sexta-feira, 10 de março de 2023

Importância da psicologia escolar no âmbito educacional




Fonte: pexels.com


 Yasmine da Silva Santana
Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco.


Este texto é produto do processo vivido no âmbito da 

disciplina Educação e Políticas Públicas, 

do curso de Psicologia da Univasf, 

tendo como professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro 

em março de 2023




 

 

Ao longo da história brasileira, desde a colônia até o Brasil tornar-se república, a educação percorreu um caminho árduo e a passos lentos. Antes não valorizado, o ensino não era visto como preocupação e nem prioridade do poder público, portanto tinha pouco ou nenhum investimento e era conferido apenas para aqueles indivíduos com maior poder aquisitivo, somente com a função de ensinar básico e sem muito interesse da população  (Vieira & Freitas, 2003).  

Entretanto, após uma gama de movimentos sociais e políticos, a problemática educacional passa a ganhar destaque e novas  transformações na sua estrutura. E é a partir desses movimentos e pela insatisfação do povo que se deu a criação da primeira constituição, em 1891, onde de fato, a partir desse marco e ao longo de vários anos de luta, foi possível observar sinais sólidos de mudança, como a ideia de formar um cidadão; a criação de inúmeros projetos de reforma educacionais; estruturação de uma educação pública nacional; surgimento dos educadores como profissão; promoção de diversas conferências nacionais de educação, etc (Vieira & Freitas, 2003). 

Porém, hoje em dia apesar da educação de qualidade ser um direito de todo cidadão,  com uma proposta mais moderna onde um dos seus pilates é  assumir o compromisso de transformação social, não só com o intuito de compartilhar conhecimentos concretos, mas também de atuar como um mecanismo de tomada de consciência e mudanças (Souza, 2004), ainda se tem diversos desafios que precisam de atenção. Com por exemplo, os problemas de estrutura e manutenção de escolas; formação dos professores e da rede educacional para lidar com as diversas adversidades que ocorrem dentro e fora desse ambiente; questões de dificuldade de aprendizagem; permanência na escola, patologização das crianças/adolescentes; inclusão de pessoas com deficiência e entre outras dificuldades (Freire, 2008 & Merseth, 2018; Schwartzman & Brock, 2005; Untoiglich, 2014). Dessa forma, fica claro que diante dessas diversas situações a rede educacional necessita do apoio de um profissional de qualidade e responsabilidade, nesse caso, o psicólogo escolar e educacional. 

E para compreender a importância desse profissional é essencial destacar que atualmente o sistema escolarpermeia todo o processo de aprendizagem e de desenvolvimento físico, social e emocional do indivíduo (Cury, 2008). Diante disso, quando é levado em consideração que, a aprendizagem e o amadurecimento cognitivo se desenvolvem a partir de vários elementos que se manifestam a partir da interação do sujeito, suas experiências e o seu ambiente(Enricone & Salles, 2011), o sistema escolar passa a não ser limitado aos muros e grades da escola, agora ele está interligado com esses elementos externos que são essenciais para a compreensão das questões educacionais e pessoais. 

Dessa forma, quando se é considerado todos esses fatores, é nítido que cada indivíduo pode se desenvolver de maneira diferente dependendo do ambiente sociocultural que eles estão inseridos (Enricone & Salles, 2011). Portanto, as relações familiares da criança/adolescente, sua comunidade, suas relações afetivas, escolares e o bom funcionamento desses outros sistemas são fundamentais para o desenvolvimento adequado do indivíduo, pois mediam valores, atitudes, características, ideias, comportamentos e etc (De Sousa & Mário, 2008). Dessa forma, entender todo esse mecanismo é essencial para oferecer e manter uma educação de qualidade. 

