quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Possíveis ações para a Psicologia na Educação Inclusiva




Cláudio Hummer Freitas de Queiroz
Itamar Ferreira de Sousa

Discentes do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco.


Este texto é produto do processo vivido no âmbito da 

disciplina Educação e Políticas Públicas, 

do curso de Psicologia da Univasf, 

tendo como professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro 

em setembro de 2022.


O modelo de ensino utilizado pelas escolas atualmente acaba que, por muitas vezes, segregando e excluindo alunos que apresentem algum tipo de deficiência cognitiva ou física, impedindo que esse grupo de alunos consiga um desempenho acadêmico adequado. Tendo isso dito, tem se tornado cada vez mais consensual de que a produção acadêmica na área da psicologia escolar mostra-se cada vez mais como algo essencial para um melhor desempenho dos diversos processos escolares e educacionais. 

De acordo com a Declaração de Salamanca (1996), toda criança tem direito fundamental à educação e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem. Dessa forma, abre-se o questionamento sobre quais políticas públicas o atual governo tem elaborado a fim de proporcionar a esses estudantes a manutenção do seu direito à educação. Complementa-se a isso, o parágrafo único que consta no Capítulo IV da lei 13.146 de 6 de julho de 2015, intitulada como Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, a qual diz que “É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação.”

            Para Dazzani (2010), o desenvolvimento de uma pedagogia centrada na criança e que seja capaz de educar a todos, independente de suas deficiências, é um dos maiores desafios que confrontam uma escola inclusiva. De acordo com o que foi dito acima, cabe à comunidade acadêmica de forma geral, buscar maneiras de melhor incluir esses alunos a fim de diminuir a já grande evasão escolar presente no nosso país, contabilizando, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 244 mil crianças e adolescentes entre 6 a 14 anos em 2021.

            Tais números apresentam a possibilidade de falhas na forma como estamos lidando com as políticas públicas relacionadas à educação inclusiva no nosso país. Sabendo então que a inclusão de pessoas com deficiências no âmbito escolar, acompanhado do tratamento adequado para cada, é um direito, a exclusão social pode ser compreendida como uma violação dos direitos humanos e do ideal de democracia (Dazzani, 2010).

Com o objetivo de ultrapassar essa exclusão da Pessoa com Deficiência, a escola, enquanto espaço de ensino e aprendizagem que deve ser acolhedor com as diferenças, precisa direcionar ações para que a cultura escolar esteja adequada para tal transformação, garantindo o acesso ao direito descrito na lei. Os incisos II e III do artigo 28 da lei de inclusão estabelecem a necessidade do aprimoramento dos sistemas educacionais para que seja garantido o acesso, permanência e pleno desenvolvimento, assim como a adequação do projeto pedagógico para que os estudantes com deficiência tenham atendimento educacional especializado e outros serviços e adaptações às suas necessidades. Tais pontos da lei são base para as mudanças necessárias, a nível estrutural, do funcionamento das escolas e da sua cultura escolar em relação às Pessoas com Deficiência.

Como abordado por Fonseca, Freitas e Negreiros (2018), o psicólogo escolar, dentre outras atribuições, pode trabalhar no processo de planejamento pedagógico, curricular e de políticas educacionais, ou seja, esse profissional tem condições para auxiliar em mudanças estruturais necessárias, como na efetivação das proposições da lei de inclusão, por exemplo. Assim, pode-se pensar em ações como: construir um projeto pedagógico e curricular que considere a existência e as necessidades das pessoas com deficiência; elaborar formas de avaliação adaptadas para as diferentes características dos alunos; elaborar junto aos professores metodologias de ensino em que seja possível a inclusão dos alunos com deficiência, entre outras ações que transformem a cultura normalizadora e produtora de exclusão.

Um outro ponto de destaque da lei de inclusão, para pensar a atuação da psicologia escolar, diz respeito ao inciso X do artigo 28, que diz “adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação inicial e continuada de professores e oferta de formação continuada para o atendimento educacional especializado”. Apesar de ser direcionado aos cursos de formação inicial e continuada, os psicólogos que atuam no contexto escolar também podem coordenar e orientar processos formativos para os professores, tendo em vista que nem todos os professores tiveram uma formação adequada quanto a práticas pedagógicas para as Pessoas com Deficiência.

