terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Situação de emergência e desastre em Maceió





Recentemente, tem se explicitado um fenômeno alarmante em Maceió (AL), sobretudo via noticiários, mobilizações de pessoas e órgãos governamentais e não governamentais. Essa explicitação está relacionada ao aumento da frequência e intensidade dos abalos sísmicos registrados em área situadas no bairro Pinheiro, o que tem ocasionado graves rachaduras em imóveis e aparecimento de crateras nas ruas. Estima-se que tal fenômeno já vem ocorrendo na localidade há quase uma década, mas só agora ganhou relevante impacto social por conta das reincidências e suas extensões.

Os primeiros levantamentos sobre essa situação apontavam que estavam sendo afetados, ao menos, 2.400 imóveis, sendo 777 classificados como localizados em área de alto risco. Houve 60 residências esvaziadas, incluindo aí prédios inteiros. No bairro moram mais de 20.000 pessoas, sendo um bairro com uma faixa comercial e, em seu interior, residencial. 

Como medida avaliativa e para manejo da situação, o bairro Pinheiro foi classificado em áreas levando em consideração o grau de risco. Assim, o Serviço Geológico do Brasil nomeou área vermelha (risco) e área amarela (atenção).  Aproximadamente mais de 1000 imóveis estavam situados na área vermelha. As pessoas que moravam nessa área tiveram que deixar seus lares e as da área amarela precisam ficar atentas aos sinais de tremores, alertas e até mesmo quando chove precisam sair de suas casas.

Até o momento as razões explicativas sobre esse fenômeno são incertas, embora muitas pessoas apontem a causa para a extração do sal gema, feita pela Braskem, que explora esse minério há décadas no subterrâneo desse bairro, além de outras áreas de Maceió.

Esse fenômeno vivido pela população de Maceió e, principalmente, pelas pessoas do Pinheiro, tem provocado impactos profundos em todos os âmbitos da vida. Pessoas que foram obrigadas a deixar suas casas, incertezas generalizadas, rupturas nas rotinas, desvalorização econômica dos imóveis, comércio local fragilizado, estigmas sociais sendo formados, ruas, outrora cheias de vida, agora “ruas fantasmas”, tudo isso, enfim, tem trazido profundos sofrimentos às pessoas.

O drama da comunidade é incomensurável e o impacto, sobretudo na saúde mental, tem desdobramentos já visíveis, principalmente em relação a estados de medo, insegurança, ansiedade e luto. Toda uma sintomatologia daí é decorrente, como transtornos do sono, transtornos alimentares, depressão, fobias e até mesmo outros transtornos mais comprometedores.

A situação vivida por essas pessoas é uma situação de emergência e de desastre, mas o é de um modo particular. A incerteza de quando os fenômenos começaram, de quando vão parar (se é que vão parar), a falta de conhecimento das causas, o desconhecimento da verdadeira extensão do problema passa a ser somada com as informações desencontradas que são passadas pelos órgãos competentes e também por uma falta de segurança, na percepções de moradores, de que suas integridades serão garantidas, como por exemplo, o chamado aluguel social para quem precisou abandonar seus lares.  

 A particularidade, portanto, dessa situação de emergência e desastre advém do fato de que é algo intenso, porque já impacta fortemente a vidas das pessoas e, ao mesmo tempo crônico, porque tem uma duração no tempo. Além disso, essa duração no tempo é indefinida. As pessoas do Pinheiro vivem uma situação altamente ansiogênica.


Marcelo Silva de Souza Ribeiro
Professor da Univasf e psicólogo 

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