sábado, 7 de abril de 2012

Universidade Educadora





Universidade Educadora
A importância de ser referência para sociedade



Marcelo Ribeiro






Este pequeno texto pretende suscitar algumas discussões acerca do papel educador das universidades nas sociedades, sobretudo brasileira – que é marcada por grandes desafios sociais, econômicos, ambientais, culturais e científicos. Embora pareça redundante, o papel educador da universidade comporta variações e nem sempre a instituição universitária expressa consciência dessa importância.

Antes, contudo, é importante esclarecer que não há pretensões de colocar a universidade como a única instituição capaz de exercer um papel educativo na sociedade. Em termos institucionais, muitas outras organizações têm condições, potenciais e já exercem tal papel.

Por outro lado, não dá para negar que a universidade é uma instituição singular no que refere as suas missões, visões e mesmo constituição histórica nas sociedades modernas. Seu compromisso em formar profissionais, produzir conhecimentos, desenvolver tecnologias, disseminar e promover cultura, além de contribuir com o desenvolvimento socioeconômico, tem suas variações a depender da instituição (se for uma universidade federal, estadual, se for uma universidade localizada em São Paulo, se está na capital ou no interior etc.) e do momento político econômico em que está inserida.

Todos esses compromissos podem e têm, mais ou menos, um papel educador na sociedade. Alguns de maneiras mais óbvias, outros indiretamente. Assim, formar profissionais compreende um papel educador no sentido que novas gerações de profissionais são postos no mundo do trabalho com visões, posturas e conhecimentos atualizados e, a depender, renovados.

Um médico formado hoje pode até manter relações com seus pacientes a partir de uma visão tradicional e já bastante criticada, mas certamente terá tido mais oportunidades em acessar em sua formação as novas técnicas, aos conhecimentos de ponta etc. O papel educador neste caso se caracteriza pela própria formação de novos profissionais.

Os conhecimentos produzidos pela universidade, as tecnologias desenvolvidas e patenteadas, podem, muitas vezes, transformar as realidades locais ou mesmo ajudar no desenvolvimento da sociedade como um todo. Apesar de instituições de peso como  a Fiocruz , a Petrobrás, a Embraer e a Embrapa, são as universidades brasileiras (federais) que assumem ainda o maior peso no desenvolvimento de pesquisas e na produção de conhecimentos.

Sem dúvidas o papel educador vai estar presente em todas as ações da universidade. Entretanto, é importante lembrar para um sentido que está contido também na própria etimologia "universidade", que tem a ver com “universo”, com pluralidade, com diversidade. A universidade como invenção social da modernidade (embora forjada já na idade média) foi traduzida como um espaço que garantisse a existência de espíritos livres, mentes pensantes, ideais novos e diferentes, mas também que pudesse manter e guardar o patrimônio intelectual de uma sociedade, de um povo.

Sem adentrar na complexa e interessante discussão sobre a história e os diversos desdobramentos da universidade, sobretudo no mundo ocidental, é importante notar que essa instituição, universidade, tem como fundamento basilar a diversidade e a pluralidade de ideias. A universidade é o lugar dos embates, dos confrontos e das divergências de ideias. Esta característica é tão essencial e muitas vezes até "natural" (no sentido de acontecer como se fosse algo natural) que, sem ela, ficaria difícil imaginar um ambiente universitário. Como poderia ser uma universidade onde fosse proibido pensar, questionar, duvidar? Ou melhor, como poderia ser uma universidade onde houvesse o pensamento único? Certamente não seria mais universidade, seria qualquer outra coisa.

A universidade, enquanto instituição da diversidade, pluralidade e campo de confronto de ideias, passa alguma mensagem para a sociedade. Talvez, a depender de como lide com essa mensagem, ou como estabeleça as dinâmicas do confronto de ideias, possa dizer algo interessante à sociedade.

Reside aí, portanto, um dos seus outros possíveis papéis educadores. A universidade pode dizer ou mostrar a sociedade (que a constitui e é constituída por ela) que é possível conviver com e na diferença e também que os embates e confrontos de ideias podem ser interessantes, impulsionando a criatividade e a construção de novas possibilidades da realidade, inventando assim cidadanias mais democráticas.

Certamente há um tom utópico nessa colocação à medida que é sabido que essa convivência das diferenças não é tão amistosa assim. Há inúmeros casos de atritos mortais envolvendo pesquisadores, professores, estudantes, enfim, a comunidade acadêmica. Porém, o que vale ressaltar aqui é que a universidade, muito dificilmente, não tem como escapar a essa condição de diversidade, de pluralidade e de profícuas tensões de ideias.

Entretanto, nem sempre as universidades, em termos de sua comunidade acadêmica, parecem ter consciência desse papel educador, em particular, de ser instigadora de uma sociedade que afirme a diversidade e a pluralidade.

Uma gestão institucional que tenha consciência desse papel educador pode criar dispositivos e dinâmicas que valorizem e estimulem a produção da diversidade, que reforce a produção de diferenças, de múltiplos saberes, de perspectivas e forças variadas. Assim, a universidade poderá estar dizendo algo para a sociedade como um todo e servir de referência para possibilidades de socialidades, fomentando tipos de cidadanias mais democráticas.

Uma universidade educadora, embora aparentemente redundante, como apontando no início deste texto, tem na sua gestão um dos pontos mais importantes para deflagrar o desdobramento de suas potencialidades. É importante, por exemplo, que a gestão da universidade enxergue suas missões e visões associadas ao papel educativo, ou seja, de que a universidade possa ser referência de possibilidades para a sociedade se reinventar.

Nesse sentido, é possível imaginar uma universidade que seja inovadora, que esteja vanguarda em suas ações, que antecipe problemas e soluções, que demonstre práticas de convivências, que crie modelos de gestão mais humanos e eficazes, enfim, que produza toda uma série de invenções e práticas para que a sociedade possa se inspirar e se recriar.

Nesses termos, por exemplo, é que a universidade se torna educadora quando assume de maneira intencional gestões participativas, quando cria espaços acadêmicos onde a livre expressão de ideias é afirmada, quando experimenta outros modos de convivências administrativas, quando consegue demostrar que sonhar em um mundo melhor é desejável e, mais importante, quando passa a ser uma das referências no sentido de mostrar que é possível transformar a própria sociedade.

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