sábado, 24 de agosto de 2019

Políticas Públicas em Educação e o Contexto da Inclusão

Por Elisama Costa Alves 
(Graduanda de Psicologia / Univasf)
Há muito vem se buscando uma forma de gerir o modo de viver, as condições ofertadas ao público em geral e de maneira mais inclusiva possibilitando assim contemplar as pessoas com deficiência. Segundo a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, devem ser proporcionados ambientes, produtos e serviços que possam ser usados por todas as pessoas, sem que tal sistema seja uma simples adaptação (BRASIL, 2015). Vemos que essa inclusão deve abranger o lazer, a arquitetura, a mobilidade, a educação, etc.
            A inclusão enfrenta o desafio de se realizar na prática, uma vez que está presente nos documentos, mas nem sempre é concretizado, visto no cotidiano e em nossa realidade. No documento proposto pela Secretaria de Educação Especial, ele reforça tais ideias, desses desafios encontrados para uma política mais efetiva e é citado que: 
A questão se torna complexa quando nos deparamos com a realidade de uma mesma sociedade, que demanda soluções de sustentação e viabilidade para sua própria pluralidade, não é uma sociedade inclusiva.(MEC, 2005)
            Trazendo para o contexto educacional, a luta a favor dos direitos por uma educação especial, mas que trouxesse inclusão e não exclusão, se iniciou com instituições isoladas que defendiam grupos específicos, como por exemplo a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). 
A inclusão de alunos com deficiência no campo educacional não se constitui em um fato recente. Advém de uma luta histórica, consolidando-se, expressivamente, enquanto movimento social, mundialmente conhecido, com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos. A temática aborda novas propostas de políticas para inclusão de alunos com deficiência nas escolas regulares, trazendo múltiplas perspectivas e concepções, que contribuem para a compreensão do cenário e da complexidade dos processos em que se inserem (Barros, Silva e Costa, 2015, p.147).
O cenário se transformou também após a criação de movimento sociais com ideias inclusivistas com a finalidade de lutar pelos direitos para todos, sendo assim, em prol das pessoas com deficiência também e da sua inclusão nas escolas pertencentes ao sistema comum de ensino.
Está entre os deveres do Estado garantir educação de qualidade e gratuita à alunos com deficiência ou transtornos no desenvolvimento, participando dessas modalidades estudantes com deficiência intelectual, física, visual e auditiva, oferecendo um tratamento especializado a estes (BRASIL, 2015). Como exemplo de tais impactos, se pode observar a criação do Braille como ferramenta de aprendizagem para os estudantes cegos e a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) para os surdos o que proporciona e eles uma experiência que os coloque juntos aos demais estudantes.
Vemos, então, como é importante a implantação e conservação de tais políticas públicas, pois observando a educação como base para se alcançar muitas metas se tratando de projeto de vida, entre outros, ela é uma ferramenta que abre portas para caminhos inimagináveis que alguém possa tentar chegar. A educação possui então esse poder de nos auxiliar e nos dar novas concepções de mundo.
Deve-se, portanto, investir cada mais em capacitações para professores, em escolas que ofereçam serviços inclusivos e que de fato atendam a tal demanda, pois a partir do conhecimento adquirido no contexto escolar nos tornamos cada vez mais conscientes do mundo que nos rodeia.

REFERÊNCIAS
BARROS, Alessandra Belfort; SILVA, Silvana Maria Moura da; COSTA, Maria da Piedade Resende da. (2015). Dificuldades no processo de inclusão escolar: percepções de professores e de alunos com deficiência visual em escolas públicas. Boletim - Academia Paulista de Psicologia35(88), 145-163. Recuperado em 22 de agosto de 2019, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-711X2015000100010&lng=pt&tlng=pt.
BRASIL. Documento subsidiário à política de inclusão. Brasília, DF: MEC, SEESP, 2005.
CAMARGO, Eder Pires de. (2017). Inclusão social, educação inclusiva e educação especial: enlaces e desenlaces. Ciência & Educação (Bauru)23(1), 1-6. https://dx.doi.org/10.1590/1516-731320170010001
______. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a lei brasileira de inclusão da pessoa com deficiência (estatuto da pessoa com deficiência). Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm>. Acesso em: 16 jan. 2017. [ Links ]

CONTRIBUIÇÕES DE BOURDIEU SOB AS DESIGUALDADES DE CAPITAL CULTURAL, SOCIAL E SIMBÓLICO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Por Valéria Varandas Phydias 
(Graduanda de Psicologia / Univasf)

