segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Sobre rotina e movimento

Obs. Retomando uma das caras temáticas da tese: a rotina e o ajustamento criativo.

 

 

Sair da rotina é tão importante quanto o estar na rotina. O sair da rotina e o estar em rotina é uma boa tradução do estar e do vir a ser, da constância e do movimento. O estar é o presente do ser inserido, contextualizado, do ser que vive, encarnado e em relação. Mas o presente só é presente se ele for constantemente atualizando, portanto, superado e sempre enquanto vir a ser. Daí se procedem as inversões, as integrações e a dialética dialógica. Se, em um primeiro momento, estar é constância e vir a ser, movimento, agora o vir a ser passa a constância e o estar, ao movimento. Esse enquanto” vir a ser é a constância, é que per-dura e o estar, porque para estar tem que se superar, é o vir a ser, a superação. 

 

O problema é quando a rotina fica rotineira. O problema é quando o estar perde sua capacidade de vir a ser e quando o vir a ser perde sua capacidade de estar. Tanto um quanto o outro conduzem a rotina rotineira. Ambos se perdem e se deixam e se desencantam. A rotina rotineira é empobrecida de vitalidade, de criação, de interesse, portanto, de vida. Pois vida é criação. A estagnação da rotina rotineira não corresponde, necessariamente, ao fazer ou ao deixar de fazer, aos comportamentos, ao mundo da objetividade. Essa estagnação diz respeito ao modo do como se vive, do como se sente ou do como se vivencia o fazer e os comportamentos. 

 

Mas a partir daí é possível se perguntar: uma vez que a estagnaçãé um modo de como se vive ou como se vivencia o fazer e os comportamentos, o que faz a pessoa a vivenciar de um jeito ou de outro?

 

 

 

Sobre  Rotina e Movimento: o amor faz o sentido

 

Indo de maneira direta ao ponto, possivelmente o grande diferencial seja atuar na vida com amor, ao menos nos termos proposto por Humberto Maturana. Nesse sentido, o amor tem a ver com a intensidade de estar, com o interesse genuíno pelo outro ou pelo que faz, com o contato e a presença de estar sendo na relação com os demais ou na atuação do mundo. Esse sentido de amor não tem nada a ver com aquela visão romântica de entes apaixonados muito comum na literatura. Maturana vai falar de amor como condição básica de aceitação legítima do outro, de ligação com o outro, mas que estendo aqui como sendo também uma maneira de estar no mundo, uma maneira genuína de atuar sobre o mundo de modo que o sujeito produza sentidos autênticos para sua existência.

 

De modo diferenciado, mas que termina por convergir na direção de um estado do ser, de um estar sendo, Antony Giddens fala que a rotina mecânica é aquela que o sujeito vive de modo dissociativo. Giddens, por sua vez, faz referência a ideia do "eu desencarnado", de Ronald Laing. O sujeito, nesse caso, atua na rotina dissociado do que vive enquanto "eu". Um exemplo seria aquele sujeito que, na sua rotina cotidiana, sente que ele é um diferente, que ele não está ali de verdade e que suas ações são mecânicas, que não fazem sentido. O sujeito, nesse exemplo, atua sobre o mundo esvaziado de amor porque não consegue se ligar no que faz, porque não está em contato com o que faz.

 

Viver a rotina com o interesse genuíno, estar presente em suas ações e se sentir "encarnado" no que faz é uma alternativa à estagnação e a rotina mecânica. Essa outra maneira de estar faz eco em apostar no amor como condição basilar para a vida, sobretudo para a vida que requer a rotina criativa. Apostar no amor, então, é acreditar naquilo que se faz e esperançar, como diria Paulo Freire, na produção de sentidos e significados enriquecedores que levam ao ser mais.

 

Partindo desse desdobramento, ou seja, de que o amor é condição para a rotina criativa e que esta, portanto, é possibilitadora de sentidos e significados, o contexto adoecedor e, portanto, da rotina mecânica, se dá pela falta de sentido, ou mais precisamente falando, pelo entorpecimento de sentido (porque sempre estamos a produzir sentidos, mesmo que desvitalizados e alienados). Não existe nada mais entorpecedor para os atores da educação do que, por exemplo, viver a sala de aula sem perceber um sentido, tanto para o estudante quanto para o professor. Certamente essa situaçãé uma experiência que obstaculariza a aprendizagem e deprime os professores.

 

Existiram experiências, assim, tão impeditivas para produção de sentidos e significados? Existiram experiências em rotinas mecânicas e outras em rotinas criativas ou vivas?

 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário