quarta-feira, 25 de maio de 2011

A GESTÃO AUTORITÁRIA E SEUS ENTRAVES PARA UMA UNIVERSIDADE CRIATIVA


Em outro momento falamos sobre uma universidade mais vigorosa, efetivamente criativa, empreendedora, partilhada e mais potente. A proposta neste breve ensaio é trabalhar a questão dos entraves e dos impedimentos para uma gestão universitária mais criativa.
Parece existir um mito de que a eficiência e a potência empreendedora de uma organização se encontra na sua capacidade de ser célere, de ser centralizada e ser objetiva. Em verdade, estes aspectos por si não estariam contrariando a ideia mesmo de empreender. Entretanto, se estes aspectos estiverem associados ao poder autoritário, ou melhor, a um tipo de gestão autoritária, eis aí um grande perigo para a própria saúde organizacional. A seguir, veremos alguns desdobramentos que intencionam discussões primeiras sobre o tema.
O primeiro ponto que queremos nos referir é a própria noção de gestão. Não pretendemos problematizar seu conceito e nos reservamos a modesta condição de lançar simplesmente um olhar.
A gestão assume aqui uma perspectiva de gestão partilhada. Isto significa dizer que não concordamos com a ideia de uma gestão ultra especialista, formada por pessoas tecnicamente capazes e que a elas foram delegados poderes para gestar de uma maneira quase que isolada da comunidade acadêmica. Entendemos que a ideia de gestão defendida passa pelo partilhamento, onde todo o coletivo é  instigado a participar, a acompanhar os processos e dinâmicas. É claro que existem competências específicas e técnicas particulares que dizem respeito as funções precisas onde existem pessoas previamente designadas a responder as respectivas demandas.  Assim, por exemplo, o setor de transporte tem sua própria competência demandada e que as pessoas que trabalham diretamente neste setor têm conhecimentos próprios e não caberia a outros setores o envolvimento direto nessas atividades. Entretanto, caberia compreender que a gestão em seu sentido largo passa pela implicação, envolvimento, participação e consideração de todos os que se sentem partícipes da comunidade maior. Estamos nos referindo, portanto, a ideia de gestão participativa, que passa pela questão do envolvimento e da transparência. Mas por que defender uma gestão do tipo participativa? Que ganhos ela traz? O que ela tem a ver com a ideia de universidade criativa?
Um dos grandes entraves para criatividade é o centralismo ou a gestão autoritária. Esta lança meios e forja mecanismos ou institui, via o poder autoritário, dispositivos que minam o nascimento de renovações, de novos líderes, de iniciativas independentes, de manifestações e críticas. Algumas vezes não seriam nem ameaças ao poder autoritário da gestão, mas simplesmente tudo passaria a ser visto como ameaçador e por isso suceptível de ser eliminado. Sabemos que a criatividade tem como um dos seus princípios a diversidade, a tensão, o conflito e a participação. A criatividade também viceja melhor em terrenos menos ameaçadores, onde os sujeitos se sintam mais confortáveis e seguros. Uma gestão autoritária e centralizadora vai buscar justamente o contrário, ou seja, vai tentar eliminar a diversidade (de pensamento, de posições), não vai lidar com as críticas de maneira positiva e vai gerar constatemente um clima de ameaça e coerção, o que impedirá o desenvolvimento de potenciais ciriativos.
Em recente matéria publicada no “Le monde Diplomatique Brasil?  (ano 4 / número 45), intitulada “Por mais estado e menos poder”, abordando a revolta dos povos árabes, Samir Aita analisa como o poder autoritário faz sucumbir o poder do estado (onde reside a possibilidade de um poder mais participativo) entre os povos árabes e anuncia que o desmantelamento do autoritarismo liberta a energia para empreender. É claro que uma gestão universitária, um mundo universitário não é uma réplica de uma sociedade como um todo, mas algumas analogias são possíveis e desejáveis. É nesse sentido que trouxemos a referida matéria para enriquecer a compreensão que tentamos construir a respeito da gestão do tipo autoritária que tampona a energia criativa e empreendedora da universidade.
Resta-nos ainda, mesmo que na brevidade de um próximo ensaio, descrever e analisar, de modo contrastante, as caracetrísticas entre uma gestão autoritária e outra do tipo participativo. Além disso, parece ser importante entender algumas das implicações para o mundo universitário. Uma tarefa que se coloca desafiante para uma próxima postagem.

Jua / Petro, maio de 2011.

Um comentário:

  1. Uma liderança autoritária pode prejudicar a empregabilidade nas organizações? Por que?

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