domingo, 2 de fevereiro de 2020

Disciplina Educação e Políticas Públicas 2019.2

É com alegria que concluímos mais um semestre letivo da nossa disciplina Educação e Políticas Públicas.

Parabéns as queridas estudantes e querido estudante. Forem ricas aprendizagens e a nossa culminância (último dia de aula) foi especial.
Layla, Regina, Queila, Samara, Andreia, Ozeni, Tereza, Adjácia e Eralina.




Para quem quiser conferir algumas das produções dos graduandos é só clicar nos seguintes links:

Desaprender














Desaprender

Queila Andrade Haine Campos
(Graduanda de Psicologia - Univasf. 
Disciplina Educação e Políticas Públicas.
Prof. Marcelo Ribeiro)


Algo mágico acontece aos vintes e cinco anos, perspectivas e as prioridades mudam, não sei, tenho a impressão que isso chegou cedo pra mim, esperava que viesse lá pelos 30. Sinto que cheguei na fase Rubem Alves, de Desaprender. “[...] desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos”. E como se a escola e as universidades tivessem se perdido em sua missão. Não falamos sobre isso na sala de aula e nem precisamos recorrer aos índices do Pisa (2018), INEP... para perceber que há tempos a escola deixou de explorar o desejo de conhecer. 
 Passamos em média 14 anos na escola, somado uns cinco na graduação e caso queira prosseguir na academia, vão-se anos em mestrado e doutorado. Fato que passamos boa parte de nossa vida na escola e universidade e talvez nem 10% desses saberes realmente nos acompanhem. Para além de culpar professores, alunos e gestores precisamos repensar a quem realmente a escola está a serviço, pois apesar de sua inegável importância tem sido tratada como secundária, um exemplo é a aprovação da Proposta da Emenda Constitucional (PEC) 241 que limitou os gastos públicos pelos próximos 20 anos. (Agência Senado, 2018)
Contudo, fazer uma retrospectiva da educação brasileira principalmente no contexto econômico pode nos ajudar a compreender o processo de falência das escolas, considerando alguns acontecimentos históricos e suas implicações na conjuntura atual. Uma vez que, a educação pública há tempos sofre cortes orçamentários, os quais segundo Dusek (2019) tem contribuído para evasão e má formação do aluno e tem impactado no alcance de direitos, aumento das desigualdades sociais e também na construção da cidadania.
         Voltando até o fim da segunda grande guerra, por volta de 1945, com a vitória dos aliados, o Brasil passou por um intenso processo de modernização que provocou mudanças em vários setores da sociedade, em especial, devido a influência do Keynesianismo cuja proposta é a ampliação dos gastos públicos objetivando aquecer o setor privado (Morais, 2014 citado por Dusek, 2019). Juscelino  Kubitschek  (1956-1960) abraçou as concepções keynesianas focou em produção, em acúmulo de capital e seu plano desenvolvimentista composto de cinco eixos. Todavia, “apenas 3,4% das verbas foram previstas para e educação, enquanto 93% de recursos foram destinados à energia, transporte e indústria de base” (Strassburg, 2015, p. 27, citado por Dusek, 2019). Já começamos a perceber como a educação foi menosprezada e que a ausência desse financiamento levou a consequências a longo prazo.
         Pulando para a Ditadura Militar que começou em 1964, nesta houve inúmeros retrocessos muito custosos aos brasileiros, como a supressão de direitos civis, políticos e sociais. Obviamente, esse rompimento com a democracia repercutiu nas escolas e universidades, as quais tiveram sua autonomia reduzida, conteúdos alterados e desigualdades corroboradas (Dusek, 2019). Nesse contexto, as políticas públicas educacionais estavam a serviço dos grupos que apoiaram o golpe militar, promovendo a rápida expansão do ensino privado. (Cunha, 2014, p. 363, citado por Dusek, 2019).
         Chegando na contemporaneidade, a educação continua não sendo uma prioridade para os governantes, ainda mais devido a vigência da ideologia econômica neoliberal. Entretanto, é importante ressaltar que apenas o investimento financeiro não será a solução de todos nossos problemas, mas o comprometimento desse setor, impacta, reforçando as desigualdades sociais, com mais veemência o pobre que sofre com o sucateamento das instituições de ensino.
         O que faremos com todos esses números e fatos? Penso que é urgencial a “democratização da vida nas escolas”, o poder precisa ser diluído por toda comunidade escolar. Rubem Alves (2011) sugere que comecemos de fato a escutar as crianças e adolescente e que eles realmente sejam levados a sério nas tomadas de decisões na escola. Há tanta pressa em se memorizar o máximo de conteúdo que puder, passar no vestibular (Enem), passar em um concurso; como todos entraram no ritmo frenético das máquinas, ninguém quer ficar pra trás e as linhas de chegada vão ficando cada vez mais inatingíveis, porque falta o deleite do caminho e dos dias comuns. Nesse sentido, é preciso que a escola “gaste” mais tempo se interessando por seus alunos, por seus sonhos, medos, alegrias do que em cumprir um programa. A gente precisa reaprender a pedagogia do encanto e, cá entre nós, suspeito que acontece “Devagar.  Por  causa  do  prazer.  O  prazer  anda  devagar.” (Alves, 2011, p.63). 


Agência Senado. (2018).Promulgada Emenda Constitucional do Teto de Gastos Públicos. Disponível em:https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/12/15/promulgada-emenda-constitucional-do-teto-de-gastos  Acessado em 25/01/2020

Alves, R. (2011). A pedagogia dos caracóis. Verus editora.

