sexta-feira, 10 de março de 2023

NÃO TRAIR O DIREITO DE SER




Cristiane Maria de Souza Moreira

 

Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco.


Este texto é produto do processo vivido no âmbito da 

disciplina Educação e Políticas Públicas, 

do curso de Psicologia da Univasf, 

tendo como professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro 

em março de 2023


É notório e até mesmo divulgado que o cidadão tem direito a educação. A quantidade de documentos que falam desse direito é grande, começando pelo artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, passando ao artigo 205 da Constituição Federal (1988) seguindo com o artigo 4º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) até chegar na mais recente Base Nacional Comum Curricular (2017). 

Os marcos legais outrora citados trazem a educação como direito, tendo como objetivo o pleno desenvolvimento do sujeito. Todavia, quando se olha para os espaços públicos esse direito apesar de documentado, permanece numa espécie de algo a ser alcançado, já que, o acesso à rede de ensino deixou de ser restrito, contudo, a qualidade da educação e a evasão escolar passaram a ser um desafio (Siqueira & Giannetti, 2010).

Catão (2020) ao se referir a educação destaca que ela é antes de tudo um ato político, tendo assim um duplo sentido: informar ao mesmo tempo que formar o sujeito, respeitando o seu processo de ensino-aprendizagem, buscando práticas que melhor contribuam para sua efetividade, considerado a liberdade e autonomia da democracia.

Desse modo, a função da escola bem mais que o cumprimento de uma grade curricular é formar, não para as obediências de uma determinada norma, mas ao entendimento e reflexão da sua execução, pois como salienta Catão (2020, p.14) “o direito não depende do cumprimento dos deveres [...] a condição de pessoa é o único requisito”.

Sabendo que o direito a educação vai além da acessibilidade, pois deve se haver qualidade, que é mostrada quando há ensino-aprendizagem, a lei 13.935/19 que diz respeito a presença do profissional de psicologia nas escolas, entra como complemento para tal consumação. 

É óbvio que essa presença é mais que física, é de gente que “briga” com ferramentas certas para a conquista: teoria e prática. Como bem recorda Freire (1987.p.50) “a teoria sem prática é verbalismo, e a prática sem teoria é ativismo” logo, o profissional precisa incorporar o saber para então fazer acontecer uma educação que respeita e busca garantir a qualidade com a observância dos dispositivos legais juntamente com fatores econômicos, políticos, culturais e sociais

Sabe-se que a escola é um local propício para trabalhar as dimensões humanas (cognitivo, físico, social e emocional) o que acaba favorecendo ou dificultando o ensino-aprendizagem do ser, distanciando muitas vezes o saber do fazer pela falta de contextualização, uma vez que, Um saber só é pertinente se é capaz de se situar num contexto. Mesmo um conhecimento mais sofisticado, se estiver isolado, deixa de ser pertinente” (Morin, 2007, p.32)

Dentro da instituição o psicólogo deve fazer valer o seu compromisso ético, de forma particular alguns princípios descritos no Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005), a saber o II, em que se diz que deve promover saúde e qualidade de vida ao mesmo tempo que a eliminação de quaisquer formas de negligência e discriminação, fatores que se apresentam claramente nas escolas que insistem na padronização de ensino sem respeitar a realidade política, econômica, social e cultural, desposto no III princípio desse código. Por fim, o IV princípio, retoma o que já fora dito anteriormente, a necessidade de unir a teoria e a prática pelo contínuo aprimoramento do profissional.

Ciente do seu dever, e da necessidade de resguardar os direitos do ser (aluno), bem como o seu, de ser um profissional qualificado/necessário a instituição, o psicólogo deve fazer valer os princípios éticos, ajudando a comunidade escolar entender que para a garantia de uma educação de qualidade todos fazem parte do processo ensino-aprendizagem e a ausência desses componentes retira os direitos do ser aprendente. 

 

Referências 

 

Básica–Brasília, E. (2017). Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília. Mec/Consed/Undime.

Brasil, S. F. (1988). Constituição da república federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico.

Brasil, L. D. D., & de Diretrizes, L. (1996). Bases da Educação Nacional–Lei 9.394/96. Brasília, DF.

Catão, A. L.  (2020) Sujeitos de direito: educação em direitos humanos, 4.ed. – São Paulo, SP: Vlado Educação. 

Código. D. É. P. (2005). Conselho Federal de PsicologiaBrasília.

Freire, P. (1987) Pedagogia do oprimido.  Rio de Janeiro, 17º. ed. Paz e terra.

Humanos, D. U. D. D. (2015). Declaração universal dos direitos humanos. Acesso em: 13 jan 23.

Morin, E., Almeida, M. D. C., & Carvalho, E. D. A. (2007). Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios.

Siqueira, C. M., & Gurgel-Giannetti, J. (2011). Mau desempenho escolar: uma visão atual. Revista da Associação Médica Brasileira, 57(1), 78-87.


USO DE GAMIFICAÇÃO PARA O ENSINO DE IMUNIZAÇÃO AOS DISCENTE DO CURSO ENFERMAGEM: RELATO DE EXPERIÊNCIA




 João Cristovão de Melo Neto

Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco.