Tal atuação do psicólogo escolar também foi ressaltada por Fonseca, Freitas e Negreiros (2018), apontando exemplos de práticas direcionadas à formação de professores. Ações como: orientações sobre formas de manejo dos alunos com deficiência dentro da sala de aula; construção em conjunto com os professores de atividades/materiais adaptados para que sejam atingidos os objetivos curriculares; formação dos professores sobre processos de aprendizagem, materiais didáticos adaptados, desenvolvimento de processos avaliativos que considerem as características de cada aluno, dentre outras temáticas.

Considerando a importância da efetivação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, a psicologia escolar tem o dever de contribuir com esse desafio da educação, se utilizando da sua produção científica e prática, para que os objetivos propostos pela lei sejam alcançados, proporcionando uma mudança no modelo educacional normalizante e excludente, que infelizmente ainda se impõe dentro das escolas.

 

 

 

 

 

Referências:

Dazzani, M. V. M. (2010). A Psicologia Escolar e a Educação Inclusiva: Uma Leitura Crítica. Psicologia, Ciência e Profissão, 30(2), 362–375. http://www.scielo.br/pdf/pcp/v30n2/v30n2a11.pdf.

Declaração de Salamanca. (1996). Procedimentos-padrão das Nações Unidas para a Equalização de Oportunidades para Pessoas Portadoras de Deficiências, A/RES/48/96, Resolução das Nações Unidas adotada em assembleia geral, Espanha.

Fonseca, T. D. S., Freitas, C. S. C., & Negreiros, F. (2018). Psicologia escolar e educação inclusiva: A atuação junto aos professores. Revista Brasileira de Educação Especial24, 427-440.

Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Recuperado em 31 de Agosto de 2022 de http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm.

Pro dia nascer feliz: Um retrato da educação brasileira





Vanessa Kelly Viana da Silva
Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco. 
Este texto é produto do processo vivido no âmbito da 
disciplina Educação e Políticas Públicas, 
do curso de Psicologia da Univasf, 
tendo como professor 
Marcelo Silva de Souza Ribeiro 
em setembro de 2022.


O filme “Pro Dia Nascer Feliz” mostra a realidade da educação brasileira em diferentes contextos. É possível perceber inúmeros problemas relacionados às escolas, como por exemplo, falta de estrutura física, desmotivação tanto por parte dos professores quanto dos alunos, falta de perspectiva de futuro e evasão escolar. A hierarquização das relações sociais no contexto escolar é um fator que dificulta a expressão da singularidade de cada indivíduo, principalmente professores e alunos que estão na base dessa instituição. Muitos jovens com talentos e sonhos, mas com poucos recursos e chances para crescer.

As escolas, enquanto ambiente de aprendizagem e desenvolvimento, deveriam, dentre outras coisas, oferecer um ambiente propício para que os alunos expandissem suas potencialidades. Porém, nem sempre é isso que se observa, há ambientes escolares que aprisionam seus alunos, impedindo-os de serem quem realmente são, obrigando-os a seguir um padrão, no qual todos devem pensar e agir de forma igual, sendo meros reprodutores daquilo que lhes é ofertado. Freire(1974), trás um conceito interessante e que se adequa a esse modelo, a chamada educação bancária, aqui o professor é o depositário do saber, enquanto o aluno é uma caixa vazia que apenas recebe esse depósito de conhecimento.

Um dos casos apresentados no filme é o da pernambucana Valéria, que tem um grande talento para a poesia, porém não pode frequentar todas as aulas e se dedicar aos estudos, uma vez que precisa ajudar a família em casa e na busca pelo sustento. Além do mais, dentro do próprio contexto escolar, as poesias criadas pela jovem são desestimuladas pelos professores, que alegam que os textos não são de sua autoria. Assim como Valéria, tantos outros jovens que poderiam ter um futuro brilhante, mas são sufocados pelo sistema.

Ao mesmo tempo que a escola mata a criatividade, o pensamento critico e as potencialidades de seus alunos, o mercado exige cada vez mais que as pessoas sejam criativas e pensem fora da caixa, o que é algo totalmente contraditório. Eis um questionamento que devemos fazer: A quem interessa ter uma sociedade não crítica? Melhorar a educação deveria ser prioridade dos governantes, mas na grande maioria das vezes isso não acontece e a sociedade como um todo são prejudicados. Como é apontado por Guareschi, P. (1996), a dominação política no sentido estrito oprime os sujeitos impedindo-os de ter acesso a direitos básicos. Boa parte dos problemas relacionados à educação seriam resolvidos com investimento governamental e implementação de políticas públicas de incentivo e acesso à educação. Porém na maioria das vezes esses investimentos não chegam.

Referências

Freire, P. Pedagogia do oprimido. 1.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra 1974.

Guareschi, P. (1996). Relações comunitárias, relações de dominação. In: Campos, R.H.F. (Org.). Psicologia Social Comunitária: da solidariedade à autonomia. (pp.81-99). Petrópolis: Vozes.

Jardim, J. Pro dia nascer feliz (Documentário). Brasil: Cinemateca Brasileira, 2006. Disponível em:http://cinemateca.gov.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=FILM OGRAFIA&lang=P&nextAction=search&exprSearch=ID=032093&format=detail ed.pft.

Um olhar para a Psicologia na escola: desafios e políticas públicas da educação no contexto pandêmico.




Joquebede de Queiroz Santana

Roney da Silva Arrais

Discentes do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco. 

Este texto é produto do processo vivido 

no âmbito da disciplina 

Educação e Políticas Públicas, 

do curso de Psicologia da Univasf, 

tendo como professor 

Marcelo Silva de Souza Ribeiro em setembro de 2022.


A pandemia de Covid-19 provocou uma série de intensas mudanças na população em diversos âmbitos, entre eles o educacional. Tais mudanças exigiram dos profissionais de Psicologia atenção a temáticas inesperadas e uma postura crítica e contextualizada a fim de enfrentar os desafios apresentados. Pois, nesse contexto, emergiram novas demandas, como a escolarização à distância e o confinamento, como resultado do distanciamento social, necessário para conter o aumento de casos da doença; observou-se também o aprofundamento das diferenças sociais, o aumento da fome nas camadas populares e adoecimentos e mortes por Covid-19 (Souza, Souza, Mathias & Almeida, 2022).

Com efeito, houve um significativo crescimento do sofrimento de membros da comunidade escolar, refletidos no aumento de relatos de ansiedade, depressão e automutilação dos alunos, bem como de estresse e sobrecarga dos docentes (Souza, Souza, Mathias & Almeida, 2022). Em contrapartida, percebe-se um reduzido quantitativo de Psicólogos no ambiente escolar, tornando a elucidação das problemáticas supracitadas ainda mais distante (Souza, Souza, Mathias & Almeida, 2022).

Esse novo cenário, marcado pela intensificação de dificuldades já existentes antes da situação de pandemia, contribui para que a escola fosse confrontada com suas limitações e, face a isso, surgiu a necessidade de realizar um número maior de encaminhamentos (Souza, Souza, Mathias & Almeida, 2022). A instituição passou a ter acesso, de maneira abrupta, à importância de estar integrada a seu território, com a finalidade de atender às necessidades de seus estudantes, as quais, sozinha, não conseguiria superar (Souza, Souza, Mathias & Almeida, 2022).

Ademais, o contexto pandemia tornou mais nítido a necessidade de que profissionais de Psicologia adotem um posicionamento historicizado, ético, crítico e humanizado diante das queixas escolares (Souza, Souza, Mathias & Almeida, 2022). Tal posicionamento deve direcionar seu olhar à relação que se estabelece entre os sujeitos (estudantes e suas famílias, professoras, gestoras e outros membros da comunidade escolar) e à realidade social, cultural e econômica da qual os indivíduos fazem parte (Souza, Souza, Mathias & Almeida, 2022). Tomando por base esse viés, podemos chegar a duas conclusões: os sujeitos são construídos através das interações com seu ambiente social e estão em constante transformação. Esta reforça a concepção pela qual a prática educacional se orienta na modernidade: a mudança. Educar pressupõe a formação do homem, o que, necessariamente, só se obtém através de mudanças, de maneira que tem-se por expectativas que as representações que os sujeitos possuem — tanto sobre si quanto sobre o mundo — sejam expandidas, se desloquem e se alterem (Souza, 2004).

Esse movimento permite vislumbrar possibilidades de mudanças para os sujeitos e reafirma a necessidade de compreender os múltiplos fatores envolvidos em processos de aprendizagem, tendo em vista que os desafios encontrados nos processos de escolarização estão também permeados por inúmeros fatores de ordem social e política, destaca-se a imprescindibilidade de atuação junto à e na gestão em Educação, participando e integrando suas instâncias centrais e decisórias (Souza, Souza, Mathias & Almeida, 2022). Assim, depreende-se que participar da construção, implementação, orientação e acompanhamento de políticas públicas e diretrizes e da elaboração de materiais de orientação fornece bases para que as decisões tomadas pelos órgãos de instância superior estejam de acordo com a realidade presente na escola e possam trazer ganhos significativos e efetivos para as pessoas que fazem parte dessa realidade (Souza, Souza, Mathias & Almeida, 2022).

Ainda, torna-se evidente a importância da articulação de ações coletivas que visem compreender e trabalhar as necessidades e potencialidades dos agentes da comunidade escolar, a fim de favorecer a aquisição de uma postura ativa por parte destes (Souza, Souza, Mathias & Almeida, 2022). A importância de se atentar a esses aspectos já havia sido apontada por Souza (2004), conforme o qual, para que o trabalho educacional possa cumprir efetivamente com seu papel, impõe-se a necessidade de conhecer os limites e as potencialidades dos sujeitos. Essa postura fornece outra medida para o trabalho, pois traz à tona elementos como falha, falta, imperfeições, que não significam precisamente a impossibilidade de se avançar, mas se tratam de condições inerentes à condição humana e que

podem funcionar como aliadas da ação, da potência, da transformação, do positivo (Souza, 2004).
Nessa perspectiva, através da criação de espaços coletivos de expressão, acolhimento, escuta e reflexão, torna-se possível contribuir com o reconhecimento das necessidades e dos desafios vividos na escola e com o fortalecimento de vínculos com a comunidade escolar (Souza, Souza, Mathias & Almeida, 2022). Entende-se que, dessa forma, as mudanças produzidas no ambiente escolar serão observadas em maior escala e poderão gerar efeitos mais profundos (Souza, Souza, Mathias & Almeida, 2022).

Em conformidade com Souza, Souza, Mathias & Almeida (2022), o serviço prestado por profissionais de Psicologia durante a pandemia é referenciado, sobretudo, como uma estratégia de cuidado e acolhimento à saúde mental dos estudantes e de profissionais da Educação.

Nesse sentido, percebe-se um significativo avanço na forma pela qual compreende-se o sujeito com problemas durante o processo de ensino aprendizagem e nas ações traçadas por Psicólogos para resolver esses problemas. Evidencia-se, por conseguinte, a impossibilidade — à vista de uma atuação ética — de formular estratégias de enfrentamento aos desafios impostos que segreguem o sujeito dos variados contextos com o qual ele interage, postura frequentemente empregada por psicólogos que, historicamente, serviu para perpetuar e atender a uma lógica neoliberal, onde os alunos e suas famílias eram os únicos responsáveis pelo "fracasso escolar".

A responsabilidade, em virtude desse processo, recaia apenas para o indivíduo por suas dificuldades. Ou seja, aspectos sociais, como baixa qualidade de ensino e insuficiência de políticas públicas que estabeleçam o efetivo direito à educação para todos, são desconsiderados e o sujeito, recortado de sua realidade (Benedetti, Bezerra, Telles & Lima, 2018).

A partir disso, pode-se pensar que, direta ou indiretamente, os processos supracitados se contrapõem à aprendizagem, pois fornecem posições pré-definidas e cristalizadas aos participantes do contexto escolar. Ao ocupar o papel de aluno que "não aprende", o indivíduo tem restringidas suas possibilidades de atuar ativamente no ambiente do qual faz parte, de transformá-lo e transformar a si mesmo através de novas experiências e da elaboração de novos significados e sentidos para suas representações.

