quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

APRENDIZAGENS DE FINAL DE ANO


Duas grandes aprendizagens me marcaram o final de 2010 e o comecinho de 2011. A primeira é saber “abrir mão” das coisas e a segunda é saber fazer escolhas / tomar decisões. As duas estão relacionadas porque ao fazer escolhas se abre mão de algumas coisas. Estas aprendizagens são difíceis para mim, pois sempre acreditava que seria possível conciliar, mas nem sempre... Há coisas inconciliáveis na vida. Ou você vai para um lado ou escolhe o outro caminho ou então passa a vida toda na bifurcação da estrada. Algumas situações ilustram essa minha vivência de fazer escolhas e tomar decisões. A minha saída da pró-reitoria de ensino e a finalização do doutorado. Abri mão de algumas coisas como vender o carro (para custear a viagem ao Canadá), ausentar-me por um tempo do Brasil e de todos, entre outras. Nada fácil.
Ville du Québec, hiver 2011.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Em busca de uma educação integrada: o equilíbrio da razão e da “desrazão”


Por Marcelo Ribeiro

As discussões sobre os antagonismos entre razão e desrazão (tudo que equivale ao contrário de razão) não é novidade. Estas remontam aos filósofos antigos da Grécia, passando por pensadores da idade moderna até psicólogos e neurocientistas contemporâneos. Não caberá, portanto, neste ensaio uma resenha dessas discussões. Irei sugerir, tão somente, um equilíbrio por vezes necessário em um contexto que tende, em certa medida e para algumas coisas, supervalorizar a dimensão da razão. Por fim, tentarei articular a busca desse equilíbrio no âmbito da educação.