Dusek, P. M., & Avelar, K. E. S. (2019). A trajetória da educação brasileira no contexto econômico. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação-Periódico científico editado pela ANPAE35(2), 369.

Orientação Profissional em Políticas Públicas: processo emancipatório na Educação Básica


Layla Feitosa Maia Reis
Graduanda em Psicologia - Univasf. 
Disciplina Educação e Políticas Públicas.
Prof. Marcelo Ribeiro.


Diante da aprovação da Lei 13935/19 que se refere à prestação de serviços de psicologia e de serviço social nas redes públicas de educação básica (BRASIL, 2019), faz-se importante discutir sobre as ações realizadas pela Psicologia que possam ser introduzidas na regulamentação da lei. Neste caso, explorando especificamente a Orientação Profissional como promotora de liberdade e autonomia.
A Orientação Profissional não se reduz apenas a escolha de uma carreira, mas a facilitação da tomada de decisão através do reconhecimento de aspectos socioculturais, familiares e psicológicos que influenciam os sujeitos que dela participam (MOURA & SILVEIRA, 2002 apud MOURA, 2004). 
Embora essa seja uma possibilidade para a equidade e ascensão social ao favorecer o desenvolvimento da empregabilidade (WATTS, 1996 apud SILVA, 2010), o Brasil tem o histórico de beneficiar principalmente estudantes com alto poder aquisitivo de maneira individualizada, sendo sua inserção dada em contextos mais populares através de ações gratuitas realizadas por universidades públicas e privadas (SILVA, 2003 apud SILVA, 2010). 
Dessa forma, não há seguridade para que pessoas de baixa renda possam participar de programas de Orientação Profissional e, consequentemente, terem mais chances de atingirem o sucesso na carreira ao conhecerem suas possibilidades. Isso ocorre através das etapas de autoconhecimento, conhecimento das profissões e aprendizagem para a tomada de decisão (MOURA, 2004).
Estudantes com condições socioeconômicas mais baixas demonstram dificuldades em concretizar seus projetos profissionais por desconhecerem a realidade das profissões, assim como a necessidade de trabalharem mais cedo e enfrentarem obstáculos em investir na formação profissional (SPARTA, BARDAGI, & ANDRADE, 2005). 
Freire (1998) propõe que transformação social só é possível ao romper com as desigualdades sociais existentes que bloqueiam as atitudes de pessoas que se encontram à margem da sociedade. Para que isso ocorra, é necessário desvelar aspectos socioculturais estabelecidos enquanto regras sociais para a manutenção do poder (FREIRE, 1998).  Essa transformação pode ser auxiliada pelo profissional de psicologia, pois é sua função atuar de forma a minimizar as exclusões sociais, bem como potencializar o desenvolvimento dos indivíduos (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2019).
Portanto, o processo de orientação profissional deve romper com crenças que atribuam apenas ao sujeito a responsabilidade do fracasso e sucesso profissional ao ampliar a visão sobre as questões sociais que perpassam suas vidas (SPARTA et al. 2005), o que é possível já que tem como função contribuir  para que o indivíduo discrimine elementos que controlem seus comportamentos (MOURA, 2004). Assim, a Orientação Profissional em contexto escolar pode contribuir para que os alunos venham a transformar a realidade a partir da compreensão das relações sociais, bem como propiciar a realização pessoal e o reconhecimento social. 
A elaboração de um modelo de Orientação Profissional que seja ampliado para todas as camadas sociais, e contextualizado com os aspectos socioculturais de cada localidade, faz com que esse seja um mecanismo de justiça social por possibilitar oportunidades de estudo e trabalho iguais (MCMAHON et al., 2008a apud SILVA, 2010). Por isso a importância de inserir a Orientação Profissional no âmbito das Políticas Publicas, uma vez que estas são ações elaboradas pelo governo com a finalidade de assegurar direitos de cidadania e promover o bem-estar social (HÖFLING, 2001).
No entanto, para implantação da Orientação Profissional, deve-se ainda atentar para outras dificuldades, como a falta de profissionais capacitados e o direcionamento do trabalho para problemas de aprendizado, comportamentais e socioeconômicos, tidos enquanto questões emergenciais (MELO-SILVA et al., 2004 apud SILVA, 2010). 
Esses fatores não devem, entretanto, ser considerados obstáculos para a concretização da ação, mas sim uma análise para a modificação da atuação do profissional de Psicologia, tornando possível transformar as realidades acerca da área debatida, em um caminho rumo à emancipação dos estudantes, a partir do compromisso ético-político da Psicologia.

Referências
                                                                                                                       

BRASIL. Decreto-lei nº 13935, de 11 de dezembro de 2019. Dispõe sobre a prestação de serviços de psicologia e de serviço social nas redes públicas de educação básica. Brasília: Presidência da República [2019]. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13935.htm. Acesso em: 25 Jan. 2020.

 

 

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) na educação básica.2a Ed. Brasília: CFP, 2019. Disponível em: https://site.cfp.org.br/publicacao/referencias-tecnicas-para-atuacao-de-psicologasos-na-educacao-basica/. Acesso em: 25. Jan. 2020.


FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 25 ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. 


HÖFLING, E. de M. Estado e políticas (públicas) sociais. Cadernos Cedes, v. 21, n. 55, p. 30-41, 2001. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/s0101-32622001000300003Acesso em: 25 Jan. 2020.


MOURA, C. B. Orientação profissional sob o enfoque da análise do comportamento. Campinas: Aliança, 2004. 


