Por Tatiane
Fernandes de Almeida
Disciplina: Educação e Políticas Públicas
Refletindo acerca da discussão do tema “Medida Provisória do
Ensino Médio” realizada em sala de aula, e relacionando com a bibliografia
proposta pelo professor, apresento a seguir esse texto crítico.
Em pesquisa por notícias acerca das repercussões do texto da
MP nos meios legislativo e judiciário, além das impressões na classe
trabalhadora e estudantes, encontrei uma matéria do “Estadão” com um parecer do
Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não apenas contrário à MP como
declarando-a inconstitucional. Além desse argumento, o jurista ressaltou que
tal ação do Estado sobre a Escola impacta estruturalmente uma política pública
cuja área é crucial para o desenvolvimento do país, a Educação.
Os reflexos desse tipo de ação têm impacto direto na
sociedade e é próximo de nosso cotidiano exemplos de pessoas já prejudicadas
por um sistema de ensino sucateado, assim como visto quando não têm os
requisitos exigidos para assumir certos postos de trabalho com qualidade,
graças a um processo de letramento defasado. Como consequência se tem o
aprofundamento do fosso entre as classes sociais, alimentado por um (des)
governo distante da população, atrelado a um sistema que se mantem pela
desigualdade. Abordado pelos autores Bourdieu (1982), Freire (1996) e Illich
(1970), em leituras da disciplina, o tema Educação e sua relação com o Estado
foi amplamente debatido e irei me ater a eles nessa produção.
Em “Lições da Aula” (BOURDIEU, 1982) o autor aborda o ato de
delegação institucionalizado do direito, dado a alguém, de ensinar a outros.
Essa questão se articula com o que Illich, no livro “Sociedade sem Escolas”,
caracteriza como a problemática do direito ao ensino atravessada pela
controversa obrigação legal de frequentar a Escola. Esse ponto teria como
consequência o interesse de manter a “ordem” (as classes) social.
Em análise do sistema escolar de ensino podemos perceber
que, assim como na Sociologia, a Pedagogia, Psicologia e outras áreas voltadas
para o ensino poderiam e deveriam aplicar o que propõem aos sujeitos que fazem
a ciência, não continuem como os que se identificam (auto intitulam) como
freirianos, entre outros, que como descreve Bourdieu (1982)
“aqueles que fazem profissão de marxismo jamais assumiram
verdadeiramente o pensamento de Marx, e principalmente os usos sociais que dele
se fizeram, para pôr à prova a sociologia do conhecimento, de que Marx foi o
iniciador” (BOURDIEU, p. 8, 1982)
Que pelo posicionamento crítico (e autocrítica)
“os mais lúcidos e os mais resolutos a despertarem do sono dogmático
para pôr em funcionamento, ou seja, para pôr à prova, teorias e conceitos aos
quais a magia de exegese sempre retomada assegura a falsa eternidade dos
mausoléus” (BOURDIEU, p. 9, 1982)
Por destaque desses trechos trago a imagem que em geral as
Escolas ainda assumem, como paradas no tempo guardando com preciosismo o nada,
pois o sentido ou função a que se destinava (catequizar/alfabetizar/instruir),
encontra-se perdida, diluída. E esse atual estado seria devido a uma grande
falta de correlação entre o que é imposto à Escola pelo Estado e demais
instituições da ciência e à realidade, às pessoas que estão na prática do
dia-a-dia (professores e demais membros do corpo escolar) (KRAMER, 1997).
Nesse sentido temos Paulo Freire em “Pedagogia da Autonomia”
(1996), neste ele propõe uma ação crítica e refletida, além de politicamente
consciente. Desta obra destacam-se alguns pontos caros a uma educação escolar
efetiva, a relação docente-discente +
a não transferência de conhecimento
(compreensão do mesmo enquanto inacabado)
+ especificidade humana (pelo comprometimento
com o outro).
Através do exposto e do debatido em conjunto com a turma
acerca das proposições impraticáveis do documento da Medida Provisória, podemos
tanto perspectivar tempos difíceis para a Educação e para os profissionais que
a ela se dedicam em termos de relação entre Estado e Sociedade, como também nos
basear no que esses autores contribuíram através de instrumentos para a nossa
percepção deste cenário e prática no campo.
Referências:
BOURDIEU, P. Lições da aula. Trad. Egon de Oliveira Rangel. São Paulo: Ática (2ª
ed. 1994), 1982.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários
à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra (25ª ed. 2002), 1996.
ILLICH, I. Sociedade sem escolas. Trad. Lúcia
Mathilde Endlich Orth. Petrópolis: Vozes (7ª ed. 1985), 1970.
KRAMER, S. Propostas
pedagógicas ou curriculares: subsídios para uma leitura crítica. Educ. Soc. 1997.
MACEDO, F. AFFONSO, J.
MP do Ensino Médio é inconstitucional
diz Janot. São Paulo: Estadão, 2016. Disponível em: http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/mp-do-ensino-medio-e-inconstitucional-diz-janot/.
Acessado em: 30 de abril de 2017.
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