sábado, 12 de junho de 2021

Esforços coletivos para remediar e prevenir



(Retirado da internet. disponível em: http://fgvclear.org/pt/pesquisa-do-fgv-eesp-clear-mensura-impactos-da-pandemia-na-educacao-brasileira/)


                                                                                                                                  Isabele Tenório dos Santos

Graduanda em Psicologia 

Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf)

isabe22le@gmail.com

 

A pandemia da Covid-19 impôs situações inesperadas e extraordinárias a grande parte do mundo. Os efeitos sociais das respostas de vários países, inclusive o Brasil, podem ser vistos e sentidos no formato de sobrecarga do sistema de saúde, perda de empregos em massa ou adaptação para o home office, dentre várias outras mudanças geradoras de preocupação, estresse ou fadiga nas pessoas. Embora os impactos pareçam atingir com mais força a camada adulta da população, a verdade é que eles também têm o potencial de afetar o desenvolvimento das crianças e jovens em curto, médio e longo prazo.

No âmbito da educação das crianças e adolescentes, um relatório da UNESCO aponta que 191 países tiveram suas escolas fechadas, afetando cerca de 70% da população estudantil mundial - o que equivale a mais de um bilhão de pessoas. Ainda segundo a organização, mais de 100 milhões de crianças estão sofrendo rupturas em seu processo de alfabetização, prejudicando seus níveis de proficiência e ameaçando ganhos de mais de 20 anos de esforços globais em prol da educação XXX. É importante nos atentarmos para o fato de que os danos à educação podem ser cumulativos, mesmo com o retorno às escolas, caso não haja uma estratégia sólida de identificação e acompanhamento sistemáticos dos alunos e os recursos necessários à remediação escolar não sejam ofertados.

Neste cenário de fragilização dos sistemas educacionais, as escolas precisaram contar, mais do que nunca, com o apoio das famílias e comunidade. Quando não bem acompanhadas e amparadas, as famílias podem se sentir sobrecarregadas com o aumento de responsabilidades dentro do cenário atual, pois já enfrentam estressores outros fora da educação de suas crianças, como o medo pela contaminação pelo Coronavírus e aflições de natureza econômica. 

Alguns dos desafios encontrados pelas famílias foram a falta de preparação para assumir o monitoramento em tempo integral da educação das crianças, a mudança da rotina familiar, a mudança nas relações interpessoais e na organização de sua rede de apoio. Esses e outros fatores podem levar a uma desestruturação no suporte oferecido à escolarização de suas crianças e adolescentes.

Pensando na atual situação que põe o processo de aprendizagem de muitos educandos em vulnerabilidade, estratégias diversas devem ser e vêm sendo adotadas tendo em vista a redução do risco de interrupção da educação. Essas abordagens são pensadas para favorecer a efetivação da escolaridade em médio e longo prazo, então apresentam uma perspectiva multirrisco e são orientadas para a sustentabilidade. Elas são o que a UNESCO denomina planejamento educacional sensível a crises (PESC). 

Esta abordagem prevê a redução e a gestão de riscos à educação em tempos de crise social, englobando estratégias de planejamento e oferta de ensino que ocorrem no pré, durante e pós-crise. Sua prioridade é assegurar a continuidade da oferta de ensino aos educandos, estando sua qualidade alinhada com uma perspectiva de mitigação e remediação de danos possíveis em situação de crise.

Desse modo, o PESC chama a atenção para que tipo de resposta emergencial podemos dar em uma situação similar a essa que estamos vivendo agora, implicando em uma análise dos recursos de contingência disponíveis no setor da educação. No contexto da COVID-19, isso pode incluir uma revisão dos programas existentes de ensino aberto e à distância e dos recursos disponíveis para ampliar a oferta e a acessibilidade de tais programas. Além disso, implica em olhar também para a capacitação dos profissionais de educação, haja vista a explicitação de que ter os recursos não é sinônimo de saber usá-los da melhor maneira possível que o cenário atual nos trouxe, onde muitos alunos e professores apresentaram dificuldades para se adaptarem ao ensino remoto.

Outro ponto importante de se considerar é a identificação e a superação de padrões de desigualdade e exclusão na educação, bem como práticas culturais e sociais prejudiciais. Com o fechamento das escolas, muitas crianças que provinham de ambientes vulneráveis e marginalizados se viram tendo ainda menos recursos para manter sua educação e qualidade de vida.  É necessário pensar em quem se encontra excluído do aprendizado digital - seja por motivos de não ter acesso à tecnologia necessária, seja por motivos outros muito mais ligados a correntes de pensamento mais conservadoras e machistas. 

Tome por exemplo o caso do Brasil, onde mais de 26.500.000 meninas tiveram sua escolarização interrompida ou prejudicada com o fechamento das escolas, e quanto mais avançada no ensino básico maiores as suas chances de interromperem seus estudos. É fundamental refletir sobre os impactos específicos do fechamento das escolas nas meninas e em outros grupos vulneráveis, assim como oferecer soluções adaptadas a cada caso, tentando resguardar e garantir ao máximo os ganhos obtidos com a inclusão escolar dessas parcelas da população. 

Assim, é fundamental que as medidas adotadas para efetivar o ensino remoto levem em consideração o público afetado, a voz dos profissionais que atuam na área (professores, gestores e outros profissionais da educação) e as capacidades existentes. É necessário também uma coerência entre as esferas educacionais nacionais e subnacionais. O planejamento no contexto da COVID-19 requer também o engajamento das comunidades e famílias para identificar estratégias eficazes de aprendizagem remota e comunicação. Os esforços devem ser coletivos para evitar retrocessos educacionais e sociais, e evitar a perpetuação de desigualdades e práticas discriminatórias. 

A pandemia atingiu e tem atingido mais fortemente famílias que já estavam em situação de vulnerabilidade socioeconômica e marginalização, acentuando diferenças sociais previamente existentes. Para prevenir impactos ainda mais graves em quem mais precisa das oportunidades de escolarização, é necessário fortalecer o sistema de educação para torná-lo mais resiliente e funcional diante das adversidades neste período de pandemia. No entanto, quando pensamos que a escola faz parte do funcionamento de toda uma sociedade, em nível macro, e também é contexto de desenvolvimento humano, em nível micro, torna-se evidente que este processo não pode ocorrer isoladamente, mas, sim, lançar mão de uma abordagem intersetorial.

É preciso que o mundo se ajuste a essas novas realidades, com mudanças nas políticas não só de educação, como trabalho: ajuste de horas trabalhadas, suporte organizacional para as famílias; saúde com ações de educação em saúde e oferta de assistência à saúde mental; assistência social e proteção às crianças e adolescentes, de maneira articulada. 

 

Este texto é produto do processo vivido no âmbito da disciplina Educação e Políticas Públicas Inclusivas, do curso de Psicologia, da Univasf, tendo como prof. Marcelo Silva de Souza Ribeiro.

Para saber mais

UNESCO. Planejamento educacional sensível a crises - Nota Informativa ao Setor da Educação. 2020. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000373272_por

 

UNESCO. One year into COVID: prioritizing education recovery to avoid a generational catastrophe.  2020. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000376984?posInSet=9&queryId=N-794add76-dc4f-4681-bffb-70ef96557fee


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