sábado, 29 de maio de 2010

80% dos pré-requisitos são ideologias


 Cada vez mais venho constatando que uma boa parte das disciplinas que exigem pré-requisitos não passa de uma arbitrariedade, ou melhor, de uma idéia que visa, muitas vezes, ser corporativista. O título, a que se refere este breve texto, quer ter uma força de expressão. É claro que não houve nenhum tipo de mensuração para estipular esses 80%. O que se quer chamar a atenção é o fato de muitas exigências, em termos de pré-requisitos, não se sustentam em seus próprios argumentos. Algumas pesquisas (indutivas e dedutivas) e experiências pessoais, inclusive a minha, têm mostrado que os pré-requisitos não se sustentam. Estudantes que não cursaram ou perderam, por exemplo, em cálculo I, mas que fizeram (por algum motivo) cálculo II ou III, conseguiram alcançar a média e passar! Estudantes que se matricularam em disciplinas eletivas (de outro curso que não o seu), e que essas disciplinas teriam pré-requisitos para os cursos de origens, conseguiram ter desempenho igual ou melhor que os que tiveram que fazer cumprindo os pré-requisitos.
Não é nosso objetivo e nem interesse aprofundar aqui as causas e os porquês desse entendimento, mas simplesmente queremos chamar atenção para esse assunto (que posteriormente iremos melhor desenvolver).

Recife, maio de 2010.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

“Gameficar” o currículo"

Ao participar do VI Seminário sobre eletrônico, educação e comunicação – construindo novas trilhas, em Salvador (maio de 2010 - http://realidadesintetica.com/seminario/) uma coisa me chamou bastante atenção. Foi a discussão em relação a necessidade de resgatar o elemento do lúdico no processo de ensino-aprendizagem. Isto significa dizer que um dos tons do seminário foi pensar e empreender ações que possibilitem construir uma escola, uma educação, onde o prazer, o jogo e o divertido sejam inerentes ao processo de aprender. Assim, por exemplo, o currículo poderia ser pensado não só do ponto de vista do design instrucional, ou seja, a melhor maneira de dividir e abordar os conteúdos. O currículo poderia (e deveria) ser pensando nos mesmos termos que um jogo é planejado, é construído. Um jogo, portanto, quando construído, é levando muito em conta a sua capacidade de entreter, de divertir... Por que não pensar um currículo com essas mesmas características, afinal? Sendo assim, poderíamos pensar também em uma nova forma de fazer educação e outra maneira de formar os nossos profissionais da educação. Seriam eles também preparados para pensar e fazer do design curricular algo divertido e prazeroso. Acho que a história dos games, nesses termos, tem, por exemplo, muito que contribuir para educação e para superação de algumas dificuldades encontradas pelas escolas (e também no ensino superior) – ensino descontextualizado, desinteressante, obsoleto, não atrativo. Em tempo: isto não significaria abrir mão dos conteúdos.
Salvador, maio de 2010.

FORMAÇÃO DOCENTE: O PAPEL DO COORDENADOR DE COLEGIADO NA UNIVASF

A UNIVASF acaba de completar 5 anos. Esta recente Universidade nasce com características particulares e com desafios interessantes. Trata-se de uma instituição desenvolvida no bojo de uma política pública de expansão e interiorização do ensino superior.
Tal política pública, por sua vez, visa, além, obviamente, de aumentar a oferta de vagas no ensino superior, democratizar o acesso e estimular o desenvolvimento regional.
Bem, todas as universidades novas, assim chamadas, têm, mais ou menos, essas características. Uma das coisas, portanto, que particularizam a UNIVASF é o fato dela ser multi-campi e regional. Estamos atualmente com 5 campi e presentes em 3 estados e em 4 municípios do sertão nordestino (São Raimundo Nonato – PI, Senhor do Bonfim – BA, Juazeiro – BA, Petrolina Centro – PE e Petrolina “Fazenda” – PE). Estamos com um total de 21 cursos de graduação, 1 curso seqüencial, 1 residência multiprofissional, 6 residências médicas e 2 mestrados. Sem querer entrar em pormenores e em todos os desdobramentos dessas características, queremos tão somente salientar o perfil do nosso corpo docente e, daí, problematizar um aspecto da formação do professor.
Presentemente, temos 142 professores com mestrado, 102 com doutorado, 75 com especialização e apenas 11 com graduação. Muitos desses professores estão concluindo suas qualificações.
Em relação a idade, temos 57 professores entre 41 a 50 anos, 18 de 51 a 60 anos, 4 de 61 a 70 anos, 177 de 31 a 40 anos e 77 até 30 anos (Dados do DRH – UNIVASF / 2009).
Esses dados nos possibilitam dizer que temos um corpo docente jovem e que está, basicamente, iniciando sua carreira. Ao mesmo tempo, somos uma instituição nova e com um número relativamente pequeno de servidores, considerando aí o grande volume de atividades, funções de gestão, estruturas administrativas e organizacionais. Tudo isso significa dizer que há uma enorme necessidade de se investir na formação docente, sobretudo na dimensão da gestão.
Um exemplo emblemático é o papel do coordenador de colegiado. Diferente de algumas antigas universidades, a nossa tem um desenho administrativo mais leve, mais horizontalizado. Nós abolimos a estrutura departamental e de centros (estruturas essas, muitas vezes, que criam morosidade na dinâmica universitária, além de contribuir com os chamados “guetos” universitários e hierarquizar demais o sistema), funcionando tão somente com os colegiados em uma relação direta com a reitoria, com o Conselho Universitário, com as pró-reitorias e outras estruturas administrativas da universidade.
Por outro lado, esse modelo, de colegiado, demanda do coordenador certas habilidades, competências, informações e conhecimentos que ele não tem – ainda mais quando se trata de um professor jovem que está iniciando sua carreira.
O papel do coordenador de colegiado em uma estrutura como a nossa demanda funções e ações que passam pela questão do papel de orientador, de supervisor, planejador, de gestor de recursos humanos, de administrador de recursos materiais, dentre outros papéis. Isto é tão sério que o bom ou o mau desempenho do coordenador pode afetar o desempenho do assistente, impactar na evasão ou retenção discente, na avaliação do curso, na política do curso, na qualidade das relações entre os professores do colegiado, etc.
Nos impele, ao termos essa avaliação ou essa constatação, criar condições para investir fortemente em uma formação docente, focando, especialmente, a dimensão da gestão. Precisamos formar, preparar e capacitar melhor os nossos professores para assumir, de maneira competente, a função de coordenador de colegiado. Eis aí uma das nossas atuais características com seu desdobrar nesse desafio – formação docente.