SILVA, F. Construção de projetos profissionais e redução da vulnerabilidade social: subsídios para políticas públicas de orientação profissional no ensino médio. 2010. Tese (Doutorado em Psicologia Social) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-06052010-120018/en.phpAcesso em: 25 Jan. 2020.


SPARTA, M.; BARDAGI, M.; ANDRADE, A. Exploração vocacional e informação profissional percebida em estudantes carentes. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S14130394200500020000.  Acesso em: 25 Jan. 2020.


Programa de Vouchers e Educação: Como buscar políticas públicas objetivas e contextualizadas?


Samara Oliveira Rocha
Graduanda de Psicologia - Univasf. 
Disciplina Educação e Políticas Públicas. 
Prof. Marcelo Ribeiro.



No Brasil, tem ocorrido a discussão sobre a implementação de um programa de vouchers na educação infantil como proposta para diminuir as desigualdades entre as classes sociais. Este programa é uma política de vale-Educação, no qual serão entregues tíquetes – semelhantes ao cartão Bolsa Família – para as famílias de baixa-renda poderem matricular seus filhos em escolas e creches privadas (Todos pela Educação, 2019) e foi implementado em outros países, como Chile e Austrália. No entanto, apesar do que é defendido pelo ministro da Economia Paulo Guedes, a utilização dessa política não tem respaldo empírico nem consenso teórico sobre sua efetividade para garantir uma educação de qualidade a todos no Brasil (veja: Cose, 2003; Hsieh & Urquiola, 2006), e vários órgãos públicos e instituições educacionais se mostram contrárias a esse programa.
Assim, vê-se que esse programa se trata de mais um exemplo de construções de políticas públicas educacionais que estão afastadas do contexto brasileiro e, também, do conhecimento produzido nas academias e institutos de pesquisas nacionais e internacionais. Porém, o objetivo desse texto não é discutir essa proposta, e sim utilizá-la como pano de fundo para suscitar reflexão sobre a prática dos profissionais educacionais que atuam nas escolas, que estão na universidade e, até mesmo, aqueles que elaboram políticas públicas no Brasil. 
O tema em questão é a Prática Baseada em Evidências, que se refere a uma abordagem que incorpora as evidências científicas, a competência e preparação do profissional e as preferências dos clientes para se alcançar a tomada de decisão sobre à assistência ou serviço prestado. Esta advém do campo da saúde, mas, recentemente, tem sido utilizada por governos de vários países como estratégia para a necessidade de tomar decisões e realizar ações no âmbito público, mostrando, inclusive, resultados promissores (Costa & Silva, 2016). Exemplo disso é que a utilização desse método nas políticas públicas de saúde dos países Timor-Leste, uma ilha no sudeste asiático, e México, teve reconhecimento internacional (saiba mais em: Fonseca & Almeida, 2015 e Gertler & Boyce, 2001). 
Essa abordagem aplicada as decisões políticas sociais, nomeada de Políticas Públicas Baseadas em Evidências (PPBE), tem o intuito de buscar diminuir a distância que comumente existe entre a expectativa do formulador de políticas públicas e as condições concretas no qual as ações serão executadas (Côrtes et al., 2018). A proposta é que as formulações dessas políticas se baseiem em dados de alta qualidade, produzidos de forma empírica, sobre o tema a que a política pública se refere; considerando também a competência profissional – tanto daquele que formula a política como daquele que irá aplicar; bem como as características da população e/ou contexto social a quem é direcionado; além disso, se deve reconhecer as limitações do sistema e garantir que se tenha incentivos fiscais e políticos para implementar e sustentá-la (Pedroso, 2019; Costa & Silva, 2018). 
Para deixar mais claro, vamos utilizar um exemplo de política formulada na nossa cidade. Em 2017, Petrolina implementou, na Educação Infantil, o mesmo material pedagógico utilizado na cidade de Sobral, que estava em primeiro lugar no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) em 2017. Isso porque esse material foi um dos instrumentos que possibilitou a melhoria na educação dessa cidade e pesquisas, de várias áreas, apontam as potencialidades do material (Medeiros, 2019). No entanto, no ano da sua implementação, os bolsistas do projeto Cuidando do Mestre da Primeira Infância receberam queixas de professores dos Centros Municipais de Educação Infantil referentes a cansaço e frustração ocasionados pela pouca formação profissional que receberam para utilizar esse material, que é muito mais elaborado e exige mais investimento de tempo que o antigo. A partir disso, questiona-se: foi uma política baseada em evidências?
A resposta é não. Pesquisas e dados científicos não dão suporte o suficiente para a efetivação de uma política, apesar de realmente serem necessárias. Nesse caso, precisava se ter garantido uma capacitação de qualidade com os profissionais que iriam ter que manejar o material didático, para que estes se sentisse preparados para utilizar esse material. É importante ressaltar,  inclusive,  que o modelo de Sobral indica, inclusive, formação continuada com os professores da rede pública (veja: Medeiros, 2019). Neste sentido, não basta importar políticas públicas só porque funcionou em certos lugares, é necessário garantir que os profissionais estão preparados para implementar. O mesmo erro pode ser cometido se não houver uma exploração territorial do contexto no qual será aplicado essas políticas: os professores terão carga horária o suficiente para planejar suas atividades? E como ocorrerá a transição dos materiais para os alunos?
Voltando ao Programa do Vale-Educação (os vouchers), cabe analisar quais são as informações que o ministro Paulo Guedes está considerando para querer efetivar essa política. Um dos alertas feito pelo gerente de estratégia do Todos Pela Educação, Lucas Hoogerbrugge, é que a quantidade de escolas privadas voltadas para a primeira infância é baixa – a maioria das crianças de 0 a 5 anos estão no setor público; e que os pais podem não ter informações precisas para escolher as melhores escolas para seus filhos (Todos pela Educação, 2019). Além disso, também se deve colocar em pauta: como este programa será efetivado e regulado considerando as características municipais, estaduais, regionais da educação brasileira?
Questionamentos como esses recaí nas práticas profissionais daqueles atuantes na Educação – tanto os que estão na escola, como também os pesquisadores de diversas áreas e políticos –, principalmente porque são estes que irão produzir as evidências para serem utilizadas, analisar os dados para construir e implementar as políticas públicas e efetivá-las nos espaços educacionais. Portanto, esses profissionais devem começar a questionar o que funciona e por que funciona as políticas públicas de educação, para que se possa garantir efetividade naquilo que elas se propõem.

