terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Assessoria Parental



Mario César Pedrôso Lira

Enquanto me preparava para uma prova em uma das salas da UPE, me deparei com uma inscrição na carteira onde estava sentado. Tal declaração, gravada com tinta e força no apoio da carteira, expressava angústia e medo. Talvez um desabafo de um estudante confuso e sem esperança. Com letras maiúsculas e meio tortas estava escrito: “EU NÃO SEI NADA”. Fotografei a legenda, enquanto tentava imaginar a situação que levou aquele aluno ou aquela aluna a se expressar daquela maneira. Por que ele não sabia? Por que ela não sabia?
Talvez a resposta seja: Faltou tempo. E por que faltou tempo? Excesso de atividades no contra turno? Trabalho nas horas vagas? Cuidar o irmão mais novo?
Os mais incrédulos argumentariam que faltou interesse no aluno. E a falta de interesse é culpa exclusiva do estudante? As aulas monótonas e não adaptadas a uma realidade cada vez mais dinâmica não tiraram o interesse do adolescente desesperado?
É claro que esse garoto ou garota, precisa ser responsável com as atividades escolares. E há, sem dúvida, alguma parcela de contribuição para o “não saber de nada”. Mas longe de ele ser um único responsável pela falta de preparo para a avaliação.
Todos os profissionais bem sucedidos contam com a colaboração de um ou mais de um assessor.
A palavra assessor se refere a uma pessoa que assessora, que auxilia outra em suas funções. Indica também uma pessoa que, dominando determinado assunto, dá conselhos sobre o mesmo.
Talvez você nunca ouviu falar em Ivone Kassu. Mas durante 32 anos, ela foi assessora do cantor Roberto Carlos. Além de estar presente em toda sua vida profissional, cuidando de agenda de shows e entrevistas, Ivone era considerada pelo artista como fã e confidente fiel. Ivone faleceu em 2012.
Neymar Silva Santos, deve ser mais conhecido. Pai do astro do futebol mundial Neymar Jr, Neymar pai, acompanha a vida profissional, financeira, social e até sentimental do filho. É um dos responsáveis pelos contratos milionários do atleta e nunca se distanciou da carreira do jogador.
Os assessores estão presentes no cotidiano dos políticos, artistas, esportistas, empresários e pessoas bem sucedidas, cuidando do jeito de falar, dos compromissos,  do corte de cabelo, das roupas, dos veículos a concederem entrevistas, dos locais a serem frequentados e das aparições em eventos importantes. A estes, muitos profissionais devem quase 100% do seu sucesso.
A questão é: e se a cultura de assessoria fosse implantada no contexto acadêmico para os alunos? Quem deveriam ser estes assessores? Professores ou pais? Sem dúvida a responsabilidade é de ambos, talvez de todos envolvidos no contexto escolar. No entanto, nesta oportunidade, refletiremos sobre a importância do apoio dos pais no processo educacional de seus filhos.
A ideia de uma comunidade de aprendizagem envolve obrigatoriamente os pais  nesse processo de tornar a vida estudantil dos seus filhos uma carreira promissora.  Conceituando, “Comunidades de Aprendizagem são uma proposta baseada na transformação do contexto educativo, realizada pelos(as) agentes educacionais da instituição escolar em conjunto com familiares e estudantes, visando a melhoria e a aceleração das aprendizagens de todos os conhecimentos escolares, com ênfase na leitura e na escrita, por parte de todas as pessoas envolvidas no processo educativo.” ( vários autores, 2010, p.74).
Assim, a família, especialmente os pais, são aqueles que dão a comunidade de aprendizagem, o sentido afetivo e, sem dúvida, o mais importante. A falta dessa visão leva a uma limitação, diante daquilo que poderia acontecer se a família entendesse seu papel de assessores parentais. Afinal “acredita-se que quanto maiores e mais diversas forem as relações intersubjetivas
estabelecidas, maior será a potencialidade da aprendizagem de todas as pessoas envolvidas.” ( vários autores, 2010, p.74).
É inegável a expectativa da maioria dos pais em relação ao futuro dos seus filhos. Se não todos, a maior parte dos pais deseja que as crianças se tornem adultos de sucesso do ponto de vista profissional. A questão, no entanto, é constatar pouco investimento por parte da família na carreira acadêmica dos estudantes da família. Mesmo que as mensalidades sejam altas e estejam em dia, isso não é suficiente para o bom desempenho dos estudantes. “A cada dez pais brasileiros que possuem filhos entre 13 e 15 anos, sete não estão informados sobre os deveres de casa do adolescente, e não sabem se eles entregam ou não a tarefa exigida pelos professores. Além disso, 40% deles não sabem o que as crianças fazem durante o tempo livre, e 25% desconhece que o filho havia faltado às aulas. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), coletados ao longo do ano de 2012 e divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que ouviu 109 mil estudantes matriculados no 9.º ano do ensino fundamental de 2,8 mil escolas do país.” (Gazeta o Povo, 2013)
Delegar à escola, exclusivamente, a responsabilidade de preparar os filhos para o futuro profissional é um erro cometido por grande parte dos pais que esperam resultados dos seus filhos, sem contudo, dar a sua parcela de contribuição para o êxito deles.
Além do mais, a assessoria parental, que deve se  estender para além das questões acadêmicas, gera  segurança nas crianças e adolescentes e estreita a relação  entre pais e filhos.
Todos precisamos ser assessorados e quanto mais novos, mais necessidade temos de contar com pessoas ao nosso redor para nos encaminhar em todos os aspectos de nossa vida. Essa assessoria, se mais presente na vida das famílias, evitaria que outros estudantes desabafassem com tinta e força nas carteiras dos colégios da vida dizendo lamentavelmente: “EU NÃO SEI NADA”.

Referências

1-    Políticas Educativas, Porto Alegre, v. 3, n.2, p.74-89, 2010 – ISSN: 1982-3207

3-    https://oglobo.globo.com/cultura/morre-ivone-kassu-assessora-de-roberto-carlos-aos-66-anos-5383135

Nenhum comentário:

Postar um comentário