Porto de Galinhas – PE, maio de 2010.

domingo, 2 de maio de 2010

POR UMA CULTURA UNIVERSITÁRIA-UNIVASF

Se alguém me perguntasse hoje como eu vejo a UNIVASF e a relação estabelecida com a região, certamente eu diria, sem pestanejar, que há, de modo geral, uma forte motivação entre os servidores (assistentes, técnicos e professores). Lá mesmo na pró-reitoria de ensino (PROEN), muitos da minha equipe já verbalizaram que se sentem muito animados com o trabalho. Vários de nós trabalhamos facilmente mais de 12 horas por dia. E não me refiro apenas a PROEN. É possível reconhecer esse entusiasmo e motivação no modo como os servidores lidam com o dia a dia do seu trabalho. Certamente isto tem a ver com o tempo da instituição, que é recente, mas tem a ver também com a própria necessidade de se construir praticamente tudo e com a perspectiva do novo, de estarmos fazendo acontecer uma universidade que foi e é muito desejada por todos da região. E é justamente essa relação com a região que eu gostaria de me deter um pouco mais.
Considero extremamente importante o estabelecimento do diálogo entre a Universidade e a região. É importante conhecer as especificidades da região bem como se envolver com suas questões. É lógico que esse envolvimento precisa ser melhor problematizado. Não estou querendo dizer que a Universidade deva se responsabilizar com exclusividade em relação aos problemas da região e também defendo a idéia de que se deve manter sua autonomia, sobretudo frente às questões políticas locais. Quando falo dessa relação entre a Universidade e a região, refiro-me, obviamente, as relações estabelecidas a partir dos nossos servidores. Os nossos professores, em particular, são oriundos, em sua maioria, de outras regiões. Alguns vivem choques culturais, outros já conheciam... Essa relação com a alteridade é que pode ser a questão importante a ser visada nos desdobramentos dos próximos anos para a UNIVASF. Por outro lado, não só a instituição vive seus impactos, a região também. Embora não tenhamos, no momento, como aferir com precisão essa influência, observamos, por exemplo, um aumento da oferta de serviços da cidade, um aquecimento no mercado imobiliário e um outro movimento nas cidades que têm a presença da UNIVASF. Certamente, os impactos não são apenas leves e fáceis de serem absorvidos. Alguns destes geram conflitos e podem ser pesados. A Universidade, por excelência, deve gerar relações internas baseadas na democracia, na participação, a partir do diálogo e em construção conjunta. Tudo isso pelo simples fato dos princípios educativos (em outro momento poderei explorar melhor essa discussão). Este aspecto essencial da Universidade termina balizando a cultura local e aí, por exemplo, pode chocar com a questão do coronelismo, ou melhor, da “cultura coronelesca”, que se caracteriza, muito resumidamente, a partir de relações autoritárias, do senso do público como algo privado, da origem histórica do sertão como algo sem a presença do estado e por conta disso a permissão e necessidade de se ter donos que protegessem aqueles mais fracos e em troca, todo sistema de vassalagem daí estabelecido. Bem, apesar de alguns trancos (inevitáveis e constituidores das nossas histórias) que envolveu a Universidade e a região, há uma avaliação muito positiva. O relatório da Comissão Permanente de Avaliação – CPA, que serve para orientar as ações e políticas da Universidade, aponta, de modo geral, que a UNIVASF é bem avaliada pelos seus professores, por alunos e pelos servidores. Infiro também que essa boa avaliação é correspondente à comunidade externa. Por fim, quero só pontuar mais uma vez a necessidade de se ter em visada a necessidade de se estabelecer diálogos entre a UNIVASF e a região. E isto não significa ausência de conflitos e tensões. Ao contrário. Muitas vezes é necessário. Mas o que aponto como diálogo é um sentido ético de apreciação pelo outro, que aqui estamos nos referido a cultura da região. A UNIVASF nasce com os seus diferentes, mas irá se desenvolver na relação de apreciação dessas diferenças. Isto não pode ser confundido com interesses pessoais, por mais que existam e que sejam legítimos. Essa apreciação deve fazer parte de um projeto coletivo e mais ou menos compartilhada por todos os servidores e alunos. Isto eu chamo de cultura universitária-UNIVASF.


Juazeiro, maio de 2010.

Poesia

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos antigos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia – e, se não ousarmos fazê-lo, teremos ficado para sempre, à margem de nós mesmos.”
(Fernando Pessoa)