sábado, 21 de abril de 2018

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NAS ESCOLAS

Josy Rawane da Silva Paulo *
No ano de 1994, surgiu a justiça restaurativa nas escolas, em Queensland, na Austrália, através da mediação com a conselheira Margaret Thorsborne, que com base em estudos utilizando essa abordagem em outros contextos, resolveu implantar a justiça restaurativa nas escolas, em questões que envolvessem agressões. Depois disso, o processo expandiu e tem sido desenvolvido em diversos países, abordando, além das agressões, vários comportamentos destrutivos (MORRISON, 2005).
A origem da mediação de conflitos decorreu de outras áreas, mas após ser adaptada e inserida nas escolas e obter o mesmo êxito no seu objetivo, permaneceu, e os estudos nessa área são crescentes. A mediação está configurada como uma prática de restauração, e caracteriza-se em um processo de reconciliação, guiado por um mediador, em algum conflito que envolva duas ou mais pessoas, com o intuito de possibilitar uma relação de cooperação, onde antes teria uma relação de resistência (RAMOS et al., 2017).
O processo é realizado através da comunicação, e espera-se que através da reflexão, diálogo não-violento e cooperação de ambas as partes, ocorra uma transformação do conflito em uma oportunidade de restauração de vínculos nessa relação. A empatia é um dos fatores essenciais na mediação de conflitos, o que implica um exercício de se colocar no lugar do outro (“como se fosse o outro”), visualizar a situação de outra maneira, tentar sentir o que o outro sentiu. A empatia, portanto, é um passo importante para reconhecer o outro como igual (RAMOS et al., 2017).
O papel do mediador seria, através de perguntas mobilizadoras possibilitar uma reflexão nos sujeitos para que eles encontrem a solução exercendo a autonomia. Perceber as partes através da observação e escuta ativa, levando em consideração ainda outros princípios como a confiabilidade, imparcialidade e confidencialidade, são características necessárias ao mediador (RAMOS et al., 2017).
Tendo em vista que atualmente a comunidade escolar está sendo fortemente influenciada pelos conflitos sociais, em especial pelas redes sociais que deixou de ser apenas uma distração e agora faz parte da rotina das pessoas, muitos dos conflitos que iniciam na escola continuam quando o aluno vai para casa (algumas dessas situações fazem parte de fenômenos como o Bullying e o CyberBullying), assim como conflitos podem iniciar na internet e se estenderem ao ambiente escolar (ALBUQUERQUE, 2017).
Um estudo recente, longitudinal de cariz qualitativo realizado por Costa (2017), com escolares de uma região semiurbana do centro de Portugal, com o objetivo de evidenciar os fatores promotores e bloqueadores da implementação de um Projeto de Mediação de Conflitos na Escola (PMCE) trouxe como conclusão que as categorias “aspetos positivos” e “fatores de sucesso” tiveram predominância, uma vez que o número de ocorrências ultrapassou (Total n=95) o número de ocorrências das categorias “aspetos negativos” e “constrangimentos” (Total: n=41).
Exemplificando a mediação de conflitos numa realidade mais próxima, desde 2014 existe um projeto de extensão realizado em Petrolina, por iniciativa da Vara Regional da Infância e Juventude da 18ª Circunscrição Judiciária, intitulado: Prevenção da Violência nas Escolas (Previne). O objetivo do projeto é diminuir os índices de violência nas escolas através da justiça restaurativa, utilizando a mediação de conflitos, e conta com o apoio de voluntários de diversos cursos superiores (Direito, Psicologia, Pedagogia, entre outros) que atuam como mediadores nas escolas estaduais. 
Inicialmente todas as escolas de Petrolina participavam do projeto, no entanto, atualmente o foco do projeto utilizando mediadores está sendo nas 10 escolas estaduais e 10 escolas municipais que mais apresentam índices de violência, selecionadas através dos dados fornecidos pela Gerência Regional de Educação Sertão do Médio São Francisco- GRE, no entanto as demais escolas continuam sendo atendidas, conforme forem solicitando. Além da mediação de conflitos outras intervenções são realizadas, tais como, palestras, oficinas (como por exemplo, oficinas com os pais de adolescentes com comportamento autodestrutivo), entre outras. 
Este ensaio pretendeu, em conformidade com as ideias apresentadas, propor uma reflexão acerca da importância da mediação de conflitos no contexto escolar para a sociedade. Exemplificando o corpo do texto com as ideias de alguns autores, e finalizando com a minha opinião. 
Sendo assim, acredito que com o aumento do índice de violência nas escolas, o uso da mediação de conflitos é uma boa estratégia para diminuir os comportamentos destrutivos nas escolas, aumentar o clima harmônico, estabelecendo um ambiente agradável para toda a comunidade. Ressalto ainda que acredito que um bom mediador necessita de uma boa formação, e que com o tempo de experiência o seu trabalho enriquecerá ainda mais. Acredito também que o uso de outras estratégias restaurativas aliadas a essa, só vem a somar e ampliar os benefícios anteriormente citados. 

Referências
ALBUQUERQUE, Maria Severiana de. Violência: epidemia nas escolas brasileiras.2017. Disponível em:  .Acesso em: 05 abril 2018.
COSTA, Elisabete Pinto da. Um projeto de mediação de uma escola TEIP (condicionantes, facilitadores e melhorias). Revista de estudios e investigación en psicología y educación. 2017. Disponível em:. Acesso em: 05 abril 2018.
MORRISON, Brenda. Justiça Restaurativa. Brasília-DF, Ministério da Justiça e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD. 2005.
RAMOS, Katury Rayane; ALMEIDA, Rosemary de Oliveira; PAIVA, Irene Alves de. Mediação de conflitos na escola.O público e o privado. 2017. Disponível em:. Acesso em: 06 abril 2018.


* Estudante da disciplina Educação e Políticas Públicas , da ênfase de Educação, do curso de Psicologia da Univasf (Prof. Marcelo Ribeiro).

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