Este texto é produto do processo vivido no âmbito da 

disciplina Educação e Políticas Públicas, 

do curso de Psicologia da Univasf, 

tendo como professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro 

em março de 2023



RESUMO

Objetivo: Descrever a experiência na construção e aplicação de um jogo perguntas e resposta para o ensino de sala de vacina aos acadêmicos de Enfermagem. Método: Trata-se de um relato de experiência de uma jogo que foi construída com base em um jogo adaptado ao conteúdo de sala de vacina: perguntas e respostas e verdadeiro ou falso. Esse conteúdo é abordado na disciplina de Enfermagem em Sala de Vacina de um Centro de Ensino Superior da Zona Mata no interior de Pernambuco, Brasil. Resultados: Todos foram aplicados para acadêmicos de Enfermagem, durante duas aulas, com duração de três horas. Os acadêmicos são divididos em três grupos e vence o grupo que obtiver maior pontuação no jogo. Além disso, os jogos estimularam os alunos a trabalharem em equipe, melhorando assim a capacidade de colaboração e de realizar tarefas em grupo. Os jogos também foram úteis para motivar os alunos e ajudá-los a compreender melhor o conteúdo. Os professores perceberam que os jogos trouxeram alegria e entusiasmo para a sala de aula e tornaram a aula mais divertida. Em suma, os jogos podem ser úteis para a ensino-aprendizagem, pois os alunos se sentem mais motivados, trabalham em equipe e desenvolvem habilidades cognitivas. Além disso, os jogos também ajudam a melhorar a compreensão do conteúdo teórico. Conclusão: Além disso, essa abordagem permite ao professor criar dinâmicas que estimulem a criatividade, a cooperação e a interação, o que contribui para o envolvimento dos alunos no processo de aprendizagem. Por fim, os jogos também podem servir como uma ferramenta para reforçar conteúdos já abordados em sala, sendo possível também aplicar avaliações de forma lúdica. 

Descritores: Enfermagem; Gamificação; Vacina; Educação.

INTRODUÇÃO

A necessidade de formar profissionais com habilidades e competências que lhes permitam enfrentar os desafios da atualidade, exige a adoção de abordagens inovadoras, que coloquem os alunos como protagonistas da construção do seu conhecimento. Neste contexto, o ensino centrado no aluno, ou student-centered learning, tem sido apontado como uma estratégia para a reorientação do ensino superior, pois privilegia a participação ativa dos alunos no processo, adotando metodologias que estimulam a autonomia e a responsabilidade dos estudantes, bem como o desenvolvimento de habilidades para a tomada de decisão e para a resolução de problemas. Esta abordagem promove também a construção de competências para a aprendizagem contínua, contribuindo para a formação do discente. (SIQUEIRA; LEOPARDI, 2016).

A Aprendizagem Mediada consiste em um método de aprendizagem que ocorre quando o professor interage diretamente com o aluno para guiá-lo durante o processo de aprendizado. Por meio das interações, o professor pode dar suporte às necessidades individuais do aluno, identificar dúvidas e possíveis desvios e ter mais controle sobre os resultados do ensino. Uma das principais vantagens da aprendizagem mediada é que ela permite que os alunos compreendam melhor os assuntos abordados, pois seu professor poderá guiá-los de forma mais direta. Além disso, ela também incentiva o pensamento crítico por meio de discussões entre professor e alunos. Isso proporciona aos alunos a oportunidade de formular suas próprias ideias. (CHAVAGLIA et al, 2018). 

Outro mediador importante é o computador, que pode ser usado como ferramenta para a aquisição de conhecimento. Através do uso de softwares educacionais, materiais multimídia, e outras plataformas, o computador pode ser usado como um meio para proporcionar um ambiente de aprendizagem estimulante e colaborativo, além de ajudar a desenvolver habilidades como raciocínio lógico, solução de problemas e trabalho em equipe. (RAMOS; LORENSET; PETRI, 2016).

Os jogos educativos são importantes para o processo de ensino e aprendizagem, pois proporcionam aos alunos uma forma lúdica e divertida de aprender. Além disso, possuem diversos benefícios, como: aumentar o interesse pelo conteúdo, melhorar a memória, desenvolver habilidades reflexivas, estimular a interação entre os participantes, facilitar o processo de ensino-aprendizagem, estimular a criatividade e a capacidade de raciocínio e reduzir o nível de ansiedade. Os jogos educativos também são úteis para o professor, pois permitem que ele avalie o desempenho dos alunos de acordo com o seu nível de conhecimento e habilidades. Além disso, os jogos educativos podem ser usados como recursos para aprendizagem. (DONDI; MORETTI, 2007).

Os jogos podem ser usados para desenvolver habilidades, como o raciocínio lógico, a memória, a criatividade, a liderança, a tomada de decisões, a comunicação e a colaboração. Além disso, os jogos são capazes de proporcionar um ambiente seguro e saudável para o compartilhamento de ideias e enfoques diferentes, que podem ajudar os alunos a adquirir conhecimento e desenvolver competências básicas e habilidades específicas de enfermagem. Além disso, os jogos podem ser usados como ferramenta de avaliação, pois permitem avaliar o desempenho dos alunos de forma rápida e objetiva. Isso é importante para que os enfermeiros docentes possam identificar o desempenho dos seus alunos. (PANOSSO; SOUZA; HAYDU, 2015).

Dentro desse contexto, jogos de enfermagem, tais como aqueles que simulam situações reais de cuidado à saúde, são ambientes propícios para ensinar habilidades essenciais da enfermagem. Esses jogos podem ajudar os alunos a compreender melhor as práticas de cuidado, melhorar sua capacidade de análise e ajudá-los a desenvolver habilidades de tomada de decisão. Além disso, eles possibilitam o aprendizado em equipe, aprimorando o trabalho em equipe entre os profissionais de saúde. A utilização de jogos em enfermagem também permite que os alunos trabalhem em conjunto para melhorar a comunicação entre os membros da equipe de saúde e aprimorar as habilidades de problem solving. (SIQUEIRA; LEOPARDI, 2016).

MÉTODO

Trata-se de um relato de experiência de uma docente, na construção e aplicação de um jogo para o ensino de imunização aos acadêmicos de Enfermagem de uma Centro de Ensino Superior Particular da Zona da Mata no interior de Pernambuco, Brasil. O conteúdo de imunização é contemplado na disciplina de Enfermagem em Sala de Vacina, partindo do pressuposto que a formação do enfermeiro tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício da competência de atenção à saúde com habilidades para desenvolver ações de prevenção de doenças e promoção da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Sabe-se que a imunização é uma das estratégias mais eficaz na redução da morbimortalidade infantil e nos custos com saúde. A disciplina em questão é ofertada no quinto semestre, no respectivo curso de graduação, sendo disponibilizadas duas horas para se trabalhar o conteúdo programático semanal, que envolve todo o Plano Nacional de Imunização, orientações de Normas e Procedimentos para Vacinação e Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinação e, o cuidado em enfermagem na imunização. A construção da gincana teórica, para o ensino da imunização, ocorreu em agosto e dezembro de 2022, com o intuito de estabelecer a aprendizagem mediada por jogos, possibilitando um aprendizado mais significativo, quando comparado à aula expositiva dialogada anteriormente ofertada, na perspectiva da docente. A aplicação da mesma ocorre desde então, em todos os semestres em uma aula destinada a esse conteúdo, com os alunos matriculados na disciplina.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Construção do jogo teórica para o ensino em sala de vacina

A elaboração do jogo teórica fundou-se no Plano Nacional de Imunização, Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação e Manual de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinação do Ministério da Saúde e, outros materiais acerca do cuidado de enfermagem na imunização.

O jogo foi elaborado contendo perguntas verdadeira ou falsa e questões subjetivas, como pode ser visualizado no Quadro 1. Para participar dos jogos a sala foi dividida em três grupos (A, B e C), definidos por sorteio. Os jogos são importantes ferramentas educacionais, pois possibilitam a aprendizagem de novas habilidades, o desenvolvimento de competências sociais e o aumento da motivação para o aprendizado. Ao mesmo tempo, os jogos podem ser usados para aprimorar o raciocínio lógico, estimular o pensamento crítico e desenvolver a capacidade de trabalho em equipe.

Quadro 1- Jogo, objetivo, conhecimento trabalhado e tempo de aplicação na gincana de ensino sobre imunização aos acadêmicos de Enfermagem. Nazaré da Mata, PE, Brasil, 2022.

Jogo

Objetivo

Conhecimento trabalhado

Tempo de

aplicação

Verdadeiro ou 

Falso

Discutir sobre a composição dos imunobiológicos.

-Calendário de vacinação;

-Equipamentos e insumos da sala de 

vacina;

-Administração dos imunobiológicos;

-Fundamentos de imunologia;

 

 

 

12 minuntos

Perguntas subjetivas

 

-Fundamentos de imunologia;

-Organização e funcionamento da sala 

de vacina;

-Equipamentos e insumos da sala de 

vacina;

-Acolhimento;

-Contraindicações aos imunobiológicos;

-Administração dos imunobiológicos;

-EAPV comuns a vários 

imunobiológicos;

-Condutas frente aos EAPV comuns a 

vários imunobiológicos;

-Calendário vacinal;

-Conceito de vacina;

-Situações de adiamento de uma 

vacina;

-Indicação, esquema, idade máxima e 

mínima, dose e via de administração 

das vacinas;

-Plano Nacional de Imunização;

-Normas e procedimentos gerais para 

Vacinação;

-Vigilância Epidemiológica de Eventos 

Adversos Pós-Vacinação.

1 horas e 15 minutos

 

Jogo da memoria

Discutir sobre a história da imunização

- História da imunização;

-Administração dos imunobiológicos;

-Fundamentos de imunologia.

 

9 minutos

Fonte: Elaborado pelo Autor

A primeira fase, foi composta por quatro perguntas verdadeira ou falso, perguntas e respostas e jogo da memória apresentada em 48 minutos por três grupos, tendo 2 minutos no término de cada pergunta para a discussão entre a turma, com a participação do docente no esclarecimento quanto as respostas de cada grupo, conforme os informes técnicos do Ministério da Saúde/ Programa Nacional de Imunizações. Os grupos um acertou 6 alternativas, o grupo dois 8 alternativas e o grupos três duas alternativas.   Passado assim para próxima fase, denominada quarta de final os um e dois.

Na sequência, foi executado a segunda fase denominada quarta de finais composta 8 perguntas e resposta culminado 4 pontos para duas equipes. No término das segundas fases, foi discutido o calendário vacinal aos alunos pelo docente e as dúvidas são esclarecidas.

Na semifinal foi misto por três perguntas e resposta subjetivas e uma imagem compondo o jogo da memória, na qual correspondeu 3 pontos para esquipe dois e 1 ponto para equipe um.

Chegado à final o jogo composto por quatro perguntas e respostas com a temática calendário de imunizações e efeitos adversos, vencendo assim o grupos dois por pontuar na ultima fase 3 pontos. 

Ao termino do jogo foi discutido todos o conteúdo apresentado no jogo e pontuado cada equipe individualmente de acordo com o ranking de acertos somará 10 pontos.

Gráfico 01 – Nota por grupo



Fonte: Elaborado pelo Autor

Foi observado que a gamificação é uma técnica que emprega elementos e mecânicas de jogos para motivar os alunos a aprender e se envolver com conteúdo educacionais. Ao usar a gamificação, professores e educadores podem obter resultados melhores ao motivar os alunos a assumirem riscos, desenvolver habilidades e tomarem decisões. A gamificação pode ser um método de ensino eficaz que incentiva os alunos a se engajarem, desenvolver o pensamento crítico e aprimorar suas habilidades de resolução de problemas. Ela também pode ajudar os alunos a desenvolver habilidades de trabalho em equipe e desenvolvimento de colaboração. (SILVA et al, 2018).

Aplicação da gincana aos acadêmicos de Enfermagem

Antes do jogo, os alunos matriculados na disciplina Enfermagem em Sala de Vacina são orientados quanto ao game, no início do período letivo, e os materiais didáticos que a guiam são expostos e distribuídos aos alunos para estudo aprofundado da disciplina. A comunicação entre professor-aluno ocorre com cerca de oito dias de antecedência, a fim de oportunizar o preparo dos mesmos para a atividade programada. Assim, no dia das aulas de Imunização, o jogo é desenvolvido com os acadêmicos de Enfermagem.

O preparo dos alunos se refere ao estudo do conteúdo durante o transcorre das aulas.

Foi possível observar que parte dos alunos dedicasse quanto ao jogo, também foi contrastado certa dificuldade durante a excursão do jogo, visto que são poucos alunos que estudam antecipadamente o conteúdo segundo o recomendado. Comprometendo assim a discussão entre os grupos, devido ao déficit de conhecimento do conteúdo, uma vez que todos os estudantes precisam se prepara para desenvolvimento de tais atividades.

As situações de aprendizagem geradas pelos jogos auxiliam os participantes a emitirem respostas apropriadas ou não em relação ao conteúdo que o jogo se proponha, produzindo consequências que possam ser identificadas e reforçadas. (GURGEL et al, 2017).

Nesse sentido, as metodologias ativas de ensino-aprendizagem têm papel fundamental para o desenvolvimento de competências e habilidades dos estudantes de saúde, pois priorizam a aprendizagem prática e a interação entre professor e alunos. Por meio delas, é possível estabelecer estratégias de ensino baseadas no conhecimento das necessidades dos estudantes, buscando o envolvimento dos mesmos na aquisição dos conteúdos curriculares e na prática profissional. (GURGEL et al, 2016).

Além disso, as metodologias ativas de ensino-aprendizagem também podem contribuir para o desenvolvimento de habilidades intelectuais, como a solução de problemas, a tomada de decisões, a reflexão crítica e a comunicação eficaz. (SIQUEIRA; LEOPARDI, 2016).

Avaliação do material

Observa-se que a competitividade desperta nos alunos o interesse pela descoberta de soluções para problemas e o desenvolvimento de habilidades para a exploração de novas possibilidades. Isso permite que eles sejam mais criativos na resolução de desafios, como também estimula ações que visam aprimorar os processos de aprendizagem. (RAMOS; LORENSET; PETRI, 2016).

A competitividade estimula ainda a persistência e a motivação, pois aprimora o processo de interiorização do conhecimento, a fim de que os aprendizes possam desenvolver habilidades que lhes permitam obter resultados satisfatórios. Desse modo, é possível estimular a autonomia e a curiosidade para a busca de novas informações. (GURGEL et al, 2016).

CONCLUSÃO

Conclui-se que essa experiência permitiu reconhecer o jogo de imunização aplicados como recurso didático, possibilitam aos alunos vivenciar diferentes situações, colocando-os em  contato com o conteúdo de forma divertida. Nesse sentido, é importante destacar que os jogos devem seguir uma lógica pedagógica  que parta da observação das necessidades  dos alunos para depois desenvolver e assegurar a aprendizagem.

