segunda-feira, 1 de novembro de 2021

MUDANÇAS ASSOCIADAS AO TEMPO E EXPOSIÇÃO A TELAS EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS RESULTANTES DA EFETIVAÇÃO DO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL (ERE) DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19




Camila Silva Palmeira dos Santos

Carina Oliveira Rios

Liliany Januário Gondim

Maria de Fátima Souza

Maurício Otávio Loura de Souza

Graduandos em Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco


Introdução

 

Os smartphones, termo em inglês cujo tradução literal é telefones inteligentes, se tornaram populares e passaram a compor diversos espaços de convívio social, principalmente o universitário (PEREIRA, 2016).Neste contexto, o uso de tais aparelhos no Brasil se tornou generalizado. Dados de uma pesquisa global realizada pelo Instituto Statista, veiculada no Brasil pela revista Exame, revelam que os brasileiros possuem um tempo médio de uso dos smartphones diário avaliado em 4 horas e 48 minutos, maior que os indicadores de todos os outros países (BARBOSA, et al., 2013).

Devido a  pandemia do novo coronavírus em 2019, COVID-19 (sigla em inglês para coronavírus disease 2019) reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 11 de março de 2020,  diversas medidas de proteção foram adotadas pelos estados e municípios com o objetivo de diminuir a taxa de contaminação e morte, uma das medidas implementadas foram a substituição das atividades escolares presenciais para o Ensino Remoto Emergencial (ERE) estabelecido através das portarias  nº 343 (BRASIL, 2020a) e 345 (BRASIL,2020b) do Ministério da Educação e o fechamento de comércios considerados não essenciais. Autoridades públicas locais chegaram a decretar bloqueio total (lockdown), com punições para estabelecimentos e indivíduos que não se adequassem às normativas. A restrição social demonstrou ser a medida mais difundida pelas autoridades, visto que se apresentou como mais efetiva para evitar a disseminação da doença e achatar a curva de transmissão do coronavírus. 

Diante desse contexto, o presente trabalho teve como objetivo enfatizar as mudanças associadas ao tempo e exposição a telas em estudantes universitários resultantes da efetivação do ERE durante a pandemia do COVID-19.

 

Desenvolvimento

 

Para realizarmos a coleta das respostas dos participantes adotamos um questionário misto, sobre a temática que envolve o tempo de exposição a telas e comportamentos associados. Inicialmente, elencamos como público alvo estudantes universitários que estavam cursando o Ensino Remoto Emergencial, mediante ao objetivo do questionário, visando uma análise sobre o tempo médio de exposição em relação às atividades do ensino remoto e outras questões relacionadas a saúde dos estudantes universitários imersos nesse método de ensino. 

Nesse contexto, 68 estudantes responderam ao questionário, apresentando nas informações sociodemográficas a indicação de 49 (72,1%) respondentes do sexo feminino, 18 (26,5%) do sexo masculino e 1 (1,5%) identificou-se com a categoria outros. Em relação a idade dos participantes, a média foi correspondente a 23 anos, sendo que a menor idade correspondeu a 18 anos e a maior a 60 anos. 

As respostas indicaram que 54 (79,4%) estudantes passam mais de 8 horas expostos às telas diariamente, sendo que para 41 (60,3%) a média de exposição relativa a atividades relacionadas à universidade é de 4 a 6 horas. Através desses dados e análise da literatura, é possível existir, de acordo com Blehm et al (2005),  a possibilidade da ocorrência da Síndrome da Visão do Computador (CVS) para muitos estudantes, devido à exposição maior do que 3 horas diárias à telas de dispositivos eletrônicos. 

Nesse contexto, de acordo com Blehm et al. (2005), o principal contribuinte dos sintomas da síndrome da visão do computador parece ser o olho seco, resultando em desconforto, distúrbios visuais, instabilidade do filme lacrimal e fadiga visual. Mediante a esse quadro, estratégias que visam combater essa situação são necessárias. Quando questionados sobre esse aspecto, 60 (88,23%) estudantes apontaram utilizar alguma estratégia para minimizar os danos visuais causados através da exposição das telas, variando desde redução no brilho dos equipamentos até a realização de pequenas pausas durante a exposição. Esses comportamentos corroboram com o que é indicado através da literatura para melhorar o conforto visual. (GENTIL et al, 2011, p. 2).

Referente à análise da ocorrência de incômodo físico no público participante, foi sugerido problemas como dores na coluna, problemas de visão e dores de cabeça. Dessa maneira, foi constatado que 2,9% dos participantes não costumam apresentar nenhum desses sintomas, 4,4% relataram a presença de incômodo no olho/visão, 8,8% afirmaram sentir dores na coluna constantemente, 10,3% revelaram apresentar dores de cabeça com frequência, enquanto 73,5% dos participantes afirmaram sentir mais de um desses incômodos ou todos eles. Assim, fica bem evidente a relação entre uso excessivo de telas e a ocorrência dos sintomas supracitados como um prejuízo na saúde física de nossa população alvo.

Relativo ao tópico ansiedade, em sua maioria, por mais que as respostas não tenham sido afirmativas em relação a sintomas, com um total de 22 com indicativos positivos e 46 com índices de negação em relação a não identificação de sintoma ou a falta do mesmo, é importante que seja relevado a quantidade de 32,35% de universitários que apontaram o fato de perceberem-se mais ansiosos quando necessitam dedicar um maior tempo no uso de telas, afinal indicadores de ansiedade podem representar uma elevada incidência de prejuízo na saúde mental no contexto universitário (CHERNOMAS; SHAPIRO, 2013; GALINDO; MORENO; MUÑOZ, 2009; SEQUEIRA et al., 2013; SOH et al., 2013, apud TOLEDO et al., 2018, p. 15).

