sábado, 9 de outubro de 2021

ESCOLAS CÍVICO-MILITARES: UM ATENTADO CONTRA A DEMOCRACIA EDUCACIONAL

 

                                                                Imagem: averdade.org


Karla Maria Pereira dos Santos

karlasantos30.ls@gmail.com

Lucas Carvalho Silva

lucas96flasilva@gmail.com

Monique Emily

monique.emily@discente.univasf.edu.br

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Graduandos de Psicologia

Universidade Federal do Vale do São Francisco - Univasf


O Brasil vive uma crescente onda de conservadorismo presente em diversos âmbitos da sociedade que se canaliza estrategicamente nos setores da educação. Após a recente vitória da extrema-direita populista em 2018, grupos neoconservadores manifestaram-se com maior vigor em suas ações, com a intenção de moldar o cenário brasleiro de acordo com os seus ideais. Tais movimentos viram na figura do então presidente JMB uma oportunidade de unirem-se sob uma representação que atendesse a todos os seus interesses neoconservadores e neoliberais, ganhando força e apoio popular para passar suas pautas e projetos de lei, como é o caso das reformas na educação e expansão das escolas militares.

Como apresentado por Graziella Souza dos Santos em seu artigo, “O avanço das políticas conservadoras e o processo de militarização da educação”, presenciamos um avanço de grupos neoliberais e neoconservadores sobre o sistema educacional brasileiro. O primeiro grupo, por razões econômicas, busca através dos controles educacionais manter uma estrutura de classes sem mobilidade social. O segundo grupo sonha com um retorno de valores, que para eles foram perdidos com o novo modelo educacional, o mesmo que democratizou o acesso aos ambientes escolares. Para esse grupo o ideal seria um retorno do Estado regulador, principalmente no tocante a questões de valores, currículo escolar e corpo.

O Neoconservadorismo geralmente possui “uma visão romântica do passado em que habitaria a moralidade, o ‘verdadeiro’ saber, em que as pessoas ‘sabiam o seu lugar’ e as comunidades eram estáveis, orientadas por uma ordem natural, cenário esse corrompido pela sociedade atual” (Graziella Santos, 2021). Dessa forma, é almejado através das escolas cívico-militares uma padronização curricular composta pela defesa de uma educação supostamente patriótica e vinculada aos valores morais de seu grupo, cerceando as diferenças culturais na formação educacional.

Portanto, quando o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, em seu discurso de lançamento do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, definiu estas instituições como ferramentas para o resgate dos valores tradicionais da família brasileira, ele na verdade estava dizendo que neste ambiente não seria tolerado o que é denominado diferente, sendo assim não seriam permitidas ideias e opiniões diferentes e livres. Com isso, todo o pouco avanço que foi conquistado na educação brasileira, como a inclusão das diversidades (pessoas com deficiência, negros, indigenas, mulheres, pobres e pessoas trans), sofreria um enorme retrocesso, visto que o modelo militar vai de encontro ao principio da democratização ao preconizar uma ideia de homogeneização dos alunos.

Outro ponto que merece análise é a gestão destas escolas, que são compartilhadas com militares da reserva das Forças Armadas, policiais e bombeiros militares. Esses seriam os agentes responsáveis por garantir a vivência de uma nova cultura escolar baseada em princípios militares, tendo autonomia para atuar no controle disciplinar e organizacional no cotidiano da escola, bem como em sua gestão administrativa. 

Com o exposto é possível identificar a ideia distorcida do atual governo sobre as escolas, que remete a estas a responsabilidade de uma suposta perda da ordem moral, que teria sido corrompida através dos processos anteriores de democratização da educação. Tendo o Presidente Bolsonaro, inclusive, declarado em seu discurso que deseja através das escolas militares “colocar na cabeça de toda essa garotada a importância dos valores cívico-militares, como tínhamos há pouco no governo militar, sobre educação moral e cívica, sobre respeito à bandeira”. Aqui é válido trazer o seguinte questionamento: quais valores são estes tão buscados pelos conservadores? Considerando que hoje vivemos em uma sociedade em muitas maneiras diferente da época em que estes tais valores imperavam, o progresso viabilizou novos estilos de vida e multiplicou as possibilidades humanas. 

Também cabe uma reflexão sobre a forma “mascarada” com a qual as escolas cívico-militares são apresentadas à sociedade. Os parâmetros comparativos entre os colégios militares e as escolas públicas são enviesados, pois não consideram as suas diferenças, como os valores de investimento e os meios de acesso, já que é necessário passar por um processo seletivo para o ingresso nestas instituições, enquanto as escolas públicas atendem a mais de 80% dos estudantes brasileiros.

Por fim, é preciso ressaltar que o atual governo e seus grupos conservadores e econômicos buscam acabar com conquistas que são frutos de anos de luta, de transformação das escolas em ambientes democráticos e plurais, em quais jovens e adultos podem se expressar em suas singularidades, socializar e exercer suas cidadanias, tendo acesso a conhecimento livre e diverso.

 

ESCOLAS CÍVICO-MILITARES: UM ATENTADO CONTRA A DEMOCRACIA EDUCACIONAL

Este texto é produto do processo vivido no âmbito da disciplina Educação e Políticas Públicas Inclusivas, do curso de Psicologia, da Univasf, tendo como prof. Marcelo Silva de Souza Ribeiro. Outubro de 2021.

Para saber mais:

Dos Santos, G. S. (2020). O avanço das políticas conservadoras e o processo de militarização da educação. Práxis Educativa (Brasil)15, e2015348.

Um comentário:

  1. Este assunto me faz lembrar de uma reflexão que fiz neste ano conturbado. Aconteceu quando percebi nas tarefas escolares de minha filha de 5 anos a tão tradicional homenagem ao dia do soldado (aniversário de Duque de Caxias "herói" da "nação". Daí eu pergunto: qual a importância disso na formação de uma criança de 5 anos? Se é pra valorizar profissões, por que apenas essa aparece nos livros didáticos? Pela simples romantização do militarismo?

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