A escola para todos numa sociedade de classes como a nossa, que “pretende” ser democrática provendo acesso aos estudantes não importando suas origens, é uma ideia de escola liberal com intenção de atingir e educar o maior número de pessoas. Sendo assim, o entendimento que se tem é de que a educação chega para todos e, dessa forma, os estudantes que irão adquirir conhecimento e serão bem-sucedidos serão aqueles que, providos de inteligência e força de vontade, aproveitarão os conhecimentos transmitidos pela escola e oportunizados pelo Estado.
 Essa ideia não é totalmente falsa, mas números apontam que grande parte dos estudantes matriculados em nossas escolas não conseguem acompanhar o processo de aprendizagem e que muitos abandonam os estudos ainda nos anos iniciais.
Bourdieu, através de sua análise sociológica, critica essa promessa da escola que não se realiza na prática. Ele aponta a escola como uma instituição de reprodução social pela qual as crianças adquirem determinados conhecimentos que são valiosos para a sociedade. Mas ele questiona o porquê nem todas as crianças avançam nesses conhecimentos. Por que os currículos escolares são formados por esses conhecimentos e não outros? E por que nem todas as crianças se apropriam deles?
Segundo o sociólogo, a chave para entender esse fenômeno está no que ele chama de capital cultural (o conhecimento e o saber), o capital social (contatos e bons relacionamentos) e o capital simbólico (imagens associadas a beleza, ao status ou a fama). Estes capitais que não são os econômicos de Karl Marx, têm seus efeitos nas relações sociais que não são dadas só pela posse de dinheiro. Uma série de construções e de legitimidades não são obtidas apenas pelo poder econômico de uma pessoa. Há outras coisas que podem trazer importância e legitimidade no meio escolar. Não são quaisquer conhecimentos. São os socialmente valorizados. É a cultura que determinados grupos entram em contato e reconhecem uma importância, um valor nela.
A escola vai produzir o quê se ela pretender transmitir a cultura da sociedade dominante? Uma herança cultural? Sim, aquilo que é mais valioso e legítimo para as classes dominantes. Isso que a escola reproduz é exatamente o capital cultural que apenas uma pequena parcela dos estudantes tem condições de adquirir em sua socialização primária e já leva como bagagem pessoal para as escolas. Lá esses estudantes encontram um ambiente natural e já dentro do contexto que vivenciam fora da escola. É nesse sentido que a escola virá palco de reprodução de desigualdades, pois quem não leva para o convívio escolar esse capital cultural, social e simbólico não está em pé de igualdade com aqueles que já possuem este conhecimento prévio. Isso os leva a um violência simbólica que é uma espécie de desconforto, de coação que causa uma dor que não é física, mas sim social, psicológica e fruto da incompatibilidade do nível de capital cultural, social ou simbólico.
São as pessoas da camada dita dominante da sociedade que têm acesso a esses conhecimentos mais refinados em seu dia a dia pois exigem uma certa capacidade financeira. Essa relação é que constitui o capital cultural e social que é formado primeiramente pela família. Uma pessoa que é criada com acesso a quadros em casa, ouvindo músicas de qualidade, com acesso a jogos educativos, visitando museus, viajando, lendo bons livros e recebendo bons estímulos constantemente adquire uma bo bagagem cultural e social que irá ajudá-la por toda a sua vida escolar. São aqueles alunos que conseguem e destacar em sala de aula. Já a falta deste capital irá influenciar negativamente a pessoa por toda sua vida muitas vezes condenando um aluno a estar sempre num nível mediano ou até mesmo não conseguindo acompanhar o processo de aprendizagem. 
Em nossa realidade, muitas pessoas possuem muito pouco desse capital cultural e social e entram numa escola que não lhes parece nem um pouco familiar. Irão conviver num ambiente que transmite essa cultura legítima como natural para todas as pessoas, mas que para muitos não é de modo que não conseguem acompanhar o ritmo escolar.
Um outro conceito trazido por Bourdieu que nos faz compreender melhor as desigualdades vivenciadas dentro do ambiente escolar é o habitus, que é justamente a internalização de valores e princípios que acabam constituindo nosso estilo de vida e a nossa visão do mundo. Ele é fruto do intercambio do meio com as pessoas e vice-versa.  Dependendo da qualidade do habitus de uma criança, ela terá maiores ou menores dificuldades em sua vida escolar. 




Referências

                .“Aescolaconservadora:asdesigualdadesfrenteàescolaeàcultura”.In: Nogueira, Maria Alice; Catani, Afrânio (Org.).Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 2011a[1966].
                “Os três estados do capital cultural”.In: Nogueira, Maria Alice;Catani,
Afrânio (Org.). Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 2011b [1979].

Bourdieu, Pierre; Passeron, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Petrópolis: Vozes, 2008.
                               . Pierre Bourdieu: Sociologia. ORTIZ, Renato (org.). São Paulo: Ática,1983.
(1)EstudantedadisciplinaEducaçãoePolíticasPúblicas(2018.2),daênfasedeEducação,docursode PsicologiadaUnivasf(Prof.MarceloRibeiro).

Vulnerabilidade social, políticas públicas e educação, qual a relação?

Por Julie Moura Fé Cavalcanti Coelho
(Graduanda de Psicologia / Univasf)

Falar de vulnerabilidade social e políticas públicas em educação é um modo de discutir a realidade atual desses territórios e os direitos desses sujeitos que se encontram nessa condição, contribuindo para que se possa pensar em o que ainda é preciso desenvolver para a efetivação das políticas públicas existentes, pois o que se percebe é que ao invés de superar as desigualdades sociais, esses programas assistenciais operam apenas na superfície do problema.
            Vasconcelos (2015), refere-se à vulnerabilidade social como algo relacionado ao acesso restrito ou até mesmo não ter esse acesso à cidadania. Historicamente, o Brasil foi marcado por processos de marginalização e exclusão social no qual se perpetuou até o momento presente. Crianças e adolescentes das classes menos favorecidas sofrem com as consequências das demandas do capitalismo e da deficiência de projetos modernos tornando-se dificultoso o seu comparecimento em espaços educativos.
            Diante disso, é imprescindível compreender a importância da educação para o desenvolvimento humano. Silva traz que com a educação “estimulam-se as habilidades do aluno e novas aptidões são desenvolvidas” (2013, p. 19), entretanto, ao se tratar da relação entre educação e pobreza, tem-se o desafio de assegurar os direitos de acesso, pois ainda é possível perceber que em territórios de vulnerabilidade é escasso os equipamentos e serviços públicos integrados, dificultando a permanência e o progresso na vida estudantil do aluno. 
            Um outro problema apresentado diante da evasão escolar e questões da vulnerabilidade é o trabalho infantil, em que crianças, devido à ausência de expectativa de retornos futuros, acabam trabalhando precocemente e prejudicando a obtenção de melhores níveis educacionais, tornando-se expostos a riscos sociais e vítimas fáceis do envolvimento no mundo da criminalidade, além de sofrerem diversos tipos de agressão. 
            Desta maneira, pode-se dizer que a evasão escolar e a pobreza estão diretamente relacionadas, mas o que tem sido feito durante todo esse tempo? Parece bastante ilusório acreditar que esses programas assistenciais são realmente eficazes, diante dos números de crianças e adolescentes fora da escola e envolvidos com o crime. O que aparenta, como Oliveira (2015) aborda, é que essas políticas distributivas que ofertam bens para carentes, políticas civilizatórias para marginais e políticas inclusivas para os ‘excluídos’, apenas mascaram o real problema de desigualdade, não incomodando tanto, e garantindo a segurança pública e normalidade social exclusivamente para a classe dominante.
            Entretanto, acredita-se que se essas políticas fossem desempenhadas no foco do problema e com a real intenção de acabar com a vulnerabilidade social, poderiam ser bastante efetivas. É imprescindível se ter um olhar voltado principalmente para as escolas, pois é lá que se tem a oportunidade de aprender valores, relações, conhecimentos históricos e culturais. Uma escola que promova um ensino que tenha sentido social, permite o ensino da superação da injustiça, do medo e da violência posta pela sociedade da exclusão. É preciso se ter o compromisso de todos para resistir às políticas atuais que excluem, para que se torne uma forte ação coletiva capaz de converter tudo isso, pois todos são sujeitos de direito. 

Referências bibliográficas
OLIVEIRA, J. I. Vulnerabilidades e superação da desigualdade educacional no Brasil: Goiás em análise.2015. vi. 244 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2015. Disponível em: http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/bitstream/tede/727/1/JOSE%20IZECIAS%20DE%20OLIVEIRA.pdf. Acesso em: 08 de agosto de 2019

SILVA, A. P. Educação e Políticas públicas: Impactos e Contribuições do Programa de Assistência Estudantil no desenvolvimento dos discentes do IFTO Campus Araguatins – TO. 2013. vi. 93 f. Dissertação (Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional)– Departamento de Economia, Universidade de Taubaté, 2013. Disponível em: <
http://www.bdtd.unitau.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=682
> Acesso em: 08 de agosto de 2019
VASCONCELOS, M. G. S. Políticas Públicas e atendimento educacional: o papel da Casa Mamãe Margarida junto a crianças e adolescentes em situação de acolhimento e vulnerabilidade social.2015. vi. 171 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade do Amazonas, 2015. Disponível em: < https://tede.ufam.edu.br/bitstream/tede/4868/5/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20-%20Maria%20Goreth%20da%20Silva%20vasconcelos.pdf> Acesso em: 08 de agosto de 2019

Caleidoscéopios


Por Hellen Barbosa Magalhães 
(Graduanda de Psicologia / Univasf)

Olá Leitor! Pensar sobre a educação sempre é uma tarefa complexa, não é mesmo? Este texto não tem por objetivo clarificar este conceito, mas será trazido aqui um panorama sobre a educação e as políticas públicas educacionais. Todavia, antes de se iniciar este texto, é importante que saibam que o que permeia este discurso elaborado, é uma metáfora acerca do caleidoscópio. Como assim? Falar em educação e políticas públicas é perceber os diversos modos de pensar, refletir, entender e tirar conclusões sobre este tema. Assim, à medida que se conhece mais sobre a implementação dessas políticas educacionais no Brasil, entende-se o quanto já se ganhou e o quanto a luta ainda não acabou no cenário brasileiro, e como cada um recebe este evento; que é modificado à medida que um governo entra, que o dinheiro acaba, ou que o dinheiro chega... 
            Foi por meio de aulas, ministradas na Sala 15, da Universidade Federal do Vale do São Francisco, em Petrolina – PE, que este texto começou a ser produzido, com o intuito de trazer um pouco de reflexão para você, para a autora e para todos que tenham acesso a este material. Pois, por mais que se fale em políticas públicas de uma forma ampla e concreta, sabe-se que estas se modificam ao longo dos anos, do governo e dos setores jurídicos, financeiros, educacionais, etc.    
            Etimologicamente pode-se entender por Política (politikó), a participação das pessoas nas decisões da cidade, e Público (publica) significa povo. Desta maneira - atualmente - a definição de políticas públicas estende-se ao entendimento sobre ações do governo voltadas para mudanças e resultado esperados na sociedade (Souza, 2003, p13 apud Oliveira, 2010). Portanto, este tipo de política apresenta o poder público como autoridade soberana e delega por meio de algumas condutas governamentais, o que se deve fazer, aonde se quer chegar e como realizar as ações para atingir o que foi delimitado como plano (Rodrigues, 2010, p. 53 apud Ferreira e Nogueira, 2015).          
            Além do conceito geral de Políticas Públicas, ressalta-se a importância de se refletir criticamente sobre os movimentos que instauraram estas no Brasil. Foi por meio da consciência sobre o processo de desenvolvimento e inclusão social  que o pensar sobre a importância da educação se fez presente, pois é por meio do ato de educar que se entende as diferentes relações socioculturais.  
            Ainda assim, destaca-se que na história do Brasil as políticas públicas se apresentam por meio de um cenário inconstante, onde dicotomicamente apresenta uma alta concentração de renda em contraposição a uma taxa elevada de desigualdades sociais (Bittencourt, 2016). Além disso, ressalta-se que nas ultimas décadas o quadro de exclusão teve uma reversão, uma vez que o acesso às escolas se ampliou, mas é perceptível que as taxas de repetência, analfabetismo, evasão, distorção de idade/série e fracassos ainda são elevados. Neste caso, como avaliar se as políticas públicas educacionais estão sendo efetivas? Pois de nada adianta o investimento em novos prédios escolares, se não é dado aos educadores recursos financeiro e suporte emocional para árdua jornada de trabalho, ou a relação de afetividade entre escola e o estudante, bem como materiais escolares interativos para que ele aprenda de uma maneira mais criativa e prática. O que se vê é a negligência do poder público no investimento de uma educação de qualidade.
            Os recursos financeiros que passam pelo Ministério da Educação são fragmentados entre ações e programas que muitas vezes sofrem alterações no conceito e produção, por conta de decisões governamentais, é o que pode ser chamado de uma sobreposição das políticas de Governo sobre as políticas de Estado. Os recursos erários, em sua maioria, são desperdiçados, quando não são aplicados nas reais necessidades de cada local. Desta maneira, o ideal seria distribuir e dar autonomia financeira para que cada Município pudesse construir planos de ações eficazes, eficientes e efetivos de acordo com a realidade social na qual se insere a educação, sem haver interferências nas decisões de investimento, afinal, cada região apresenta uma necessidade diferente da outra (Bittencourt, 2016).
            Em nível de informação, podem ser citados os seguintes programas, frutos das políticas públicas no Brasil: FUNDEF[1], PDE[2], PPDE[3], Bolsa Família, PNAE[4], PNLD[5], PNATE[6], ENEM[7], SISU[8], PROUNI[9], PROINFÂNCIA[10]. Porém, apesar de estarem em vigência, alguns desses planos de ações estão perto de serem extintos pelo atual governo. E é por isso que este debate acerca das políticas públicas se torna tão especial e importante (Ferreira e Nogueira, 2015).
            É do direito de todo cidadão o acesso à educação e ao mínimo de suporte do Governo para que se continue estudando. Os cortes na educação afetarão/afetam diretamente nas políticas já estabelecidas. É um cenário preocupante, mas ainda se tem a possibilidade de informar à população que o próprio Plano Nacional de Educação, instituído pela Lei nº 13.005/2014, assegura o direito à educação, garantindo a todos a oportunidade de acesso às instituições escolares e que estas apresentem condições que propiciem o indivíduo a concluir, na idade certa, seus processos com níveis de aprendizagem satisfatórios e/ou significativos. Esta lei ainda apresentam 20 metas para que o Brasil possa consolidar um sistema educacional integral, quebrando barreiras no acesso ou permanências nas instituições, e promovendo direitos humanos, capazes de garantir a sociedade formações para o exercício de cidadania autônoma e para trabalho (Brasil, 2015).   
            Em síntese, as políticas públicas educacionais orientam, avaliam e regulam os sistemas de ensino – não apenas a instituição escolar -, a fim de garantir a todos uma boa educação. É um sistema que abrange o fazer educacional, que funciona articulando toda complexidade de aprendizes, educadores, servidores, comunidade e o próprio Estado (Oliveira, 2010).
O necessário salto civilizatório para a justiça social, a equidade, a vida respeitada em todas as suas dimensões, enfim, a humanidade se sobrepondo ao transitório, ao capital, dependerá da própria educação libertadora e emancipatória de mentes e corações, em uma dinâmica forjada nas convicções e nas práticas de gestão responsável de que a educação, antes de ser um produto a ser ofertado para todo o povo, será ela mesma a alavanca de libertação de suas misérias e de suas fraquezas milenares a partir dos seus protagonismos (Bittencourt, 2016, Pg. 40).

Referências
Bittencourt, E. S. Políticas de Educação na atualidade como desdobramento da Constituição Federal e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. In: Políticas Públicas de Educação/ Moraes, B. M ...[et al.]. – Rio de Janeiro, RJ: Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro;
Universidade Federal Fluminense, 2016.
Brasil. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Plano Nacional de Educação PNE 2014-2024: Linha de Base. – Brasília, DF : Inep, 2015. 404 p. : il.
Ferreira, L. A. M.; Nogueira, F. M. B. Impactos das políticas educacionais no cotidiano das escolas públicas e o plano nacional de educação. Arquivo Brasileiro de Educação, v. 3, n. 5, p. 102-129, 2015.
 OLIVEIRA, A. F. Políticas públicas educacionais: conceito e contextualização numa perspectiva didática. Fronteiras da educação: desigualdades, tecnologia e política, v. 1, 2010.


[1]Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização doMagistério
[2]Plano de Desenvolvimento da Escola
[3]Programa de Dinheiro Direto na Escola
[4]Programa Nacional de Alimentação Escolar
[5]Programa Nacional do Livro Didático
[6]Programa Nacional de Transporte Escolar
[7]Exame Nacional do Ensino Médio
[8]Sistema de Seleção Unificada 
[9]Programa Universidade para Todos
[10]Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para Rede Escolar Pública de Educação Infantil

O pobre e a elite na mesma escola? Uma análise de como a cultura separa saberes

Por Marta Regina Gelain Maciel 
(Graduanda de Psicologia / Univasf)