Normalmente ouvimos as seguintes frases: “cuidado, você não pode perder a cabeça”, “não perca a cabeça”, “não haja assim, você não tem cabeça para isso”. Bem, o que pretendo propor é justamente o contrário. “Percam a cabeça”! 
Mas o que significa o apregoado pelo senso comum (“não percam a cabeça)? Significa que há uma tendência a racionalizar as ações. Tem a ver também com certa tradição que remonta tempos imemoráveis da formação cultural da civilização ocidental, e que se baseia em uma descrença em tudo aquilo que não seja racional. Neste sentido, estamos falando das emoções, da intuição, de gestalt, de feeling, da percepção extra-sensorial, dos sonhos, etc.
Entretanto, um mundo que é regido ou pelo menos que tem como tradição valorizar padrões racionais de conduta e que recrimina ou desaconselha tomadas de decisões ou ações fora do padrão da razão, não parece ser tão eficiente quanto pretende. Poderia passar a descrever aqui de maneira indefinida uma série de exemplos mostrando que, por agir baseado em padrões racionais, muitas pessoas vivem de maneira infeliz, frustrada e, o que pode ser paradoxal, contrária a própria vida. “Perder a cabeça”, desse modo, poderia ser uma boa orientação para muita gente. É claro que não estou propondo abdicar da razão. De maneira alguma! Na verdade, em muitas situações, é necessário saber agir levando em consideração a razão. Isto nos ajuda a antecipar algumas ocorrências, a planejar outras, a criar estratégias, a avaliar e ponderar os passos, a classificar e seriar informações, etc. Essa maneira de agir é muito importante para a vida e não se precisa de modo algum abrir mão dela. A questão que se coloca é, muitas vezes, o excesso desse tipo de conduta na vida. Nem sempre, portanto, “perder a cabeça” é uma coisa ruim. As vezes, agir “perdendo a cabeça” pode ser uma boa oportunidade para a ruptura de um estilo de vida, para fazer viver uma loucura e liberar o potencial criativo, dando vazão a algo reprimido e resgatando a vitalidade existencial. Agir “perdendo a cabeça” pode permitir também a simples experiência de maneira solta, leve e lúdica.
Como foi frisado anteriormente, não há porque abrir mão da razão. Acrescentaria também que viver constantemente “perdendo a cabeça” pode se tornar um padrão comportamental prejudicial, justamente porque se deixou de lado a dimensão racional. O “perder a cabeça” que é defendido tem muito mais a ver com a necessidade de equilibrar uma tendência, muitas vezes excessiva, em nossas sociedades no que diz respeito a super-valorização de condutas racionais.  Assim, para algumas pessoas pode ser importante saber e poder “perder a cabeça” para recuperar o equilíbrio de uma vida que estava deveras racional e que a impedia de ser mais vitalizada.
Depois dessa conversa sobre a importância de saber e poder “perder a cabeça” em alguns momentos da vida resta pensar essa questão no âmbito da educação.
Os professores normalmente assumem uma tendência a reforçar as condutas racionais. Em suas classes sempre estão geralmente mais interessados no pensamento dos alunos, em seus argumentos racionais e em suas sistematizações bem encadeadas por uma lógica impecável.
Mas essa postura insistente do professor não poderia também estar colaborando para perda de oportunidade em desenvolver certas habilidades nos alunos? Seria então possível ensinar a alguém “perder a cabeça”? Não, óbvio que não. “Perder a cabeça” seria uma daquelas coisas que tem a ver com o sentir o gosto de algo. Você não ensina uma pessoa o gosto de algo. O máximo que se pode fazer é ajudar a descrever o gosto, é dar algumas dicas. No caso do professor, o que ele pode fazer é valorizar no aluno respostas ou produções que brotem, por exemplo, da intuição. O processo criativo, extremamente necessário não só nas artes, mas também nas engenharias e até na medicina é muito pouco trabalhado pelos professores. Independe da área que se ensine, o professor pode, por exemplo, valorizar em alguns momentos a intuição, as emoções, as gestalts e os feelings dos seus alunos. Assim, por exemplo, para um estudante de engenharia, uma resposta adequada poderia ter como base o uso de recursos criativos, imaginativos e inventivos para a projeção de uma imagem, para prospecção de uma solução mecânica ou elétrica. Para um estudante de medicina um diagnóstico poderia ser elaborado de maneira mais eficiente se ele puder levar em consideração não uma análise mecânica dos sintomas, mas sim uma compreensão do todo que se apresenta.
Uma educação que se baseia ou que pelo menos é aberta para outras tendências que não apenas a racional, abre possibilidades de expressões e produções de respostas mais diversas aos alunos. Estes, por sua vez, podem se sentir mais a vontade em classe porque estariam “mais inteiros”. Isto significa dizer que um tipo de educação nos termos aqui colocados seria menos dicotomizante, permitindo a integração de dimensões e aspectos humanos que foram, historicamente, escorraçados. Tudo isto não significaria a abdicação do rigor acadêmico ou o descaso para com a pertinência da escola. Pensar e fazer uma educação que envolva elementos da razão e da “desrazão” é adotar uma démarche do equilíbrio, uma busca de uma educação integrada.
Praia de Jauá (Camaçari-BA), 04 de janeiro de 2011.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O PRESENTE QUE EU DARIA A ELA

