quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Psicologia do Esporte, Inclusão Social e Iniciação Esportiva Infantil a partir de Projetos Sociais

     



Thaís Teixeira de Albuquerque. 

Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco. Trabalho fruto da disciplina Educação e Políticas Públicas .


O esporte pode ser compreendido como uma prática que leva em conta não apenas a performance individual,  mas que se abrange em sua capacidade de promover inclusão social e a cidadania (Cunha, 2007). Lei nº 11.438/06 – Lei de Incentivo ao Esporte (LIE) –, como é mais conhecida, permite que recursos provenientes de renúncia fiscal sejam aplicados em projetos das diversas manifestações desportivas e paradesportivas distribuídos por todo o território nacional. Ou seja, o governo abre mão de receber parte dos impostos para incentivar projetos nas áreas cultural, esportiva e social. Sendo esses projetos abertos para toda a comunidade, isto é, sem necessidade de pagamento para participação, torna-se uma oportunidade incrível para crianças e jovens darem início ou continuidade, com qualidade, em suas práticas esportivas. Um exemplo na nossa região Petrolinense é o projeto Escolinhas Esportivas de Atletismo Inclusivo, programa oferecido pela APA-Petrolina, onde desenvolvem atividades de formação social de crianças e adolescentes por meio da prática do atletismo. A partir desse projeto, os pais/responsáveis inscrevem, levam e, se quiserem, acompanham e assistem seus filhos durante os treinos, e isso é algo que favorece até mesmo o vínculo entre eles. Desse modo, temos a compreensão da inclusão social como um processo não institucional e sim social, onde família, sociedade, escola e projetos obtêm maiores resultados se trabalhados juntos (Cunha, 2007).

    Tendo conhecimento sobre isso, surge então o que se chama de iniciação esportiva (IE) infantil. Para Sánchez (1999), a IE pode ser compreendida como o início de uma ação pedagógica, levando em consideração as características da criança, da atividade e dos objetivos a serem alcançados. Na definição desse autor, a IE possui quatro características essenciais no processo de ensino-aprendizagem:

‘’um processo de socialização, de integração dos sujeitos com as obrigações sociáveis ​​em relação aos outros; ser um processo de ensino-aprendizagem progressivo e otimizador que visa atingir a máxima competência em uma ou mais atividades esportivas; ser um processo de aquisição de habilidades, competências, conhecimentos e atitudes para atuar da forma mais eficaz possível em uma ou várias práticas esportivas; ser uma etapa de contato e experimentação em que as capacidades funcionais aplicadas e práticas devem ser alcançadas.’’ (BLÁZQUEZ SÁNCHEZ, 1999, p.24)

    Dessa forma, podemos compreender que a IE infantil pode ser destinada para três finalidades: o esporte recreativo, educativo e o competitivo (Gabarra et al., 2009). O esporte recreativo é realizado pelo prazer e diversão, ele valoriza as possibilidades da criança e descentraliza o resultado. É o esporte ideal para a população que busca um momento de lazer, descontração e relacionamentos sociais e pessoais. Esse esporte possibilita também o processo de democratização, isto é, ele promove oportunidades esportivas para todos. 

     O Esporte educativo colabora para um desenvolvimento geral e potencializa os valores da criança. A partir de uma integração social, é assegurado uma participação autêntica, dando às crianças oportunidades de decisões sobre as atividades a serem desenvolvidas. Além disso, há um foco no desenvolvimento psicomotor e  habilidades críticas (Autoavaliação), tudo isso levando em conta uma relação com os aspectos afetivos, cognitivos e sociais. Por fim, há o esporte competitivo (ou de rendimento) que tem a finalidade de alcançar a vitória, foco na execução e técnicas, realizando muitas repetições de modo a buscar o aperfeiçoamento. Esse esporte, quando se trata de crianças, deve ser trabalhado com muito cuidado e cautela, tendo em vista que pode acabar se tornando uma réplica do esporte competitivo adulto, onde crianças são vistas como adultos (Gabarra et al., 2009). Desse modo, acaba que a família/escola/treinadores expõe as crianças a situações estressantes e de alta tensão, sendo muito exigentes com treinamentos intensos e precoces. Quando o esporte competitivo é trabalhado de maneira saudável, ele auxilia na melhora de comportamentos cooperativos, resiliência, autoestima, habilidades motoras e sociais, por exemplo. E isso pode ser feito quando valorizamos o processo da criança ao invés de apenas os resultados (vitórias). Caso contrário, o risco de desistência, baixa autoestima, sentimentos de fracasso, lesões, estresse e até mesmo transtornos psicológicos. 

