segunda-feira, 9 de maio de 2022

O retrocesso na alfabetização durante a pandemia




Victória Duarte Acioly Filgueira

Graduanda em Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco


Em um cenário de restrições sanitárias devido a pandemia de covid-19 que se iniciou no ano de 2020 a educação foi um dos campos que mais sofreu. Historicamente, no Brasil as políticas públicas para a educação sempre foram negligenciadas, sofrendo diversos desvios e cortes de verbas, e ainda não sendo prioridade de investimentos. Durante a pandemia com as restrições sanitárias e início de aulas online esse cenário ficou ainda pior, se nos últimos 40 anos, até 2019 o país tinha os melhores números em alfabetização e durante a pandemia esse número foi o pior nos últimos 15 anos segundo a FGV. Os motivos que agravam a situação foram a evasão escolar e o pouco tempo em sala de aula, por conta das restrições impostas pelo coronavírus. Além disso, os investimentos considerados essenciais para a recuperação do patamar educacional antes da pandemia foram reduzidos em 93,5% dos municípios brasileiros. Em resumo, o atual cenário brasileiro é que crianças que já deveriam saber ler, mal sabem o alfabeto.

 

Isso é preocupante pois as crianças de 5 a 10 anos de idade - e, portanto, as que cursam o final da educação infantil e todo o ensino fundamental 1 - foram um grupo particularmente sensível às dificuldades dos mais de 18 meses de ensino à distância na pandemia. É porque elas estão em uma fase crucial de seu desenvolvimento escolar: a da alfabetização e da consolidação da leitura, da escrita e dos fundamentos matemáticos.isso vai ser refletido em toda a vida escolar de todas essas crianças pois ao menos que elas recuperem essa lacuna no ensino, as dificuldades de não se ter um ensino básico bem feito pode atrapalhar o desenvolvimento escolar por vários anos.

 

Esse cenário acentuou ainda mais a desigualdade na educação pública e privada do país. Um dos motivos é que a evasão na escola privada foi menor que na pública, além da dificuldade de acesso a internet de diversos alunos da escola pública, que precisaram abandonar os estudos por não poder acompanhar as aulas de forma online. Diversas estratégias para contornar esse cenário foram criadas, desde identificar alunos mais vulneráveis e sem acesso a internet e levar o material escolar até a casa deles, a professores que fizeram campanhas para conseguir conexão para esses alunos, aulas em rádio, tv local, em redes sociais e etc. Mesmo com todas essas medidas e esforços, a falta de uma sala de aula continua sendo o ponto principal para esse retrocesso.


Este texto é produto do processo vivido no âmbito da disciplina Educação e Políticas Públicas, do curso de Psicologia da Univasf, tendo como professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro em abril de 2022.

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