Referências
Boyce, S. P., & Gertler, P. (2001). An Experiment in Incentive-Based Welfare: The Impact of PROGESA on Health in Mexico. Working Paper. https://www.povertyactionlab.org/evaluation/impact-progresa-health-mexico
Côrtes, P. de R., Oliveira, A. M. de A., Lara, F. T. de R. (2018). Políticas públicas baseadas em evidências comportamentais: reflexões a partir do Projeto de Lei 488/2017 do Senado. Revista Brasileira de Políticas Públicas, 8(2), 429-454. https://doi.org/10.5102/rbpp.v8i2.5327.
Cosse, Gustavo. (2003). Voucher educacional: nova e discutível panacéia para a América Latina. Cadernos de Pesquisa, (118), 207-246. https://dx.doi.org/10.1590/S0100-15742003000100009.
Costa, C. G. F., & Silva, E. V. (2016). O que Realmente Importa no Processo de Tomada de Decisão Considerando Políticas Públicas Baseadas em Evidência. Revista Administração em Diálogo, 18(2), 124-143. http://dx.doi.org/10.20946/rad.v18i2.20315.
Fonseca, L. E., & Almeida, C. (2015). Cooperação internacional e formulação de políticas de saúde em situação pós-conflito: o caso do Timor-Leste. História, Ciências, Saúde-Manguinhos22(1),115-141. https://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702015000100007.
Hsieh, C., & Urquiola, M. (2006). The effects of generalized school choice on achievement and stratification: Evidence from Chile's voucher program. Journal of Public Economics, 90(8-9), 1477-1503. https://doi.org/10.1016/j.jpubeco.2005.11.002.
Medeiros, K. (2019). Na onda de Sobral: A experiência de Sobral na Educação. ECOA.https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/a-experiencia-de-sobral-em-educacao/#na-onda-de-sobral.
Pedroso, R. T., Juhásová, M. B., & Hamann, E. M. (2019). A ciência baseada em evidências nas políticas públicas para reinvenção da prevenção ao uso de álcool e outras drogas. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 23https://dx.doi.org/10.1590/interface.170566
Todos pela Educação. (2019). Política de vouchers na educação não responde às necessidades brasileirashttps://www.todospelaeducacao.org.br/conteudo/Politica-de-vouchers-na-Educacao-nao-responde-as-necessidade-brasileiras.

PEDAGOGIA DO OPRIMIDO E SUAS CONCEPÇÕES COM BASE NA EDUCAÇÃO PROBLEMATIZADORA E DAS POLÍTICAS PÚBLICAS



Ozeni da Silva Ferreira Vieira
(Graduanda de Psicologia - Univasf. 
Disciplina Educação e Políticas Públicas. 
Prof. Marcelo Ribeiro.

Introdução 

A discussão acerca da opressão está cada vez mais evidente no cenário atual. Durante a disciplina Educação e Políticas Públicas ministrada pelo professor Marcelo Ribeiro ocorreram diálogos reflexivos em sala de aula. Estas permearam contribuições e concepções sobre o livro Pedagogia do Oprimido do autor Paulo Freire (1998). O mesmo evidencia críticas diante da Educação, algo que contemporaneamente conseguimos presenciar no ensino. Um conhecimento que deveria ser perpassado além dos muros acadêmicos tendo em vista que está presente na construção dos indivíduos.

