sexta-feira, 10 de março de 2023

A juventude protagonista e a escola






Devanilson de Sousa Oliveira

Discente do curso de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco.


Este texto é produto do processo vivido no âmbito da 

disciplina Educação e Políticas Públicas, 

do curso de Psicologia da Univasf, 

tendo como professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro 

em março de 2023


Já dizia Rubem Alves, "há escolas que são gaiolas, e há escolas que são asas". Talvez essa frase explique um pouco ou pelo menos apresente pistas dos motivos que fazem tantos jovens não verem mais sentido em frequentar instituições de ensino que mais parecem sequestrar a liberdade e a capacidade de sonhar do aluno do que fazê-lo desenvolver suas potencialidades e criatividade e ter vontade de estar ali. Não diria isso se não fosse baseada na minha própria percepção durante todas as vezes em que tive contato com esses jovens durante as práticas da faculdade.

A evidente apatia não pode ser ignorada, ou tratada como sendo apenas coisa da idade, que logo passa. O desinteresse por estar em sala de aula e engajar-se no seu próprio processo de aprendizagem é algo que deveria ser levado muito à sério. São gerações que não vêem mais tanto sentido na escola, pois sentem que poderiam estar fazendo outra coisa. A tecnologia poderia ser apontada como um dos motivos que fez a escola ficar menos atrativa, afinal a tela do celular parece bem mais interessante que aulas monótonas e que apenas despejam conteúdo. Mas não pode explicar tudo.

A escola dos dias de hoje não parece mais se enquadrar no perfil das pessoas dos dias de hoje, e insistem em ignorar. Uma escola que teima em pensar como há 30, 40 ou 50 anos, que não está aberta às diversidades, que reproduz a crueldade do mundo lá fora, que não consegue plenamente ser um espaço de inclusão e não dá autonomia aos estudantes escolher seu próprio caminho, não vai ser um lugar interessante para estar. Querem formar técnicos, gente que saiba o que fazer para não ficar desempregado, mas se serão felizes ou não parece estar em segundo plano. Desculpe, mas para mim a escola é muito mais do que sobre ensinar e aprender.

Escola é vida, é cidadania, é propósito, é sonhos, é autonomia, é liberdade. Talvez, por falta de algumas dessas coisas, a escola esteja tão adoecida. Professores estão cansados, porque não são valorizados, e os alunos não parecem querer aprender. Diretores estão exaustos, porque os professores reclamam da postura dos alunos e os alunos reclamaram do excesso de atividades dos professores. Alunos estes que estão esgotados emocionalmente, porque cobram demais de uma geração que não entende o sentido de tanto conteúdo, se estaria tudo na palma da mão em poucos cliques. Mas a escola ainda é necessária, e sempre será. É através dela que

podemos começar a adquirir a capacidade de pensar criticamente, de entender o mundo e se posicionar diante dele. Mas os jovens necessitam de protagonismo.
O protagonismo do jovem está evidente, basta ver os movimentos sociais. A sociedade está envelhecendo na mesma velocidade em que a juventude reivindica suas pautas. Somos uma geração que aprende desde cedo que nada é conquistado por acaso, tudo vem através de muita luta. E é isso que os jovens querem: uma escola que seja mediadora do conhecimento, mas dê liberdade para o jovem pensar. Que não o aliene, fazendo-o achar que tudo depende exclusivamente do seu próprio esforço, mas o encoraje a mudar o que está posto. Que faça-o abrir os olhos para as relações perversas que são estabelecidas, para que não caia nas armadilhas da vida adulta. Sobretudo, que o permita sonhar.

Sonhar em um mundo mais justo, mais igualitário, com menos preconceito e discriminação. Sonhar em ascender socialmente, em construir seu próprio conceito de felicidade. Sonhar em deixar um legado de um mundo melhor para as próximas gerações. Mas tudo o que fazem é dizer que o aluno é preguiçoso e não gosta de estudar. Para forçar a gostar, querem ampliar o horário em que ele fica na escola, agora é tempo integral. Mas o mundo é muito maior que as paredes de uma escola. Algumas que nem escolas parecem mais, mas sim prisões.
E segue a saga do jovem, incompreendido e acuado. Já não bastasse o excesso de conteúdo escolar, vem a pressão dos pais. Pais que escolhem o que filhos devem ser, que não são capazes de dialogar, apenas impõe suas visões porque supostamente sabem o que é melhor para seus filhos. E os filhos já não têm mais saúde mental, têm crises recorrentes de ansiedade porque não vêem sentido no que fazem, alguns já têm sinais de depressão. Mas isso é normal, é o mal do século. Assim como é normal pais autoritários e escola opressora. O que estamos fazendo com nossos jovens?
Não apenas reflexões de um mero estudante de Psicologia. A propósito, a Psicologia, tão necessária, corre o risco de reproduzir o sistema fracassado se não se empenhar para ajudar a modificá-lo. Seu arcabouço teórico lhe dá todas as condições para pensar criticamente os modelos atuais, que culpam alunos pela sua incapacidade de aprender e os pais pelos maus comportamentos dos filhos. Mas não leva em conta de onde vem o estudante, sua história de vida ou sua condição socioeconômica. Há de se ter um pensamento mais amplo, que contemple todas as variáveis que influenciam nesse processo de passar e adquirir conhecimento. Conhecimento que não é só sobre aprender matemática e português, mas também é sobre autoconhecimento, reflexão e empoderamento. Talvez por isso alguns digam que não querem uma escola que pense criticamente, porque derruba governo. Mas o mundo mudou e os jovens pedem passagem, não aceitam mais o lugar de passividade diante das injustiças e das coisas que não querem mudar. Somos políticos, mas não somos alienados. Pensamos com nossas próprias cabeças, e somos firmes nos nossos posicionamentos. E sabemos que a neutralidade não cabe quando existe opressão. Não é uma juventude perfeita, mas é uma juventude que tem horror a omissão.

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