segunda-feira, 23 de abril de 2012

Impactos da UNIVASF na Região: Algumas reflexões


 A implantação e a implementação da Univasf na Região do Vale do São Francisco, em particular nos quatro municípios que atualmente a instituição matem campi (Juazeiro, Senhor do Bonfim, Petrolina e São Raimundo Nonato), foi e é impactante no sentido de provocar variados desenvolvimentos.
Indubitavelmente, a chegada de uma universidade, sobretudo federal, já causa grandes impactos em uma região porque significa (e é na pratica) a presença efetiva do Estado com todas as suas forças de intervenção. No caso em particular de uma instituição federal há diferenças quando comparadas com outras Instituições de Ensino Público (estadual e municipal) IES(p), seja porque seu aporte financeiro é maior ou porque tem mais canais abertos às políticas públicas do governo federal.

A UNIVASF
A UNIVASF foi criada na lei em 2002 (Lei nº 10.473), mas somente em 2004 sua implantação de fato começou. De lá para cá foram aplicados cerca de 150 milhões de reais em recursos voltados para infra-estrutura, sem falar nos recursos de custeios, de emendas parlamentares e do próprio erário dos servidores.
Quase 8 anos depois a UNIVASF tem aproximadamente 5000 alunos, 400 servidores docentes e 300 servidores administrativos (entre técnicos e assistentes). Além disso, possui um conjunto de prédios, alguns deles referências para os municípios de Petrolina e Juazeiro, como é o caso do Complexo Multi-eventos do Campus de Juazeiro e o prédio da Biblioteca do Campus de Petrolina.
Sem dúvidas os impactos da UNIVASF na região são variados e com infindáveis desdobramentos. Poderia se imaginar, por exemplo, o impacto econômico no setor da construção civil, no aquecimento do comércio e no volume de dinheiro que passou a circular nas cidades, só contando com os salários dos servidores. Poderia também ser acrescentado a isso a questão do mercado imobiliário com a vinda de um grande contingente de pessoas de outras regiões, incluindo aí os estudantes.
Mas não só de impacto econômico a UNIVASF contribuiu com a região nesses relativos poucos anos[1]. Há que se considerar a abertura de perspectivas para as centenas e até milhares de jovens que agora podem sonhar com uma profissão sem ter que, necessariamente, sair de suas cidades. Somente nesse ponto há tantos desdobramentos como são possíveis nossa imaginação captar. Assim, por exemplo, alguns pais já não tem que despender recursos para custear estudos de seus filhos em cidades distantes, ou os familiares que não vivem mais a dor da saudade (muito embora isso seja interessante para os filhos - "ganhar o mundo").
Não há intenção aqui de negar os possíveis efeitos colaterais desse desenvolvimento. Alguns analistas de mercado creditam a inflação do mercado imobiliário depois da implantação da UNIVASF. Houve (e ainda há) a fase do aquecimento imobiliário - o que, por um lado foi ruim para a pessoa que buscava comprar ou alugar algum imóvel. De qualquer maneira, ao se colocar no peso da balança, muito provavelmente a presença da UNIVASF trouxe mais pontos positivos do que negativos.
Assim como o impacto do aquecimento imobiliário trouxe dificuldades para alguns, pode ter ajudado a aquecer o mercado e a atrair novos investimentos. Isso remete a uma outra perspectiva a ser levada em consideração.
Todos esses impactos, sobretudo de ordem econômica, sem dúvidas são importantes, mas há ainda outros que talvez precisem ser mais maturados. Estes impactos referem-se aos valores culturais que norteiam toda a vida da sociedade. Há quem já identifique fases desses impactos, onde ciclos são constantemente formados, revelando a dinamicidade da relação UNIVASF e região.
Nesse sentido e partindo para um exemplo menos econômico e mais cultural, houve a fase da grande expectativa, ou da ideia da UNIVASF como redentora da região*. Esta fase se caracterizava na expectativa criada em torno da Universidade como se esta fosse resolver todos ou boa parte dos problemas da região. Houve (e ainda há) também a fase dos ajustamentos, onde as pessoas da Instituição (estudantes e servidores que vieram de fora) tiveram que aprender a conhecer as particularidades da região (clima, cultura, alimentação, etc.). De modo semelhante, as pessoas que já habitavam na região tiveram também que aprender a lidar com uma instituição de ensino federal (que tem também suas particularidades, diferentes, por exemplo, de instituições estaduais ou mesmo municipais - estas já presentes em Juazeiro, Petrolina, Senhor do Bonfim e São Raimundo Nonato).
A própria presença de inúmeras pessoas de outros lugares já contagia a cultura local, fazendo aí uma mistura cultural, recriando a própria cultura. Além disso é importante também observar que a UNIVASF não estabelece uma relação unilateral com a cultura local. Ela é também forjada por esta e o que se dá é muito mais uma relação onde uma influencia a outra.

