domingo, 2 de fevereiro de 2020

Evasão de estudantes nas universidades públicas: Tá faltando o quê?



Andreia Eva Silva Azevedo
(Graduanda de Psicologia - Univasf. 
Disciplina Educação e Políticas Públicas. 
Prof. Marcelo Ribeiro)

O Brasil tem realizado muitas conquistas na área de educação superior. Basta ver que em 2017, havia 296 Instituições de Educação Superior públicas no país, segundo o Senso Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Poderíamos estar comemorando, mas a realidade não é bem assim. Isso porque a evasão no ensino superior é fenômeno crescente no Brasil, mesmo com o número crescente de universidades e, com elas, políticas públicas que favorecem o ingresso nas universidades, como: PROUNI, SISU, que ampliam significativamente o número de vagas na educação superior, e ainda com o Plano Nacional de Assistência  Estudantil  (PNAES),  que promete auxiliar  alunos  de baixa  renda com moradia estudantil, alimentação (ru), transporte, creche e apoio pedagógico,. (Bardagi & Hutz, 2014).
E aí nos perguntamos: tá faltando o quê? Como a evasão universitária é um assunto de interesse não só no Brasil, mas no mundo, vários estudos vêm sendo realizados em busca de um denominador comum quanto às razões para a evasão. 
A renda familiar é um dos agravantes que se apresenta, historicamente, como uma das principais causas da evasão, afinal muitos estudantes que entram na universidade acabam por não conseguirem se manter no curso por falta de condições financeiras, por não conseguir bolsa, auxílios dos programas de assistência estudantil, por não conseguir conciliar estudos e trabalho, entre outros, porém, não pode ser colocada como vilã da história, já que os estudos realizados até o momento apontaram inicialmente que aspectos relacionados à definição (escolha) do curso de ingresso eram determinantes na evasão de alunos durante o primeiro ano da graduação. A partir disso, podemos levar em conta que a falta de orientação profissional anterior ao ingresso, e mesmo durante o curso, corrobora para a desistência. Afinal, o período universitário é um momento de construção da identidade profissional e a percepção de identificação pessoal com a escolha do curso é importante e faz parte desse processo de construção da identidade. Além disso, o estabelecimento de vínculos, numa fase da vida repleta de descobertas, quando pensamos em adolescentes e jovens iniciando a vida acadêmica, também pode ser considerada uma das questões relacionadas a interação social que contribuem com o desestímulo dos universitários. Vemos que cursos mais valorizados como Medicina ou direito costumam ter menor evasão se comparados com cursos de menor status social como às licenciaturas por exemplo pois embora status não garanta satisfação para os autores o prestígio social mantém o aluno na universidade (Bardagi et al., 2003)
Ainda constam nos estudos que descontentamento com questões institucionais, mau desempenho no curso, reprovação e atraso, problemas financeiros, falta de informações sobre o curso e a profissão, mau relacionamento professor-aluno são fatores que contribuem para a evasão, mas não podemos colocar tudo no mesmo pacote como se todos tivessem o mesmo peso ou ainda que algum desses fatores fosse suficiente separadamente. Relacionando esses estudos com a nossa vida acadêmica aqui na Univasf temos casos conhecidos de evasão e embora cada caso conhecido por nós tenha seus motivos gostaria de provocar uma reflexão sobre os motivos de evasão, mas também uma mudança de atitude em relação a esses motivos.
Após o mergulho na ênfase em educação como graduanda da Universidade Federal do Vale do São Francisco, apaixonada pela Psicologia e pela educação, em meio a textos, mediações e visitas técnicas que foram de escolas do ensino infantil a pró reitoria de nossa universidade pude pensar a respeito dessa pergunta que fiz: Tá faltando o quê?
Consideremos que com a democratização do ensino superior através das políticas públicas já citadas às instituições precisam perceber que recebem alunos vindos de diversas realidades, etnias, culturas, condições sociais, econômicas e educacionais e também com necessidades especiais cujas escolhas podem ter sido influenciadas por fatores diversos, sendo que as instituições precisam levar em conta essa variação e buscar preparo para lidar com ela dentro de suas unidades. 
Um planejamento curricular, metodológico com objetivos mais amplos de formação e desenvolvimento dos estudantes, assim como programas de apoio ao estudante criados a partir de dificuldades específicas como sugerido por  (Bardagi & Hutz, 2014) a saber, o aconselhamento vocacional (apoio na escolha e implementação de carreiras e papéis ocupacionais), o aconselhamento pessoal (apoio a questões pessoais e sociais que possam afetar o desenvolvimento do indivíduo) e o aconselhamento educacional (apoio nas escolhas educacionais e apoio à aprendizagem do aluno). 
Pela divisão de Educação Superior do MEC de um documento da Unesco não há um modelo sistematizado de atendimento ou políticas públicas que sustentem intervenções nas instituições de ensino superior. Algumas até oferecem, como é o caso da Universidade Federal do Vale do São Francisco, porém, a maioria dos alunos, desconhece a possibilidade de atendimento pedagógico ou aconselhamento durante a graduação, embora possuam expectativas de ter assistência, orientação no planejamento e acompanhamento do curso. Além disso podemos perceber que embora os programas existam, ainda possuem muitas lacunas que precisam ser analisadas afim de reduzir os índices de evasão o que produziria um impacto positivo nas trajetórias individuais dos alunos e para as instituições de ensino superior. 



Referências


Bardagi, M., & Hutz, C. (2014). Evasão universitária e serviços de apoio ao estudante: uma breve revisão da literatura brasileira. Psicologia Revista, 14(2), 279-301. Recuperado de https://revistas.pucsp.br/psicorevista/article/view/18107/13463
Cunhas, L. C. V. da., Silva, A. R., Plantullo, V. L., & Paiva, D. L. de. (2014). Políticas públicas de incentivo à educação superior brasileira: acesso, expansão e equidade. Revista Iniciação, 4(4), 1-14. http://www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistainiciacao/wp-content/uploads/2014/12/79_Revista-Iniciacao_ed-vol-4-n-4.pdf.
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2018). As universidades brasileiras representam 8% da rede, mas concentram 53% das matrículas. Dados do Censo da Educação Superior. http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/dados-do-censo-da-educacao-superior-as-universidades-brasileiras-representam-8-da-rede-mas-concentram-53-das-matriculas/21206.
Souza, C., da Silva, C., & Gessinger, R. (2017). Um estudo sobre evasao no ensino superior do Brasil nos últimos dez anos. Congresos CLABES. Recuperado a partir de https://revistas.utp.ac.pa/index.php/clabes/article/view/868
Sperller, P., Robl, F., & Meneghel, S. M. (2012). Desafios e perspectivas da educação superior brasileira para a próxima década. Ministério da Educação, Unesco. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000218964.


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