     A partir do exposto, é preciso ter a compreensão de que não se trata do esporte ser ruim ou bom para os jovens, mas de como ele será apresentado e conduzido. O esporte não é por si só saudável ou educativo, ele é aquilo que se fizer dele. Assim, para esse processo de IE infantil, é válido ressaltar a importância do papel da tríade professor-família-criança (Gabarra et al., 2009). A postura do educador (profissional de educação física) é o que direciona todo o processo de aprendizagem, tendo em vista que é quem tem uma proximidade direta com a criança nesse processo. Quando a criança é vista como alguém que se constrói a partir de suas experiências, o educar será voltado para possibilitar situações de aprendizagem, sendo o adulto apenas o facilitador desse processo. Assim, fazendo uso de métodos coerentes com os objetivos, intenções pedagógicas que caracterizam o processo educativo, é possível então o desenvolvimento e aquisição de habilidades motoras, dos aspectos sócio afetivos, psicológicos e biológicos do aluno (Gabarra et al., 2009)

    A família é o ponto crucial na vida da criança, levando em conta que depende dela a decisão sobre o iniciar ou não a criança no esporte e em auxiliar em outros momentos de decisão sobre. Mesmo com isso, é importante que a criança seja consultada e os motivos pelos quais ela está tendo essa iniciação. E antes mesmo da IE, compete à família as condições para o desenvolvimento das habilidades motoras (subir escadas, pular, engatinhar, correr). Além disso, a família também tem uma responsabilidade inicial sobre hábitos saudáveis (alimentação, sono, costumes, atividade física), hábitos estes que servirão de modelo para outras práticas. O acompanhamento, interesse e incentivo da família para com o interesse da criança no esporte é fundamental para a motivação, saúde, afetos e bem estar da mesma. 

     O último (mas nunca menos importante) ponto da tríade é a própria criança: Quando  colocada como protagonista da ação, é favorecido comportamentos ativos da mesma, possibilitando o desenvolvimento da autonomia, autoconfiança, autoestima, criatividade e espontaneidade. Além de efeitos positivos da IE infantil no seu desenvolvimento pessoal, há também os aspectos sociais, principalmente quando se trata de atividades coletivas ou realizadas em grupo. Assim, a prática esportiva pode ser muito importante na socialização das crianças, mas vale ressaltar que os agentes envolvidos (estrutura, profissionais, projetos, valores, etc)  podem afetar a qualidade dessa experiência.

     A partir disso, destaca-se que, o esporte, para o psicólogo do esporte, é entendido como um instrumento que pode ser utilizado na busca de autonomia dos indivíduos, na transmissão de educação, na manutenção ou no alcance da saúde, no desenvolvimento da auto-estima, entre outros (Gabarra et al., 2009). Essa forma de compreender o esporte pode auxiliar no desenvolvimento das crianças na iniciação esportiva, de modo que seu papel pode estar no lugar de mediador das relações da tríade, professor-família-criança, ou seja, buscando facilitar as relações, realizando um trabalho interdisciplinar com os professores de educação física, aproximando a família deste contexto de desenvolvimento infantil, auxiliando na compreensão das necessidades da criança, proporcionando a esta mais autonomia e conhecimento sobre si mesmo. E isso pode ser feito em qualquer área do esporte, seja recreativo, educativo ou de alto rendimento. Pode atuar também em escolas, clubes e projetos sociais. 

    Desse modo, destaca-se a importância do papel do Governo para o desenvolvimento de políticas públicas e investimentos em  Projetos Sociais voltados para a Iniciação Esportiva Infantil, o papel de cada indivíduo nesse processo (profissional de educação física, família e criança), além da atuação do Psicólogo do Esporte no manejo dos mesmos, cumprindo então um dos deveres de sua prática, que é proporcionar qualidade de vida e bem estar para a sociedade. 

 

 

Este texto é produto do processo vivido no âmbito da disciplina Educação e Políticas Públicas, do curso de Psicologia da Univasf, tendo como professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro em abril de 2022.

 

 

 

 

 

 

 

Referências

 

BLÁZQUEZ SÁNCHEZ, D. (1999) A modo de introduccion. In: D. Blázquez Sánchez (Org.) La iniciación deportiva y el deporte escolar, p. 19-45. 4ª edição. Barcelona, Espanha: INDE Publicaciones. 

 

Cunha, B. Z. (2007) A inclusão da criança em projetos sociais de educação pelo esporte. In: Universidade Federal de Santa Catarina 

 

Gabarra, Letícia Macedo, Rubio, Kátia, & Ângelo, Luciana Ferreira. (2009). A Psicologia do Esporte na iniciação esportiva infantil. Psicologia para América Latina, (18) Recuperado em 28 de agosto de 2022,  http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2009000200004&lng=pt&tlng=pt.

 

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