Imagem: averdade.org
Karla Maria Pereira dos Santos
karlasantos30.ls@gmail.com
Lucas Carvalho Silva
lucas96flasilva@gmail.com
Monique Emily
monique.emily@discente.univasf.edu.br
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Graduandos de Psicologia
Universidade Federal do Vale do São Francisco - Univasf
O Brasil vive uma crescente onda de conservadorismo presente em diversos âmbitos da sociedade que se canaliza estrategicamente nos setores da educação. Após a recente vitória da extrema-direita populista em 2018, grupos neoconservadores manifestaram-se com maior vigor em suas ações, com a intenção de moldar o cenário brasleiro de acordo com os seus ideais. Tais movimentos viram na figura do então presidente JMB uma oportunidade de unirem-se sob uma representação que atendesse a todos os seus interesses neoconservadores e neoliberais, ganhando força e apoio popular para passar suas pautas e projetos de lei, como é o caso das reformas na educação e expansão das escolas militares.
Como apresentado por Graziella Souza dos Santos em seu artigo, “O avanço das políticas conservadoras e o processo de militarização da educação”, presenciamos um avanço de grupos neoliberais e neoconservadores sobre o sistema educacional brasileiro. O primeiro grupo, por razões econômicas, busca através dos controles educacionais manter uma estrutura de classes sem mobilidade social. O segundo grupo sonha com um retorno de valores, que para eles foram perdidos com o novo modelo educacional, o mesmo que democratizou o acesso aos ambientes escolares. Para esse grupo o ideal seria um retorno do Estado regulador, principalmente no tocante a questões de valores, currículo escolar e corpo.
O Neoconservadorismo geralmente possui “uma visão romântica do passado em que habitaria a moralidade, o ‘verdadeiro’ saber, em que as pessoas ‘sabiam o seu lugar’ e as comunidades eram estáveis, orientadas por uma ordem natural, cenário esse corrompido pela sociedade atual” (Graziella Santos, 2021). Dessa forma, é almejado através das escolas cívico-militares uma padronização curricular composta pela defesa de uma educação supostamente patriótica e vinculada aos valores morais de seu grupo, cerceando as diferenças culturais na formação educacional.
Portanto, quando o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, em seu discurso de lançamento do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, definiu estas instituições como ferramentas para o resgate dos valores tradicionais da família brasileira, ele na verdade estava dizendo que neste ambiente não seria tolerado o que é denominado diferente, sendo assim não seriam permitidas ideias e opiniões diferentes e livres. Com isso, todo o pouco avanço que foi conquistado na educação brasileira, como a inclusão das diversidades (pessoas com deficiência, negros, indigenas, mulheres, pobres e pessoas trans), sofreria um enorme retrocesso, visto que o modelo militar vai de encontro ao principio da democratização ao preconizar uma ideia de homogeneização dos alunos.
Outro ponto que merece análise é a gestão destas escolas, que são compartilhadas com militares da reserva das Forças Armadas, policiais e bombeiros militares. Esses seriam os agentes responsáveis por garantir a vivência de uma nova cultura escolar baseada em princípios militares, tendo autonomia para atuar no controle disciplinar e organizacional no cotidiano da escola, bem como em sua gestão administrativa.
Com o exposto é possível identificar a ideia distorcida do atual governo sobre as escolas, que remete a estas a responsabilidade de uma suposta perda da ordem moral, que teria sido corrompida através dos processos anteriores de democratização da educação. Tendo o Presidente Bolsonaro, inclusive, declarado em seu discurso que deseja através das escolas militares “colocar na cabeça de toda essa garotada a importância dos valores cívico-militares, como tínhamos há pouco no governo militar, sobre educação moral e cívica, sobre respeito à bandeira”. Aqui é válido trazer o seguinte questionamento: quais valores são estes tão buscados pelos conservadores? Considerando que hoje vivemos em uma sociedade em muitas maneiras diferente da época em que estes tais valores imperavam, o progresso viabilizou novos estilos de vida e multiplicou as possibilidades humanas.
Também cabe uma reflexão sobre a forma “mascarada” com a qual as escolas cívico-militares são apresentadas à sociedade. Os parâmetros comparativos entre os colégios militares e as escolas públicas são enviesados, pois não consideram as suas diferenças, como os valores de investimento e os meios de acesso, já que é necessário passar por um processo seletivo para o ingresso nestas instituições, enquanto as escolas públicas atendem a mais de 80% dos estudantes brasileiros.
Por fim, é preciso ressaltar que o atual governo e seus grupos conservadores e econômicos buscam acabar com conquistas que são frutos de anos de luta, de transformação das escolas em ambientes democráticos e plurais, em quais jovens e adultos podem se expressar em suas singularidades, socializar e exercer suas cidadanias, tendo acesso a conhecimento livre e diverso.
ESCOLAS CÍVICO-MILITARES: UM ATENTADO CONTRA A DEMOCRACIA EDUCACIONAL
Este texto é produto do processo vivido no âmbito da disciplina Educação e Políticas Públicas Inclusivas, do curso de Psicologia, da Univasf, tendo como prof. Marcelo Silva de Souza Ribeiro. Outubro de 2021.
Para saber mais:
Dos Santos, G. S. (2020). O avanço das políticas conservadoras e o processo de militarização da educação. Práxis Educativa (Brasil), 15, e2015348.
Este assunto me faz lembrar de uma reflexão que fiz neste ano conturbado. Aconteceu quando percebi nas tarefas escolares de minha filha de 5 anos a tão tradicional homenagem ao dia do soldado (aniversário de Duque de Caxias "herói" da "nação". Daí eu pergunto: qual a importância disso na formação de uma criança de 5 anos? Se é pra valorizar profissões, por que apenas essa aparece nos livros didáticos? Pela simples romantização do militarismo?
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