Esse processo apresenta-se como duplamente danoso pois, ao mesmo tempo em que impele a aprendizagem efetiva, culpabiliza o sujeito por "não aprender". Pois, a partir de concepções individualizantes advindas do liberalismo e do capitalismo, cria-se a noção de que as pessoas,

dotadas apenas de "força de vontade", podem alcançar tudo aquilo que desejam — e, em caso de não alcançarem, seria exclusivamente por questões individuais, tais como incompetência ou ausência de empenho (Souza, 2004). Essa perspectiva isenta o Estado e as instituições de responsabilidades referentes à qualidade de vida e aos direitos sociais básicos, como o direito à Educação (Souza, 2004).

Face ao exposto, denota-se a responsabilidade de profissionais de Psicologia inseridos nesse contexto. A potência de uma atuação ética, comprometida com a realidade social e embasada em teorias e técnicas científicas por parte de Psicólogos junto à comunidade escolar revela-se como uma ferramenta indispensável para ultrapassar os inúmeros desafios impostos, assim como destacam Souza, Souza, Mathias & Almeida (2022).

Referências bibliográficas

Benedetti, M.; Bezerra, D.; Telles, M. C.; Lima, L. A. (2018). Medicalização e educação: análise de processos de atendimento em queixa escolar. Psicologia Escolar Educacional, 22 (1), pp. 73-81.
Osti, A.; Brenelli, R. P. (2013). Sentimentos de quem fracassa na escola: análise das representações de alunos com dificuldades de aprendizagem. Psico-USF, 18(3), pp. 417-426. Ramos, P. (2019). Psicologização escolar: o lugar da Psicologia e da Psicopedagogia. Revista AMAzônica, 24(2), pp. 152-168.

Souza, B. P.; Souza, J. R. T. L.; Mathias, M.; Almeida, V. A. F. (2022). Queixas escolares e atuação das/os psicólogas/os em tempos de pandemia: vamos construir parâmetros?
Souza, M. (2004). Fios e furos: a trama da subjetividade e a educação. Revista Brasileira de Educação, 26, pp. 119-132

A inclusão do aluno com deficiência intelectual no Ensino Regular e a lei de Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial (MEC / SEESP,1998)






LILIANY JANUÁRIO GONDIM

Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco. 



Este texto é produto do processo vivido no âmbito 

da disciplina Educação e Políticas Públicas, 

do curso de Psicologia da Univasf, 

tendo como professor 

Marcelo Silva de Souza Ribeiro em setembro de 2022.



Tomando como base a história das pessoas com deficiência, deficiência intelectual, especificamente, da para ser analisado que ela tem sido percebida, no sistema educacional, como a que o desenvolvimento dos sujeitos que a apresentam é mais comprometida do que os que não a manifestam. Sendo assim, não se pode negar a existência de dificuldades individuais geradas por limitações de ordem neurológica e que acabam fugindo do controle do próprio indivíduo, que exigem mediações necessárias para o desenvolvimento da aprendizagem dessa pessoa. E se sabemos que existe, até que ponto o sistema escolar pode estar usando as diferenças individuais para reforçar essa ideia de exclusão?

Trazendo um pouco sobre a diferença dos termos “integração” e “inclusão" o termo integração passa a ideia de que a pessoa, para ser inserida na escola regular, deve estar em condições para isso, ou em condições de corresponder às solicitações feitas pela escola. Neste momento não se questiona sobre o papel e função da escola, pois é ela quem dita o modelo que o aluno deve seguir para integrar o ambiente. Já a idéia de inclusão deve então considerar a inserção de alunos por meio de outro ângulo, isto é, aquele que reconhece a existência de inúmeras diferenças, e, ao reconhecê-las, mostra a necessidade de mudança do sistema educacional que, na realidade, que talvez não esteja preparado para atender a essa demanda.

Resgatando a origem das políticas inclusivas de alunos com deficiências, foi no ano de 1968, quando a UNESCO, através de um grupo de especialistas, montou um programa visando alunos com deficiência – originando as bases conceituais do que hoje é comumente identificado por “Educação Especial”. Em um dos trechos destacados do documento, é observado que:

“Os objetivos da Educação Especial destinada às crianças com deficiências mentais, sensoriais, motoras ou afetivas são muito similares aos da educação geral, quer dizer: possibilitar ao máximo o desenvolvimento individual das aptidões intelectuais, escolares e sociais.” (UNESCO, 1968, p. 12).

Os últimos tempos foram marcados por movimentos organizados por pessoas com deficiência e por militantes dos direitos humanos, que estão em busca do reconhecimento do direito das pessoas com deficiência à participação efetiva na sociedade. Ao passar dos anos essa luta vem se estruturando cada vez mais , inclusive no Brasil.

Na década de 1990, no Brasil, começaram as discussões em torno do novo modelo de atendimento escolar, denominado inclusão escolar. Esse surgiu como uma reação contrária ao processo de integração, e sua efetivação prática tem gerado contradições e conflitos. O conceito de inclusão passou a ser trabalhado na educação para pessoas com deficiência, mas com a proposta de incluir a PCD junto aos ditos “normais” , e quando falo em inclusão é

mantendo os alunos frequentando os mesmos ambientes de aula, os mesmos professores, as mesmas matérias que os alunos típicos.

Ao governo, cabe ofertar recursos a escola , porém, ofertar recursos e procedimentos não uniformes para que os alunos tenham possibilidades de caminhar além de seus limites. Essas dificuldades têm levado os educadores a proporem atividades curriculares de menor complexidade, mais objetivas, o que pode gerar uma desmotivação e uma baixa autoestima nos alunos que apresentam deficiência mental pois, podem vir a se sentirem incapazes de realizar atividades extensivas que exercitam tanto o lado cognitivo, acarretando também exclusão da criança de ambientes sociais, como grupo de amigos etc.

Com a implantação da Lei de Diretrizes e Bases tendo a inclusão como princípio , a adoção e a implementação de currículos abertos e flexíveis, que atendam à diversidade do alunado presente na escola, passou a ser objeto de discussão nas diretrizes curriculares e nos cursos de formação continuada dos sistemas de ensino o conceito da Escola Inclusiva. Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial (MEC / SEESP,1998), Implica um projeto político pedagógico, no currículo, na metodologia de ensino, na avaliação e na atitude dos educandos, ações que favoreçam a integração social e sua opção por práticas heterogêneas.

Assim, as deficiências dos alunos devem ser consideradas como condições a que a escola precisa atender. Assim, sem negar a subjetividade de cada sujeito, considerando que o conceito de deficiência mental, seu diagnóstico e classificação devem perceber o homem dentro de uma visão integrativa e global.

Destarte, a Educação Especial já não é mais vista como um sistema educacional separado dos outros, mas como um conjunto de medidas que a escola regular põe ao serviço de uma resposta adaptada à diversidade dos alunos. Neste sentido, a instituição escolar passa a ser alvo de questionamentos e de conflitos, provavelmente, por expor a diversidade e o compartilhamento de interesses, contradições, expectativas e identidades. Muitas são as ansiedades que movimentam as transformações em busca do que se julga ser o ideal, correspondendo às necessidades específicas de todos.

REFERÊNCIAS
RESOLUÇÃO No 2, DE 11 DE SETEMBRO DE 2001.(*)

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.UNESCODisponível em: UNESCO - Ministério da Educação (mec.gov.br)Acesso em:02/09/2022

A Psicologia no processo de compreensão sobre comunicações violentas nas escolas




 Lucas Sousa Matos Soares. Graduando em Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco


Consequências de umas comunicação violenta

A maneira como nos dirigimos aos outros que estão ao nosso redor diz muito sobre como as relações poderão tomar prosseguimento ao decorrer do tempo. Ao tratarmos os outros bem, existe uma tendência que o outro dirija a nós de forma recíproca. Contudo, quando essa comunicação está caracterizada por detalhes violentos, a possibilidade daquela relação causar um mau estar aumenta.

Dentro do ambiente escolar, essas questões se mostram de forma bastante expressiva, sendo clara a presença de situações, nas quais, as comunicações violentas viram pauta. O desrespeito por características pessoais, o xingamento proferido continuadamente, o empurrão dado pelo simples fato de estarem na frente, todos esses são exemplos de como a comunicação violenta pode se expressar em uma rotina escolar.

Contribuições da Psicologia

Para a Psicologia, é ciente que o comportamento é aprendido conforme o ser se desenvolve entorno de seu ambiente. E assim como o comportamento é aprendido, ele pode ser modificado. Não é sólido e imutável, pode ser modelado de acordo com os objetivos seguintes. Por conta disso, quando se trata de comunicação violenta, a Psicologia pode ajudar a compreender algumas questões voltadas a solução dos problemas de comunicação e auxiliar sobre como aprender mais desse tema.

