sábado, 9 de outubro de 2021

A PANDEMIA E O ACESSO À EDUCAÇÃO: AVANÇOS E RETROCESSOS

  


Carolina Obata

obata.carolina@gmail.com

 

 Iracema Mayara 

iracema.mayara@hotmail.com

 

Mariana Simon

marianabsimon@gmail.com

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Graduandas de Psicologia

Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF

 

 

 

Com a propagação da Covid-19, em março de 2020, medidas de isolamento social foram implantadas no Brasil numa tentativa de controlar os números de contagiados que cresciam exponencialmente. Tais medidas afetam os diversos contextos sociais, inclusive o da educação, fazendo com que as instituições educativas suspendessem quaisquer formas de ensino  presencial. 

No Brasil, o Ministério da Educação desenvolveu planos para lidar com a nova realidade que incluíam aulas em plataformas online, disponibilização de conteúdo programático digital, vídeo aulas pré-gravadas, avaliações remotas, dentre outros artifícios que possibilitasse o ensino à distância. Todo esse movimento se deu de forma muito improvisada e frágil, o que acarretou em muitos problemas relacionados não somente ao acesso dos alunos e professores, mas também na questão da qualidade da aprendizagem como um todo.

Se pensarmos que o movimento de adesão às tecnologias da educação telepresencial enfrentava resistências antes da pandemia e que a sua implantação ocorreu num momento emergencial, é possível perceber contradições nesse processo? Existem desafios que precisam ser superados e que lições podemos tirar das mudanças e adaptações que a escola teve que sofrer? O que esperar das políticas públicas brasileiras diante deste panorama?

A tecnologia ocupa hoje um espaço de destaque no processo educacional pós-pandêmico, seu uso possibilitou que o vínculo entre alunos e escola não fosse quebrado, mesmo diante de um evento extremo como foi a pandemia do Covid-19. Por outro lado, abriu caminho para que plataformas que dominam o mercado de streaming como a Google, Amazon, Facebook, Apple, ganhassem ainda mais poder e controlassem o acesso à escola. Além disso, vimos escancarar as desigualdades sociais, uma vez que as políticas públicas não conseguiram suplantar o abismo existente entre as escolas públicas e privadas, sequer no quesito de acesso às aulas virtuais.  

Os desafios são inúmeros, é necessário que possamos identificar os pontos positivos do modelo de escola implementada, onde o espaço doméstico interage diretamente com o escolar, mas que não deixemos de perceber que a construção do modelo escolar, não pode ser privatizado e individualizado, ou seja, a escola deve ser um local de trocas e de construção coletiva. É fato que o ensino remoto no contexto de isolamento social foi necessário e paliativo, contudo várias questões sobre o recurso devem ser analisadas. 

Além das desigualdades socioeconômicas de acesso à tecnologia, o engajamento e participação dos alunos também foram comprometidos, pois a modalidade não consegue prover a mesma interação e os mesmos resultados possíveis no ensino presencial. Os professores também sofreram grande pressão, principalmente os que não possuíam familiaridade com o uso das telas e plataformas digitais, já que então lhes era exigido realizar as aulas, reuniões, avaliações e ainda dar conta da correção do material didático de forma virtual. Também, não se pode negar que as mudanças abruptas e o cenário caótico de incertezas e perdas, refletiram num comprometimento emocional de muitos educadores, estudantes, pais e outros envolvidos no processo educativo, de maneira prejudicial ao processo de ensino e aprendizagem. 

Com o retorno às aulas presenciais, faz-se necessário que as escolas possam trabalhar com o ensino de habilidades digitais e que o acesso e as ferramentas de tecnologia (internet, computadores, etc.), bem como os programas necessários (Windows, Microsoft Office,etc.) sejam disponibilizados aos alunos que não tem condições de acesso. Para que a escola seja um local de inclusão, acolhimento e possibilitadora de aprendizagem para todos, será preciso repensar as políticas educacionais, numa tentativa de buscar equidade de possibilidades, principalmente para as camadas sociais mais desfavorecidas. 

Diante desse novo cenário, percebe-se a necessidade da formulação de políticas públicas que abranjam todas as camadas sociais. Isso se dá na medida em que já foi evidenciado o agravamento da desigualdade educacional e da qualidade na educação pública provenientes do ensino remoto. Isso mostra que apesar dos benefícios e mudanças ocorridas nesse período, essa modalidade de ensino tende a aumentar a exclusão a nível educacional. Sendo assim, são muitos desafios a serem enfrentados a fim de recuperar as perdas ocorridas nesse período, demandando novos investimentos de maneira substancial na educação básica, como também uma boa organização e planejamento dos trabalhos pedagógicos. 

Este texto é produto do processo vivido no âmbito da disciplina Educação e Políticas Públicas Inclusivas, do curso de Psicologia, da Univasf, tendo como prof. Marcelo Silva de Souza Ribeiro. Outubro de 2021.                                                                             

 

Para saber mais:

 

Cardoso, C. A., Ferreira, V. A., & Barbosa, F. C. G. (2020). (Des) igualdade de acesso à educação em tempos de pandemia: uma análise do acesso às tecnologias e das alternativas de ensino remoto. Revista Com Censo: Estudos Educacionais do Distrito Federal, 7(3), 38-46.

 

Cunha, L. F. F. D., Silva, A. D. S., & Silva, A. P. D. (2020). O ensino remoto no Brasil em tempos de pandemia: diálogos acerca da qualidade e do direito e acesso à educação.

 

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