quinta-feira, 29 de julho de 2010

Pró-Reitoria de Ensino (PROEN) na UNIVASF: uma experiência da complexidade


Como já havíamos dito em um de nossos textos , uma das dimensões da docência é a gestão (administrativa). Partindo dessa premissa, discorreremos, portanto, um pouco sobre a nossa vivência na Pró-Reitoria de Ensino (PROEN) da UNIVASF, onde abordaremos a experiência enquanto docente que vive a dimensão da gestão em uma pró-reitoria que consideramos complexa.
Ser docente e poder estar vivendo, de maneira contundente, a dimensão da gestão em uma pró-reitoria responsável pelo ensino de graduação é algo deveras rico em termos de experiência profissional, sobretudo no que diz respeito aos constantes desafios que se é confrontado.
Acreditamos que para um professor, desde que tenha interesse, é óbvio, sempre será muito interessante viver a experiência de uma pró-reitoria de ensino. Isto porque uma instância administrativa como essa possibilita olhares mais panorâmicos a respeito das questões que tangem o ensino.
Quando um professor circunscrito apenas as suas disciplinas e ao seu colegiado, tem mais chances de ter uma visão diminuta sobre as questões do ensino na universidade. Essa visão diminuta não por incapacidade, mas por posicionamento, por perspectiva, por estar situado em posição menos panorâmica. Isto é compreensível e não há problemas em relação a isso. De outro modo, quando inserido no contexto de uma pró-reitoria, o professor pode ampliar sua visão e enxergar de maneira abrangente tudo aquilo que diz respeito ao mundo acadêmico da graduação.
É claro que essas visões, mais ou menos abrangentes, não dependem diretamente ou exclusivamente do lugar de onde se estar vendo. Depende também do olhar de que quem estar vendo. E isto tem a ver com o interesse, o desejo e a identificação daqueles docentes que se envolvem com tais empreitadas. É preciso querer estar nesse lugar.
Assim, estando na PROEN vivencio uma experiência enriquecedora não só porque coincide com a minha área de interesse (educação), mas sobretudo porque me sinto engajado com as questões e com as buscas na superação dos problemas que dizem respeito ao ensino superior. Vivo também, de maneira intensa, os desafios e a necessidade de colaborar junto a comunidade acadêmica e a sociedade respostas às demandas de todo um universo que diz respeito a Universidade.
Esta rica experiência tem também a ver com outra característica das pró-reitorias de ensino (em algumas universidades há preferência por chamar de pró-reitoria de graduação), que é a sua natureza complexa. Esta complexidade tem a ver com o lugar que ocupa, com as funções atribuídas e com as responsabilidades que ela absorve.
Uma pró-reitoria de ensino, de um modo geral, é o lugar de convergência de interesses diversos do coletivo dos estudantes, do coletivo dos professores e do coletivo dos técnicos que estão diretamente ligados ao ensino. Soma-se a isso, esporadicamente, interesses da comunidade (por exemplo: época da seleção ao ingresso para universidade – ENEM) e interfaces com interesses de outras esferas da própria universidade.
Não é por menos, por exemplo, que a pró-reitoria de ensino seja um espaço aonde os vários pontos de vistas se complementem, se choquem e se sobrepõem. Às vezes os pontos de vistas interagem de maneira conflituosa, as vezes requerem mediações mais intensas...mas sempre demandam uma abordagem complexa aonde devem ser levado em considerações as multiplicidades de olhares e de interesses.
A natureza complexa da pró-reitoria de ensino e a necessidade de uma abordagem complexa não significam, necessariamente, complicações (embora algumas vezes sejam realmente difícil lidar com algumas situações). Significam entendimentos que passam pelo nível da complexidade. Segundo Edgar Morin (1991) a complexidade seria “... um tecido (complexus: o que é tecido em conjunto) de constituintes heterogêneos inseparavelmente associados: coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. (...) a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal. Mas então a complexidade apresenta-se com os traços inquietantes da confusão, do inextricável, da desordem, da ambigüidade, da incerteza... Daí a necessidade, para o conhecimento, de pôr ordem nos fenômenos ao rejeitar a desordem, de afastar o incerto, isto é, de selecionar os elementos de ordem e de certeza, de retirar a ambigüidade, de clarificar, de distinguir, de hierarquizar... Mas tais operações, necessárias à inteligibilidade, correm o risco de a tornar cega se eliminarem os outros caracteres do complexus; e efetivamente, como o indiquei, elas tornam-nos cegos."
Morin, ao definir o conceito de complexidade também apresenta como abordá-lo. Tudo isso pode ajudar a entender o que é uma pró-reitoria de ensino e como abordá-la ou como nela mediar as situações. Muitas vezes a nossa pró-reitoria de ensino é palco de confusões, de situações aonde não temos respostas prontas, de ambigüidades nos processos que chegam até nós, nos acasos que desestabilizam nossos planejamentos (falta de sala porque a obra atrasou, problemas no ENEM, etc.), de incertezas se vamos ter resultados ou não e nos inúmeros impasses, por exemplo, que vivemos com os estudantes que se queixam de alguns docentes, com os colegas professores que reclamam da carga horária, com os técnicos que demandam salas e computadores, etc. Não é possível idealizar uma pró-reitoria ou abordá-la se não puder acolher toda essa desordem, todo esse ruído. Costumamos sempre dizer que para estar aqui é importante saber “surfar na tempestade”.
Toda essa complexidade inerente a condição de uma pró-reitoria de ensino é possibilitada por uma visão mais ampla e múltipla da universidade porque se é obrigado a compreender a partir das várias perspectivas dos atores da comunidade acadêmica, mas também porque ela não é linear, não homogênea, não é precisa... ela é também incerta, composta por ambigüidades, por desordens, por acasos e por turbulências.
Nesse contexto, a experiência de um docente vivenciar a dimensão gestão em uma instância administrativa voltada para as questões do ensino pode proporcionar uma preciosa oportunidade de crescimento profissional, mas acima de tudo humano. Afinal, ao falar de ensino estamos também falando de aprendizagem, de mudanças e de desenvolvimento humano.

Salvador, julho de 2010.

1- Texto disponível no BLOG:
- http://mribeiro27.blogspot.com/2010/05/formacao-docente-o-papel-do-coordenador.html - http://mribeiro27.blogspot.com/2010/03/novas-praticas-docentes-e-suas.html


2- Introdução ao Pensamento Complexo, 1991:17/19

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