Marcelo Silva de Souza Ribeiro
marcelo.ribeiro@univasf.edu.br
Prof. Do Colegiado de Psicologia da Univasf
Pró-reitor de Ensino
Sued Sheila Sarmento
sued.sarmento@univasf.edu.br
Profa. do Colegiado de Enfermagem da Univasf
Pró-reitora Adjunta
Há um velho e conhecido ditado que diz que: “se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha”. Tal frase geralmente é utilizada para expressar o sentido de tomar a iniciativa para que algo aconteça ou se realize. E isso nos parece pertinente quando refletimos sobre os desafios do ensino superior, sobretudo das universidades públicas no que diz respeito ao preenchimento de vagas ofertadas em seus cursos de graduação. Há uma convocação por parte dos órgãos superiores, da comunidade acadêmica e da sociedade civil que algo seja feito no sentido de melhorar as taxas de preenchimento das vagas ofertadas em cursos de graduação, contudo, essa questão não é simples e envolve tantos outros aspectos.
Segundo o Censo de Educação Superior de 2023, 27 % das vagas novas não são preenchidas na rede pública. Se olharmos para a rede privada, que oferta aproximadamente 95% de todas as vagas (incluindo aí as vagas para os cursos na modalidade da Educação a Distância – EaD), há 77% de taxa não ocupada. No caso específico da nossa universidade, a Univasf, em 2023 houve uma taxa média de 20% das vagas não preenchidas. As causas para o não preenchimento destas vagas são variadas e multicausais, mas sem dúvida há também o fator “desconhecimento” sobre a universidade e mesmo sobre os cursos por parte significativa dos possíveis candidatos. Em nossas atuações como docentes e em atividades de campo, por várias vezes testemunhamos questionamentos sobre a nossa instituição, no caso a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), no sentido de quanto custaria para estudar. Alguns estudantes de escolas públicas, principalmente da periferia de Juazeiro (Bahia) e Petrolina (Pernambuco) apresentam conhecimento apenas dos cursos de Medicina e Direito. Obviamente que esta realidade é apenas uma dentre tantos contextos diferentes do Brasil.
Voltando à questão das taxas propriamente ditas, em um primeiro momento os números parecem não trazer grandes preocupações, uma vez que as vagas remanescentes podem ser reofertadas. Então o não preenchimento de 20% de vagas seria algo contornável. Contudo, as instituições públicas de ensino superior, especialmente as que aderem ao sistema de ingresso via SISU/Enem, dependem do calendário de divulgação dos resultados deste processo liberado pelo MEC, geralmente esta ocorre no final de fevereiro. Daí, isso termina aumentando as dificuldades de exaurir o máximo de chamadas possíveis até o preenchimento das vagas remanescentes. Por exemplo, muitas vezes as instituições têm necessidade de fazer mais de sete chamadas para tentar preencher as vagas, mas por conta do início do semestre, geralmente em março (muitas universidades convivem com o chamado descompasso do calendário acadêmico em relação ao calendário civil, tornando essa situação muito mais dramática), essas chamadas findam, algumas vezes, em sua terceira rodada.
Obviamente que esta não é a única causa para o não preenchimento das chamadas vagas remanescentes. Além disso, importante que se diga, a observação de um calendário acadêmico apertado para as reofertas destas vagas remanescentes não significa dizer que o sistema SISU/Enem seja ruim. O nosso entendimento é que o Sisu/Enem foi e é muito importante para uma série de avanços na política do ensino superior no
Um outro ponto a ser considerado é que há uma significativa variação em termos de taxas de ocupação quando olhamos para os cursos e mesmo as diversas regiões de ofertas destes cursos. Se pegarmos só o exemplo dos cursos da Univasf, que é uma universidade multicampi (7 campi, 3 Estados) do interior do nordeste, encontramos no ano de 2023, cursos com 67% de taxa de vagas não ocupadas, enquanto outros vão ter 0%. E as variações quanto a ocupação de vagas, que vem desde a primeira oferta, tende a se repetir nas reofertas.
Toda esta questão do calendário estipulado pelo MEC para ingresso via SISU/Enem, aliado aos demais fatores como a falta de conhecimento por parte de possíveis candidatos, têm contribuído para um acúmulo de vagas não preenchidas, o que não é tão agudo para a média destas vagas, mas que pode ser dramático para alguns cursos e regiões.
Este cenário demanda que as universidades públicas sejam mais protagonistas, no sentido de buscar formas alternativas ao Sisu/Enem de ocupação de vagas remanescentes, bem como busquem uma maior aproximação com a comunidade externa, desta forma melhorando a divulgação de seus cursos. Este protagonismo das universidades públicas, que já vem sendo exercido em muitas instituições, precisa ganhar um caráter mais sistêmico e com financiamentos necessários. “Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha”, mas precisa saber como e ter as condições para caminhar.
Ótima reflexão, caros Marcelo e Sued. É preciso acessar os jovens de ensino médio e mostrar-lhes que as universidades públicas e gratuitas são um direito seu e devem ser frequentadas. E que, apesar de tudo e contudo, a educação segue como grande possibilitadora de mudança social.
ResponderExcluir