Chegou então o comentado período das “ênfases”! E agora? Escolha entre Saúde ou Educação! Troca-se ideias aqui e acolá e percebe-se que ambas andam juntas sim, com intuito de cuidar de seres humanos que necessitam de tal cuidado e de escuta. No entanto, encontra-se na ênfase “educação” temas que necessitavam ser aprofundados, como por exemplo: relações parentais, educação e afetividade - seja na família ou escola - teorias de apegos, política, sim política dialogada, dentre outros. No decorrer da disciplina, visitas foram efetuadas. Professores, coordenadores, assistentes e diretores sempre receptivos, e em todas as instituições, esses representantes demonstraram prazer de estar lado a lado com “gente”. Foram dias de muito aprendizado, seja em escolas com orçamentos contados, com professores adoecidos, mas vê-se também esperança no futuro dos alunos, na educação do Brasil.                                                    No entanto, foi na “sala 15”, em um minigrupo com duas garotas baianas, uma pernambucana, uma carioca, esta catarinense que aqui escreve, e claro, um mestre baiano, que formou-se um “baita” grupo de sabedoria, empatia, troca de informações, carinho e algumas vezes lágrimas disfarçadas, decorrentes das palavras do mestre que nos fazia refletir. Reflexões como: “temos que seguir em frente”, “não é possível só a lástima”, entre outras, que, dá mais ciência que é possível continuar cada um fazendo sua parte, mostrando que, talvez, com passos um pouco mais lentos, cautelosos por conta dos novos olhares que insistem em voltar no tempo, e dos quadros sombrios da educação pública no Brasil, deve-se seguir em frente, lutando.                                                                              Surgiram tantos assuntos angustiantes, sim, houve muitos, e sei que no decorrer do tempo é preciso pesquisá-los e aprofundá-los mais para entender e aplicar, fazer algo a respeito, tamanho o sentido e importância que fazem na vida das pessoas. Voltando ao assunto angustiante, num debate, eis que surge Pierre Bourdieu e Rui Barbosa, depara-se com algo que nunca havia parado-se para refletir: há dois tipos de escola no Brasil - uma pensada para a ralé e a outra para a elite-, e elas são “pensadas“ de maneiras diferentes. Até as mães de meninos da periferia possuem visão diferente sobre tais escolas, por exemplo, quando comentam que, lá seus filhos podem ocupar-se, seja para não se drogarem, não serem mortos pelo tráfico e receberem até lanche. Enfim, qualquer “coisa” para eles, que não têm quase nada, já é suficiente.                                
Bernardo Toro é um educador Colombiano que aponta que a educação na América Latina é dividida, pois “já separamos as crianças na escola automaticamente”. Há um sistema para os que podem pagar, e um diferente para os que não podem, “fazendo com que as diferenças sejam gritantes entre os que estudam em cada um deles”, e o problema, segundo ele, é que aceita-se isso como normal. O educador também cita que isto relaciona-se com a crise de cidadania, sociedade movida por interesses, e não de direita e esquerda. Considera-se então que o aluno da elite nasceu em outra cultura, seus pais possuem bons contatos (definidos pela própria cultura dominante), praticam esportes, cursos, intercâmbios, enfim, muitas atividades que acabam se tornando valorizadas na cultura econômica.                                                                                                   Mediante pontuações de Toro numa visita ao Brasil, onde trouxe sua contribuição, parte-se então para uma análise sobre as funções da escola pública atual. Como os professores, com as condições de trabalho que possuem, desde a falta de material até a pouca estrutura pedagógica, lutam para manter motivado um aluno que tem nas mídias -  os “memes” - que são mais atrativos que uma explanação da disciplina? Que tem uma sociedade de consumo que “joga” informações de uma felicidade gerada pelas aquisições? E os grupos de referências desses alunos que o acabam influenciando?                                                           É fato que existem escolas para formar os filhos dos “ricos”, escolas  focadas na aprendizagem, com tecnologias, viagens culturais e outro fatores que os diferenciam daqueles que estudam na escola que acolhe socialmente.  Por outro lado, considera-se que esse “acolher socialmente”, também é respeitar as diferenças psicológicas de ritmos de aprendizagem das crianças, diferenças sociais, culturais, convivência de alunos, olhando de maneira inclusiva.                                    Essa escola deixa então de lado o domínio extremo do conteúdo, para também valorizar as relações humanas que permeiam nessa escola pública,  onde há respeito às diferenças, com desenvolvimento também cognitivo, moral e  afetivo desses alunos. No entanto, Libâneo (2012) pontuaque é preciso considerar todos os aspectos das diferenças sociais, dificuldades de aprendizagem, os determinantes sociais, compartilhamento de valores sociais, mas por outro lado a escola não deveria abrir mão de ser o maior lugar de acesso a conhecimento, ciência, cultura, para ser uma escola com apenas sentido de convivência, compartilhamento cultural e tais práticas sociais. 
                  Retornando então ao dilema, pontua-se o que traz a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, de 1990, art.1, letra e) sobre fortalecer autoridades públicas, professores, órgãos do governo, setor privado, comunidades locais, famílias, grupos religiosos para que os alunos tenham necessidades básicas de educação atendidas. A Declaração Mundial tem sua proposta original encolhida para que haja atendimento das necessidades imediatas e mais elementares das pessoas, conforme esclarece Torres (2001 apud Libâneo 2012) p.18.  
            
Desse modo, a visão ampliada de         educação converteu-    se em uma   visão   encolhida, ou   seja: a) de  educação   para   todos,   para educação dos  mais  pobres; b) de  necessidades  básicas,          para     necessidades mínimas; c) da atenção à  aprendizagem,  para  a  melhoria e a  avaliação dos   resultados  do  rendimento           escolar; d) da melhoria das  condições de aprendizagem, para a   melhoria das            condições  internas da instituição escolar.  (organização escolar)                      

