sexta-feira, 1 de abril de 2016

Experiências de Banca de TCC



Adoro participar das bancas de Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, até mesmo nas “maratonas” das apresentações que sempre acontecem nos finais de semestres no curso de Psicologia da minha universidade (Univasf).  

A participação nessas bancas é, quase sempre, uma oportunidade impar de aprendizagem. Além, obviamente, de ser uma honra estar presente em momento ápice, que é uma defesa de TCC. Nesses momentos aprecio a produção intelectual e científica do aluno, na escrita e na parte oral, compartilho críticas com os colegas de banca e me deparo, muitas vezes, com questões importantes que me faz refletir sobre as práticas e também sobre o jeito de produzir conhecimento.

Recentemente (nessa última “maratona”) pude discutir, reiteradamente, dois aspectos, inter-relacionados, da produção do conhecimento via projetos de pesquisa. O primeiro dizia respeito a identificação ou não do campo empírico ou mesmo de grupos sociais nos projetos. Por exemplo: eticamente seria correto anunciar, no título e no corpo do trabalho, um estudo sobre “os estudantes de psicologia do 5º período da Univasf”? Estaria ferindo a ética no sentido de expor o lugar e mesmo um grupo social? 

O segundo aspecto dizia respeito a incapacidade de um estudo micro ser “generalizado”. Pegando o mesmo exemplo: ao pesquisar sobre “os estudantes de psicologia do 5º período da Univasf”, seria possível que os resultados pudessem interessar outros pesquisadores que abordariam estudantes de graduação da China?

Uma pequena observação: quando falo de “generalização” não estou me referindo, necessariamente, ao modelo neopositivista, mas sim a capacidade de um estudo de se comunicar, de ser transposto a outras realidades. Essa capacidade do estudo faz parte, no meu entender, da própria estética da ciência, dos seus rigores, independente de qual paradigma se refira.

Mas voltando aos aspectos discutidos na minha recente experiência das bancas, observo que o mais importante não é se há explicitação ou não do campo empírico ou dos grupos sociais. O que importa é se o objeto de estudo ou o corpus teórico metodológico exige (é lógico que estando atento as exposições desnecessárias). Imagine um estudo historiográfico e de cunho etnográfico que exige a identificação de uma comunidade?! Há, nesses casos, uma exigência do objeto, do quadro teórico e metodológico. 

Eu já vi, inclusive, trabalho perder sua riqueza na discussão justamente por causa de timidez em descrever o campo empírico - um receio em transgredir os suposto preceitos éticos (o estudo tratava, no caso, de uma empresa que foi pouco descrita para não ser revelada sua identidade).
Também observo que a questão não é desenvolver um estudo macro para se buscar melhor “generalizações” (sobre isso quero abordar, posteriormente, a questão de estudos quanti e quali). É possível alcançar boas transposições com estudos micros. O que seriam, por exemplo, dos estudos de caso? Ou melhor, da clássica pesquisa de Antônio Calos Ciampa, da psicologia social, que elaborou o conceito de “processo indentitário”?  Ciampa estudou as transformações identitárias vividas pela empregada doméstica da sua casa!

A questão é (de novo outra dimensão do rigor) a capacidade de transposição presente no trabalho. Afinal, não faz sentido um estudo ensimesmado, que não possa ser de interesse para outros.

Por fim, quero agradecer aos estudantes que me oportunizaram belas experiências de banca e aos colegas que tensionaram, debateram, dialogaram e produziram uma série de reflexões.

3 comentários:

  1. Meu caro, sempre bom acompanhar suas reflexões. Estou neste momento no curso de especialização do CETAD, e viu levar estas reflexões comigo. Forte abraço, Victor!

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    1. Valeu Victor! Dê notícias! Fazendo uma pós ou dando aula nessa pós?

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  2. Excelente reflexão Marcelo. Vou compartilhar no mru blog e discutir com orientandos de TCC e colegas do departamento.

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