sábado, 23 de março de 2019

Manifestação, política, formação e encontros




Marcelo Silva de Souza Ribeiro


Petrolina. Nessa última manifestação do dia 22 de março de 2019, contra a proposta do governo a respeito da reforma da previdência social, pude experimentar o sentido educativo do ato político. Entre conversas com colegas e observações diversas muitas experiências enriquecedoras se fizeram presentes. Uma manifestação política como essa é muito mais que um simples ato carregado de palavras de ordem. Na verdade, é um palco onde atos políticos educativos se transbordam nas convivências, tensões, divergências e dialogicidades encontradas. É um estar de coração aberto aos acontecimentos inusitados e surpresas formativas. É encanto do belo. É o encontro provocante.
Lá, dentre tanta gente querida, reencontrei o saudoso colega Herlon, também professor (professor do Instituto Federal do Sertão Pernambucano), em meio ao povo. De cabelos curtos e cristalinos, quase que não o reconheci. E logo estávamos numa roda de conversa, envoltos de tantas outras pessoas. Entre algumas falas, logo apareceu um político local que havia votado a favor do impeachment para a presidenta Dilma, mas que naquele momento se colocava contra a proposta da reforma da previdência. Entre nós uma discussão foi iniciada a respeito da importância dessa adesão, mas também da necessidade de não esquecermos a opção tomada pelo político (em relação ao apoio do impeachment ). Essa discussão ganhou entusiasmos e novas reflexões foram produzidas quanto as responsabilidades do ser público e do ser privado (pessoal), das estratégias em se formar uma frente e valorizar as adesões de antigos oponentes, mas também de saber dar “a dose certa” da crítica....
Nesse meio tempo todos foram surpreendidos quando um dos mediadores do ato apontou para três pessoas, denunciando-as como sendo do Movimento Brasil Livre (MBL) e que estariam ali a provocar. Quase todos se vivaram para os três indivíduos que, de fato, exibiam símbolos de posições políticas antagônicas (um deles tinha um boné com a bandeira dos E.U.A.) e faziam algum tipo de provocação (um outro ficava com o celular a gravar tudo – possivelmente para algum tipo de edição que serviria aos seus propósitos políticos). 
Entre nós, da roda de conversa, passamos para uma nova e provocante discussão: até que ponto é razoável tolerar a presença ativa de grupos de ultradireita em manifestações como aquelas? Qual o limite da democracia que traz a premissa de respeitar o diferente? E se fosse o contrário? Estaríamos sendo permissivos e, de alguma maneira, alimentando futuros “monstros que irão nos engolir” no futuro?
Após algumas falas no ato da Praça do Bambuzinho, a manifestação ganhou as ruas e seguimos na passeata. Como eu estava de bike, fui empurrando a “magrela” ao lado do meu parceiro de universidade, Alexandre Barreto. Caminhávamos mais lentamente, lá bem no fundão. Nossas conversas fluíam ao compasso dos protestos e nos davam ânimos a encarar o calor escaldante das 11h. 
Dois alunos de Ciências Sociais (coincidentemente filhos de um querido, Jota Menezes) se juntaram aos nossos passos cadentes. Nossas conversas versavam sobre a tentativa de entendermos os fenômenos dos massacres (referíamo-nos, particularmente, ao massacre ocorrido numa escola em Suzano), da emergência de pessoas com pensamento de extrema direita e como esses fenômenos tinham a ver, pelo menos no que diz respeito aos contextos forjadores, com um mundo utilitarista, coisificante, fálico e mediado pela violência. Tentávamos uma análise pela via da chamada Psicologia Política e Reich foi um interlocutor importante nas nossas conversações. Tínhamos um entendimento de como nossa sociedade é estruturada (e controlada) pela via do medo e da insegurança e como esta emoção é a base da violência, sendo, portanto, terreno fértil para posições políticas autoritárias, reacionárias, intolerantes e fascistas.
Chegamos até o ponto final da manifestação, que foi o INSS. Nessa altura, os estudantes que nos acompanhavam tinham feito outros agrupamentos. Despedi-me de Alexandre e ainda por alguns instantes apreciei aquela “mani-fest-ação”. Tomei consciência do quão rica e formativa foi para mim e, possivelmente, para todos. 
A beleza daquela sexta-feira ensolarada reservara surpresas, poesia e beleza. Afinal, o fazer político e o viver a polis é da ordem educativa quando o coração é entregue...




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