REFERÊNCIAS

BACKES, D.S.; ZAMBERLAN, C.; SIQUEIRA, H.C.H.; BACKES, M.T.S.; SOUSA, F.G.M.; LOMBA, M.L.L.F. Quality nursing education: A complex and multidimensional phenomenon. Texto Contexto-Enferm. 2018;27(3):1-7. DOI: 10.1590/0104- 070720180004580016 

CHAVAGLIA, S.R.R.; BARBOSA, M.H.; SANTOS, A.S.; DUARTE, R.D.; CONTIM, D.; OHL, R.I.B. Estratégias didáticas identificadas junto a graduandos de Enfermagem. Cogitare Enferm. 2018;3 (23):1-9. DOI: 10.5380/ce.v23i3.53876 Freitas BHBM Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro 2020 ;10/2959 www.ufsj.edu.br/recom - 8 

DONDI, C.; MORETTI, M. A methodological proposal for learning games selection and quality assessment. Br J Educ Technol. 2007;38(3):502- 12. DOI: 10.1111/j.1467-8535.2007.00713.x 

GURGEL, S.S.; TAVEIRA, G.P.; MATIAS, E.O.; PINHEIRO, P.N.C.; VIEIRA, N.F.C.; LIMA, F.E.T. Educational games: Didactic resources utilized at teaching health education classes. Rev Min Enferm. 2017;21: 1-6. DOI: 10.5935/1415-2762.20170026 

GURGEL, S.S.; TAVEIRA, G.P.; MATIAS, E.O.; PINHEIRO, P.N.C.; VIEIRA, N.F.C.; LIMA, F.E.T. Jogos educativos: Recursos didáticos utilizados na monitoria de Educação em saúde. Rev min enferm. 2017 [citado em 15 de fevereiro de 2023]; 21:e1016. Available in: http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/1152

PANOSSO, M.G.; SOUZA, S.R.; HAYDU, V.B. Características atribuídas a jogos educativos: Uma interpretação analítico-comportamental. Psicol Esc Educ. 2015;19(2):233-41. DOI: 10.1590/2175-3539/2015/0192821 

RAMOS, D.K.; LORENSET, C.C.; PETRI, G. Jogos educacionais: Contribuições da neurociência à aprendizagem. Rev X 2016;2:1-17. DOI: 10.5380/rvx.v2i1.2016.46530 

SILVA, J.P.; GONÇALVES, M.F.C.; ANDRADE, L.S.; MONTEIRO, E.M.L.M.; SILVA, M.A.I. Health promotion in primary education: perceptions of bachelor’s degree with a teaching diploma in nursing students. Rev Gaúcha Enferm. 2018;39:e2017- 0237. DOI: https://doi.org/10.1590/1983- 1447.2018.2017-0237 

SIQUEIRA, M.C.G.; LEOPARDI. M.T. O processo ensino-aprendizagem na formação de trabalhadores do SUS: Reflexões a partir da experiência da ETSUS. Trab Educ Saúde2016;14(1):119-36. DOI: 10.1590/1981-7746- sip00094 


O NOVO PAPEL DO PSICÓLOGO EDUCACIONAL NA INSTITUIÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NAS ESCOLAS


Fonte da imagem: https://escoladainteligencia.com.br/blog/psicologo-escolar/


Adla Thailly Gomes Guimarães

Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco.


Este texto é produto do processo vivido no âmbito da 

disciplina Educação e Políticas Públicas, 

do curso de Psicologia da Univasf, 

tendo como professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro 

em março de 2023


A educação é um direito devido socialmente a todos os indivíduos. Dentro das ações públicas o acesso a esse direito deve ser garantido de forma plena pela materialização das políticas públicas direcionadas a esta área.  “A peculiaridade de uma determinada escola se articula com aspectos que a constituem e que são do âmbito da denominada rede escolar ou sistema escolar no qual são implantadas determinadas políticas educacionais.” (Souza, 2010) A psicologia educacional funciona como um eixo colaborativo de grande importância para o cumprimento destas ações, através da contribuição com o desenvolvimento de políticas públicas no âmbito da educação nas escolas públicas. A psicologia inserida no campo das políticas públicas educacionais precisa dar ênfase a constituição de mecanismos para defesa da escola democrática, dar ruptura epistemológicas a visão adaptacionista e dispor de práticas psicológicas adequadas diante da queixa escolar(Souza, 2010). De tal forma, compreende-se que a contribuição da psicologia educacional auxilia na criação de estratégias de ensino-aprendizagem que possam dar suporte as necessidades que permeiam não só ambiente escolar mas todo o processo educativo do indivíduo. Os efeitos da “visão cientificista e individualizada dominante acabou por ocultar a presença dos graves problemas sociais que atingiam a Educação, ou melhor, as atividades educacionais.” (Maluf e Cruce, 2008) A inserção da psicologia nas políticas educacionais precisa considerar as determinações históricas e sociais formativas da sociedade, de modo a agir na minimização dos obstáculos que favoreçam o desenvolvimento humano, conforme Moraes(2019). 

