domingo, 18 de março de 2012


PATRIMONIALISMO, IDENTIDADE E A TENSÃO CONSTITUIDORA DA UNIVASF –
O CASO PREFEITO DE PETROLINA




Este pequeno texto busca uma reflexão sobre o episódio recentemente ocorrido quando o prefeito de Petrolina publica uma notícia no Blog do Carlos Brito (http://www.carlosbritto.com/196718/). Não é nosso propósito contestar a frágil posição do chefe de admnistração municipal em pedir ao MEC intervenção da UNIVASF no sentido de parar com o ENEM, até porque isto já foi feito de maneira competente pelo colega Ildemar. O intuito é puxar uma reflexão para a nossa constituição identitária quanto instituição.

Como é de conhecimento de todos, a patente do nascimento da UNIVASF é reivindicada por inúmeros candidatos a sua paternidade. Desde a história de uma universidade federal de Petrolina até a sugestão de se criar uma universidade do Vale, contemplando supostos interesses políticos da Bahia e de Pernambuco, a luta e a tensão para a apropriação e interferências na UNIVASF não é algo recente.

Suspeitamos que essa tendência de apropriação da UNIVASF por parte dos políticos locais não seja mero oportunismo eleitoral ou capitalização de forças. Aventamos a possibilidade de que essa tendência (já vastamente observada em vários momentos) tenha relação com um modo cultural, particularmente relacionado aquilo entendido por patrimonialismo.

Sem querer aprofundar a discussão sobre o patrimonialismo, compreendemos que essa inclinação de tornar privado aquilo que é público, ou melhor, esse comportamento de apropriação individual do que é coletivo, perpassa muitas das práticas de boa parte dos antigos e atuais políticos de nossa região.

Como dizem os estudiosos a respeito da identidade, esta antecede e precede a existência do ser. Isto significa dizer que, antes da Univasf existir, propriamente dita, já havia toda uma disputa, discussão e tensão sobre sua constituição. Certamente a identidade (neste caso, a identidade institucional) perpassa, ultrapassa e transcende as circunscrições físicas, administrativas e legais da UNIVASF.

Esse modus operandi dos políticos se relacionarem com a UNIVASF, mais especificamente falando, essas tentativas de apropriação, de tratar a UNIVASF como se fosse algo que eles fossem donos, constitui, para « o bem e para mal », a própria identidade da instituição. O gesto do prefeito é exemplar nesse sentido a medida que anuncia um contato com o MEC demandando interferência, como se fosse auto suficiente para imprimir seus interesses, desrespeitando completamente a autonomia da Universidade.

Lembramos que o gestor anterior da UNIVASF, por vezes, expressava suas preocupações com a interferência dos políticos locais. Embora não se tomasse, à época, posições muito claras nas relações políticas interinstitucionais, algumas incursões e intromissões de prefeitos, deputados e políticos aposentados foram explícitas e de ordem pública.

Como instituição federal, sobretudo como Universidade, entendemos como fundamental que a UNIVASF mantenha sua autonomia e interdependência. Até mesmo por uma questão de manutenção ou busca da qualidade, não seria possível admitir uma apropriação do tipo patrimonialista.

Entretanto, não dá para fugir a realidade de que a UNIVASF está inserida em tipo de cultura que traz a marca do patrimonialismo, principalmente no meio político. Em outras palavras, nos parece que, queiramos ou não, a tensão entre a tendência de querer se apropriar da UNIVASF e sua luta por se manter autônoma é constituidora da própria identidade.

Talvez existam vantagens, apesar de um aparente desconforto se pensarmos que teremos muitas lutas ainda a enfrentar. Não sabemos se foi possível observar, mas muitos colegas servidores (a favor ou não da atual gestão da UNIVASF) se posicionaram, no e-mail institucional e nas redes sociais, de maneira forte contra o pronunciamento do prefeito.

Essa tensão que permeia o passado, o presente e, quiçá, o futuro da UNIVASF, no que diz respeito as forças de apropriação patrimonialista e a necessidade de manter a autonomia, constitui, queiramos ou não, uma das dimensões da própria identidade da instituição.

O caso prefeito de Petrolina, além dos seus supostos aspectos demagógicos e eleitoreiros, revela, no nosso entendimento, algo mais. Este caso parece demonstrar um dos contextos de inserção e constituição da UNIVASF. Sejamos atentos e sábios.

Abraços,
Marcelo.

Jua-Petro, março/2012.

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