Discussão

Ao discuti a obra, o primeiro capitulo faz menção ao paradigma da desumanização, estratégia causada pelo opressor diante do oprimido. Este fator leva-nos a refletir diversas formas de imposições, no qual faz com que os indivíduos se percebam em circunstâncias precisas. Nota-se que esse processo parte das condições pessoais que geram consciência de pertencimento. Uma forma de estar preso diante de sua condição social. E para que essa condição de pertencimento se desfaça, ou seja, o processo de libertação, este deve ser visto por ambas as partes.
Freire mostra o quanto a educação brasileira produz e reproduz paradigmas como desigualdade, marginalização e miséria. Esclarecendo-nos que o ato de ensinar, o não refleti, é algo inserido pelos que estão no poder com o objetivo de engaiolar e se manter no controle diante de uma maior quantidade possível de oprimidos. Este público deve-se manter fragilizado dependentes dos dominadores. O autor busca conscientizar o mediador educacional sobre sua função, que é problematizar, a partir do contexto.
No capítulo seguinte, o mesmo nos revela a “concepção da educação bancária”. Fator existencial que permeia as escolas brasileiras. Esta mantém os alunos com pensamentos reduzidos diante do conhecimento, vistos apenas como meros depositários, sujeitos incapazes de refletir e construí conhecimento uma educação que desconsidera o indivíduo como ser de formação continua. Observa-se que o ato de ensinar a pensar diante do estudo problematizador é algo que influencia na construção de sua realidade e é a partir desta prática que o educando será capaz de compreender as mazelas do contexto social, tendo que este é o papel para se libertar da condição de oprimido, pois entenderá o lema da igualdade. Neste contexto torna-se fundamental a relação do educador e educando integrando várias possibilidades, desvinculando-os de um pensar mecânico. Um modo de transmissão alienantes que torna o sujeito alienado. Suas críticas perpassam por um educador que leva o indivíduo a guardar e apenas receber sem criticidade diante do saber. Um mediador que está sempre correto no seu processo de ensinamento. Minimizador do poder criativo, ceifador da criticidade diante de um ensino satisfazendo apenas o interesse dos opressores.
Vale ressaltar que uma educação problematizador é contrária a esse método, pois esta promove consciência de si uma troca continua do saber.
Perlustrando o terceiro capítulo foi possível observar a dialogicidade que trouxe como fator primordial a prática da liberdade, essencial da educação propondo-nos a importância do diálogo no processo educativo.
Diante desta conjuntura percebe-se que o opressor tem interesse em implantar um pensamento nas bases para não serem questionadas. É transformar a mentalidade dos oprimidos e não a situação que os oprime” (Freire, 1998). Tendo em vista que o objetivo é o homem no mundo e não o homem com o mundo. Visto como limitados que não cria e recria, passivos e adaptados no estado de servidão para os opressores.
E por fim, no capítulo quarto discutiu-se a teoria da ação antidialógica. Viu-se a importância de o homem como ser pensante das suas práxis sobre o mundo onde o processo transformador é efetivado pela reflexão e a ação, uma forma de liderança revolucionária da opressão. O mesmo discorre que o caráter revolucionário dos oprimidos se dá através de uma ação pedagógica, da qual emerge novas possibilidades de renovação social.
Vimos que Freire elabora conceitos pedagógicos nos quais o educador deve trilha. Seu objetivo deve ser traçado na transformação do contexto social. Deve estar envolvido no ensinar a pensar, porém, o que se vê é um profissional que se preocupa com o cumprimento do seu currículo, fatores impostos por órgãos responsáveis pelas instituições de ensino.

Conclusão

Após muitos questionamentos e reflexões sobre a condição do oprimido e o opressor no contexto educacional, chega-se a conclusão de que, por não se tratar de um problema recente e que está  fortemente instalado nas instituições escolares de forma estratégica, tendo em vista que se trata de algo que se permeia desde a época da colonização do Brasil, quando o negro é o pobre e não tinham direito a educação formal e o indígena, por sua vez, recebia pela igreja cristã ensinamentos apenas para converte-los a doutrina e que durante a aberturas das escolas públicas ocasionou um reforço dessa condição diante das diferenças. É complexo o sanar da condição uma vez que é um papel da educação e seus mediadores. Onde muitas vezes estão vinculados ao sistema corrupto controlador.
Com isso, a Educação deve ser pautada no processo de troca um ato reflexivo que venha a levar o indivíduo a construir seu contexto libertando-se de um processo sócio histórico, tendo clareza do seu papel no mundo e disseminando conhecimento. Se desfazendo das “jaulas” opressoras transpassadas por um processo de poder que tem como objetivo manipular a partir de uma construção alienatória que vem sendo permeada até os dias atuais. 


Referências 

FREIRE, P. (1998). Pedagogia do Oprimido. 25 ª ed. (1ª edición: 1970). Rio de Janeiro: Paz e Terra.

FILHO, Luis Lopes Diniz. (2013). Paulo Freire e a “educação bancária” ideologizada. Copyright © 2019, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados. Leia mais em:https: <//www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/paulo-freire-e-a-educacao-bancaria-ideologizada-1m9so0wm12r2m2wau4ghfvedh/>. Acessado em 25/01/20.

     

Militarização das Escolas Públicas

Italo Sena
(Graduanda de Psicologia - Univasf. 
Disciplina Educação e Políticas Públicas. 
Prof. Marcelo Ribeiro)
  
Introdução:
         É notório que a educação é algo prioritário numa sociedade, e de acordo com Paulo Freire a educação tem o potencial de transformar a sociedade. Por isso, não é por um acaso que esse tema tem estado em destaque em campanhas políticas.  Atualmente no Brasil se debate muito sobre a militarização das escolas públicas. E neste texto faremos uma breve reflexão sobre esse tema passando por alguns pontos, como por exemplo: Diversidade; Modelos; Militarização. 

Diversidade:
         Quando observamos a palma da mão notamos que embora todos os dedos estejam ligados a mesma mão, nenhum deles são iguais.  Esse pensamento apesar de ser simplório, dar conta de sintetizar que dentro de uma sociedade há uma diversidade de sujeitos que pode ou não se adaptar a um determinado modelo de educação.  Por isso a diversidade deve ser levada em consideração.
         
Modelos:
         Há diversos modelos de educação no mundo, todavia focaremos na seguinte dualidade: Modelos que dão mais autonomia aos discentes; e Modelos que são mais rigorosos na questão disciplinar. O primeiro aparece como destaque no mundo, pois o país que aparece como referência em educação é a Finlândia, e o modelo que tem predominância nessa região é baseado na liberdade e autonomia de alunos e professores. Já o segundo tem ganhado ênfase no Brasil, e o número de escolas militarizadas tem aumentado, fundamentados em dois argumentos: devidos aos registros de violências dos últimos anos, faz-se necessário uma gestão com mais rigor; e por conta dos resultados pedagógicos, porque os colégios militares no Brasil tem sido destaque em aprovações e exames.

