PATRIMONIALISMO,
IDENTIDADE E A TENSÃO CONSTITUIDORA DA UNIVASF –
O
CASO PREFEITO DE PETROLINA
Este pequeno texto busca uma
reflexão sobre o episódio recentemente ocorrido quando o prefeito de Petrolina
publica uma notícia no Blog do Carlos Brito (http://www.carlosbritto.com/196718/).
Não é nosso propósito contestar a frágil posição do chefe de admnistração
municipal em pedir ao MEC intervenção da UNIVASF no sentido de parar com o ENEM,
até porque isto já foi feito de maneira competente pelo colega Ildemar. O
intuito é puxar uma reflexão para a nossa constituição identitária quanto
instituição.
Como é de conhecimento de todos, a
patente do nascimento da UNIVASF é reivindicada por inúmeros candidatos a sua
paternidade. Desde a história de uma universidade federal de Petrolina até a
sugestão de se criar uma universidade do Vale, contemplando supostos interesses
políticos da Bahia e de Pernambuco, a luta e a tensão para a apropriação e
interferências na UNIVASF não é algo recente.
Suspeitamos que essa tendência de
apropriação da UNIVASF por parte dos políticos locais não seja mero oportunismo
eleitoral ou capitalização de forças. Aventamos a possibilidade de que essa
tendência (já vastamente observada em vários momentos) tenha relação com um
modo cultural, particularmente relacionado aquilo entendido por
patrimonialismo.
Sem querer aprofundar a discussão
sobre o patrimonialismo, compreendemos que essa inclinação de tornar privado
aquilo que é público, ou melhor, esse comportamento de apropriação individual
do que é coletivo, perpassa muitas das práticas de boa parte dos antigos e
atuais políticos de nossa região.
Como dizem os estudiosos a respeito
da identidade, esta antecede e precede a existência do ser. Isto significa
dizer que, antes da Univasf existir, propriamente dita, já havia toda uma
disputa, discussão e tensão sobre sua constituição. Certamente a identidade
(neste caso, a identidade institucional) perpassa, ultrapassa e transcende as
circunscrições físicas, administrativas e legais da UNIVASF.
Esse modus operandi dos políticos se relacionarem com a UNIVASF, mais
especificamente falando, essas tentativas de apropriação, de tratar a UNIVASF
como se fosse algo que eles fossem donos, constitui, para « o bem e para
mal », a própria identidade da instituição. O gesto do prefeito é exemplar
nesse sentido a medida que anuncia um contato com o MEC demandando interferência,
como se fosse auto suficiente para imprimir seus interesses, desrespeitando
completamente a autonomia da Universidade.
Lembramos que o gestor anterior da
UNIVASF, por vezes, expressava suas preocupações com a interferência dos
políticos locais. Embora não se tomasse, à época, posições muito claras nas
relações políticas interinstitucionais, algumas incursões e intromissões de
prefeitos, deputados e políticos aposentados foram explícitas e de ordem
pública.
Como instituição federal, sobretudo
como Universidade, entendemos como fundamental que a UNIVASF mantenha sua
autonomia e interdependência. Até mesmo por uma questão de manutenção ou busca
da qualidade, não seria possível admitir uma apropriação do tipo
patrimonialista.
Entretanto, não dá para fugir a
realidade de que a UNIVASF está inserida em tipo de cultura que traz a marca do
patrimonialismo, principalmente no meio político. Em outras palavras, nos
parece que, queiramos ou não, a tensão entre a tendência de querer se apropriar
da UNIVASF e sua luta por se manter autônoma é constituidora da própria
identidade.
Talvez existam vantagens, apesar de
um aparente desconforto se pensarmos que teremos muitas lutas ainda a
enfrentar. Não sabemos se foi possível observar, mas muitos colegas servidores
(a favor ou não da atual gestão da UNIVASF) se posicionaram, no e-mail
institucional e nas redes sociais, de maneira forte contra o pronunciamento do
prefeito.
Essa tensão que permeia o passado, o
presente e, quiçá, o futuro da UNIVASF, no que diz respeito as forças de
apropriação patrimonialista e a necessidade de manter a autonomia, constitui,
queiramos ou não, uma das dimensões da própria identidade da instituição.
O caso prefeito de Petrolina, além
dos seus supostos aspectos demagógicos e eleitoreiros, revela, no nosso
entendimento, algo mais. Este caso parece demonstrar um dos contextos de
inserção e constituição da UNIVASF. Sejamos atentos e sábios.
Abraços,
Marcelo.
Jua-Petro, março/2012.
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