segunda-feira, 1 de novembro de 2021

PERCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE ESTUDANTES ACERCA DAS EXPERIÊNCIAS COM ENSINO HÍBRIDO NA PANDEMIA DE COVID-19

 


Fonte: Ensino híbrido veio para ficar!. Disponível em: <https://simulare.com.br/blog/ensino-hibrido>, 

Acesso em 19 de out. de 2021 


Alexia Carvalho Meredith

Alexsandra Amorim Viana Sandes

Danielle Patrícia Lopes Nascimento

Érica Araújo Rodrigues

Izabela Mororó de Souza

(Graduandas do curso de Psicologia na Universidade Federal do Vale do São Francisco)


Introdução

A pandemia da COVID-19 impactou a vida de pessoas no mundo inteiro de diferentes formas. Conforme o passar do tempo, sem uma expectativa de resolução, o ensino remoto se fez cada vez mais necessário e presente na vida de estudantes, colegiais e universitários, como forma de evitar a disseminação do vírus, e diminuir o número de mortes. Essa prática foi adotada por praticamente todo o mundo, inclusive o Brasil. Novas formas de aprender surgiram, com ferramentas sendo experimentadas e difundidas, de modo a facilitar cada vez mais o processo de aprendizado num contexto atípico para estudantes e professores - onde a única forma de contato passou a ser virtual, com semestres inteiros sendo realizados sem contato presencial entre aluno e professor. 

O processo de ensino remoto, por si só, trouxe à tona diferenças sociais/econômicas. O acesso de pessoas de baixa renda a um aparelho eletrônico que pudesse servir como instrumento para as aulas nem sempre foi algo possível, ainda mais num contexto onde a fome e pobreza aumentaram. Estima-se que 20 milhões de pessoas estão passando fome no Brasil, valor agravado com a pandemia. É difícil esperar que famílias que não possuem o básico para sobreviver, possam contar com internet e celulares para o Ensino Remoto. 

Então o tempo passou. E com o tempo, as vacinações trouxeram uma nova esperança de retomar os estudos presencialmente, por mais que os impactos da COVID-19 ultrapassem os limites das escolas/faculdades. O ensino, que de presencial, passou para remoto, agora sofreria uma nova transformação: Híbrido, nome atribuído ao ensino que integraria o presencial com o remoto, conforme as demandas/necessidades dos componentes curriculares. 

E como toda transformação, os estudantes precisaram se adaptar a outra realidade, muito mais recente, desejada por alguns e indesejada para outros. Sendo assim, o objetivo deste ensaio foi investigar o processo de adaptação ao ensino híbrido com base num questionário fechado intitulado “Percepções e sentimentos de estudantes acerca das experiências com ensino híbrido na pandemia da COVID-19”, aplicado como atividade da disciplina “Interfaces Saúde e Educação” do curso de Psicologia da Univasf, a fim de perceber quais impactos essa nova mudança trouxe a saúde mental dos estudantes de ensino médio e universitários (com perguntas introdutórias que pediam a identificação de sua instituição de ensino como pública ou privada), assim como comparar com o estado mental anterior, no formato remoto/presencial. Considerou-se ainda as diferenças sociais/econômicas, e como elas podem afetar a percepção do estudante, tal como adaptação às novas formas de ensino.

Em relação a sobrecarga

Desse modo, para melhor discutir os dados coletados pela atividade, divide-se a análise em três eixos temáticos de acordo com os temas abordados pelas perguntas do questionário (“Em relação a sobrecarga”, “Em relação ao aproveitamento” e “Em relação ao impacto emocional/na saúde mental”).

 

Diante disso, percebe-se inicialmente que o ensino no contexto pandêmico trouxe uma sobrecarga tanto aos estudantes do ensino médio como aos estudantes universitários. Com o fato de que esses grupos apontaram ter uma dificuldade (ainda que em alguns casos relativa) de se adaptar ao ensino durante esse momento, que em se tratando de algo completamente diferente e nunca vivenciado antes, é mostrado como ele se instituiu prejudicial à aprendizagem e se constitui como um elemento estressor para os alunos.

 

Destarte, dado a questão da dificuldade de adaptação ser bastante apresentada pelos estudantes em geral, explicita-se a necessidade de refletir sobre os impactos específicos do fechamento de escolas sobre estudantes em contextos afetados por crises e outros grupos vulneráveis, assim como oferecer soluções adaptadas a cada caso, além da identificação e a superação de padrões de desigualdade e exclusão na educação, bem como práticas culturais e sociais prejudiciais (UNESCO, 2020), visto que os alunos de instituições públicas, ao serem questionados se esse momento trouxe um aumento na sobrecarga de atividades, demonstraram um maior aumento na sobrecarga de atividades domésticas e familiares nesse momento de pandemia, traz-se também o questionamento do que as instituições de ensino desses alunos estão fazendo para ajudá-los, se tem consciência das tamanhas dificuldades que estão sendo passadas, quais os recursos que estão sendo fornecidos para diminuir essa sobrecarga e essa dificuldade.

