domingo, 25 de junho de 2023

Evasão e retenção no ensino superior: um velho problema com novos contornos também para Univasf?



 Marcelo Silva de Souza Ribeiro

Pró-reitor de Ensino da Univasf

 

 

Infelizmente, o problema da evasão e da retenção no ensino superior é algo que perdura nas instituições e tem desafiado as políticas em educação a produzirem respostas efetivas, sobretudo porque têm contribuído para grandes prejuízos de várias ordens. Afinal, há muito investimento em termos de recursos públicos e pessoais, sem contar nos sonhos e nos envolvimentos emocionais que são dispensados e dilacerados nesse processo de adentrar no ensino superior e não poder fluir ou até mesmo ter que interromper. 

Sabe-se que a evasão e a retenção têm causas diversas, logo, são de ordens complexas. Dentre algumas de suas causas, é possível elencar as questões relacionadas a motivação dos alunos, aos problemas de natureza financeira para manutenção no curso, a falta de suportes institucionais, os problemas pessoais e ou familiares, as inadequações na escolha do curso e mesmo as questões relacionadas ao currículo do curso e a relação professor e aluno mal mediados.  Soma-se a isso tudo as dificuldades regionais e outras questões mais relativas as gerações, de modo que as instituições de ensino não conseguem estabelecer um bom canal de diálogo.

A despeito dessa conhecida “chaga”, atualmente a evasão e a retenção parecem ganhar novos contornos e intensidades. As análises iniciais têm indicado que o problema se acentuou e que, provavelmente, tem relação (também) com os possíveis desdobramentos da pandemia da COVID 19, com o esgarçamento da assistência estudantil e o empobrecimento da população.  É necessário, portanto, conhecer melhor esse antigo fenômeno nos seus atuais contornos para um melhor enfrentamento. 

Uma fonte de informação que pode levantar algumas pistas sobre a questão da evasão e da retenção é o dashboard da Comissão de Modelos do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Planejamento e de Administração das Instituições Federais de Ensino Superior (Forplad)**, que mostra o “Total de Alunos Equivalentes da Graduação” (TAEG) de cada Instituição Federal de Educação Superior (IFES). No caso, o “aluno equivalente” é o principal indicador utilizado para fins de análise dos custos de manutenção das IFES, nas rubricas referentes ao orçamento de custeio e capital (OCC). O Taeg é resultado da equação que envolve itens como duração média do curso, retenção, matriculados, concluintes, bônus por turno no turno, bônus por curso fora de sede, dentre outros. Os dados que alimentam o Taeg são oriundos dos censos das respectivas IFES.

Vejamos o caso da Univasf em um breve recorte e na relação com a Universidade Federal do Cariri (UFCA), criada em 2013, que é uma universidade que tem identidade regional similar à Univasf e dista aproximadamente 350 km de Petrolina (onde fica localizado o campus sede da Univasf) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), uma tradicional universidade do nordeste. 

Para elaborar esse contraste analítico fizemos um recorte temporal de 2016, 2020 e 2021 para a Taeg, e 2020 e 2021 para os itens ingressantes, concluintes e taxa de matriculados.

Em 2016, a UFCA tinha uma Taeg de 5.611. Em 2020, uma Taeg de 7.662, e em 2021 de 5.667. Há aqui uma diminuição no último ano. Em relação aos ingressantes, a UFCA teve 1.151 em 2020, e 1.125 em 2021. Quanto aos concluintes, teve 401 em 2020 e 218 em 2021. Nota-se uma discreta diminuição em relação aos ingressantes e uma queda significativa quanto aos concluintes. Em relação a taxa de matriculados, a UFCA teve em 2020, 3.097, e em 2021, 3.387. Observa-se um discreto aumento.

 

UFCA

Taeg

 

UFCA

Ingressantes

Concluintes

Taxa Matriculados

2016

5.611

 

2020

1.151

401

3.097

2020

7.662

 

2021

1.125

218

3.387

2021

5.667

 







Quadro 01 - UFCA

 

No que diz respeito a UFPE, a Taeg em 2016 foi de 47.161, em 2020 foi de 42222 e em 2021 foi de 38451. Evidencia-se uma queda progressiva. No item ingressante, a UFPE apresentou em 2020, 7.291, e em 2021, 7.339. Já para os concluintes, em 2020 foi de 3.597 e em 2021 foi de 3.222. Embora se note um pequeno aumento de ingressantes, houve uma diminuição de concluintes. Já em relação ao item matriculados, a UFPE apresentou em 2020, 28.126 e em 2021, 28.169. Um modesto aumento, mas se olhar para os dados anteriores no dashboard há queda constante, por exemplo, 2016 estava 30.697.

 

UFPE

Taeg

 

UFPE

Ingressantes

Concluintes

Taxa Matriculados

2016

47.161

 

2020

7.291

3.597

28.126

2020

42.222

 

2021

7.339

3.222

28.169

2021

38.451

 







Quadro 02 - UFPE

 

Em relação a UNIVASF, a Taeg em 2016 estava 12.473. Em 2020 foi de 12.440 e em 2021 foi de 8.314. Observa-se uma queda significativa no último ano. Quanto aos ingressantes, em 2020 houve 1.551, e em 2021 houve 1.079. Quanto aos concluintes, em 2020 foi de 668 e 369 em 2021. Queda nos dois itens. Em relação ao total matriculados, em 2020 foi 6.083, e 2021 foi de 5.403. Mais uma vez, observa-se queda.

 

UNIVASF

Taeg

 

UNIVASF

Ingressantes

Concluintes

Taxa Matriculados

2016

12.473

 

2020

1.551

668

6.083

2020

12.440

 

2021

1.079

369

5.403

2021

8.314

 







Quadro 03 - UNIVASF

 

Em linhas gerais, as quedas nos itens que constituem o Taeg são praticamente gerais e atingem todas as IFES (vide o dashboard), obviamente que mais umas instituições do que em outras. Um ponto a considerar é que os dados de 2020 e 2021 emergem em contexto de pandemia, restando saber (com boa mais de curiosidade) os dados do censo 2022 e 2023, período pós pandêmico. Um outro ponto a considerar é relacionar esses números do Taeg com os fluxos dos recursos voltados para as políticas de assistência estudantil de modo a saber os possíveis impactos. 

Por fim, reforçamos a necessidade de conhecer nossas realidades para um melhor enfrentamento, ainda que face aos velhos problemas e seus novos contornos. Nesse sentido e do modo específico no caso da Univasf, adicionamos novos questionamentos: o descompasso do calendário acadêmico tem contribuído para a evasão, ou melhor, para o não preenchimento de vagas ? De que forma a política de bônus regional adotada de forma linear para todos os cursos / campi (10%) tem contribuído para o problema da evasão?

 

 

 

Link que dá acesso ao dashboard da Comissão de Modelos do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Planejamento e de Administração das Instituições Federais de Ensino Superior (Forplad)

 

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