Uma das técnicas que pode ser utilizada para lidar com a comunicação violenta é a “técnica do sanduíche”. Ela consiste em uma estratégia para resolução de problemas de uma forma assertiva. Dessa maneira, situações de estresse podem ser resolvidas muito mais fáceis. A técnica do sanduíche está separada em três passos. O “pão” será o início da conversa, a parte na qual o indivíduo ressalta um ponto positivo do outro, sem que necessariamente essa característica esteja relacionada com a situação em si. Logo em seguida, no “recheio”, será posto em pauta o problema em questão, explicando de forma detalhada como ele afetou negativamente e qual solução poderia estar sendo tomada para aquele problema. Para fechar o sanduíche, o “último pão” retornará a ideia de elogio para quem está sendo dirigida a palavra, deixando o clima mais calmo e agradável. Pode parecer algo simples, mas é uma técnica importante para lidar de forma assertiva com situações, sendo capaz de auxiliar bastante nos conflitos internos de um ambiente escolar.

Este texto é produto do processo vivido no âmbito da disciplina Educação e Políticas Públicas, do curso de Psicologia da Univasf, tendo como professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro em setembro de 2022.

Para saber mais:

Scavacini, K., Cacciacarro, M. F., Pereira, M. R., Pessoa, G. C., & Motoyama, E. P. (2021). Saúde Mental de Adolescentes e Jovens (K. Scavacini & J. Fontoura, Eds.). Instituto Vita Alere.

httpss://www.unicef.org/brazil/saude-mental-de-adolescentes#biblioteca

Bullying no ambiente escolar e possibilidades de intervenção





 REBECA MIRANDA DOS REIS.

Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco. 

Trabalho fruto da disciplina Educação e Políticas Públicas .


Dessa forma, um problema digno de preocupac;ao e que se apresenta de forma significativa no ambiente escolar e obullying. Ele se caracteriza por ac;oes intencionais e repetidas por parte de um ou mais individuos e direcionadas a um outro que se encontra em posic;ao indefesa. A presenc;a de situac;oes de bullying colabora para que o ambiente escolar seja percebido pelos estudantes como local pouco seguro e contraria a existencia das interac;oes positivas, tao importantes para a qualidade devida dos individuos que compoem a escola (Silva et al., 2018).

Dentro do conceito de bullying estao comportamentos verbais como xingar, ameac;ar e p6r apelidos; comportamentosrelacionais como a propagac;ao de fofocas e mentiras que podem prejudicar o relacionamento com os pares; comportamentosfisicos como empurrar, bater, socar, usar armas para agredir e roubar lanche. Ha também o bullying indireto, que "envolve comportamentos de exclusão, indiferença e extorsão" (Pimentel et al., 2020).

A vitimização por esse tipo de agressão pode desencadear danos a saude mental do adolescente agredido, como baixa autoestima, sintomas depressivos e de ansiedade, estresse pós-traumático e ate mesmo, em casos mais graves, ideação tentativas de suicídio (Pimentel et al., 2020). A frequência de ocorrência nessas agressões em ambientes educacionais brasileiros geram um cenário preocupante inclusive para o desenvolvimento de politicas publicas que são necessárias para seu enfrentamento (Silva et al., 2018).

Assim como mostram diversas pesquisas, a presenc;a do bullying e infelizmente muito visivel para quern tern contato com ambientes escolares. A titulo de exemplo foi notado como um dos principais problemas apresentados em uma escola publica de ensino fundamental na qual foi realizada uma pratica de curta duração pelos alunos do  período do curso de psicologia da Univasf, como parte da disciplina Teorias e Praticas de Desenvolvimento e Aprendizagem. Por meio de uma atividade na qual pediu-se que fossem explicitadas coisas das quais não gostavam com relação a escola, as interações agressivas foram pontuadas por muitos dos alunos. Alem disso, durante o pouco tempo em contato com estes,  foi possível perceber algumas atitudes que sinalizavam o bullying.

 

Diante disso tentou-se buscar atividades pontuais que pudessem servir para trabalhar a tematica com os referidos alunos, no intuito de intervir, por minimo que fosse, no problema, que e complexo e merece muita atenção. Essa experiencia, bem como a literatura da area, nos levam a refletir sobre formas possiveis de aplicar a psicologia nas escolas com vista a reduzir a ocorrencia desse tipo de violência.