 

Outrossim, com a adoção do ensino híbrido por parte de algumas instituições, percebe-se algo que já havia sido constatado pela própria implantação do ensino remoto: a tamanha modificação da rotina causada por essa metodologia de ensino. Nesse quesito, levando-se em consideração que esse método envolve a combinação entre estudos no espaço físico das instituições e fora delas e uma junção dos modelos presencial e a distância, utilizando como ferramenta essencial e indispensável a esse processo a tecnologia (OLIVEIRA et al, 2021), é imprescindível que tal acontecimento acabe por mudar a rotina dos estudantes, dado que nesse modelo, eles passam a ser responsáveis por sua aprendizagem, devendo assumir uma postura mais participativa, resolvendo problemas, criando oportunidades para a construção de seu próprio conhecimento (VALENTE,2015 apud OLIVEIRA et al,2021)

Em relação ao aproveitamento

A adoção de um ensino híbrido para os estudantes tanto de ensino médio como de ensino superior foi mais ou menos proveitoso, ou seja, houve uma melhora em relação ao ensino remoto, porém ainda há falhas nessa sistematização. Em segundo lugar, é preciso falar que a complexidade dos conteúdos pode recomendar que, no primeiro contato, o aluno não esteja sozinho (em casa), sob pena de inviabilizar ou reduzir a performance na fase de aplicação em sala de aula (BRITO, 2020). Para ser bem reproduzido o ensino híbrido exige um potencial do estudante quando em casa, pois a falta desse conteúdo pode atrapalhar ainda mais quando estiver presencial. Desta forma deve ser levado em conta que em casa o aluno possa está inserido em um contexto onde tenha que realizar várias tarefas domésticas, além de que terceiros podem retirar sua concentração.

Para que o ensino híbrido seja totalmente proveitoso observar-se a necessidade de um bom estudo através do remoto, que na pesquisa foi apontado como o menos proveitoso. Quando perguntados somente sobre o ensino remoto, os estudantes mantiveram suas respostas entre pouco proveitoso e nada proveitoso, isso quer dizer, que esse método de aprendizagem desmotiva os alunos e exigem muito mais esforços. Vê-se, portanto, que os modelos pedagógicos adotados no ensino híbrido não são apenas formas diferentes de provocar a curiosidade ou de tornar a aprendizagem mais polissêmica; pelo contrário, os modelos se interpenetram, produzindo nova identidade epistemológica à prática docente, já que não existe, exatamente, uma fronteira entre um ambiente e outro (BRITO, 2020).

Existe uma necessidade de aperfeiçoamento nos modelos de ensino, pois mesmo quando a aula é presencial os estudantes apontam defeitos. Quando questionados sobre a diferença do ensino híbrido para o presencial as respostas ficaram divididas entre muito e pouco proveitoso. Dessa forma podemos frisar a importância das singularidades, pois para alguns estudantes ter a disponibilidade de ter algumas horas de estudo virtual e outras presencial trouxe ganhos na sua aprendizagem, porém para os demais isso atrapalha sua rotina de estudos.

Em relação ao impacto emocional/na saúde mental

O avanço da pandemia fez com que fosse aplicado o ensino remoto emergencial para os estudantes em todos os níveis de ensino. Os estudantes sofrem os impactos na saúde mental em decorrência de diversas fontes estressoras fruto da pandemia, como: afastamento social, a falta de informações claras dadas pelas autoridades área de saúde e sanitárias, prejuízos financeiros, mudanças repentinas na rotina, perdas de produtividade nos estudos, preocupações com saúde, entre outros (MARROQUÍN, VINE & MORGAN, 2020, LASHERAS et al., 2020). Nesse sentido, as fontes estressoras da pandemia corroboraram para um notório impacto negativo do EAD na vida e saúde mental dos estudantes. 

 

Nesse contexto, convém refletir acerca da melhora no estado mental apontada pela maioria dos respondentes do questionário com a migração do ensino remoto para o híbrido. Os estudos atuais mostram influências da situação da pandemia no comportamento das pessoas no cotidiano e causando ansiedade, medo, depressão e pânico (HOLMES et al., 2020; JIAO et al., 2020). Os estudantes sofreram impactos negativos com a pandemia e consequentemente com o ensino remoto emergencial e de acordo com o questionário, apontaram melhoras na sua saúde mental após a migração para o ensino híbrido, como também a influência dessa modalidade de ensino no estado emocional. Convém refletir acerca desse impacto positivo do ensino híbrido, uma vez que esse proporciona maior interação social, melhor separação de ambientes de descanso e de estudo, entre outros fatores que podem influenciar positivamente a vida dos estudantes.

 

Considerações Finais

 

Os resultados apresentados nos permitem fazer algumas análises acerca da realidade na qual estamos inseridos, a coleta de dados foi realizada com base em diferenças de escolaridade, a nível médio e superior, assim como aferir a diferença de instituição. Pensar a experiência individual em meio a uma pandemia pode agregar o conteúdo dos nossos debates, as condições financeiras, a qualidade do ensino, a disposição e estrutura da escola para se atentar às demandas dos alunos, as medidas de restrição social impostas pelo coronavírus, tudo isso representa fatores que contribuem para as respostas, e cabe a nós, de algum modo, levantar certas questões. 

Portanto, foi possível perceber uma diferença relativa com relação a adaptação do ensino remoto, sendo que os alunos de instituição privada apontaram sentir certa dificuldade para se adequar a este novo ensino, é interessante pensar na modificação do sistema educacional de forma responsável, até que ponto esses alunos foram informados e estavam de acordos; ademais, esse poderia ser um ponto explicado pela autonomia e independência dos alunos, o ensino em rede privada possui uma política muita mais exigente. Um ponto comum é a alteração na rotina, o ensino conseguiu impactar o cotidiano não só dos alunos, mas de todo o seu contexto familiar e afazeres: ter acesso constante e intenso de internet, a ausência do espaço adequado para acompanhar as aulas. O tipo de instituição demarcou um ponto relevante na diferenciação de respostas. Outra temática dizia respeito ao aproveitamento, onde os alunos apontaram respostas diversas para a classificação do ensino híbrido, levando a compreender que existe uma hierarquia na ordem do aproveitamento: o ensino presencial, o ensino híbrido e o ensino remoto.

 A última temática se referia ao estado emocional dos alunos, em que se constatou uma influência expressiva do tipo de ensino, desse modo, é importante questionar como tem sido essa influência, além da pressão regular que os estudos e a rotina escolar apresentam, a pandemia traz novos agravantes já citados anteriormente. O medo de contaminação pode ser um sentimento paralisante que agrava o desempenho do aluno, assim como a situação na qual o aluno está submetido, todos esses aspectos podem resultar em uma experiência negativa. 

Dessa forma, a partir dos pontos que foram trazidos, é pertinente tratar das diferenças sociais e como elas podem impactar, como já impactam, o ensino e aprendizagem dos alunos, da mesma forma, a importância que o emocional atribui a esses processos, questões que devem ser discutidas em âmbito ministerial.

 

 

 

Para Saber Mais:

 

BRITO, J. M. da S. (2020). A Singularidade Pedagógica do Ensino Híbrido. EaD Em Foco10(1). https://doi.org/10.18264/eadf.v10i1.948 

 

ENSINO HÍBRIDO veio para ficar!. Simulare: Jogos empresariais. 27 out. 2020. Disponível em:<https://simulare.com.br/blog/ensino-hibrido>. Acesso em 19 out. 2020.

 

HOLMES, E. A., O’Connor, R. C., Perry, V. H., Tracey, I., Wessely, S., Arseneault, L., Bullmore, E. (2020). Multidisciplinary research priorities for the COVID-19 pandemic: a call for action for mental health science. The Lancet Psychiatry, 15, 1-14. http://dx.doi.org/10.1016/S2215-0366(20)30168-1

 

MARROQUÍN, B. et al., (2020) Mental health during the COVID-19 pandemic: effects of stay-at-home policies, social distancing behavior, and social resources. Psychiatry Research, 293:113419.10.1016/j.psychres.2020.113419.

 

OLIVEIRA, M. B. de, Silva, L. C. T., Canazaro, J. V., Carvalhido, M. L. L., Souza, R. R. C. D., Neto, J. B., … Pelegrini, J. F. de M. . O ENSINO HÍBRIDO NO BRASIL APÓS PANDEMIA DO COVID-19 / HYBRID TEACHING IN BRAZIL AFTER COVID-19 PANDEMIC. Brazilian Journal of Development7(1), 918–932, 2021. Disponível em: <https://doi.org/10.34117/bjdv7n1-061>. Acesso em 17 de out. de 2021

 

UNESCO. Planejamento educacional sensível a crises. Brasília, 2020.

 


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