terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Experiência e Epistemologia de Prática



Ilze Braga de Carvalho Nobre

Gosto de pensar a experiência a partir da prática, a partir da experiência da prática. É fácil ouvir tal palavra e remeter aos mais idosos falando e afirmando: “ eu sei”, “ já passei por isso” “ eu sei o que estou fazendo...” e até:  “você quer saber mais do eu?”.  Tais expressões  podem revelar sabedoria mas também certa prepotência quando o saber oriundo das vivencias não passam pelo crivo da reflexão. Há também aqueles que sabem muito e que sabem silenciar,   que refletem antes de  despejar suas experiências em cima dos mais jovens. Esses sim, por causa da “reflexão” sabem o real significado de compartilhar as experiências. Mas qual foi a causa de iniciar o texto assim?  Talvez foram as experiências vividas e refletidas que me levaram a saber lidar com muitos tipos de pessoas.
Prefiro pensar a experiência de modo mais simples, partindo de autores e que vêm na prática, mais especialmente, na práxis, como um combustível para se chegar a experiência no seu sentido mais profundo. Quando se compreende a metodologia pensada e utilizada por Paulo Freire em seus processos de formação, percebe-se sua capacidade de interação com o outros em uma relação que acontece de forma respeitosa, natural e de reconhecimento do conhecimento expresso por outrem. É nesta perspectiva que se observa que o conhecimento deve ser potência de humanos, que humanizam e se deixam humanizar.
Olhando para o termo experiência e de onde ele vem é possível concordar com Amatuzzi, (2007):  Em Psicoterapia e mesmo em educação uma coisa é clara: O que move a pessoa não são as ideias abstratas, mas a experiência vivenciada. As ideias podem abrir caminhos, mas dar passos por esses caminhos é uma questão de experiência.
Em minhas vivências e experiências como profissional da área de psicologia e de docente, sempre busquei levar o conhecimento relacionando com coisas que fizessem sentido aos educandos, buscando sempre relações entre o conhecimento a ser adquirido e as vivencias/experiências dos educandos.  Não só relacionar, mas promover espaços formativos, pois a “ aprendizagem por via da experiência é um processo material e intrínseco a essência do ser humano”. (Cavaco, 2009)
Enfim, pensar a experiência a partira da epistemologia da prática faz todo o sentido, uma vez que a prática é fundamental   para chegar às vivencias e experiências.  Importante também pensar a reflexão para além dos espaços formativos mas para espaços de vida: família, trabalho, lazer e escola.

Referências:

ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez,  2003.
 AMATUZZI, M. Experiência:  um  termo  chave para  a Psicologia. Memorandum, 13,  08­15. 2007. Retirado em 13 /10 /2017   da World Wide Wehttp://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/amatuzzi05.pdf 
CAVACO, C. Experiência e formação experiencial: a especificidade dos adquiridos experienciais. Educação Unisinos 13(3):220-227, setembro/dezembro 2009.
FORTUNA, Volnei. A relação teoria e prática na educação em Freire. Revista Brasileira de Ensino Superior, Passo Fundo, v. 1, n. 2, p. 64-72, jan. 2016. ISSN 2447-3944. Disponível em: <https://seer.imed.edu.br/index.php/REBES/article/view/1056>. Acesso em: 13 out. 2017. doi:https://doi.org/10.18256/2447-3944/rebes.v1n2p64-72.



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