As novas perspectivas da psicologia educacional estimulam a criação de possibilidade de ruptura de processos reducionistas que depositam no educando a culpabilização pelas dificuldades na aprendizagem. É por meio da inserção de práticas inovadoras que viabilizem quebras de paradigmas e estigmas atenuantes no processo educativos que a psicologia assume uma cooperação ativa de desmistificação da aprendizagem plena do educando. O direcionamento da psicologia vai se preocupando em tornar visível outras demandas que atravessam o processo educativo, considerando as dimensões individuais, sociais e históricas do processo de escolarização, conforme Souza(2009). O espaço de atuação da psicologia influencia no desenvolvimento de concepções ético-políticas que deem suporte a inclusão social promotora de bem-estar dentro do campo da educação considerando os marcadores subjetivos dos indivíduos capazes de dar significante a sua trajetória escolar dentro do seu contexto de vida. Conforme Dias et. al.(2014), o psicólogo escolar precisa inserir-se no contexto em que se apresenta a realidade, entendendo como são organizados os processo históricos, culturais, políticos e econômicos, eliminando as barreiras da intolerância ou discriminação, para a auxiliar os sujeitos no suprimento de suas necessidades educacionais, destituídas do poder hegemônico de classificações e enquadramentos limitantes.

 A psicologia deve ocupar-se de apreciar a heterogeneidade de características dos estudantes como uma via de acesso as possíveis causas de enfraquecimento e carências na aprendizagem, validando a coesão entre o método de ensino e as singularidades desses alunos no cenário escolar. O psicólogo deve ter um olhar totalizante para o processo pedagógico, incluindo e aproximando o aluno deste processo, conforme Jucá(2000).  A respostas as demandas advindas do contexto educacional é resultado de uma construção crítica que interage com diversos atores, em um diálogo aberto a interdisciplinaridade de áreas que viabilizam a capacidade de atender com criatividade aos desafios e possibilidades dispostas neste ambiente.(Dias et. al, 2014)

O diálogo entre a psicologia e a educação estimula a ampliação de saberes, discussões, que vão compactuando com projeções propositivas capazes de produzir melhorias na escolarização nas escolas públicas. Para Patto(2022), o psicólogo e o professor devem trabalhar formas de atuação voltadas para a criação do vínculo pedagógico, desvencilhadas do discurso verticalizante de estrutura hierarquizada de mando, que coloca o educando numa condição limitativa de suas capacidades de expressão. Portanto, o alinhamento assertivo destas áreas favorece o direcionamento e o desenrolar de ações para minimização de dificuldades e falhas que se apresentam no sistema de ensino, contribuindo para o alcance de melhores níveis de qualidade da educação, consequentemente, maior bem-estar no contexto escolar. Busca-se através das práticas do psicólogo escolar na educação a ressignificação das concepções de intervenções por meio de implicações que perpassem a participação remediativa, dando vista a produção reflexiva dentro da escola, visando a valorização do ser humano, o apoio aos questionamentos e o alento aos incômodos emergidos no ambiente escolar, assim afirma Barbosa e Marinho (2010). A articulação entre estas áreas gerou paulatinamente novas concepções para o desenvolvimento de anseios pedagógicos ao espaço escolar. 

Ao longo dos anos o redimensionamento da atuação do psicólogo, bem como a participação da comunidade escolar nas questões e debates em torno da educação pública deram aplicações mais coerente ao sistema de ensino público. Embora, seja pertinente considerar que ainda há muito em que evoluir, principalmente, no que tange ao contexto de promoção de igualdade de condições ao acesso à educação, fortalecimento da qualidade das políticas públicas educacionais, investimento em melhorias contínuas nas estratégias de desenvolvimento da educação. Em suma, cabe ressaltar a grande contribuição da psicologia na educação como aliada do sistema educacional, e a participação desta área na esfera das políticas públicas auxilia no direcionar de ações para o efetivo desempenho do sistema de ensino-aprendizagem público.

 

Referências

Barbosa, R. M., & Marinho-Araújo, C. M.. (2010). Psicologia escolar no Brasil: considerações e reflexões históricas. Estudos De Psicologia (campinas), 27(Estud. psicol. (Campinas), 2010 27(3)). https://doi.org/10.1590/S0103-166X2010000300011.

Dias, A. C. G., Patias, N. D., & Abaid, J. L. W.. (2014). Psicologia Escolar e possibilidades na atuação do psicólogo: algumas reflexões. Psicologia Escolar E Educacional, 18(Psicol. Esc. Educ., 2014 18(1)). https://doi.org/10.1590/S1413-85572014000100011

Jucá, Margareth R. B. Lima.(2000) Síndrome de Caim: Psicologia Escolar, Psicopedagogia e o “fracasso escolar” com o mercado de trabalho. Estudos de Psicologia, 5(1), 253-260

Moraes, Carolina M., Carvalho, Leilanir de S., Costa, Tatiane dos S., Negreiros, Fauston, & Freire, Sandra Elisa de A. (2019). Políticas educacionais e psicologia: uma revisão da literatura. Psicologia: teoria e prática21(3), 255-281https://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v21n3p255-281

Maluf, Regina Maria & Cruces, Alacir Villa Valle. (2008). Psicologia educacional na contemporaneidade. Boletim - Academia Paulista de Psicologia28(1), 87-99. Recuperado em 01 de feveiro de 2023, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415711X2008000100011&lng=pt&tlng=pt.

