segunda-feira, 25 de maio de 2020

A “RODA VIVA” DA HISTÓRIA EM MEIO A DISSEMINAÇÃO DO ÓDIO

Saudações!

Mais um texto dos nossos rumores reflexivos em meio a disseminação do ódio, agregada a retrocessos e desigualdades sociais.
Ótima leitura e lembrar que a “roda viva” está sempre em movimento!
Nosso abraço

Clara Sousa
Marcelo Ribeiro
Pesquisadores no Laboratório de Estudos e Práticas em Pesquisa-Formação (LEPPF)
Instagram: @leppfsertao



segunda-feira, 11 de maio de 2020

ENEM EM TEMPOS DE PANDEMIA: PARA QUEM?




Ingressar no ensino superior ou em um curso técnico é um sonho de muitos jovens e que demanda elevado empreendimento de energia. Mas em tempos de pandemia, como isso fica? As diferenças já existentes em relação as condições de investimento se ampliam? Em situações de ensino-aprendizagem online, as lacunas que distanciam brilhantes estudantes sem condições materiais dos estudantes relativamente abastados, têm aumentado?
A propaganda do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) deste ano, estampa nos rostos dos jovens atores escolhidos a frase: “Você que lute!”. Isso quer dizer que realizar as provas do ENEM 2020 será puramente uma questão de mérito e não de oportunidades e de garantia de direitos básicos, como rege a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 206: “I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;”.
É notório que o acesso às oportunidades de preparação para o ENEM tem se precarizado para muitos estudantes da rede pública, justamente pela intensificação do abandono do estado em relação a sociedade de um modo geral, provocando maior impacto aos extratos sociais mais vulneráveis, onde estão localizados parte significativa dos estudantes dessa rede.
Muitos alunos só vão adquirir, por exemplo, seu primeiro computador quando ingressam no mercado de trabalho, isso sem falar da dificuldade de acesso a internet. Uma grande parte das famílias brasileiras vive em condições básicas de vida deficitária, então chega a ser algo perverso propor que cada um lute por si.
Como conseguir acompanhar e acessar as aulas online?
page1image40044224
O espanto toma maior dimensão quando redes municipais e estaduais, ecoando a campanha do Ministério da Educação do Sr Weintraub, demandando dos professores, de modo intempestivo e sem as devidas preparações, o planejamento e a execução de aulas. Será que o Brasil conhece mesmo o Brasil? Ou será cinismo?
Mesmo que se diga que as famílias brasileiras já têm acesso praticamente universalizado a internet, poucas conseguem manter uma rede de qualidade suficiente que favoreça assistir vídeo aulas, pesquisas e outras atividades. Há realidades em que o estudante anda quilômetros para chegar à escola, a exemplo da educação no campo onde muitos ainda sequer têm energia elétrica e acesso a água de qualidade em suas residências.
O que se levanta aqui é a necessária explicitação das reais condições básicas de uma boa parte dos estudantes de escola pública para fazer face ao ENEM nesse contexto de pandemia e isolamento social.
É sabido que as injustas diferenças sociais dos estudantes mais pobres elevam seus esforços para ingressar numa universidade ou curso técnico via ENEM. Daí intensificar as injustiças com discursos hipócritas é algo inadmissível porque evidencia- se um retrocesso na sociedade brasileira. Prefeitos, governadores e políticos em geral que apoiarem aulas online nesse contexto e sem as devidas condições para os mais vulneráveis vão ficar marcados na história nacional como páreas da cidadania.
Na propaganda oficial do MEC, há a imagem de jovens, provavelmente de classes sociais mais favorecidas, com espaço reservado para estudos em casa, com acesso a internet de boa qualidade e dispositivos como smartphone e notebooks. Certamente não são jovens que necessitam trabalhar, além de manter os estudos e que, em suas casas, carecem até mesmo de água para tomar banho ou um pão para comer.
Os jovens da propaganda do MEC indicam frequentar escolas com toda sorte de recursos e pertencer a famílias onde os pais possuem alta escolaridade. Tudo incide nas condições de vantagem na hora de concorrer a uma vaga no ENEM.
Felizmente circulam nas mídias sociais outros vídeos viralizados”, mostrando jovens conscientes do momento atual e que sinalizam que dias piores virão, além de denunciar a perda das garantias de direitos ao acesso à educação de qualidade.
Para quê e para quem o ENEM 2020 favorecerá via propagandas do MEC e ações reproduzidas em redes a educação?
Ano após ano percebe-se que de milhares de jovens conseguem ingressar no ensino superior de universidades públicas não por falta de capacidade, mas sim por falta de condições. Perdemos gênios, jovens inteligentes e com potenciais fantásticos por uma infeliz mazela social que é ratificada por campanhas como a do MEC. Governos municipais e estaduais terão coragem de por em prática se o mínimo de questionamento?
O Brasil e o mundo estão impactados com a situação da pandemia. Isso é fato. A questão é se esse impacto vai ser aprofundado ou não via políticas de tomem direção da exclusão ou da inclusão. A visão e as ações reduzidas a meritocracia (“só depende de você), torna o futuro mais funesto para os que têm menos oportunidades, potencializa a
a pobreza e joga um sem número de jovens as condições marginais de uma sociedade cada vez mais deteriorada.
Clara Maria Miranda de Sousa
(Psicóloga, Pedagoga e Mestra em Formação Docente e Práticas Interdisciplinares)
Marcelo Silva de Souza Ribeiro
(Dr. em Educação e Prof. da Univasf)
Pesquisadores no Laboratório de Estudos e Práticas em Pesquisa-Formação (LEPPF).


Fonte: @desenhosdonando
Disponível em: 
https://www.instagram.com/p/B_41WUDJH8K/?utm_source=ig_web_copy_link