrado após a seleção e exclusão da amostra, 17 trabalhos. Dentre todos os achados destaca-se que a caracterização da paternidade participativa não é clara nos artigos, mas percebe-se um aumento no número de estudos na área nos últimos anos. O segundo artigo, oriundo de uma pesquisa de campo, teve uma amostra de 04 homens entre 20 a 40 anos, todos lidos socialmente como participativos. Foi utilizada para seleção dos participantes a indicação via uma “denunciante”, a entrevista do tipo narrativa e a análise de seu pela Análise do Discurso. Destaca-se como resultado a identidade masculina sendo questionada, a dificuldade desses homens em serem lidos pelos seus pares como homens, a experiência masculina no cuidado com as crianças e suas particularidades, a falta de uma definição firme sobre paternidade e a inexistência de espaços sociais para discussão e construção da paternidade. Por fim, ambos trabalhos indicam contribuições para os estudos de masculinidades, como o fortalecimento da compreensão do fenômeno e a utilização de metodologias pouco exploradas. 

Em breve a dissertação, na íntegra estará disponível neste blogue.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Uma experiência de banca de mestrado: Processo identitário, memórias, representações e gestos.

Por Marcelo Silva de Souza Ribeiro
 
Recentemente tive a oportunidade de participar da banca de mestrado de Thyale Vasconcelos Velozo, do mestrado de Psicologia da Universidade Estadual de Pernambuco (UPE), campus Garanhuns, compartilhando a mesa com os professores Mário Medeiros da Silva (orientador), Antônio Pereira Filho (co orientador) e Wanessa Gomes. Além de ser um momento rico e entusiasmante, em relação a defesa propriamente dita, estar na presença desses professores e da mestranda me provocou uma série de reflexões.
 
Depois de ser bem acolhido por Thyale e estar devidamente acomodado em um pequeno hotel ao lado do campus, recebi um convite dos professores Mário e Antônio para o almoço. Logo no nosso reencontro (já os conhecia de outras bancas) senti o entusiasmo daqueles sábios professores. Enquanto esperávamos chegar à mesa as saborosas refeições de Dona Maria, uma costela suína assada e uma galinha cabidela, deleitávamos um suco de limão cravo e proseávamos sobre os últimos e tenebrosos acontecimentos da política e economia brasileira. Após algumas duras e pertinentes análises dos professores que estavam em seus altos dos sessenta e tantos anos, foi anunciado que não estavam “aposentados”, mas sim “jubilados”. Prof. Antônio foi logo explicando que “aposentar” significa voltar aos aposentos e que “jubilado” significa estar em júbilo, um estado de regozijo. Aqueles dois professores mais velhos do que eu, já jubilados, conseguiam lançar um olhar para a universidade, para a sociedade e para a produção cultural e científica de um modo particular e, por vezes, realisticamente duro, mas ao mesmo tempo com profundo sentimento e empatia. Diziam eles que aquela banca, fim de um processo de orientação, seria o derradeiro ato da docência, um resquício de suas fases pré-júbilo. Diziam isso sentidamente.
 
Após o almoço nos dirigimos tranquilamente ao campus e já no corredor do prédio de aulas, o prof. Antônio falou do seu estranhamento em estar ali, afinal viveu seus quase 30 anos naquele recinto e agora voltara meio estrangeiro. Prof. Mário complementou a observação do amigo dizendo que o exercício do desapego era, por vezes, doloroso.
 
Essa experiência de jubilamento para professores, pelo menos para alguns, pode ser algo nada fácil e isso, por sua vez, parece ter relação com a própria condição de ser professor justamente porque demanda uma intensidade nas relações, um envolvimento no fazer e uma identificação de profundidade. A identidade docente é uma daquelas onde a dimensão pessoal e profissional se fundem drasticamente. Fico a imaginar a experiência de jubilamento afinal.  Mesmo para aqueles outros que a desejam e a sentem como alívio, a nostalgia da sala de aula deve ser algo muito próprio.
 
Entre olhares, os meus nos deles e os deles lambendo os corredores, as portas das salas, os pisos e os rostos novos que ali circulavam fez que com os passos se dessem em silêncio até chegarmos ao salão de defesa. Lá estava Thyale, a jovem psicóloga, de braços abertos para a vida e também a simpática jovem professora Wanessa, colega de banca. Duas jovens mulheres, dois maduros e jubilados professores. Eu no meio, ou na ponta de um dos lados, tanto faz. Aquele cruzamento de gerações e de lugares onde seres humanos ocupavam, faziam do momento solene de uma defesa de mestrado algo a mais, que transcendia os acontecimentos do relatório de um processo de pesquisa e sua consequente comunicação.
 
O novo, o velho. O velho que era novo e o novo que podia ser velho. Os professores jubilados que olhavam com nostalgia para a universidade, a jovem professora que iniciava sua carreira com entusiasmo e atenta para aprender com as novidades. A mestranda que dissera não saber o que fazer após a conclusão do seu mestrado. O ciclo de vida e o jeito de cada um ser constituíam, de alguma forma, o processo identitário onde memórias, representações e gestos se faziam e refaziam.
 
O belo dessa história, pelo menos no que foi possível apreender, estava na possibilidade de interagir e de se contagiar com as diferenças de cada um: dos professores em júbilo sentirem presentes no recomeço de outrens, da professora jovem beber de fontes sábias, da mestranda se imiscuir nas experiências ali cruzadas e também produzir as suas para retroalimentar a de todos. O processo identitário, a experiência de ser, se vitalizava, se tornava vital, no encontro com o diferente.
 
Não saímos mais felizes daquela banca, embora fosse vivida com muito contentamento. Saímos mais gente.
 
 

Garanhuns, 13 de dezembro de 2017.