 
Por Marcelo Ribeiro

Sempre tive uma ligação com as crianças e elas a mim, pelo menos eu acho. Lembro como fazia sucesso quando, enquanto psicólogo, atendia crianças. Quando saia, na rua mesmo, as crianças facilmente interagiam comigo. Até mesmo acreditava que eu tinha alguma coisa com Cosme e Damião (santos da igreja católica, mas que na Bahia adquirem, via o sincretismo religioso, as representações de crianças para o candomblé – orixás como Erê).
Até hoje estou muito envolvido com esse universo da criança. Não é por menos que trabalho com educação infantil. Para mim, a criança e a infância (coisas que têm suas diferenças, bem certo) vêm a ser fontes de inspiração. Eu diria até que inspiram uma filosofia de vida. Lembra da música de Gonzaguinha quando ele diz que preferia as respostas das crianças? Eu mesmo me sinto, por diversas vezes, uma criança. E para mim, a criança e a infância, transcendem o próprio ser, a própria criança ali na minha frente. Para mim tem a ver com o amor, com a poesia, com um jeito de ser e de viver.
E é via essa inspiração, essa atração que atravessa minha vida que quero render uma adoração a tudo aquilo que, para mim, significa criança, infância. Sentei em um banco da praça e deixei a imaginação me levar ao sabor das brincadeiras dos pequenos.
Uma criança, em meio a muitas que “algazarriavam” no recreio da escola, dirigiu-se a mim e disse: “Professor, eu lhe trouxe esse presentinho”. A mão estava vazia, mas dava tanta ênfase a sua realidade que peguei com cuidado aquele “presente” e cheguei a entrar em seu universo. Então retornei: “Uh! Muito obrigado! Mas eu posso saber o que é?” E esta retrucou: “Professor! Você não sabe!? É a coisa mas importante que existe!” Como fiquei com muita vergonha, agradeci novamente e com todo jeitinho coloquei o presente na minha mesa. Voltei para a casa encucado com tudo aquilo.
Meses depois, o ano estava quase acabando e aquela turma tinha sido deveras especial, sobretudo a pequena que um certo dia havia me dado o presente. Não me contive e mesmo sabendo que poderia falar sem ser muito entendido (ledo engano!), resolvi fazer alguns agradecimentos aos pequeninos pela bela companhia que desfrutei durante o período letivo.
“Minhas adoráveis crianças, eu quero muito agradecer do fundo do meu coração todo esse tempo que tivemos juntos e dizer que vocês são muito sabidos e que cresceram bastante. Estou certo que vão continuar aprendendo um montão de novas coisas”. E depois de abraçar cada uma delas, não me contive e perguntei a menininha que havia me dado o presente: “o que é mesmo a coisa mais importante?”
Foi então que, para minha surpresa, escutei algo muito profundo e que me surpreendeu: “Professor, o mais importante é o presente”.
Aquela simples resposta, e que poderia ter algumas interpretações, havia mexido comigo e de novo a menininha me sacudia. Foi então que fiquei com um monte de coisas zunando a minha cabeça. Havia assumido que o presente que a menininha se referia era o presente do presente, ou seja, a própria vida, em seu fluxo, se apresentando como um presente.
Foi então que matutei qual o presente (nesse sentido) que eu daria para “ela”. Acho que essa seria uma pergunta que diria muita coisa, inclusive para a minha própria vida. “Eu daria... Eu daria...” Ficava a pensar. Bem, eu daria o que poderia dar. Daria o meu máximo e o meu melhor. Daria a mim mesmo como a maior prova de doação. Daria sem querer nada em troca. Daria de coração sem cobrar resposta. Daria o meu alcance em inteireza. Daria a beleza, a pureza. Daria o frescor do dia e a noite da magia. Daria toda minha vida se assim exigida. Daria porque simplesmente daria como gesto que se põe e faz movimento. Daria a alegria de dar e com toda a certeza na presença. Daria o que não se pode comprar porque é lá o mais importante. Daria a riqueza da existência para alegrar e enobrecer a sua. Daria o presente em seu aniversário mesmo que ela não soubesse que estava ganhando algo. Daria com o mesmo amor.  

Salvador, 03 de janeiro de 2011.

