segunda-feira, 1 de novembro de 2021

INFLUÊNCIA DO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL (ERE) NAS RELAÇÕES SOCIAIS DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS


 

Imagem 1Pesquisa aponta que 43% dos universitários sentem falta de contato social no ensino remoto



 Fonte: Reprodução/Envato, apud Portal Sete Segundos, 2020.

 

Antonio Marcos Araújo da Silva

José Luis Amorim

Vanessa Pequeno de Souza

Talita Barbosa Reis

Yasmine da Silva Santana


INTRODUÇÃO

No final de 2019, na cidade de Wuhan, na China, o novo coronavírus surgia e se espalhava naquela região e, posteriormente, no mundo, levando a Organização Mundial da Saúde (OMS) a anunciar uma nova pandemia, da COVID-19 (SEGATA, 2020). Com isto, várias medidas foram tomadas para diminuir a propagação do vírus, tais como o distanciamento social e o Ensino Remoto Emergencial (ERE), uma modalidade de ensino de emergência criado para possibilitar a continuidade das atividades acadêmicas (GUSSO et al, 2020). Essas novas limitações trouxeram impactos significativos, em grande parte negativos, para a saúde mental da população, como situações de estresse, angústia e ansiedade, que geram desconfortos tanto no presente, como podem acabar trazendo consequências mais duradouras com potencial de se prolongar para o resto da vida. 

Devido a essa nova realidade, o distanciamento, apesar de necessário para minimizar a propagação e o contágio da Covid-19, trouxe mudanças na forma de se relacionar com os outros. Mudanças que afetam o lazer, trabalho, estudo e vida pessoal, que passam a acontecer de forma virtual, trazendo vários prejuízos (CAVALCANTE, 2020).

Diante dos poucos estudos nesse campo, este trabalho visa entender um pouco mais sobre as consequências trazidas pela pandemia às relações sociais de estudantes universitários do Vale do São Francisco, sobretudo em detrimento do ERE na disposição de socializar.

 

      Trata-se, portanto, de um trabalho descritivo, de caráter quantitativo, que ocorreu na plataforma onlineGoogle Formulários com estudantes universitários de faculdades públicas e privadas. Este trabalho utiliza-se de um questionário baseado na escala de Likert para coleta de dados (Discordo Totalmente, Discordo Parcialmente, Nem concordo nem discordo, Concordo Parcialmente e Concordo Totalmente), sendo analisados por estatística descritiva.
        Buscou-se compreender a Influência do Ensino Remoto Emergencial (ERE) nas relações sociais de estudantes universitários, sendo 
o questionário autopreenchível para avaliação subjetiva de aspectos das relações sociais impostas pela pandemia, impactos do ensino remoto nas relações sociais, além de conter perguntas de identificação sociodemográfica. Para a construção teórica foram colhidas informações de plataformas online como o Google Acadêmico, Scielo, através dos seguintes descritores: Ensino Remoto Emergencial, Universitários, impactos psicossociais ensino remoto, isolamento social impacto psicossocial.

As afirmativas e perguntas dos questionários estão expostas no quadro a seguir:

 Quadro 1: Questionário

 

                 Fonte: os autores

 

No total 16 estudantes responderam ao questionário, sendo a sua maioria mulheres, ocupando 62,5 % do total (10). A faixa etária dos estudantes foi de 19 a 25 anos.

Quando responderam à primeira afirmativa, que tratava de se sentir mais ativo socialmente anteriormente à pandemia, 50 % dos estudantes (8) afirmaram que concordavam/concordavam totalmente. Em relação à segunda afirmativa, 81, 25 % dos estudantes (13) concordaram/concordaram totalmente com que suas formas de socializar foram afetadas pelas características atípicas do ERE. 

Adiante, 50 % dos estudantes (8) concordaram/ concordaram totalmente que se sentem inseguros(a)s para voltar a socializar após o ERE.  Além disso,  81,25 % dos participantes (13) se perceberam/sentiram mais introvertidos ao concordar/concordar totalmente, assim como outros 81,25 % dos estudantes (13) concordaram/concordaram totalmente que  se sentem desconfortáveis ao realizarem atividades que tenham muito contato social.

Foi perguntado também aos estudantes se suas universidades tinham utilizado estratégias ou métodos que evitassem ou amenizassem as implicações negativas do ERE sobre a sociabilidade de seus discentes. Dos 16 estudantes, 93,75 % (15) responderam negativamente à pergunta.

