sexta-feira, 10 de março de 2023

O Telos na e da Educação: formar para a vida


Edvaldo Marques de Araújo

 Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco.


Este texto é produto do processo vivido no âmbito da 

disciplina Educação e Políticas Públicas, 

do curso de Psicologia da Univasf, 

tendo como professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro 

em março de 2023


 A educação é parte importante da vida em nossa sociedade atual. Não por acaso, ela é um direito constitucional. A educação e a informação – que são primas, mas não irmãs – são fundamentais para o exercício dos outros direitos, como a cidadania e o trabalho, por exemplo. Em função do trabalho, a educação é vista como uma ferramenta para formar – ou produzir, depende do ponto de vista – cidadãos aptos a ocupar os postos de trabalho. Esse é um dos Telos da educação atualmente.

            Antes de mais nada, é necessário explicar o que aqui está sendo chamado de Telos. Grosso modo, Telos é uma palavra grega que respeito à “finalidade” das coisas. Como campo de estudo da filosofia, existe a teleologia, que busca discutir e compreender os fins, propósitos, objetivos e finalidades. O que concebo aqui como Telos é nossa capacidade de delimitar um fim, entre objetivos e propósitos, para as coisas, mas para além da forma com que realizados esse fim. Para exemplificar, a educação forma pessoas para a vida social e para a ocupar postos de trabalho. A existência dessa finalidade dá significado a uma série de ações – ou formas de se educar – na educação, mas o propósito em si mesmo está relacionado ao que concebemos como um bom cidadão ou trabalhador. Ou seja, o Telos pode ser múltiplo e dar sentido para uma série de ações distintas, mas ele também se origina num berço de significados. Não há Telos para a educação se uma visão de mundo por trás. 

            Voltando a educação, desde o iluminismo, o ser humano é visto como único devido às suas capacidades cognitivas e à razão. Se é a cognição que nos diferencia enquanto humano, então é ela o alvo da educação desde então. Nos últimos anos, as coisas tem mudado um pouco de lógica, com a inserção das chamadas competências socioemocionais na BNCC, um avanço que reconhece a importância do mundo emocional ao longa da vida humana. Somos racionais e isso de fato nos distingue, mas não deixamos de ser emocionais. Essa inserção expandiu o Telos da educação. O reconhecimento da importância das competências não-cognitivas durante a vida humana e social realoca os objetivos da educação para um olhar mais ampliado do ser humano.

            A presença de uma dimensão emocional na vida humana não nos torna irracionais ou limita nossa razão. Muito pelo contrário, ela expande nossa vida de significados possíveis. A racionalidade por si só não dá conta de produzir significados íntimos e pessoais para nossas experiências, que são sobretudo compartilhadas entre nós. A razão compreende, analisa, explica, mas não sente. Sentimos muito e isso também nos faz humanos – no plural, juntos.

            Por isso, defendo que o Telos da educação deve ser formar para a vida, mas para a vida com um olhar ampliado sobre ela: com o mundo emocional e de significados pessoais inclusos. Nossa capacidade de produzir significados deve ser valorizada em todas as etapas da educação, sobretudo para nos ajudar a significar nossa própria vida. Nesse sentido, retomo a ideia de Sentido de Vida produzida por Viktor Frankl. Para o autor, a busca por um sentido para a vida é parte fundamental da motivação do ser humano e é crucial para o bem-estar subjetivo dos indivíduos.

            Ter um sentido para a vida nos permite ter uma percepção de ordem e coerência diante dela mesma, nos auxiliando a busca e realização de objetivos que sejam significativos e congruentes com este sentido. Em outras palavras, sentido de vida nos auxilia a olhar para a vida de uma forma organizada, produzindo um sentido de finalidade para ela e esse sentido nos permite auxiliar nossas ações em uma direção que para nós é significativa.

            Neste caso, não há um sentido universal e único que deva ser o alvo da educação, como uma espécie de educação bancária que fazemos o depósito de um sentido de vida para um aluno e após isso ele vive uma vida rumo à essa direção – tal qual como um teste vocacional, mas para a vida. Na contramão disso, sentido de vida só pode ser produzido pelo próprio indivíduo em relação com o mundo interpessoal e social ao redor dele, mas de produção pessoal. Apenas a própria pessoa pode descobrir aquilo que é valoroso e congruente para ela, a educação deve apenas dar as ferramentas desta descoberta. Como numa escavação: a educação dá ferramentas, o que se procura é um sentido pessoal e único para suas ações e o indivíduo é o arqueólogo que age em busca desse sentido. A única diferença entre a arqueologia e o que proponho: na arqueologia do sentido de vida, o arqueólogo se descobre enquanto escava a si mesmo.

            Nesse sentido, proponho a educação um Telos novo: instrumentalizar os indivíduos não só para o trabalho ou para a vida em sociedade – que não deixo de reconhecer como extremamente importantes para todos -, mas também para uma vida com significado. Significado este que só pode ser dado por si mesmo, mas que não está distante da realidade em que vive. Por isso mesmo a educação pode e deve ser um instrumento dessa escavação construtiva. O novo Telos da educação deve ser auxiliar as pessoas para encontrar a si mesmas.

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