domingo, 2 de janeiro de 2011

OS PODERES E SEUS CUIDADOS

Por Marcelo Ribeiro

Muito se fala sobre o poder. Assim, há o poder nas organizações políticas, o poder nos órgãos públicos e privados, o poder nos cargos de chefias, o poder na relação professor – estudante, o poder nas relações humanas em geral... Mas qual é mesmo a questão do poder? Qual o problema do poder para a humanidade? Para mim, o poder não é o problema. O poder é algo inevitável das e nas relações humanas. Constitui a própria relação, no entender, por exemplo, de Foucault. Mas então o que tanto preocupa os humanos em relação ao poder?
Ainda seguindo uma visão pessoal do que tenho experienciado e interpretado sobre o poder, posso dizer que é algo, apesar de constituidor e inevitável, que deve ser visto de maneira plural e com cuidado. Não concebo o poder no singular. Ao mesmo tempo em que há formas variadas de poder, penso que seja necessário ter certa atitude e postura, enfim, ter uma ética em relação ao poder, ou aos tipos de poder.
Para se pensar um pouco melhor sobre atitude e postura em relação ao poder, há a diferença entre a imposição e a influência. Darei dois exemplos dessa diferença. Em um primeiro, seria um tipo de chefe que impõe aos seus colegas de trabalho uma determinada orientação e outro que mostra a importância e pertinência da orientação. Em um segundo exemplo, seria um tipo de professor que lida com os conteúdos sem estabelecer uma relação de vínculo com seus alunos e outro que estabelece um diálogo com os seus estudantes para que os conteúdos possam fazer sentido aos mesmos. São duas atitudes e posturas distintas entre esses chefes e professores. A primeira é seca, determina e não há muito que se questionar. É simplesmente acatar. A segunda traz outras implicações, tais como o diálogo, a racionalidade e a participação na tomada de decisão.
Sou deveras inclinado a defender a segunda postura e atitude como exemplo de cuidado que devemos ter a respeito do poder. Essa defesa assumida tem como base toda uma tradição filosófica e científica, embora não tenha o mesmo respaldo em termos de tradição e história social. Por exemplo, o filósofo Kant acreditava que a verdade (aqui traduzida como uma orientação emitida pelo chefe de um setor, para dar sequência ao exemplo dado) poderia ser desejada. Jean Piaget, prodigioso biólogo que investigou a origem do desenvolvimento do conhecimento humano dizia, em seus estudos sobre a moral, que a noção de certo e errado e as tomadas de decisões são elaboradas em grande medida pela capacidade racional dos sujeitos. Assim, ao exercer a influência para orientar comandos, o chefe de um setor estabelece diálogo com os seus colegas, trabalha a racionalidade e pertinência das ações, aborda tudo isso de maneira participativa justamente para que todos se apropriem das orientações e sejam autônomos e não autômatos nas orientações. É aí que aparece outra coisa importante, que é a questão da autonomia.
O poder e autonomia têm uma relação de desdobramento. A depender do modo como o poder seja exercido ele pode constituir relações geradoras de automonia, ou melhor, de sujeitos autônomos ou, o contrário, autômatos. Ives de La Talle, seguidor de Piaget, argumenta que relações autoritárias (ou mesmo regimes autoritários) podem trazer dificuldades para o desenvolvimento intelectual e que sistemas democráticos, onde há participação, podem ajudar. Isto porque nas relações autoritárias não há espaço para a argumentação, para o questionamento, para a troca, para a participação. A existência de autonomia implica sempre em um tipo específico de poder que constitui as relações, enquanto que o automatismo implica outro tipo de poder constituidor.
Apesar de não ser tão corrente em nossas tradições e história a postura e a atitude que visa influenciar os sujeitos a seguirem certas orientações, há preciosos exemplos. É o caso do presidente da Philips no Brasil, Marcos Bicudo, que não tem mesa própria. Todos usam as mesas e utensílios de escritórios que estiverem disponíveis. Isto revela também uma perspectiva de horizontalidade na empresa sem necessidade de demarcar territórios e impor posições de chefias (na matéria da Folha de São Paulo do dia 31 de outubro de 2010, caderno “mercado – B2, foi abordado o uso racional dos recursos).
É importante não confundir a influência aqui abordada enquanto prática de uma ética com aquela outra, muitas vezes utilizada pelo marketing, que visa criar necessidades de mercado ou induzir comportamentos/pensamentos aos sujeitos. A grande diferença é que a primeira se dá de maneira consciente, construída via a participação. Enquanto que a segunda não. Esta é totalmente induzida através de mensagens subliminares e não adota o princípio do diálogo.
