domingo, 28 de março de 2010

O PRIMEIRO ANO E O PODER


O que foi o primeiro ano de Pro - Reitoria de Ensino - PROEN para mim? Quais as aprendizagens significativas eu vivenciei? Que experiências eu tive? O que posso dizer hoje a respeito da gestão de graduação da universidade?
Sem duvida, inúmeras coisas foram vividas e aprendidas, mas há algo que me causou perplexidade e grande aprendizagem. Trata-se da questão do poder. Estar em uma esfera administrativa universitária, da gestão pública, mesmo se tratando de uma instituição de ensino superior, parece reproduzir as mesmas tramas e disposições comportamentais que outras “instâncias mais altas” da hierarquia da administração pública.
É certo que o poder é inerente as relações, constituindo-as, tal como abordada pelo pensador francês, Michel Foucault. Entretanto, queremos abordar a questão do poder de um modo específico, destacando o status quo condicionado pela função administrativa. O lugar social ocupado pelo sujeito, seja na sociedade em geral ou em uma organização, condiciona (ao menos parcialmente) a qualidade das suas relações estabelecidas, sobretudo no círculo de influência. Além disso, da repercussão nas relações interpessoais que são estabelecidas, há influência direta no modo do sujeito ser, de portar, de conduzir sua vida. É claro que esses condicionamentos e influências são parciais porque uma série de outros fatores vai estar em jogo. Assim, por exemplo, ao assumir a pro - reitoria de ensino pude sentir o "peso" da função. Senti uma diferença no modo como era tratado como professor e como passei a ser tratado como pro - reitor. Logo percebi que há um jeito esperado no que diz respeito a minha postura, aos meus posicionamentos, etc. E isto vai moldar e balizar as relações que são estabelecidas.
Essa particularidade do poder que estamos nos referindo traz também outra faceta que é o modo como cada um poderá absorver toda a sorte de efeitos que o poder pode provocar. É verdade que o poder tem poder, quer dizer, ele pode suscitar coisas. E uma delas tem a ver com a sedução. O poder seduz, o poder reluz e encanta. Ele agrada porque cria uma ilusão de engrandecimento, massageia o ego, gera uma necessidade de importância e desencadeia uma fome e um querer mais de afirmação da importância de si mesmo. Bem, apesar do poder do poder de provocar tudo isso, não significa necessariamente que tudo o que acabamos de dizer seja desencadeado. Vai depender do modo de como cada um vai lidar com os efeitos do poder. É certo também que esse "lidar" tem a ver com uma série de outros aspectos e que atravessam a história dos sujeitos, suas personalidades e até situações circunstâncias (momentos na vida dos sujeitos). Quem nunca viu uma pessoa que depois de assumir alguma posição de elevado status quo muda completamente seu jeito de ser ao ponto de provocar em várias pessoas a constatação de que se tornou arrogante, intransigente e esnobe? Às vezes a mudança se dá de maneira mais sutil e quase que imperceptível. Nesse caso, se dá na intencionalidade das relações estabelecidas. O Buber (filósofo judeu que trabalhou a questão da relação), por exemplo, abordou as duas dimensões do humano. A primeira dimensão ou possibilidade de relação é EU-ISSO (uma relação de uso, entre coisas) e a segunda, EU-TU (relação, que chama, de dialógica). O humano não viveria sem as duas, mas alerta o filósofo para o humano que vive muito mais a primeira dimensão.
A relação com o poder desmesuradamente se desdobra em relações coisificadoras, pois há apenas uso nas relações. Este tipo de relação, quando cronificado, é perversamente deseducador porque não ajudam a potencializar as pessoas. De modo inverso, faz com que as pessoas se estratifiquem nas relações de uso, de submissão, de subserviência, de medo, de arrogância e de dominação.
É fundamental se valer de alguns cuidados, sobretudo quando estamos nos referindo aos ambientes educadores e a professores. Um desses cuidados, creio, é buscar modelos de gestão mais participativos, interativos e dialógicos. Outra coisa também importante é o constante desenvolvimento pessoal.
Espero desenvolver, futuramente, esses dois pontos em relação ao cuidado com o poder na dimensão da gestão (do docente).        

Juazeiro, março – 2010.

2 comentários:

  1. Olá Marcelo!

    Interessantes suas reflexões. . .

    veja algo tb interessante sobre este tema:
    http://militaofigueredo.wordpress.com/2007/11/25/para-refletir/

    Abraços

    Militão

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  2. Muito interessante mesmo.

    Bom saber que tem pessoas que, acima de tudo, buscam a reflexão!

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