Militarização:
É fato que colégios militares tem se destacado nos resultados pedagógicos, contudo há muitas variáveis, por isso, aumenta a dificuldade para identificar se é a gestão militarizada que favorece esse resultado ou se outras variáveis: como o grau de escolaridade dos pais, a condições financeiras, a evasão dos que não se adapta e etc, vale reforçar que muitas das vagas são destinadas a filho de militares. Logo, são muitas variáveis envolvidas, mas embora não seja consenso que seja a gestão militarizada, é notório que no Brasil esse modelo tem se destacado. 
  
Considerações finais:
         Desde o início o intuído deste texto é de defender a diversidade. No Brasil a diversas escolas, contudo o foco foi a dualidade, mas há também escolas particulares administradas por instituições religiosas e etc, entretanto  independente do modelo a minha defesa é que haja respeito a diversidade, que seja inclusiva e favoreça o objetivo maior: a educação que traga sucesso pessoal e social. E com relação ao tema não sou favorável que todas as escolas sejam militarizadas, sou contra, devido a diversidade dos alunos, mas como ex-aluno de colégio militar defendo a continuação desse modelo pelo mesmo motivo: a diversidade. Mesmo sendo civil, de família com pouca escolaridade e com as reflexões feitas a cerca do rigor disciplinar, não consigo descrever de como foi maravilhosa essa experiencia no colégio militar para mim, e acredito que muitos tem esse mesmo pensamento. 


Evasão de estudantes nas universidades públicas: Tá faltando o quê?



Andreia Eva Silva Azevedo
(Graduanda de Psicologia - Univasf. 
Disciplina Educação e Políticas Públicas. 
Prof. Marcelo Ribeiro)

O Brasil tem realizado muitas conquistas na área de educação superior. Basta ver que em 2017, havia 296 Instituições de Educação Superior públicas no país, segundo o Senso Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Poderíamos estar comemorando, mas a realidade não é bem assim. Isso porque a evasão no ensino superior é fenômeno crescente no Brasil, mesmo com o número crescente de universidades e, com elas, políticas públicas que favorecem o ingresso nas universidades, como: PROUNI, SISU, que ampliam significativamente o número de vagas na educação superior, e ainda com o Plano Nacional de Assistência  Estudantil  (PNAES),  que promete auxiliar  alunos  de baixa  renda com moradia estudantil, alimentação (ru), transporte, creche e apoio pedagógico,. (Bardagi & Hutz, 2014).
E aí nos perguntamos: tá faltando o quê? Como a evasão universitária é um assunto de interesse não só no Brasil, mas no mundo, vários estudos vêm sendo realizados em busca de um denominador comum quanto às razões para a evasão. 
A renda familiar é um dos agravantes que se apresenta, historicamente, como uma das principais causas da evasão, afinal muitos estudantes que entram na universidade acabam por não conseguirem se manter no curso por falta de condições financeiras, por não conseguir bolsa, auxílios dos programas de assistência estudantil, por não conseguir conciliar estudos e trabalho, entre outros, porém, não pode ser colocada como vilã da história, já que os estudos realizados até o momento apontaram inicialmente que aspectos relacionados à definição (escolha) do curso de ingresso eram determinantes na evasão de alunos durante o primeiro ano da graduação. A partir disso, podemos levar em conta que a falta de orientação profissional anterior ao ingresso, e mesmo durante o curso, corrobora para a desistência. Afinal, o período universitário é um momento de construção da identidade profissional e a percepção de identificação pessoal com a escolha do curso é importante e faz parte desse processo de construção da identidade. Além disso, o estabelecimento de vínculos, numa fase da vida repleta de descobertas, quando pensamos em adolescentes e jovens iniciando a vida acadêmica, também pode ser considerada uma das questões relacionadas a interação social que contribuem com o desestímulo dos universitários. Vemos que cursos mais valorizados como Medicina ou direito costumam ter menor evasão se comparados com cursos de menor status social como às licenciaturas por exemplo pois embora status não garanta satisfação para os autores o prestígio social mantém o aluno na universidade (Bardagi et al., 2003)
Ainda constam nos estudos que descontentamento com questões institucionais, mau desempenho no curso, reprovação e atraso, problemas financeiros, falta de informações sobre o curso e a profissão, mau relacionamento professor-aluno são fatores que contribuem para a evasão, mas não podemos colocar tudo no mesmo pacote como se todos tivessem o mesmo peso ou ainda que algum desses fatores fosse suficiente separadamente. Relacionando esses estudos com a nossa vida acadêmica aqui na Univasf temos casos conhecidos de evasão e embora cada caso conhecido por nós tenha seus motivos gostaria de provocar uma reflexão sobre os motivos de evasão, mas também uma mudança de atitude em relação a esses motivos.
Após o mergulho na ênfase em educação como graduanda da Universidade Federal do Vale do São Francisco, apaixonada pela Psicologia e pela educação, em meio a textos, mediações e visitas técnicas que foram de escolas do ensino infantil a pró reitoria de nossa universidade pude pensar a respeito dessa pergunta que fiz: Tá faltando o quê?
Consideremos que com a democratização do ensino superior através das políticas públicas já citadas às instituições precisam perceber que recebem alunos vindos de diversas realidades, etnias, culturas, condições sociais, econômicas e educacionais e também com necessidades especiais cujas escolhas podem ter sido influenciadas por fatores diversos, sendo que as instituições precisam levar em conta essa variação e buscar preparo para lidar com ela dentro de suas unidades. 
Um planejamento curricular, metodológico com objetivos mais amplos de formação e desenvolvimento dos estudantes, assim como programas de apoio ao estudante criados a partir de dificuldades específicas como sugerido por  (Bardagi & Hutz, 2014) a saber, o aconselhamento vocacional (apoio na escolha e implementação de carreiras e papéis ocupacionais), o aconselhamento pessoal (apoio a questões pessoais e sociais que possam afetar o desenvolvimento do indivíduo) e o aconselhamento educacional (apoio nas escolhas educacionais e apoio à aprendizagem do aluno). 
Pela divisão de Educação Superior do MEC de um documento da Unesco não há um modelo sistematizado de atendimento ou políticas públicas que sustentem intervenções nas instituições de ensino superior. Algumas até oferecem, como é o caso da Universidade Federal do Vale do São Francisco, porém, a maioria dos alunos, desconhece a possibilidade de atendimento pedagógico ou aconselhamento durante a graduação, embora possuam expectativas de ter assistência, orientação no planejamento e acompanhamento do curso. Além disso podemos perceber que embora os programas existam, ainda possuem muitas lacunas que precisam ser analisadas afim de reduzir os índices de evasão o que produziria um impacto positivo nas trajetórias individuais dos alunos e para as instituições de ensino superior. 



