domingo, 28 de março de 2010

A QUESTÃO DO PODER


O jeito de ser de cada um marca, inevitavelmente, o desempenho profissional. A docência, muito particularmente, é bastante impregnada deste aspecto. A dimensão pessoal não só está presente no momento em que o professor age como profissional, mas também o constitui enquanto docente.
Em alguns textos estamos explorando a discussão sobre os vários aspectos que compõem a docência, dando um destaque a questão da gestão. Assim, ao falar que a dimensão pessoal constitui o docente e está presente na ação do professor, estamos também dizendo que o jeito de ser se imbrica ao modo como ele assume e lida com a gestão. Ao assumir uma função de gestão, o professor (e qualquer outro profissional) vai imprimir uma marca que terá muito a ver com o seu jeito de ser.
Qualquer um que entrar no espaço que eu ocupo, lá na pró-reitoria de ensino, poderá notar alguns quadros e pequenos cartazes afixados na parede. Em um deles há uma frase que aprecio muito. Diz ela: “o oposto do amor não é o ódio, mas sim o poder”. Acho que essa frase diz um pouco sobre o meu jeito de ser e como eu lido com a questão do poder, sobretudo na função de pró-reitor de ensino.
Não consigo concordar com a visão de gestão (de gestão de pessoas, principalmente) que toma como princípio o “chicote”, o medo e a intimidação. Acredito em um tipo de gestão onde haja participação, respeito ao outro, valorização das competências de cada um, sensibilidade para compreender as necessidades dos parceiros e crença no potencial de crescimento. Este tipo de gestão, que tem tudo a ver com o modo de lidar com o poder, está em consonância com A QUESTÃO EDUCATIVA.
A relação que vejo entre certo modo de lidar com o poder e a questão educativa tem a ver com o modo aonde o poder (a força) é colocado e para quem ele estará servido. Por exemplo: uma forma deseducativa (Autoritária, portanto. Todo ato educativo é libertador, não autoritário) é colocar o poder a serviço próprio, simplesmente como força para a auto-afirmação. O contrário seria colocar o poder como afirmador do outro. Seria a força delegada que se direciona para empoderar o outro.
Assim, tenho observado que o modo como cada um desenvolve a gestão tem a ver com o modo de como cada um lida com a questão do poder. Mas não apenas isso. Também tenho observado que o contato com o poder (refiro-me aqui a questão de funções de comando em uma organização, posições de prestígios sociais, possibilidades de tomar decisões) pode modificar o modo como as pessoas conduzem suas ações e suas relações.
O acontece, portanto, no ambiente universitário, que é obviamente um ambiente educacional, é que as qualidades de poder forjadas, sobretudo pelo professores que assumem funções de gestão, devem estar norteadas a partir da perspectiva da participação, do respeito pelo outro, da ética. Caso contrário, correm o grande risco de sucumbirem em um processo deseducativo.
Penso que o poder é algo inevitável e que realmente diz respeito a qualquer tipo de relação humana. O que aqui quero chamar a atenção é que existem formas diferentes de lidar com o poder e que talvez essas formas diferentes tenham uma relação com o jeito de ser de cada um (daí a necessidade de um constante desenvolvimento pessoal). Sendo assim, o professor, ao estar na gestão, ao assumir uma função de poder na universidade, deve ter alguns cuidados. Talvez o primeiro deles deva ser estar atento ao próprio jeito de ser de lidar com o poder e, em seguida, estar consciente ao tipo de poder que vai mediar as suas ações e relações.
Recife, janeiro 2010.

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