A UNIVASF EDUCADORA
Já em termos de cultura política o que se destaca na região, dentre outras coisas, obviamente, é uma forma de se fazer política e de administração pública muito ainda assentada no patrimonialismo, no clientelismo e fisiológico. Embora não seja objetivo da Universidade se encarregar do desenvolvimento político (e nem deva se envolver diretamente com as questões da administração pública local), esta tem um papel educativo que pode servir como referência para pautar novas formas de se fazer política e administração pública. Isto não significa que a própria administração da instituição tenha que ser perfeita ou que seja imaculada. Muitas vezes as universidades ensinam as avessas. Isto significa dizer que as universidades passam a ser palco de escândalos ou de péssimos exemplos de gestão pública, reproduzindo os mesmos vícios comumente encontrados nas gestões municipais, estaduais ou federais.
Entretanto, a Universidade, como espaço inventivo e de forte influência social, pode passar uma mensagem para a região de que existem outros modos possíveis de se fazer política e gerir a administração pública. Este impacto da UNIVASF para com a região, embora não seja tão palpável quanto os impactos sociais e econômicos, é interessante de ser destacado uma vez que pode se traduzir em esperanças de transformações.
Uma situação exemplar é a relação de como a Universidade vem se relacionando com seus bens e patrimônios. Ela tem se diferenciado de uma prática relativamente comum (infelizmente). Alguns gestores do serviço público, sobretudo dos municípios circunzinhos, se expressem de maniera possessiva em relação aos bens públicos: o meu carro, o meu computador, o meu celular, meu dinheiro, etc. A Univasf tem rompido com esse tipo de postura e vem mostrando que ninguém (individualmente) é dono daquilo que é público.   
Tomar a instituição como espaço de laboratório, onde experiências de gestão possam ser, responsavelmente, criadas e desenvolvidas, pode inspirar a sociedade a buscar transformações radicais no seu modus operandis de se fazer política e de gestão pública. Nesse sentindo é importante destacar o papel da gestão participativa, onde a Universidade se esforça por pontencializar os espaços coletivos de decisões, como os colegiados de cursos e o próprio conselho universitário.
A ideia, portanto, da Univasf Educadora, passa por uma compreensão de ter e de fazer a instituição como possível referência para a sociedade. Investir em modelos de gestão onde características de participação, transparência e qualidade sejam efetivas marcas da administração, ajuda a sociedade, sobretudo a local, a se inspirar e também a ter uma referência alternativa e crítica a um contexto político marcado pelo patrimonialismo, clientelismo e fisiológico.
É certo que muito ainda resta a ser feito e a ser conhecido. É válido, portanto, mesmo encerrando este modesto texto, questionar: a Univasf tem cumprido seu papel de Educadora nesse sentido político? A região tem apreendido essa referência? Como tem se desenvolvido o diálogo entre Univasf e e demais setores da sociedade (na região)?


[1] É  importante salientar que a Univasf não é a única instituição federal na região e nem a única instituição de ensino público. Há o IF- Sertão que certamente contribuiu muito e ainda contribui para impactar a região. Além disso, a própria região do Vale do São Francisco vivencia um período de crescimento econômico e de profundas transformações sociais, culturais, dentre outras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário