Mario César Pedrôso Lira
Enquanto
me preparava para uma prova em uma das salas da UPE, me deparei com uma
inscrição na carteira onde estava sentado. Tal declaração, gravada com tinta e
força no apoio da carteira, expressava angústia e medo. Talvez um desabafo de
um estudante confuso e sem esperança. Com letras maiúsculas e meio tortas
estava escrito: “EU NÃO SEI NADA”. Fotografei a legenda, enquanto tentava
imaginar a situação que levou aquele aluno ou aquela aluna a se expressar
daquela maneira. Por que ele não sabia? Por que ela não sabia?
Talvez
a resposta seja: Faltou tempo. E por que faltou tempo? Excesso de atividades no
contra turno? Trabalho nas horas vagas? Cuidar o irmão mais novo?
Os
mais incrédulos argumentariam que faltou interesse no aluno. E a falta de
interesse é culpa exclusiva do estudante? As aulas monótonas e não adaptadas a
uma realidade cada vez mais dinâmica não tiraram o interesse do adolescente
desesperado?
É
claro que esse garoto ou garota, precisa ser responsável com as atividades
escolares. E há, sem dúvida, alguma parcela de contribuição para o “não saber
de nada”. Mas longe de ele ser um único responsável pela falta de preparo para
a avaliação.
Todos
os profissionais bem sucedidos contam com a colaboração de um ou mais de um
assessor.
A palavra assessor se refere a uma pessoa que assessora, que
auxilia outra em suas funções. Indica também uma pessoa que, dominando
determinado assunto, dá conselhos sobre o mesmo.
Talvez você nunca ouviu falar em Ivone Kassu. Mas durante 32
anos, ela foi assessora do cantor Roberto Carlos. Além de estar presente em
toda sua vida profissional, cuidando de agenda de shows e entrevistas, Ivone
era considerada pelo artista como fã e confidente fiel. Ivone faleceu em 2012.
Neymar Silva Santos, deve ser mais conhecido. Pai do astro do
futebol mundial Neymar Jr, Neymar pai, acompanha a vida profissional,
financeira, social e até sentimental do filho. É um dos responsáveis pelos
contratos milionários do atleta e nunca se distanciou da carreira do jogador.
Os assessores estão presentes no cotidiano dos políticos, artistas,
esportistas, empresários e pessoas bem sucedidas, cuidando do jeito de falar,
dos compromissos, do corte de cabelo, das
roupas, dos veículos a concederem entrevistas, dos locais a serem frequentados
e das aparições em eventos importantes. A estes, muitos profissionais devem
quase 100% do seu sucesso.
A questão é: e se a cultura de assessoria fosse implantada no
contexto acadêmico para os alunos? Quem deveriam ser estes assessores?
Professores ou pais? Sem dúvida a responsabilidade é de ambos, talvez de todos
envolvidos no contexto escolar. No entanto, nesta oportunidade, refletiremos
sobre a importância do apoio dos pais no processo educacional de seus filhos.
A ideia de uma comunidade de aprendizagem envolve
obrigatoriamente os pais nesse processo
de tornar a vida estudantil dos seus filhos uma carreira promissora. Conceituando, “Comunidades de Aprendizagem são
uma proposta baseada na transformação do contexto educativo, realizada
pelos(as) agentes educacionais da instituição escolar em conjunto com familiares
e estudantes, visando a melhoria e a aceleração das aprendizagens de todos os
conhecimentos escolares, com ênfase na leitura e na escrita, por parte de todas
as pessoas envolvidas no processo educativo.” ( vários autores, 2010, p.74).
Assim, a família, especialmente os pais, são aqueles que dão
a comunidade de aprendizagem, o sentido afetivo e, sem dúvida, o mais
importante. A falta dessa visão leva a uma limitação, diante daquilo que
poderia acontecer se a família entendesse seu papel de assessores parentais.
Afinal “acredita-se que quanto maiores e mais diversas forem as relações
intersubjetivas
estabelecidas, maior será a potencialidade da aprendizagem de
todas as pessoas envolvidas.” ( vários autores, 2010, p.74).
É inegável a expectativa da maioria dos pais em relação ao
futuro dos seus filhos. Se não todos, a maior parte dos pais deseja que as
crianças se tornem adultos de sucesso do ponto de vista profissional. A questão,
no entanto, é constatar pouco investimento por parte da família na carreira
acadêmica dos estudantes da família. Mesmo que as mensalidades sejam altas e
estejam em dia, isso não é suficiente para o bom desempenho dos estudantes. “A
cada dez pais brasileiros que possuem filhos entre 13 e 15 anos, sete não estão
informados sobre os deveres de casa do adolescente, e não sabem se eles
entregam ou não a tarefa exigida pelos professores. Além disso, 40% deles não
sabem o que as crianças fazem durante o tempo livre, e 25% desconhece que o
filho havia faltado às aulas. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde do
Escolar (Pense), coletados ao longo do ano de 2012 e divulgados ontem pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que ouviu 109 mil
estudantes matriculados no 9.º ano do ensino fundamental de 2,8 mil escolas do
país.” (Gazeta o Povo, 2013)
Delegar à escola, exclusivamente, a responsabilidade de
preparar os filhos para o futuro profissional é um erro cometido por grande
parte dos pais que esperam resultados dos seus filhos, sem contudo, dar a sua
parcela de contribuição para o êxito deles.
Além do mais, a assessoria parental, que deve se estender para além das questões acadêmicas,
gera segurança nas crianças e
adolescentes e estreita a relação entre
pais e filhos.
Todos precisamos ser assessorados e quanto mais novos, mais
necessidade temos de contar com pessoas ao nosso redor para nos encaminhar em
todos os aspectos de nossa vida. Essa assessoria, se mais presente na vida das
famílias, evitaria que outros estudantes desabafassem com tinta e força nas
carteiras dos colégios da vida dizendo lamentavelmente: “EU
NÃO SEI NADA”.
Referências
1- Políticas
Educativas, Porto Alegre, v. 3, n.2, p.74-89, 2010 – ISSN: 1982-3207
3- https://oglobo.globo.com/cultura/morre-ivone-kassu-assessora-de-roberto-carlos-aos-66-anos-5383135
Nenhum comentário:
Postar um comentário