sábado, 30 de março de 2019

PSICOLOGIA EM EMERGÊNCIA E DO DESASTRE É TAMBÉM DA ORDEM POLÍTICA






Quando ouvimos falar de situações de emergências e desastres, normalmente nos vem à cena a própria tragédia e o sofrimento, e isso, por sua vez, nos faz pensar em gestos de socorro e acolhimento. Contudo é importante não perder de vista que as situações de emergências e desastres, principalmente para a Psicologia, sempre são atravessadas por dimensões políticas, sejam condições prévias, no ato e processo da intervenção ou em condições posteriores.

Assim, citarei três casos para ilustrar essas dimensões políticas. O último será emblemático.

No caso da boate kiss(Santa Maria – RG) parece ter havido um problema de fiscalização e ou descumprimento das condições e normas de funcionamento da boate. Isso remente a política de efetivação das legislações vigentes, mas também a capacidade do estado e sociedade civil em dar respostas imediatas aos diretamente envolvidos, sobretudo. Além disso, e partir daí, um necessário fortalecimento nas fiscalizações em ambientes fechados e de aglomerações de pessoas se fez/se faz necessário.

A tragédia na Mina do Feijão, da Vale, em Brumadinho, também está atravessada por dimensões políticas nos três níveis: um antes, por conta de uma fragilidade e possível irresponsabilidade em não buscar respostas mais seguras às condições da barragem (e toda uma estrutura de fiscalização provavelmente comprometida, inclusive com possível participação do governo); no epicentro da situação; e no pós acontecimento, seja na reparação dos danos, na recuperação das áreas degradadas e nos impactos sociais, econômicos, ambientais, etc. 

O terceiro caso é emblemático e visa ser o foco dessa articulação entre situações de emergências e desastre com a dimensão política, que é o caso de Maceió. Os bairros de Pinheiro, Mutange e Bebedouro estão sob grave impacto ocasionado por fenômenos sísmicos, provocando rachaduras em ruas e imóveis, além de aberturas de crateras. Há reais preocupações que os bairros possam afundar a tal ponto que o prefeito, Rui Palmeira, comunicou, no dia 23 de março (2019) ao Ministério Público do Estado, que decretará calamidade pública. 


Esse acontecimento não tem precedentes na história do país e pode tomar proporções inimagináveis em termos dos impactos os mais variados possíveis. Afinal são bairros centrais, abrigando milhares de pessoas, numa capital brasileira. 

Esta situação malograda que ocorre na capital alagoana demanda ações diversas de vários setores, mas há uma importante contribuição da Psicologia nesse caso, que é, além do acolhimento às pessoas e às famílias que sofrem duramente esses impactos, há que contribuir com o fortalecimento político das comunidades envolvidas. Afinal, há e haverá tensões no que diz respeito as indenizações, a defesa dos direitos e também no processo de participação e acompanhamento em relação as ações de desocupação, realocações e criação de novas condições dignas de vida. 

Psicologia em Emergências e Desastres é também da ordem política!


Marcelo Silva de Souza Ribeiro
Professor da Univasf e psicólogo 


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