Referências


Bardagi, M., & Hutz, C. (2014). Evasão universitária e serviços de apoio ao estudante: uma breve revisão da literatura brasileira. Psicologia Revista, 14(2), 279-301. Recuperado de https://revistas.pucsp.br/psicorevista/article/view/18107/13463
Cunhas, L. C. V. da., Silva, A. R., Plantullo, V. L., & Paiva, D. L. de. (2014). Políticas públicas de incentivo à educação superior brasileira: acesso, expansão e equidade. Revista Iniciação, 4(4), 1-14. http://www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistainiciacao/wp-content/uploads/2014/12/79_Revista-Iniciacao_ed-vol-4-n-4.pdf.
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2018). As universidades brasileiras representam 8% da rede, mas concentram 53% das matrículas. Dados do Censo da Educação Superior. http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/dados-do-censo-da-educacao-superior-as-universidades-brasileiras-representam-8-da-rede-mas-concentram-53-das-matriculas/21206.
Souza, C., da Silva, C., & Gessinger, R. (2017). Um estudo sobre evasao no ensino superior do Brasil nos últimos dez anos. Congresos CLABES. Recuperado a partir de https://revistas.utp.ac.pa/index.php/clabes/article/view/868
Sperller, P., Robl, F., & Meneghel, S. M. (2012). Desafios e perspectivas da educação superior brasileira para a próxima década. Ministério da Educação, Unesco. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000218964.


A mercantilização da educação como mantenedora de desigualdades sociais


Tereza Ellen da Silva Teles
(Graduanda de Psicologia. 
Disciplina Educação e Políticas Públicas. 
Prof. Marcelo Ribeiro)