Outra palavra chave aparece para ajudar a distinguir melhor modos diferentes de se lidar com o poder – diálogo. Nas atitudes e posturas mediadas pelo autoritarismo, geradoras de automatismos e que é um tipo de poder constituidor de relações, não há diálogo. O que existem são consignas ou, no máximo, monólogos. O diálogo é inerente a participação e a autonomia. Nas relações constituídas por um tipo de poder que porta a marca do diálogo, o outro é afirmado em sua diferença e privilegiado justamente por isso. A possibilidade, portanto, da parceria acontece porque o outro pode ser outro na relação. Ele não é anulado, ele não é neutralizado, ele não é apagado, ele não é calado. O outro é chamado, é apreciado, é confrontado, é visto como possibilidade de mudança, de ser “afetante” e afetado. A própria etimologia da palavra dia(de)-logos, significa relação de sentidos, sentidos diferentes que se relacionam, que se interagem. Assim, há a ideia de díade, ou seja, de relação e há também a ideia de logos como sentido.
Ao contrário do que é apregoado por alguns, o poder não leva necessariamente a solidão. É claro que as pessoas públicas precisam saber lidar com o que é da sua dimensão pública e da sua dimensão privada. Mas a depender do tipo de poder, o sujeito se encaminha para o isolamento ou para a ligação. O poder que leva ao isolamento é aquele que nega justamente o diálogo, é um poder autoritário por isso. Enquanto que o poder que afirma o outro na relação leva a ligação. Poder nesse sentido é ligação. É um poder que liga, que dialoga.
Poderia até ser pensado o diálogo como a antítese do autoritarismo. Este, por sua essência, é a própria negação do diálogo, sua impossibilidade fundante. Eminente pensador das ciências humanas, sobretudo em relação a psicologia, Erich Fromm, avaliava que o autoritarismo seria uma maneira de exercer o poder e que estaria profundamente associada a um jeito inseguro de ser que busca uma compensação via o excessivo controle externo (ver os livros “Medo à liberdade” e “Análise do homem”).
Nesse sentido, é possível pensar que o poder marcado pela imposição, pelo autoritarismo, negador de diálogo e gerador de sujeitos autômatos pode ser até prático em termos de efeitos rápidos de controle. Afinal, o servo obedece ao seu senhor. Entretanto, este “obedecer” se dá via a submissão, via a ameaça, via o medo e via a punição. Ora, a punição (e também medo – o que não deixa de ser uma forma punidora de estabelecer relações) como controle é uma das formas menos eficientes de modelar comportamentos, já dizia o pai do comportamentalismo, Skinner (um “humanizador” e crítico mordaz aos processos educativos que se baseavam preponderantemente na punição dos escolares como forma de controlar seus comportamentos e induzir à aprendizagem).
A submissão, a ameaça, o medo e a punição, são características de um tipo de poder que pode ser adjetivado como autoritário.  Apesar de um controle sobre os sujeitados, seus efeitos são imprevisíveis e não há aderência dos mesmos no que se referem as suas tarefas. Assim, a revolta desses sujeitados subjaz, a energia reprimida força escapes muitas vezes incontroláveis e o desejo por mudança é inevitável. Quando a ameaça ou o sistema punitivo desaparece, o comportamento que havia também desaparece junto.
O contrário se dá quando o tipo de poder é marcado pela influência, pela participação e pelo diálogo - o poder dialógico. O controle é interno porque há auto-regulação dos sujeitos que está em constante interação e mesmo que o chefe não esteja mais presente, as orientações, ou seja, os projetos são mantidos porque são desejados. É o que acontece também em uma sala de aula. Nesse caso, mesmo que o professor não esteja presente na classe, os estudantes mantêm seus objetivos e interesses centrados no processo de aprendizagem.
A partir daí surge outro aspecto sobre o poder, que é o egoísmo de sua perpetuação ou o amor de sua superação. O poder dialógico, não quer sua perpetuação porque custaria a negação do outro em prol da sua manutenção. O poder dialógico quer justamente a sua superação porque visa a autonomia do outro, visa o empoderamento do outro. Já o poder autoritário é perverso porque uso o seu poder para a manutenção do próprio poder, para subordinação do outro, impedindo o seu processo de empoderamento. É no egoísmo do poder autoritário que reside sua perversidade, pois é lá que se nega o outro em nome de um “eu” agigantado.
Entender, portanto, a pluralidade do poder e a sua necessidade do cuidado, implica em se ter uma relação com poder de um modo menos preconceituoso, mais aberto e também mais prudente. Assim, por tudo isso, concebo importante desenvolver práticas cuidadosas para lidar com o poder. Isto implica em pensar em uma educação que ajude a preparar as pessoas a lidarem com as questões inerentes do poder. Nesse sentido, uma formação, seja ela da educação básica ou mesmo profissional em nível universitário, deve contemplar, transversalmente, ou seja, em todo o seu currículo, elementos da ética de uma maneira não só teórica, mas, sobretudo prática. Mas isto será uma discussão para outro momento. 

Campina Grande, 30 de dezembro de 2010.