Correspondente ao quesito de como se encontra os participantes da pesquisa com o aspecto sono e se há alguma dificuldade para manter a qualidade do mesmo, os dados encontrados foram que 12% afirmaram apresentar algum tipo de dificuldade para dormir de modo ocasional, 25% relataram não apresentar dificuldade ou problema na qualidade do sono, enquanto 63% confirmaram apresentar algum tipo de dificuldade no quesito sono, principalmente problemas que correspondem à sintomas de insônia. É fato que manter uma qualidade de sono é essencial para a saúde física e mental do indivíduo, principalmente por fatores como a regulação do equilíbrio geral do organismo e para a consolidação da memória. Além disso, de acordo com Becker e Gregory (2020, apud COELHO, 2020, p. 11) diversos estudos afirmam que a qualidade do sono é uma das ferramentas para o desenvolvimento cognitivo especialmente entre universitários. 

Por fim, seguindo a perspectiva de nossa pesquisa, a mesma também buscou retratar acerca da possível dificuldade de concentração no cotidiano dos participantes da pesquisa e, sucessivamente, foi apresentado que 8,82% dos participantes não apresentavam nenhuma dificuldade em manter o foco nas atividades cotidianas, 16,17% afirmaram possuir dificuldade média em manter a concentração, já 75% dos participantes relataram apresentar grande dificuldade de se concentrar em suas atividades rotineiras. Apesar da dificuldade de achados na literatura acerca da relação do uso excessivo de telas e dificuldade em concentração, foi nítido o quanto é um tema bastante pertinente na rotina dos universitários voluntários de nossa pesquisa, indicando, desse modo, a real necessidade de maiores estudos que possam vir a retratar esse tema.

 

Conclusão 

            De acordo com os dados apresentados, nota-se que o aumento no tempo de exposição às telas em estudantes universitários resultantes da efetivação do ERE durante a pandemia do COVID-19 apontam danos físicos como desconforto decorrente de olhos secos, distúrbios visuais, instabilidade do filme lacrimal e fadiga visual. Além disso, os desconfortos mentais também se fazem presentes, como ansiedade e dificuldade para dormir e queda na qualidade do sono. Vale ressaltar que ainda que os estudantes utilizem estratégias para amenizar os desconfortos, pode-se notar que estes permanecem se fazendo presentes no cotidiano, porém com uma intensidade reduzida. Sendo assim, torna-se importante o manejo dos professores na distribuição de demandas para os estudantes, logo reduzindo a sobrecarga. É necessário que os universitários reforcem a divisão de tempo e tarefas para que possam passar menos tempo em frente a telas sem que prejudiquem suas responsabilidades com a universidade.

 


Esse texto é produto do processo vivido no âmbito da disciplina Tópicos Especiais em Psicologia - Interfaces Saúde e Educação, do curso de Psicologia da Univasf, tendo como professores Virgínia de Oliveira Alves Passos e Marcelo Silva de Souza Ribeiro em Outubro de 2021.



Para Saber Mais:

 

BLEHM, Clayton et al.  Computer vision syndrome: a reviewSurv. Ophthalmol, 3. ed. Texas. 2005. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.survophthal.2005.02.008

 

BRASIL. Portaria n. 343, de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus - COVID-19. Brasília: Casa Civil, 2020b. Disponível em:https://www.in.gov.br/web/dou//portaria-n-343-de-17-de-marco-de-2020-248564376. Acesso em: 18 Out. 2021.

 

BRASIL. Portaria n. 345, de 19 de Março de 2020. Altera a Portaria MEC nº 343, de 17 de março de 2020c. Brasília: Casa Civil, 2020c. Disponível em: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=603&p agina=1&data=19/03/2020&totalArquivos=1. Acesso em: 18 Out. 2021.

 

GENTIL, Rosana et alSíndrome da visão do computadorREVISTA PONTO DE VISTA,ISSN: 1983-2656 N.2, p.64 a 66. vol. 2. 2020.

 

VIEIRA,OLIVEIRA,OLIVEIRA.Kaio Henrique,Márcio Lopes,Katia Imaculada.Tempo de uso de smartphones por estudantes do Ensino Médio. REVISTA PONTO DE VISTA,ISSN: 1983-2656 N.9, p.1 a 14– vol. 2 – 2020.

 

MALTA, Deborah Carvalho et al. A pandemia da COVID-19 e as mudanças no estilo de vida dos brasileiros adultos: um estudo transversal, 2020. Epidemiologia e Serviços de Saúde [online]. 2020, v. 29, n. 4 [Acessado 17 Outubro 2021] , e2020407. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1679-49742020000400026>. Epub 25 Set 2020. ISSN 2237-9622. 

 

COELHO, A. P. S.; OLIVEIRA, D. S.; FERNANDES, E. T. B. S. .; SANTOS, A. L. de S.; RIOS, M. O. .; FERNANDES, E. S. F. .; NOVAES, C. P.; PEREIRA, T. B. .; FERNANDES, T. S. S. . Saúde mental e qualidade do sono entre estudantes universitários em tempos de pandemia da COVID-19: experiência de um programa de assistência estudantilResearch, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 9, p. e943998074, 2020. DOI: 10.33448/rsd-v9i9.8074. 

 

TOLEDO, T. P.; OLIVEIRA, N.  R.  C. de; PADOVANI, R. D. C.. Reflexões sobre o perfil e as demandas de estudantes universitários de uma Universidade Pública Federal. Qualidade de vida, esporte e lazer no cotidiano do universitário, v. 1, p. 15-32, 2014.

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