Alguns estudiosos abordam construtos que, ao que parece, se relacionam com o bullying. Desse modo abrem-sepossibilidades de que intervenções que provoquem mudan9as nesses construtos podem ter chances de minimizar o bullyingcomo consequencia. Entre estes construtos estao as Habilidades Sociais e os Valores Humanos.

A literatura da area de Habilidades Sociais vem indicando que crian9as e adolescentes que tern esse conjunto dehabilidades pouco desenvolvidas possuem maior vulnerabilidade a sofrerem agressoes. Ja em rela9ao aos agressores, apesar denao haver consenso, ha tambem indica95es de que possuem menores habilidades para lidarem com suas intera95es interpessoais, e que a melhoria dessas habilidades, especialmente da empatia, poderia diminuir as agressoes. (Silva et al., 2018).

Nesse contexto, um outro conceito que pode ser importante é o de Valores Humanos. Segundo Gouveia (2013) os Valores sao aspectos psicológicos que possuem duas funções: guiar as ações umanas erepresentar cognitivamente suas necessidades. Estudos tern apontado que os Valores Humanos tern apresentado poder explicativo relevante para predizer o comportamento de civilidade, um importante comportamento pr6 social que beneficia pessoas ou grupos que o pratiquem (Ventura et al., s.d).

Os Valores Interativos, por exemplo, como afetividade, apoio social e convivencia apresentaram rela9ao negativa com apratica do bullying, ou seja, individuos que praticam as agress5es possuem um menor grau desse conjunto especifico de valores (Monteiro et al., 2017). Tais valores enfatizam a vida social e uma grande importancia afetiva compartilhada, representando necessidades de perten9a, amor e filia9ao sendo essenciais para estabelecer, regular, e manter as relações interpessoais.Acredita-se que ao promover esses valores de ordem social, contribui-se para o desenvolvimento do individuo.

Nesse sentido, ja foram formuladas intervenções como a realizada por Ventura et al (s.d) e que indicaram resultados promissores em rela9ao a auxiliar crianças na construção de determinados valores que podem influenciar o engajamento em comportamentos mais pró sociais e que alimentam a esperança de que haja, consequentemente, diminui9ao dos comportamentos de bullying.

Através do estudo mais aprofundado sobre intervenções que trabalhem essas questões poderia-se encontrar ferramentas para combater o bullying nas escolas atraves de sua implementação. E importante que os profissionais que atuam nos contextos escolares estejam preocupados em buscar formas que permitam interferir na sistemática atual a fim de ajudar proporcionar escolas que sejam realmente espaços seguros de aprendizado e de desenvolvimento de relações saudáveis e de cidadania.

 

 

Referências

 

Pimentel, F. 0., Della Mea, C.P., & Dapieve, P. N. (2020). Vitimas de bullying, sintomas depressivos, ansiedade, estresse eidea9ao suicida em adolescentes. Acta Colombiana de Psicologia, 23(2), 205-216.http://www.doi.org/10.14718/ACP.2020.23.2.9


Monteiro, R. P., Medeiros, E. D., Pimentel, C. E., Soares, A. K. S., Medeiros, H. A., Gouveia,

 

V. V. (2017). Valores Humanos e Bullying: Idade e Sexo Moderam essa Rela<;ao?.

 

Temas em Psicologia 25(3), 1317-1328 DOI: 10.9788/TP2017.3-18Pt

 

 

 

Ventura, N. A., Gouveia, V. V., Oliveira, I. C. V., Moizeis, H.B. C.,Figueiredo, C. V. (s.d) Promovendo civilidade no contexto escolar: uma proposta pautada na educa<;ao e valores. III Congresso Nacional de educa<;ao (CONEDU)

 

 

Silva, J. L., Oliveira, W. A., Zequinao, M. A. Z., Lizzi, E. A. S., Pereira, B. 0., Silva, M. A. I. (2018). Resultados de Interven95esem Habilidades Sociais na Redu<;ao de Bullying Escolar: Revisao Sistematica com Metanalise. Temas em Psicologia 26(1), 509-522. DOI: 10.9788/TP