Diante disso, o psicólogo surge no cenário como agente essencial de transformação, entretanto é importante salientar que nem sempre foi assim. Quando a psicologia começou a adentrar no seio da escola, por muito tempo o psicólogo tinha sua prática baseada em um modelo biomédico de atendimento clínico, que acontecia de forma individualizante onde se tinha a ideia que o problema era focado apenas nos alunos (Guzzo et. al, 2010). Porém, foi a partir da década de 90 que essa prática profissional passou a ganhar destaque, trazendo reflexões e críticas a essa lógica individualizante, onde o profissional passou a atuar compreendendo o indivíduo humano e seu desenvolvimento como parte de um contexto, levando sua prática para fora da clínica e dos muros da escola (Guzzo et. al, 2010).

Desse modo, atualmente, apesar do modelo biomédico ainda reverberar em vários profissionais, o psicólogo passa, diante das demandas que surgem no ambiente escolar, a compreender e atuar sobre essas necessidades de um ponto de vista mais amplo e em teoria menos individualizante, dando importância às relações, as questões políticas, sociais e culturais, considerando o indivíduo como parte de um todo (Facci & Souza, 2014). Ele também opera junto com o corpo escolar contando com educadores, pais, comunidade e funcionários, para a resolução de demandas,  pensando de forma coletiva qual o melhor tipo de assistência e possibilidades para as adversidades que venham a surgir na aprendizagem  desenvolvimento da criança e do adolescente (Guzzo et. al, 2010). 

Por outro lado, outra função pouco conhecida do psicólogo escolar e educacional, mas muito importante é a de que ele também pode atuar quebrando a lógica patologizante, investigando e realizando críticas ao ensino, as políticas públicas e as questões econômicas, cobrando melhorias e qualidade na educação (Cruces, 2019 & Ramos, 2019). Assim, tornando fundamental a presença desse profissional e sua prática psicopedagógica na educação e nos demais âmbitos que permeiam a instituição escolar, bem como as secretarias e ministérios. 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências

 

Cruces, A. V. V. Avaliação das dificuldades de aprendizagem a partir da teoria sócio-histórica: reflexões sobre patologização e medicalização da educação. Educação & Linguagem22(2), 149-169.

 

Cury, C. R. J. (2008). A educação básica como direito. Cadernos de pesquisa38, 293-303.

 

De Sousa, A. P., & MÁRIO, J. F. (2008). A importância da parceria entre família e escola no desenvolvimento educacional. Revista Iberoamericana de Educación44(7), 1-8.

 

Enricone, J. R. B., & Salles, J. F. D. (2011). Relação entre variáveis psicossociais familiares e desempenho em leitura/escrita em crianças. Psicologia Escolar e Educacional15, 199-210.

 

Facci, M. G. D., & de Souza, M. P. R. (2014). O processo de avaliação-intervenção psicológica ea apropriação do conhecimento: uma discussão com pressupostos da escola de Vigotski. Revista Psicologia Política14(30), 385-403.

 

Freire, S. (2008). Um olhar sobre a inclusão. Revista de Educação, 5-20.

 

Guzzo, R. S., Mezzalira, A. S., Moreira, A. P. G., Tizzei, R. P., & Silva Neto, W. M. D. F. (2010). Psicologia e Educação no Brasil: uma visão da história e possibilidades nessa relação. Psicologia: teoria e pesquisa26, 131-141. 

 

Merseth, K. K. (2018). Desafios reais do cotidiano escolar brasileiro: 22 dilemas vividos por diretores, coordenadores e professores em escolas de todo o Brasil. Moderna.

 

Ramos, P. (2019). Psicologização escolar: O lugar da psicologia e da psicopedagogia. AMAzônica23(2), 152-168.

 

Schwartzman, S., & Brock, C. (2005). Os desafios da educação no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira1320.

 

Souza, M. D. (2004). Fios e furos: a trama da subjetividade e a educação. Revista Brasileira de educação, 119-132.

 

Untoiglich, G. (2014). Medicalização e patologização da vida: situação das infâncias na América latina. Nuances: estudos sobre Educação25(1), 20-38.

 

Vieira, S. L., & Freitas, I. M. S. D. (2003). Política educacional no Brasil: introdução histórica. Plano Editora.

 

 


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