sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Universidade compromissada com o desenvolvimento da região ou redentora?

Desde que a UNIVASF foi criada ou até mesmo no período das articulações para sua criação, havia uma expectativa acentuada a respeito do que uma universidade federal poderia impactar na região do Vale do São Francisco. Ao estabelecer contato com diversas pessoas, sobretudo dos municípios de Juazeiro, Petrolina e circunvizinhos, é fácil notar o quanto essas pessoas esperam da UNIVASF. As demandas, as expectativas e a ânsia em suprir tantas necessidades reprimidas têm nos preocupado em termos da articulação entre universidade e comunidade.
Uma das características da UNIVASF é sua vinculação com a região, tendo isto como missão explicitada em seu Estatuto e no Plano de Desenvolvimento Institucional - PDI. Assim, é imprescindível que a articulação e o diálogo entre a universidade e a comunidade possam existir. A grande questão é buscar essas articulações e diálogos de maneira tal que se efetive a missão, mas sem alimentar a ideia de que a UNIVASF poderia ser uma espécie de redentora da região. Isso nos inquieta, sobretudo quando nos lembramos das críticas já consagradas sobre o mito da ciência como salvadora do mundo. A universidade, como locus que privilegia a produção de conhecimento científico, pode “colar” com a ideia desse mito.
Depois de tanto tempo de quase inexistência de políticas públicas efetivas que provoquem transformações na região é de se esperar que as expectativas sejam muito grandes em relação a UNIVASF. Contudo, há um risco de se reforçar a ideia de uma universidade que pudesse resolver todos os problemas crônicos que assolam a região. Quando estávamos coordenador do colegiado de psicologia era rotineiro recebermos visitas das mais diversas representações da sociedade demandando (no que tange ás competências de um curso de psicologia, bem verdade) intervenções, ajudas, cooperações, projetos, etc. Na experiência da pro-reitoria de ensino e observando as demais pro-reitorias, percebemos que as demandas são ainda maiores. Muitas dessas relações são estabelecidas e profícuas, mas outras tantas não são atendidas.
Na nossa avaliação, a UNIVASF pode ainda fazer muito mais, dialogando e se articulando com a região, mas ao mesmo tempo ela não vai ser a redentora. Evitar os extremos e seguir o caminho do meio parece-nos ter sido princípios de sabedorias milenares. Sendo assim, pensamos ser urgente afirmar políticas universitárias que fortaleçam as relações com a comunidade e que potencializem o desenvolvimento regional. Ao mesmo tempo, consideramos prudente não reforçar a ideia de uma instituição “salvadora da pátria”. Não que alguém ou algum grupo (da Universidade ou fora) esteja reforçando tal ideia. Simplesmente abordamos isso para chamar atenção à necessidade de potencializar mais essa concepção elementar da UNIVASF, mas tendo o cuidado de não nutrir uma frustração a partir da universidade como redentora.
Entre Brasília e Recife
Agosto de 2010

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