domingo, 28 de março de 2010

A CULTURA DOCENTE: O EXEMPLO DA MEDICINA

Um dos desafios para uma universidade nova como a Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF é formar uma cultura docente. Basicamente, entendemos aqui cultura docente como aquele corpo profissional que já internalizou seu papel e já está inserido em um modus operandi da instituição.
Um exemplo interessante para abordarmos a formação de uma cultura docente é o caso do curso de medicina da UNIVASF. Reflitamos um pouco a partir daí.
Não sendo exceção, há uma série de dificuldades para se criar um curso de medicina, sobretudo em uma região do sertão nordestino como Petrolina e Juazeiro. Essas dificuldades dizem respeito, dentre outras coisas, a relativa escassez de profissionais disponíveis, a não atratividade salarial do professor (se comparado com os ganhos que os médicos podem obter, sobretudo no interior), a não formação dos médicos para carreira acadêmica, ao regime de 20 horas dedicadas pelos professores médicos (em toda a UNIVASF apenas uma professora médica tem regime de trabalho 40 horas com dedicação exclusiva), a rede de saúde não articulada com a universidade, etc.
A partir do que foi pontuado no parágrafo anterior, uma das primeiras coisas a ser trabalhada para se formar a cultura docente (no caso da medicina da UNIVASF) é investir na formação. Felizmente, muitos desses professores estão ingressando em programas de mestrado, alguns já terminaram e outros já estão se inserido em programas de doutorado. Inevitavelmente, em pouco tempo teremos um quadro de professores médicos com mestrado e doutorado.
É interessante observar esse movimento porque a carreira docente, mesmo com os títulos de mestre e doutor não é significativamente atrativa do ponto de vista salarial se comparada com outros rendimentos que esses profissionais têm no mercado. Entretanto, os professores médicos demonstram interesse e motivação para se engajarem em programas de pós-graduação. Isso pode ser um indicativo que a vida acadêmica passa a ganhar importância e sentido em suas vidas.
Outra coisa importante a ser desenvolvida é o que diz respeito a rede de saúde que absorve a prática, o ensino em serviço. Como os professores médicos ainda estão por forjar seus papéis, os profissionais de saúde que trabalham na rede estão por se adaptar a nova dimensão de formação nos ambientes de saúde (hospitais, postos de saúde, ambulatórios, etc.) e as instituições de saúde a lidar com a dimensão da assistência e de ensino. Tudo isso, enfim, repercute do seguinte forma: como os estudantes são recebidos nos ambientes, na formação de papéis de preceptoria e no serviço que passa a absorver a dimensão de ensino. No começo isso gera desequilíbrios, tensões, conflitos e toda a sorte de dificuldades.
Como todo processo de adaptação, há que se considerar e aceitar o tempo necessário para que, tanto a rede quanto a universidade possam encontrar uma tensão ótima, ou seja, um equilíbrio. É certo que esse tempo necessário não precisa vir espontaneamente. Deve haver ações de ajustamento. E isto significa, por exemplo, que a universidade precisa: oferecer qualificações para os profissionais que estão na rede e que recebem os alunos e estabelecer um canal de comunicação com os gestores da rede pública e privada de saúde. Uma coisa que ajuda muito é a universidade se responsabilizar por alguma parte da rede para criar seu próprio espaço (isto já vem acontecendo com o Hospital de Traumas, com a Policlínica que está em construção).
O exemplo do curso de medicina da UNIVASF permite entender um pouco alguns dos desafios que estão presentes na formação de uma cultura docente e que, mesmo de maneira prematura, podemos considerar que a formação dessa cultura atravessa não somente o próprio professor, mas também a instituição em termos de suas políticas e ações e mesmo os outros parceiros e espaços que se entrelaçam para contribuir com a formação do aluno.

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