Além desse encolhimento, também há sim um interesse econômico, como o que traz Libâneo (2012) sobre desenvolvimento das pessoas na educação saúde, saneamento, alimentação, políticas sociais elaboradas para instrumentalizar a economia, ou seja, mais pessoas para a “força do mercado”, e como consequência acabaria com a cultura dos direitos universais a bens e serviços básicos. Uma política pensada em uma lógica neoliberal de que a inclusão das populações excluídas e marginalizadas receberiam o básico, mas sem investimentos pedagógicos suficientes, o que continuariam gerando analfabetos funcionais, abandono escolar e repetências.                                                  Afinal, para a elite. Isso seria caridade? Esta é confortável, pois aplaca a consciência cristã. Para estes, a justiça social permitiria a ascensão de classes, deixando-os desconfortáveis. E é muito menos ameaçador que a elite fique onde está, que olhe de onde está. Retornando à escola, fica claro esta passa a ser vista com função principal de escola acolhedora, e segundo Libâneo (2012) “ocorre uma inversão das funções da escola: o direito ao conhecimento e à aprendizagem é substituído pelas aprendizagens mínimas para a sobrevivência”. 
Os psicólogos, futuros profissionais de relações humanas,são seres políticos, e se os fazeres e gestos destes direcionam a tomar posições, se, mediante  disciplina  tão reflexiva, sair-se-á daqui  para praticar políticas inclusivas (que se contrapõem às políticas que excluem), haverá assim,envolvimento,  através da reflexão e consciência, em um papel que convida a trazer um movimento, uma ação à respeito de uma educação para o pobre que deixa de  ser vista como aquisição cultural, saberes, linguagem, aprimoramento para dar abrigo e comida. Há de se considerar, se está sendo proporcionado condições para que a escola ofereça qualidade e eficácia nos processos de ensino e aprendizagem, que resultem em melhor aprendizagem dos alunos, um trabalho em conjunto com pesquisadores, gestores, pedagogos, professores, no intuito de “chegar” numa educação (e já não diz-se utópica), mas que não distinga as pessoas por serem diferentes culturalmente, mas as torne semelhantes no reconhecimento humano.                                                                                                                      De agora em diante, promete-se usar menos o termo “educação utópica”, e segue-se tentando encontrar outro, talvez “esperançoso”, mas sempre no sentido de luta. Como dizia Paulo Freire, “preferindo uma liberdade arriscada”. Afinal, são tempos de mordaça, que necessitam de reflexão, resultando em engajamento, que é o ponto principal na luta pela libertação.                                              Se nessa sociedade, os bem sucedidos  geralmente  são os que tem mais “acessos”, cita-se Ferrari (2008), que traz que os próprios estudantes mais pobres acabam encarando a trajetória dos bem-sucedidos como resultante de um esforço recompensado. Como então valorizar aquele filho do pobre, que quer estudar, sabe das suas capacidades, mas a própria escola acaba definindo como “superior” o que traz a cultura dominante e acaba agravando as dificuldades destes que desejam galgar degraus na vida? Se a própria escola o vê assim, resta citar novamente Paulo Freire que na sua sabedoria traz do parto doloroso que é a libertação, para ele “o homem que nasce desse parto é um homem novo que só é viável na e pela superação da contradição opressores-oprimidos, que é a libertação de todos.”  
E por fim, retorna-se a Bernardo Toro, esse colombiano que pontua que “a política não é a ciência do poder, é a ciência de criar convergência de interesses”, ou seja, é a partir dessa divergência, que grupos organizados conseguiriam se desenvolver, (Paulo Freire os chamaria de “conscientes”). A partir de uma educação que ajudará este aluno a ser um receptor crítico, principalmente dos meios de comunicação, esse aluno não se deixará manipular, seja como pessoa, como consumidor e principalmente como cidadão. A organização torna as pessoas difíceis de serem enganadas, compradas, afinal somente com tal organização, torna-se potência.

REFERÊNCIAS
FERRARI, M. Pierre Bourdieu, o investigador da desigualdade. Outubro/2008. https://novaescola.org.br/conteudo/1826/pierre-bourdieu-o-investigador-da-desigualdade
LIBÂNEO. J.C. O dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento social para os pobres. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.38, n.1, p.13-28, 2012.
Educação e trabalho - Um país é sério na educação quando mantém um sistema educativo para ricos e pobres de igual qualidade, disponível em ttps://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao-e-emprego/noticia/2015/11/um-pais-e-serio-na-educacao-quando-mantem-um-sistema-educativo-para-ricos-e-pobres-de-igual-qualidade-4911526.html
Educação só será de  qualidade quando pobres e elite estudarem na mesma escola. Disponível em https://www.sul21.com.br/areazero/2015/11/educacao-so-sera-de-qualidade-quando-pobres-e-elite-estudarem-na-mesma-escola-diz-bernardo-toro/

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Infância e a promessa de um novo começo

Marcelo Silva de Souza Ribeiro


Sonha e serás livre de espírito... 
luta e serás livre na vida
Che Guevara


Uma das valiosas invenções da modernidade foi a infância e sua promessa de recomeço para humanidade. Nos vários sentidos na ideia-força da infância havia o entendimento de que a humanidade poderia ter a esperança de novos refazeres, de novos inícios com a chegada dos recém-nascidos e sua introdução a humanização via os processos educativos. Uma humanidade, portanto, aberta e sempre disposta a tentar algo novo foi a aposta da modernidade. Mesmo que tenhamos críticas as heranças da modernidade não dá para negar que alguns dos legados são ainda profícuos.

E é justamente sobre esse sentido do novo, do esperançoso e de revigorantes promessas contidas na ideia da infância que gostaria de abordar. Penso que precisamos também, além de mantermos eretos nas críticas, semearmos a esperança e plantarmos a perspectiva de um recomeço vigoroso. Nesses tempos sombrios e destituídos de esperanças, a infância, e com a ela a própria imagem da criança, é significativo para continuarmos resistindo a onda totalitarista e fascista que assalta o mundo, sem falar do colapso ambiental já em curso e a assombrada desigualdade social que vem condenado milhões de pessoas a viverem a triste sina das migrações em massa, da fome, das guerras descabidas e de uma vida sem vida.

No nosso caso, aqui no Brasil, os efeitos já estão visíveis, embora alguns insistam em não querer ver. A “terra brasilis” arrasada já é uma realidade e tende a se agravar a medida que efeitos vierem como marolas retardatárias em crescente força até se tornarem verdadeiros tsunamis. Teremos que ser mais fortes ainda para lidar com um presente nefasto, mas não sem cultivar um futuro melhor. E este (o futuro) há de vir com a aposta na infância que é encarnado nas crianças. 

Imaginemos que em 5 ou 10 anos aquela ou aquele que hoje tem 11 ou 6 anos poderá votar, por exemplo. Serão novos cidadãos que estarão conhecendo um outro Brasil, muito pior certamente. Então que estes novos brasileiros possam fazer o diferente, talvez o que não tenhamos feito. Apostar nesses seres é apostar no sentido da vida para a gente mesmo. E a aposta se faz antes na nossa capacidade de acreditar que esses seres serão melhores e mais capazes. Seria um misto de sonhar e agir aqui e agora para um vir a ser como semear no asfalto a espera de uma flor brotar e fazer outra paisagem.

Publicado originalmente:

https://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/infancia-e-a-promessa-de-um-novo-comeco/?fbclid=IwAR1My-SMoS1hv8wpW_do2E8fSB9hXzIBh8-oOUXmTj-5TzFqjbH8JlkPD6Y

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

PSICOLOGIA E CIÊNCIA EM DISCUSSÃO – 4 A pluralidade científica e os sentidos de experiência*


  
Prof. Marcelo Silva de Souza Ribeiro
Colegiado de Psicologia – Univasf.

No nosso terceiro texto (“As evidências científicas em questão”) frisamos que a própria ideia do que vem a ser científico remete a uma significativa celeuma na história da ciência justamente porque se dá via um campo de acentuadas disputas paradigmáticas. Uma dessas disputas tem a ver com a interpretação dada para o sentido de “experiência”. Esta palavra parece ser um divisor de águas no entendimento sobre o que é científico.
De modo bem geral, a palavra experiência em sua origem latina e mais ainda grega, remete aos processos do conhecer e se bifurca, na modernidade, basicamente numa vertente mais objetivista e numa outra mais intencional do experimentar (AMATUZZI, 2007).  A primeira inaugura toda a tradição científica objetivista (com seus desdobramentos positivistas e experimentais no campo da Psicologia, por exemplo). A segunda tem uma de suas origens na Fenomenologia e assume a ideia de experimentação do ponto de vista intencional, vivido, portanto, fenomenológico - uma formulação de ciência ainda que distante da objetivista, mas não abrindo mão de seus próprios rigores (MACEDO; GALEFFI; PIMENTEL, 2009).
No clássico livro de Chalmers (1993), “O que é ciência afinal?”, é apresentado de modo didático os cânones científicos (normas e preceitos gerais que fundam o conhecimento científico) numa perspectiva histórica, ou seja, evidenciando desenvolvimentos e mudanças a respeito de compreensões sobre o que vem a ser a ciência, mas ao mesmo tempo mostrando como o conhecimento científico guarda especificidades de modo a se distinguir, por exemplo, do senso comum (distinção não pressupõe necessariamente hierarquização). Isto implica dizer que a despeito das possíveis diferenças do que é a ciência há aspectos que a caracteriza. A produção do conhecimento científico do ponto de vista fenomenológico, resgatando aquele sentido de experiência, demanda rigores próprios que, sem estes, podem inviabilizar a sua consistência, coerência e credibilidade. Um exemplo seria um estudo dito fenomenológico que toma a experiência como algo central, mas que perde a dimensão da intencionalidade e cai no nível objetivista, ou quando não elabora as implicações experienciais dos envolvidos na pesquisa (se nos referimos às Ciências Humanas).
Sendo assim, seria um erro dizer que determinada abordagem psicológica não é científica simplesmente porque está alicerçada em um outro paradigma. Isto poderia ser danoso à medida que descamba para uma espécie de intolerância científica, algo do tipo epistemicídio (poderemos abordar esse ponto em próximos textos). Coerente, então, seria dizer que determinada abordagem psicológica produz uma outra forma de conceber o que é ciência e daí, sim, se estabelecer críticas, debates etc. 


Referências
AMATUZZI, M.. Experiência: um termo chave para a Psicologia. Memorandum, 13, 08­ - 15, 2007.

CHALMERS, Alan F.. O que é ciência afinal?São Paulo: Editora Brasiliense, 1993.

MACEDO, Roberto Sidnei.; GALEFFI, D.; PIMENTEL, A. Um outro Rigor: sobre a questão da qualidade na pesquisa qualitativa. Salvador: Edufba, 2009.



* Obs.Trata-se de um quarto texto, de uma série, que visa abordar a o papel e o lugar da ciência hoje e suas relações com a Psicologia. 


Prof. Marcelo Silva de Souza Ribeiro
Colegiado de Psicologia – Univasf.