Não é uma realidade muito nova que o Brasil venha sofrendo com a ascensão de pensamentos neoliberais que insistem em tratar como mercadorias recursos que são, pela Constituição Federal de 1988 (Art. 6º, CF - 1988), considerados direitos de todo cidadão. Com diversos tipos de discursos conservadores que trazem a tona pautas que poderiam ter sido já superadas, como por exemplo contrárias aos sistemas de cotas e auxílios oferecidos pelo governo a famílias na ou abaixo da linha da pobreza, se torna cada vez mais viva a ideia de que educação não é um direito, é um produto, e sendo um produto deve estar inserido na lógica de compra e venda.
É extremamente difícil não observar desigualdades sociais num país onde mais de 13,5 milhões de pessoas vivem na extrema pobreza (IBGE, 2019). Apesar disso, aqueles poucos que muito se privilegiam dessas desigualdades ou aqueles – uma maior quantidade – que foram de tal forma alienados que apreciam a estrutura que os oprime, estão interessados apenas na manutenção desse sistema.
Vivendo sob um sistema de produção capitalista, onde poucos detêm os meios de produção e acumulam lucros exorbitantes e muitos vendem o único recurso que tem – a força de trabalho – para conseguir garantir sobrevivência, estamos constantemente sujeitos à naturalização de processos tão cruéis como a divisão por classe, raça e gênero, criminalização da pobreza, entre outros que se colocam como a base de nossas instituições de saúde, segurança, política e, de maneira aqui destacada, de educação.
Patto (2007), traz uma discussão ilustre quando admite que existe uma concepção de encarceramento dos pobres a partir da escola, sob um discurso muito bem aceito e romantizado em nossa sociedade: “escolas cheias, cadeias vazias” que vemos constantemente de outro modo, especialmente na mídia, com o “estar na escola para não estar na rua”. Partindo desta ideia, fica cada vez mais óbvio que a maneira como a escola se constitui para as classes abastadas está longe de ser a mesma que constitui a escola para os pobres. Ao passo que a primeira tende a ser um ambiente que aglomera cultura, conhecimento acadêmico e esporte, preparando os estudantes para serem donos de capital e/ou intelectuais; a segunda tende a ser um depósito onde os estudantes vão para serem doutrinados e descarregarem a responsabilidade dos pais – que precisam trabalhar para garantir o sustento – e que, muito frequentemente, não reconhecem motivações reais para estarem ali, isto é, não veem sentido. O que faz então com que exista essa diferença de classe na oferta da educação se ela é um direito de todos? 
Como já citado, existe uma concepção liberal de que a educação deve ser uma mercadoria, sendo assim, quem pode pagar tem uma maior qualidade, enquanto quem não pode, usufrui de uma qualidade inferior ou não usufrui. E assim se renova o ciclo de pobreza/riqueza, que tenta se justificar algumas vezes, de forma desonesta, pelo discurso da meritocracia. Como aponta Freire (1987), ao abordar a concepção bancária da educação, há, dentro da ideia de mera reprodução do conhecimento, uma tentativa de controlar o oprimido para que o sistema continue favorecendo o opressor. Dessa forma, a educação que deveria ser problematizadora e libertadora, priorizando a criticidade e reflexão, atua como um mecanismo de “renovação” da opressão. 
Ironicamente, o que Paulo Freire (1996) chamava de pedagogia da autonomia, pautada na reflexão crítica, parece ter sido apropriado pelas classes burguesas e implementado em seu sistema de educação. Isto é, enquanto as crianças da educação infantil em escolas públicas são postas em salas com mesinhas e cadeiras para ligar pontos e reproduzir formas, as crianças da escola particular também o fazem, mas sentadas em círculos ou puffs, e com o tempo de parar para discutir sobre honestidade, respeito, sobre família e emoções. A educação tem, ao longo do tempo, vagarosamente evoluído nesses termos, mas quando se compara as esferas pública e privada da educação básica, há uma discrepância na qualidade do serviço oferecido.
De modo quase desafiador, quando se olha para a educação superior a situação praticamente se inverte. As Instituições de Ensino Superior (IES) públicas acumulam uma força e um prestígio muito maior atualmente do que as IES privadas, essencialmente tecnicistas e voltadas ao mercado de trabalho, ao passo que as primeiras sustentam-se a partir do tripé ensino, pesquisa e extensão e são maiores expoentes das produções científicas atuais – mesmo com as tentativas de se fazer crer no contrário. Não à toa estudantes de escolas privadas são encorajados e cobrados para ingressar em universidades públicas e não à toa existe um recorrente discurso que tenta viabilizar a privatização das mesmas.
As universidades públicas representam hoje importantes fontes do que Bordieu, como citado por Mendes & Seixas (2003), convencionou chamar de capital cultural, que diz respeito ao acesso às artes, literatura, música e conhecimento. O autor traz ainda outras duas concepções de capital, o social, que diz respeito às relações estabelecidas, e o econômico que se refere ao acúmulo de dinheiro. Ele assume que, as pessoas de classes mais abastadas têm um acúmulo considerável dessas três esferas que são, segundo ele, preditoras de uma vida escolar e profissional bem-sucedida. Aqui destaca-se a importância que escolas privadas dão à cultura, tornando-se espécies de “panelinhas” nas quais se exige um nível elevado de todos esses capitais, não somente para quem consome o serviço, como para quem o oferece. 
Assim, a escola particular é um espaço onde crianças bem colocadas socioeconomicamente vão para socializar com crianças em igual condição – garantido seu capital social – e aprender com profissionais que minimamente fazem parte daquela realidade também, o que naturalmente faz com que se reproduza uma lógica higienista e segregacionista. As crianças ricas ficam desse lado, com esses recursos, enquanto as crianças pobres ficam daquele lado, com o que sobra ou é descartado. E dessa forma a educação libertadora chega apenas para quem já está liberto. É importante destacar que muitas vezes, quando o capital cultural escoa para classes mais baixas, como é o caso de universidades públicas de boa qualidade ou o caso de estudantes pobres com um nível intelectual avançado, as classes burguesas se apropriam – de forma sutil ou não – dessas possibilidades, seja através do discurso da privatização que é visivelmente hostil, seja pelas chamadas bolsas de estudos, que são mais tragáveis e até muito valorizadas.
Em conclusão, expressa-se aqui a importância da criação de políticas públicas que realmente visem transformar a realidade das pessoas em condições sócio e economicamente desfavorecidas, garantindo assim seus direitos. Fazer política pública, é sempre bom lembrar, não é fazer caridade ou assistencialismo, e sim reivindicar a equidade das pessoas em suas condições. Como apontou Freire, ninguém se liberta sozinho e ninguém liberta ninguém, qualquer tentativa de “boa ação” que serve ao propósito de manter o controle e a subjugação é, antes de tudo, opressão.


Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

Freire, P. (1987). A concepção “bancária” da educação como instrumento da opressão. In: Freire, P. (1987) Pedagogia do Oprimido (pp. 37-49). Rio de Janeiro, RJ. Editora Paz e Terra.

________. (1996) Pedagogia da Autonomia. São Paulo, SP. Editora Paz e Terra.

IBGE - Instituto Nacional de Geografia e Estatística (2019). Extrema pobreza atinge 13, 5 milhões de pessoas e chega ao maior nível em 7 anos. Agência de notícias. Disponível em:

Mendes, J. M., & Seixas, A. M. (2003). Escola, desigualdades sociais e democracia: as classes sociais e a questão educativa em Pierre Bourdieu. Educação, Sociedade & Culturas19, 103-129.

Patto, Maria Helena Souza. (2007). "Escolas cheias, cadeias vazias" nota sobre as raízes ideológicas do pensamento educacional brasileiro. Estudos Avançados21(61), 243-266. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142007000300016