terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

O PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL NUMA PERSPECTIVA HABERMASIANA


Marilúcia Vasconcelos[1]
Ao longo do tempo, estudiosos e pesquisadores da educação brasileira tem intensificado suas reflexões e debates em torno da elaboração do Projeto Pedagógico Institucional (PPI). Provocadamente, tal intenso foi outorgado a partir da promulgação da Lei n° 9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LBB), ao dispor em seu Art. 12, inciso I, a incumbência dos estabelecimentos de ensino em elaborar e executar sua proposta pedagógica. Ademais, a mesma lei em seu artigo 14 prescreve sobre a gestão democrática da escola enfatizando a participação dos profissionais de educação na elaboração do projeto pedagógico da escola, em consonância com suas peculiaridades locais, ao tempo em, que assegura as unidades escolares, em seu Art. 15, graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira.
Parece indiscutível, ao apropriarmos de algumas premissas expressas nos artigos supracitados à evidência imperiosa que a lei provoca aos estabelecimentos de ensino, para um processo de aprendizagem ao exercício da autonomia e emancipação. Por sua vez, reforça o entendimento racional de os processos comunicativos instaurados na práxis são condições imprescindíveis às reflexões e debates para definição consensual quanto ao projeto pedagógico, como instrumento norteador das ações educativas. O que denota que é nas práticas interativas que emerge a efetiva autonomia e emancipação da escola. Assim, parece interessante reativar o princípio epistemológico do projeto pedagógico institucional à luz da racionalidade, na concepção de Veiga ao afirmar que:
Relacionando essa discussão à organização da prática pedagógica, é preciso atentar para o universo epistemológico no qual o trabalho escolar esta baseado, colocando em destaque as orientações éticas do trabalho que produz. São essas orientações éticas que caracterizam os sujeitos do projeto politico pedagógico como sujeitos de uma ética, que pode ser orientada para uma racionalidade instrumental ou emancipatória. (Veiga, 2008, p.227).
Todavia, factualmente, quando se discutem o processo de sistematização da organização do trabalho pedagógico institucional, a serem explicitas no documento PPI, as discussões ainda recaem na sobreposição dos princípios da eficiência e produtividade. O que consequentemente, consubstancia um caráter eminentemente instrumental da proposta, como planejamento centralizador prevalecente de uma burocratização, onde a primazia fica instituída e assegurada no bojo de um documento técnico-burocrático mais em cumprimento as exigências e determinações advindas das políticas públicas e dos órgãos normativos da educação do que como adutora à efetivação da identidade própria escolar e, consequentemente, sua autonomia.
No palco dessa episteme, tomo empréstimo os postulados de Prestes  que em sua obra Educação e Racionalidade corrobora com o pensamento do teórico Jürgen Habermas à luz da sua Teoria da Ação Comunicativa, para elucidação do tema, ao criticar a sociedade moderna que acentuada por uma administração centralizada na racionalidade técnico-instrumental, vem consequentemente gerando um esvaziamento do real significado social, ético-político e pedagógico da educação, uma vez que a racionalidade instrumental é determinada pela conjunção binária dos meios/fins. A rigor, exemplificamos aqui, a onipresente racionalidade instrumental expressa na escola quando aduz a mesma na transformação de sua função maior, a do ensino-aprendizagem, em resultados mensuráveis guiada pelos padrões e metas previamente estabelecidos como indicadores de desempenho.
A constatação factual de uma razão instrumental, dominante nas sociedades modernas, é indispensável para compreender como não se realizam mais as condições objetivas necessárias à formação do sujeito, o que gera problemas para o fundamento normativo da educação. Esse aspecto é analisado pela crítica da razão. (Prestes, 1996, p.13).
Isso reforça uma necessária mudança paradigmática na escola, ou seja, uma transversalidade da razão instrumental para a razão comunicativa. O que inclui um repensar sobre o papel da educação na contemporaneidade, a partir de um processo de ressignificação da práxis social voltada para a emancipação dos sujeitos. Portanto, essa superação da razão instrumental pela razão comunicativa deve partir dos sujeitos para os sujeitos e sua relação com o “mundo da vida”, ou melhor, a subjetividade vai dando lugar a uma intersubjetividade na regulação dos saberes e normas que concilia, regula e materializa a ação pedagógica. Nesse deslocamento, Habermas infere que “desaparece a separação ontológica entre o eu transcendental e o eu empírico” (Prestes, 1996, p.91).  
Então, conclui-se que ao elucidar sobre a razão comunicativa, Habermas refere-se à “interação de ao menos dois sujeitos capazes de linguagem e ação, que estabelecem uma relação interpessoal”, nos incita a compreender a razão não mais como resultado da subjetividade, mas como efeito da intersubjetividade que centrada nas intensificadas comunicações se convertem em consensos e, por decorrência na legitimação das pretensões. Pois, é no exercício dialógico sobre a complexidade do mundo vivido que a transversalidade da razão instrumental para a razão comunicativa vai possibilitando à escola uma efetivação da autonomia como condição à emancipação e democratização.
Não há como esgotar um tema de tão grande relevância para a educação como projeto pedagógico institucional como instrumento privilegiado para as interações numa perspectiva da Teoria da Ação Comunicativa de Habermas, mas é possível iniciar e intensificar os estudos sobre o ato educativo como processo político-social a partir da razão comunicativa, numa perspectiva de autonomia e emancipação que supere o atual modelo de educação vigente. Isto faz deste ensaio uma intensão a não encerramos aqui essas reflexões, mas na adoção de uma racionalidade de que novas reflexões deverão ressurgir.
















[1] Pedagoga, especialista em programação do ensino em pedagogia e Assessora Pedagógica da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina - FACAPE.

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