domingo, 2 de maio de 2010

POR UMA CULTURA UNIVERSITÁRIA-UNIVASF

Se alguém me perguntasse hoje como eu vejo a UNIVASF e a relação estabelecida com a região, certamente eu diria, sem pestanejar, que há, de modo geral, uma forte motivação entre os servidores (assistentes, técnicos e professores). Lá mesmo na pró-reitoria de ensino (PROEN), muitos da minha equipe já verbalizaram que se sentem muito animados com o trabalho. Vários de nós trabalhamos facilmente mais de 12 horas por dia. E não me refiro apenas a PROEN. É possível reconhecer esse entusiasmo e motivação no modo como os servidores lidam com o dia a dia do seu trabalho. Certamente isto tem a ver com o tempo da instituição, que é recente, mas tem a ver também com a própria necessidade de se construir praticamente tudo e com a perspectiva do novo, de estarmos fazendo acontecer uma universidade que foi e é muito desejada por todos da região. E é justamente essa relação com a região que eu gostaria de me deter um pouco mais.
Considero extremamente importante o estabelecimento do diálogo entre a Universidade e a região. É importante conhecer as especificidades da região bem como se envolver com suas questões. É lógico que esse envolvimento precisa ser melhor problematizado. Não estou querendo dizer que a Universidade deva se responsabilizar com exclusividade em relação aos problemas da região e também defendo a idéia de que se deve manter sua autonomia, sobretudo frente às questões políticas locais. Quando falo dessa relação entre a Universidade e a região, refiro-me, obviamente, as relações estabelecidas a partir dos nossos servidores. Os nossos professores, em particular, são oriundos, em sua maioria, de outras regiões. Alguns vivem choques culturais, outros já conheciam... Essa relação com a alteridade é que pode ser a questão importante a ser visada nos desdobramentos dos próximos anos para a UNIVASF. Por outro lado, não só a instituição vive seus impactos, a região também. Embora não tenhamos, no momento, como aferir com precisão essa influência, observamos, por exemplo, um aumento da oferta de serviços da cidade, um aquecimento no mercado imobiliário e um outro movimento nas cidades que têm a presença da UNIVASF. Certamente, os impactos não são apenas leves e fáceis de serem absorvidos. Alguns destes geram conflitos e podem ser pesados. A Universidade, por excelência, deve gerar relações internas baseadas na democracia, na participação, a partir do diálogo e em construção conjunta. Tudo isso pelo simples fato dos princípios educativos (em outro momento poderei explorar melhor essa discussão). Este aspecto essencial da Universidade termina balizando a cultura local e aí, por exemplo, pode chocar com a questão do coronelismo, ou melhor, da “cultura coronelesca”, que se caracteriza, muito resumidamente, a partir de relações autoritárias, do senso do público como algo privado, da origem histórica do sertão como algo sem a presença do estado e por conta disso a permissão e necessidade de se ter donos que protegessem aqueles mais fracos e em troca, todo sistema de vassalagem daí estabelecido. Bem, apesar de alguns trancos (inevitáveis e constituidores das nossas histórias) que envolveu a Universidade e a região, há uma avaliação muito positiva. O relatório da Comissão Permanente de Avaliação – CPA, que serve para orientar as ações e políticas da Universidade, aponta, de modo geral, que a UNIVASF é bem avaliada pelos seus professores, por alunos e pelos servidores. Infiro também que essa boa avaliação é correspondente à comunidade externa. Por fim, quero só pontuar mais uma vez a necessidade de se ter em visada a necessidade de se estabelecer diálogos entre a UNIVASF e a região. E isto não significa ausência de conflitos e tensões. Ao contrário. Muitas vezes é necessário. Mas o que aponto como diálogo é um sentido ético de apreciação pelo outro, que aqui estamos nos referido a cultura da região. A UNIVASF nasce com os seus diferentes, mas irá se desenvolver na relação de apreciação dessas diferenças. Isto não pode ser confundido com interesses pessoais, por mais que existam e que sejam legítimos. Essa apreciação deve fazer parte de um projeto coletivo e mais ou menos compartilhada por todos os servidores e alunos. Isto eu chamo de cultura universitária-UNIVASF.


Juazeiro, maio de 2010.

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