sábado, 12 de junho de 2021

Pedagogia da autonomia e experiência de ensino vocacional: aproximações


          



                                                                                                                                                  Ana Leticia da Silva Graduanda em Psicologia 

Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf)

analeticiapsico@gmail.com


 

Paulo Freire é um renomado escritor e educador pernambucano, considerado o patrono da educação Brasileira, cujas contribuições reverberam mundo à fora. Em sua famosa obra “Pedagogia da autonomia”, publicada em 1996. Paulo Freire se dispõe a discutir as práticas que entende como essenciais aos saberes docentes. Infelizmente há alguns questionamentos acerca dos legados freireanos. Nada mais ideológico do que esses questionamentos, pois as evidências das contribuições da obra de Freire ao campo da educação são inúmeras.

De modo particular, e de relevância histórica, o documentário “Vocacional: uma aventura humana”, conta sobre a experiência única dos ginásios vocacionais em São Paulo na década de 1960. Escolas públicas com concepções e propostas educacionais libertadoras no esteio das influências freireanas.

É possível identificar convergências entre algumas ideias freireanas e as concepções libertadoras e, consequentemente, as práticas educacionais dos ginásios vocacionais. Ambas compartilham da visão da pessoa enquanto agente transformador de si e da sociedade. Ao longo da obra mencionada, Paulo Freire defende sua visão do sujeito como ser histórico, social, inacabado, e que se sabe como tal. É justamente no reconhecimento do inacabamento que reside seu potencial criador e transformador, é ele que dá sentido e permite a educação porque é a partir daí que se inicia o constante movimento de busca, ou melhor, uma aposta na curiosidade dos estudantes como marca de respeito e promoção da autonomia. De igual modo, é permeado por essas noções que os ginásios vocacionais desenvolvem suas práticas pedagógicas e seus processos de aprendizagem. 

Freire tece críticas a concepção bancária da educação, que entende a prática pedagógica enquanto a pura transferência do conhecimento do educador ao educando. Essa forma estática de concepção não abarca o diálogo, a espontaneidade, a dimensão política da experiência de aprendizagem, impedindo assim a criação de possibilidades para construção real do conhecimento. Construção essa que acontece de forma dialógica, horizontal, respeitando o saber que o educando possui, de modo que este ensina ao aprender e o professor aprende com aqueles aos quais ensina. 

Nessa perspectiva, o papel do educador é incentivar a curiosidade e a autonomia por parte do educando. É preciso que esteja disposto a ser questionado, chamado à dúvida, pois a formação se dá de maneira crítica e dialógica. Tanto o professor quanto o estudante são igualmente sujeitos de um mesmo processo. É por estimular a criatividade do estudante que este aflora seu potencial criador e por sua vez enriquece o ser professor. 

O ensino vocacional nos ginásios vocacionais se organizava de forma que não havia centralidade de conhecimento no papel do educador. Ao começo de todo ano letivo acontecia uma reunião onde pais, alunos, professores e restante dos funcionários juntos, decidiam quais temas seriam estudados naquele período, de forma que os alunos tinham papel ativo sobre seu processo de aprendizado, e ainda mais, a comunidade era integrada à escola. Os estudantes eram constantemente chamados a se auto avaliarem e avaliarem seus processos, o que permitia que pensassem sobre si. 

As avaliações não se resumiam apenas a provas, abarcavam todas as produções que os alunos faziam, seus papeis de liderança ou não e o trabalho dentro do grupo. Não há espaço e valorização apenas para a reprodução mecanicista de um conhecimento prévio, o que há é a visão do ser humano como ser multifacetado, em constante diálogo e cooperação com o outro. É através da relação dos educandos entre si e de todos com o educador, que estes se assumem como seres sociais e históricos, pensantes e comunicantes. 

Os alunos desenvolviam trabalhos sociais, de maneira interdisciplinar em serviços e espaços públicos, o que agia no sentido de promover à integração para com a comunidade. Tudo isso converge com o que Paulo Freire defendia quando dizia que acerca da necessária ligação entre os saberes curriculares e as experiências sociais dos alunos. 

Em determinado momento do documentário, um professor fala que foi durante essa experiência no vocacional que se descobriu como educador. Paulo Freire aborda a necessidade do professor de querer bem aos seus alunos. Esse ‘querer bem’ não como uma obrigatoriedade, nem como um desvio às questões éticas de seu papel, mas como um abraço à alegria natural decorrente da experiência docente, experiência essa que é essencialmente afetiva porque é da ordem do cuidado, da criação, da transformação. Nas palavras mesmas de Freire: “Transformar a experiência em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador” (FREIRE, 1996, p.16).

 

 

Este texto é produto do processo vivido no âmbito da disciplina Educação e Políticas Públicas Inclusivas, do curso de Psicologia, da Univasf, tendo como prof. Marcelo Silva de Souza Ribeiro.


 

Para saber mais

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa.  São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 

VENTURI, T. (Diretor). Vocacional: Uma Aventura Humana [Filme]. São Paulo: Olhar Imaginário & Mamute Filmes, 2011. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nJvR5DyYBOU&t=885s&ab_channel=PaulaFreirePaulaFreire

 

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