Por fim, foi perguntado quais estratégias foram utilizadas para aqueles que responderam positivamente à pergunta anterior, e para aqueles que responderam negativamente foi perguntado quais estratégias poderiam ser adotadas pelas universidades. O estudante que observou estratégias de enfrentamento por parte da universidade referendou: Fazer bastante coisas interativas e em grupos, sempre nos colocando em grupos de novas pessoas, pra trabalharmos juntos. Acredito também ser o máximo que se possa fazer nesse período”.

Por outro lado, o quadro a seguir traz um apanhado das respostas escritas pelos estudantes que poderiam sugerir estratégias por parte da sua universidade para diminuir os impactos do ERE nas suas relações sociais. 

 

                                  Figura 1. Estratégias que poderiam ser adotadas


                Fonte: os autores

 

        Os resultados corroboram com achados sobre o tema. Segundo Gonçalves, Oliveira e Pinheiro (2020), as relações são construídas com base nas emoções, sejam positivas ou negativas, que se apresentam num determinado momento do espaço-tempo. Em um contexto de pandemia e isolamento social, há uma alteração e a necessidade por novas formas de contato. Assim, é possível que o contato interpessoal dos estudantes foi afetado pelo ERE, uma vez que as novas dinâmicas de ensino às quais foram expostos afetam o cotidiano e influenciam na forma como lidam com o mundo e com os outros. Achados de Góis e Ramos (2021) sobre o impacto do ensino remoto em estudantes de física trazem que tristeza, irritação e ansiedade são comuns e devem ser considerados no processo de ensino, assim como o medo (GONÇALVES; OLIVEIRA; PINHEIRO, 2020).

 

        Além disso, em níveis exagerados, essa resposta pode se tornar desadaptativa e “paralisar” o indivíduo - o que pode ser ainda mais comum em pessoas em vulnerabilidade, o que pode estar associado aos  81,25 % dos estudantes que concordaram estar desconfortáveis em realizar atividades que possuem muito contato social.   Desta forma, é míster que as instituições coloquem em prática estratégias que ajudem seus discentes a lidar com as implicações da pandemia e que tragam a discussão dos determinantes sociais da saúde, que não se calca apenas no processo saúde-doença, mas também nas relações socioculturais (BEZERRA et al., 2020), para que os discentes se sintam acolhidos e tenham acesso à estratégias de enfrentamento para evitar o sofrimento psicológico consequente desta nova realidade, lançando mão de práticas mais versáteis, dinâmicas e acolhedoras.

 

 

Esse texto é produto do processo vivido no âmbito da disciplina Tópicos Especiais em Psicologia - Interfaces Saúde e Educação, do curso de Psicologia da Univasf, tendo como professores Virgínia de Oliveira Alves Passos e Marcelo Silva de Souza Ribeiro em Outubro de 2021.


Para Saber Mais:

 

 

BEZERRA, C. B. et al. Impacto psicossocial do isolamento durante pandemia de covid-19 na população brasileira: análise transversal preliminar. Saúde e Sociedade, v.29, p. 1-10, 2020.

 

CAVALCANTE, F. R.  Aplicativos para Smartphones que Possibilitam o Lazer em Tempos de Lockdown: Entre a Socialização, o Entretenimento e as Práticas Corporais. LICERE - Revista Do Programa De Pós-graduação Interdisciplinar Em Estudos Do Lazer, v.23, n. 3, p. 369–390, 2020. 

 

GÓIS, R. C. P. de; RAMOS, A. F. Percepção dos acadêmicos de Física acerca do ensino remoto na pandemia da Covid-19. Somma: Revista Científica do Instituto Federal do Piauí, v. 7, n. 1, p. 1-16, 2021.

 

GONÇALVES, M.; OLIVEIRA, M. A.; PINHEIRO, A. P. Do Isolamento Social ao Crescimento Pessoal: Reflexões Sobre o Impacto Psicossocial da Pandemia. Gazeta Médica, v. 2, n. 7, p. 151-155, 2020.

 

GUSSO, H.L. et al. Ensino Superior em Tempos de Pandemia: diretrizes à gestão universitária. Educ. Soc., v. 41, 2020.  

 

PORTAL SETE SEGUNDOS. Pesquisa aponta que 43% dos universitários sentem falta de contato social no ensino remoto. 2020. <https://www.7segundos.com.br/arapiraca/noticias/2020/07/29/155521-pesquisa-aponta-que-43-dos-universitarios-sentem-falta-de-contato-social-no-ensino-remoto>. Acesso em 18 de Out. de 2021. 

 

SEGATA, J. Covid-19: escalas da pandemia e escalas da antropologia. Boletim Cientistas sociais e o coronavírus, v. 23, 2020.

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário