domingo, 28 de março de 2010

SENDO ENGOLIDO

Outro dia, uma colega professora, disse-me que eu estava sendo engolido pelos outros. Imagino que ela disse isso porque atualmente vivo, de modo mais intenso, a dimensão política e administrativa da condição de ser professor em uma universidade. Em geral, essa experiência tem sido muito rica e intensa. Na verdade, já havia vivido experiências semelhantes, mas nada comparado ao que vivo hoje na condição de pro-reitor de ensino. Tenho tido condições de perceber a vida universitária numa perspectiva bastante interessante. As percepções dos processos, das demandas, das tensões, dos interesses, dos conflitos... se dão para mim de modo global. É como se eu pudesse enxergar a dinâmica da universidade com um olhar mais ampliado. Com isso, tenho descoberto e atuado sob muitas coisas interessantes, e que posso classificá-las como positivas e negativas. As primeiras dizem respeito a possibilidade de influenciar de maneira mais ativa e direta as políticas educacionais da universidade e ajudar a criar condições mais favoráveis para a valorização do ensino, da aprendizagem, das relações humanas e de uma formação mais política, dialógica e cidadã. As outras, as negativas, vem com um assombro. Tenho descoberto e vivido na relação com as pessoas um lado do humano que posso chamar de limbo. Esse lado é o lado do esquecimento, do escondido, do pouco visto e aonde se guarda ou se escondem as tramas, as invejas, os jogos baixos do poder, as intrigas, as futricas, a intenção perversa... Acho que foi por causa disso que a professora falou que eu estava sendo engolido. Sem entrar numas de dicotomização do humano, como tendo um lado bom e um lado mau, mas o aceitando como um ser complexo e relativizado pelas condições em que vive, diria que essa experiência de lidar com o negativo do humano também é importante para compreendê-lo melhor e, consequentemente, aceitá-lo mais integralmente. Ao final, creio, terei a certeza da felicidade de poder viver tudo isso, mas também estarei certo que as marcas ficarão e que o olhar de educador estará mais apto a mirar o outro e dizer: fui engolido para alimentar aquele que, no canibalismo é recriado e renascendo-me diferente sou mais próximo do outro.

Petrolina, 30 de maio de 2009.

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