Patto, Maria Helena Souza. (2022) Psicologia  e  ideologia:  uma  introdução  crítica  à  psicologia  escolar  /  Maria  Helena Souza  Patto.   --São  Paulo, Instituto  de  Psicologia  da  Universidade  de  São  Paulo, 2022. DOI: 10.11606/9786587596341.

Souza, M. P. R. de (2009). Psicologia Escolar e Educacional em busca de novas perspectivas. Psicologia Escolar E Educacional, 13(Psicol. Esc. Educ., 2009 13(1)). https://doi.org/10.1590/S1413-85572009000100021

Souza, M. (2010) Psicologia Escolar e políticas públicas em Educação: desafios contemporâneos. Em aberto, Brasília, v. 23, n. 83, p. 129-149. DOI: https://doi.org/10.24109/2176-6673.emaberto.23i83.2255.

Um olhar sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE) nas escolas regulares de ensino



Janaina Barbosa de Santana

Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco.


Este texto é produto do processo vivido no âmbito da 

disciplina Educação e Políticas Públicas, 

do curso de Psicologia da Univasf, 

tendo como professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro 

em março de 2023


Os alunos com deficiências têm assegurado na Constituição Federal de 1988, o direito à educação (escolarização) realizada em classes comuns e ao atendimento educacional especializado complementar ou suplementar à escolarização, que deve ser realizado preferencialmente em salas de recursos na escola onde estejam matriculados, em outra escola, ou em centros de atendimento educacional especializado. Esse direito também está assegurado na LDBEN - Lei n°. 9.394/96, no parecer do CNE/CEB n°. 1701, na Resolução CNE/CEB n°. 2, de 11 de setembro de 2001, na Lei n°. 10.436/02 e no Decreto n°. 5.626, de 22 de dezembro de 2005.

Esses atendimentos são feitos em salas de recursos multifuncionais, por meio do AEE, que segundo Alves (2006, p. 14), “são espaços organizados com materiais didáticos, pedagógicos, equipamentos e profissionais com formação para o atendimento dos alunos com deficiências”. Desta forma, a sala de recursos multifuncionais  devem oferecer estratégias de ensino planejadas que permitam ao aluno, desenvolver habilidades relacionadas à criatividade, resolução de problemas e raciocínio lógico.

É, portanto, um espaço organizado com materiais didáticos, pedagógicos, equipamentos e profissionais com formação para o atendimento aos alunos com deficiências. No atendimento, é fundamental que o professor considere as diferentes áreas do conhecimento, os aspectos relacionados ao estágio de desenvolvimento cognitivo dos alunos, o nível de escolaridade, os recursos específicos para sua aprendizagem e as atividades de complementação e suplementação curricular.

Nesse enfoque, compreende-se que a educação está baseada na aceitação das diferenças e na valorização do indivíduo, independentemente dos valores físicos e psíquicos. Quando se fala em inclusão, pressupõe-se que todos tenham os mesmos direitos, construindo um universo que favoreça o crescimento, valorize a diferença e o potencial de cada um. Assim, entende-se que uma escola que desenvolve uma política inclusiva está plantando a semente para uma sociedade desprovida de preconceitos.

O documento Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, fala sobre a organização dos sistemas de ensino para o atendimento ao aluno que apresenta deficiências educacionais. Esse documento define a educação especial como modalidade da educação escolar, que organiza de modo aconsiderar uma aproximação sucessiva de pressupostos e da prática pedagógica social da educação inclusiva, a fim de cumprir alguns dispositivos legais e políticos filosóficos da Constituição Federal, título VIII, da ordem social (BRASIL, 2001).

A realidade das escolas brasileiras, quando essas se afirmam escola para todos, ainda não compete plenamente ao grau de diversidade encontrado no limiar da escola pensada para a pessoa com deficiência, haja vista que, mesmo em face da diversidade de deficiência dos alunos dessa categoria, a inclusão, de fato, só se efetivará se ocorrerem transformações estruturais no sistema educacional.

Dessa forma, somente por meio da mudança do pensamento e do combate à primazia de situações individuais, em detrimento do instrumento político para o uso coletivo, pode-se cooperar de maneira mais consciente para com o desenvolvimento do aluno com deficiência, tornando dessa maneira, a sua vida escolar mais fácil e o rumo que segue a escola, mais justo e igualitário.

Assim, pois, se faz necessário que se removam as barreiras para a aprendizagem e a participação na educação inclusiva, respeitando as diferenças individuais e o multiculturalismo, pois se entende que a diversidade é uma riqueza e que o aluno é o melhor recurso de que o professor dispõe em qualquer cenário da aprendizagem. Nesse contexto, o processo de inclusão deve ser encarado como uma nova maneira de pensar e encarar a função educativa, assumindo-se como prioridade as relações igualitárias, comprometida com a cidadania e com a formação de uma mentalidade não excludente que promova o convívio harmonioso com a diversidade.


 

Referências

 

ALVES, D. de O. (Org.). Sala de recursos multifuncionais: espaços para atendimento educacional especializado. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2006.

 

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 2001.

      Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

 

 

 

 

O Telos na e da Educação: formar para a vida


Edvaldo Marques de Araújo

 Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco.


Este texto é produto do processo vivido no âmbito da 

disciplina Educação e Políticas Públicas, 

do curso de Psicologia da Univasf, 

tendo como professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro 

em março de 2023


 A educação é parte importante da vida em nossa sociedade atual. Não por acaso, ela é um direito constitucional. A educação e a informação – que são primas, mas não irmãs – são fundamentais para o exercício dos outros direitos, como a cidadania e o trabalho, por exemplo. Em função do trabalho, a educação é vista como uma ferramenta para formar – ou produzir, depende do ponto de vista – cidadãos aptos a ocupar os postos de trabalho. Esse é um dos Telos da educação atualmente.

            Antes de mais nada, é necessário explicar o que aqui está sendo chamado de Telos. Grosso modo, Telos é uma palavra grega que respeito à “finalidade” das coisas. Como campo de estudo da filosofia, existe a teleologia, que busca discutir e compreender os fins, propósitos, objetivos e finalidades. O que concebo aqui como Telos é nossa capacidade de delimitar um fim, entre objetivos e propósitos, para as coisas, mas para além da forma com que realizados esse fim. Para exemplificar, a educação forma pessoas para a vida social e para a ocupar postos de trabalho. A existência dessa finalidade dá significado a uma série de ações – ou formas de se educar – na educação, mas o propósito em si mesmo está relacionado ao que concebemos como um bom cidadão ou trabalhador. Ou seja, o Telos pode ser múltiplo e dar sentido para uma série de ações distintas, mas ele também se origina num berço de significados. Não há Telos para a educação se uma visão de mundo por trás. 

            Voltando a educação, desde o iluminismo, o ser humano é visto como único devido às suas capacidades cognitivas e à razão. Se é a cognição que nos diferencia enquanto humano, então é ela o alvo da educação desde então. Nos últimos anos, as coisas tem mudado um pouco de lógica, com a inserção das chamadas competências socioemocionais na BNCC, um avanço que reconhece a importância do mundo emocional ao longa da vida humana. Somos racionais e isso de fato nos distingue, mas não deixamos de ser emocionais. Essa inserção expandiu o Telos da educação. O reconhecimento da importância das competências não-cognitivas durante a vida humana e social realoca os objetivos da educação para um olhar mais ampliado do ser humano.

            A presença de uma dimensão emocional na vida humana não nos torna irracionais ou limita nossa razão. Muito pelo contrário, ela expande nossa vida de significados possíveis. A racionalidade por si só não dá conta de produzir significados íntimos e pessoais para nossas experiências, que são sobretudo compartilhadas entre nós. A razão compreende, analisa, explica, mas não sente. Sentimos muito e isso também nos faz humanos – no plural, juntos.

            Por isso, defendo que o Telos da educação deve ser formar para a vida, mas para a vida com um olhar ampliado sobre ela: com o mundo emocional e de significados pessoais inclusos. Nossa capacidade de produzir significados deve ser valorizada em todas as etapas da educação, sobretudo para nos ajudar a significar nossa própria vida. Nesse sentido, retomo a ideia de Sentido de Vida produzida por Viktor Frankl. Para o autor, a busca por um sentido para a vida é parte fundamental da motivação do ser humano e é crucial para o bem-estar subjetivo dos indivíduos.

            Ter um sentido para a vida nos permite ter uma percepção de ordem e coerência diante dela mesma, nos auxiliando a busca e realização de objetivos que sejam significativos e congruentes com este sentido. Em outras palavras, sentido de vida nos auxilia a olhar para a vida de uma forma organizada, produzindo um sentido de finalidade para ela e esse sentido nos permite auxiliar nossas ações em uma direção que para nós é significativa.

            Neste caso, não há um sentido universal e único que deva ser o alvo da educação, como uma espécie de educação bancária que fazemos o depósito de um sentido de vida para um aluno e após isso ele vive uma vida rumo à essa direção – tal qual como um teste vocacional, mas para a vida. Na contramão disso, sentido de vida só pode ser produzido pelo próprio indivíduo em relação com o mundo interpessoal e social ao redor dele, mas de produção pessoal. Apenas a própria pessoa pode descobrir aquilo que é valoroso e congruente para ela, a educação deve apenas dar as ferramentas desta descoberta. Como numa escavação: a educação dá ferramentas, o que se procura é um sentido pessoal e único para suas ações e o indivíduo é o arqueólogo que age em busca desse sentido. A única diferença entre a arqueologia e o que proponho: na arqueologia do sentido de vida, o arqueólogo se descobre enquanto escava a si mesmo.

            Nesse sentido, proponho a educação um Telos novo: instrumentalizar os indivíduos não só para o trabalho ou para a vida em sociedade – que não deixo de reconhecer como extremamente importantes para todos -, mas também para uma vida com significado. Significado este que só pode ser dado por si mesmo, mas que não está distante da realidade em que vive. Por isso mesmo a educação pode e deve ser um instrumento dessa escavação construtiva. O novo Telos da educação deve ser auxiliar as pessoas para encontrar a si mesmas.