sexta-feira, 10 de março de 2023

O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA AUTOEFICÁCIA DOS ESTUDANTES




JOSÉ NILTON DOS SANTOS FILHO

Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco.


Este texto é produto do processo vivido no âmbito da 

disciplina Educação e Políticas Públicas, 

do curso de Psicologia da Univasf, 

tendo como professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro 

em março de 2023 


A Teoria Social e Cognitiva de Bandura (1986) vem sugerir que a realização humana vai depender da interação tanto dos comportamentos do indivíduo quanto das condições do ambiente. Depois do âmbito familiar, o contexto escolar é um dos maiores espaços de convivência das crianças e adolescentes, tanto com seus pares quanto com os profissionais da educação. É então que entra em destaque a figura do professor que em certos momentos da vida dos estudantes, por volta dos 06 e 10 anos, são vistos como figuras de autoridade e identificação. Nesse sentido, a palavra do professor acaba por ser tomada como “lei”, é a verdade. Então, nessa fase a sua palavra tem um grande peso na vida dos estudantes.

Segundo Allport (1950, apud Rosenthal, 1966), a profecia auto realizadora trata de como as expectativas que se tem acerca de alguém acaba cooperando para com que esse outro acabe se comportando de acordo com o que se espera dele.

Como aponta Oliveira (2018), é comum que ao assumir uma nova turma, um professor se deixe levar pelas impressões de outros profissionais que já passaram pela mesma turma acerca dos comportamentos da mesma. Ao se deparar com comentários acerca de um “aluno problema”, o novo professor irá aproximar-se do estudante já com a expectativa de deparar-se com dificuldades. O professor irá aumentar a vigilância sob o aluno e passará a delegar poucas tarefas importantes por já esperar dele uma falta de comprometimento ou problemas de relacionamento com os colegas durante a realização da tarefa. Apesar de não perceber ou sequer conhecer o estudante a fundo, esse professor reforça o estigma de “aluno problema” no estudante que, por sua vez, passa a “vestir a carapuça” após experienciar episódios em que seus resultados positivos eram negligenciados enquanto havia uma supervalorização dos negativos.

Isso também pode ser observado na relação de aprendizagem, quando o professor passa a realizar afirmações como “você não consegue realizar isso”, “você é burro” e “você não é capaz”. Frente a isso, o estudante acredita no que foi trazido pelo professor de que ele não é capaz de obter um bom desempenho, pouco faz para mudar esse quadro. Aqui fica evidente o quanto as profecias auto realizadoras podem afetar a autoeficácia dos estudantes.

Segundo Bandura (1977), a autoeficácia é a percepção que o indivíduo tem acerca de suas capacidades para a realização de determinada atividade. Ele a entende como as percepções que as pessoas possuem sobre suas capacidades para produzir certos níveis de desempenho que acabam por ter influência sobre fatos de suas vidas. Desse modo, essas

percepções que o indivíduo tem sobre si mesmo determina a forma com que ele sente, pensa, se motiva e se comporta.

Quando o educador reforça no estudante a visão de que ele não é capaz de aprender ou obter bons resultados, a sua autoeficácia acerca disso passa a ser a de que de fato ele não é capaz. Isso acaba por fazer com que haja um desinvestimento por parte do estudante no seu processo de aprendizagem que, por sua vez, resulta no estudante de fato apresentar maus resultados, o que faz com que a crença incapacitante que existe sobre ele seja ainda mais reforçada.

Dessa forma, a escola pode tanto atuar enquanto um espaço para desenvolvimento e expansão de horizontes para os estudantes quanto pode ser um espaço aversivo e de construção de muros. Cabe aos educadores uma prática pautada na autocrítica e observação de seu próprio comportamento, a fim de romper com as crenças e estigmas acerca dos estudantes. A busca por maneiras de reforçar a autoeficácia dos estudantes pode ser o grande diferencial entre uma educação bancária e uma educação emancipadora.

REFERÊNCIAS

Bandura, A. (1977). Self-efficacy toward a unifying theory of behavioral change. Psychological Review, 84(2), 191-215.

Bandura, A. (1986). Social foundations of thought and action: A social cognitive theory. Englewood Cliffs, NJ: Prentice- Hall.

Oliveira, D. C. (2018). Profecia Autorrealizadora: o poder da palavra do professor na construção do “aluno-problema”. Psicologia Acessível. Consultado em 19 de fevereiro de 2023.https://psicologiaacessivel.net/2018/02/26/profecia-autorrealizadora-o-poder-da-palavra- do-professor-na-construcao-do-aluno-problema/

Rosenthal, R. (1966). Experimenter Effects in Behavioral Research. New York: Appleton Century Crofts.

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